Quando Joseph Smith ditou a sua história oficial para ser publicada para a Igreja SUD e o mundo, e eventualmente seria incluída no volume canonizado de escrituras conhecido como a Pérola de Grande Valor, ele recontou como o anjo Néfi lhe visitara em seu quarto enquanto jovem para lhe explicar sobre as placas de ouro que continham o que viria a ser chamado de Livro de Mórmon.

Néfi aparece a Joseph Smith? “Morôni Aparece a Joseph em Seu Quarto” ou “O Anjo Morôni Aparece a Joseph Smith”, por Tom Lovell sob encomenda para, e publicado pela, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Reproduzido sob permissão
Publicações, textos, arte, gravuras, estátuas, adornos de templos, e até mesmo as escrituras mórmons de hoje o denominam como o “Anjo Morôni”. Contudo, quando Joseph Smith ditou uma narrativa da sua história pessoal que recontasse essa visitação pela primeira vez, ele o chamou de Néfi.
No manuscrito original da história de Joseph Smith, ditada pessoalmente por ele e transcrita pelo Setenta e escrivão James Mulholland, encontramos o seguinte relato¹:
“Enquanto estava assim suplicando a Deus, descobri uma luz surgindo em meu quarto, a qual continuou a aumentar até o aposento ficar mais iluminado do que ao meio-dia, quando imediatamente apareceu ao lado de minha cama um personagem em pé, no ar, pois seus pés não tocavam o solo. Vestia ele uma túnica solta, da mais rara brancura. Era uma brancura que excedia a qualquer coisa que eu já vira; nem acredito que qualquer coisa terrena pudesse parecer tão extraordinariamente branca e brilhante. Tinha as mãos descobertas e os braços também, um pouco acima dos pulsos. Seus pés também estavam descobertos, bem como as pernas, um pouco acima dos tornozelos. A cabeça e o pescoço também estavam nus. Verifiquei que não usava outra roupa além dessa túnica, pois estava aberta, de modo que lhe podia ver o peito. Não somente sua túnica era muito branca, mas toda a sua pessoa era indescritivelmente gloriosa e seu semblante era verdadeiramente como o relâmpago. O quarto estava muito claro, mas não tão luminoso como ao redor de sua pessoa. No momento em que o vi, tive medo, mas o medo logo desapareceu. Chamou-me pelo nome e disse-me que era um mensageiro enviado a mim da presença de Deus e que seu nome era Néfi. Que Deus tinha uma obra a ser executada por mim, e que meu nome seria considerado bom e mau entre todas as nações, tribos e línguas; ou que entre todos os povos se falaria bem e mal. Disse-me que havia um livro escondido, escrito em placas de ouro, que continha um relato dos antigos habitantes deste continente, assim como de sua origem e procedência. Disse também que o livro continha a plenitude do evangelho eterno, tal como fora entregue pelo Salvador aos antigos habitantes. Disse também que havia duas pedras em aros de prata (e essas pedras, presas a um peitoral, constituíam o que é chamado de Urim e Tumim) depositadas com as placas, e que a posse e uso dessas pedras era o que constituía videntes nos tempos antigos; e que Deus as tinha preparado para serem usadas na tradução do livro.”
O manuscrito em questão é a transcrição original da narrativa de Smith, hoje conhecida por historiadores como o segundo rascunho, produzida entre junho e novembro de 1839 na caligrafia de Mulholland, e sob dicção e supervisão direta do Profeta. Smith e os Apóstolos John Taylor e Wilford Woodruff organizaram e revisaram esse manuscrito para publicação oficial nos jornais oficiais da Igreja SUD Times and Seasons (Vol. 3 No. 12 p. 753), no dia 15 de abril de 1842, e republicação no The Latter-day Saints’ Millennial Star (Vol. 03 No. 4 p. 53), em agosto de 1842. O primeiro rascunho, ditado por Smith e anotado por Mulholland, não reconta essa narrativa, e portanto, não menciona o suposto anjo ou tal visitação.
[Veja imagens das primeiras publicações oficiais da narrativa do anjo e das placas aqui]

Trecho do manuscrito original da história da Igreja, ditada pelo Profeta Joseph Smith, anotado pelo Setenta James Mulholland (ca. 1839)
Nota-se no manuscrito que algum escrivão posteriormente alterou o original para remover o nome original “Néfi” e substitui-lo pelo nome “Morôni”. Historiadores ainda foram incapazes de determinar a caligrafia desse escrivão², embora saiba-se que quando o Apóstolo Franklin D. Richards preparou o manuscrito para publicação para a primeira edição da Pérola de Grande Valor, publicada em 1851, ele manteve o texto como originalmente documentado no manuscrito: “Néfi”.

Página 41 da primeira edição da Pérola de Grande Valor, 1851 (M224.1 P359 1851 no. 10_v0001_00079)
A alteração para “Morôni” foi introduzida apenas para a segunda edição de 1878, preparada pelo Apóstolo Orson Pratt, e canonizada como escritura na Conferência Geral de outubro de 1880.
É interessante notar que Joseph Smith não apenas ditou “Néfi” para Mulholland, como não alterou ou “corrigiu” o manuscrito quando o revisaram (como se vê em vários trechos do manuscrito). Smith tampouco alterou ou “corrigiu” a narrativa quando ele, como editor-chefe do Times and Seasons, a publicou como sua “história oficial”. Os Apóstolos John Taylor e Wilford Woodruff, co-editores do Times and Seasons também não se alarmaram com a menção de “Néfi”, assim como os Apóstolos Parley P. Pratt, editor do The Latter-day Saints’ Millennial Star, e Franklin D. Richards, editor da Pérola de Grande Valor, que também a publicaram.
É ainda mais interessante quando se considera que essa é a primeira evidência documentária da narrativa dessa visitação angélica específica instruindo Smith sobre a existência das placas de ouro.

“Néfi Subjuga Seus Irmãos Rebeldes” por Arnold Friberg, sob encomenda para, e publicado pela, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Reproduzido sob permissão
Segue abaixo trecho do texto ditado originalmente por Joseph Smith em sua história oficial, em seu inglês original:
“While I was thus in the act of calling upon God, I discovered a light appearing in the room which continued to increase until the room was lighter than at noon-day, when immediately a personage appeared at my bedside, standing in the air for his feet did not touch the floor. He had on a loose robe of most exquisite whiteness. It was a whiteness beyond any I had ever seen; nor do I believe that any earthly thing could be made to appear so exceedingly white and brilliant, his hands were naked and his arms also, a little above the wrist. So also were his feet naked, as were his legs a little above the ankles. His head and neck were also bare. I could discover that he had no other clothing on but this robe, as it was open so that I could see into his bosom. Not only was his robe exceedingly white but his whole person was glorious beyond description, and his countenance truly like lightning. The room was exceedingly light, but not so very bright as immediately around his person. When I first looked upon him I was afraid, but the fear soon left me. He called me by name, and said unto me, that he was a messenger sent from the presence of God to me, and that his name was Nephi. That God had a work for me to do, and that my name should be had for good and evil, among all nations, kindreds, and tongues; or that it should be both good and evil spoken of among all people. He said there was a book deposited written upon gold plates, giving an account of the former inhabitants, of this continent, and the source from whence they sprang. He also said that the fullness of the everlasting gospel was contained in it, as delivered by the Saviour to the ancient inhabitants. Also that there were two stones in silver bows (and these stones, fastened to a breastplate, constituted what is called the Urim and Thummim) deposited with the plates, and the possession and use of these stones was what constituted seers in ancient or former times, and that God had prepared them for the purpose of translating the book.”
NOTA
[1] Tradução dos artigos originais para o português padronizada com a forma da tradução em português do trecho atualmente publicado pela Igreja SUD em sua Pérola de Grande Valor apenas para facilitar comparações pelo leitor familiarizado com esta.
[2] O historiador Dan Vogel convincentemente argumenta através de análise caligráfica que o escrivão-editor foi o Apóstolo Albert Carrington, historiador da Igreja entre 1871 e 1874, durante esse período.
Anjo Nefi ….kkkkk vai ler o livro primeiro depois fale sobre ele.
Liliane, se você tivesse lido o artigo antes de escrever seu comentário, não teria escrito essa asneira.
Aproveite o conselho que você tentou passar adiante para si, mesma. “Vai ler o [artigo] primeiro depois fale sobre ele.”