O Natal é literalmente “a missa para Cristo”, o dia em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus.¹

Por que celebramos o nascimento de Jesus em 25 de dezembro? (Gerard van Honthorst – Adoração dos Pastores, 1622)
A data ocidental para o nascimento de Jesus é bastante arbitrária. Foi escolhido pelo Papa Leão I, bispo de Roma (440-461), para coincidir com o Festival da Saturnália, quando os romanos adoravam Saturno, o deus do sol. Este era o dia do equinócio solar, o dia mais curto do ano no hemisfério norte, que marcava oficialmente o meio do inverno.

A data do Natal no Ocidente foi escolhida pelo Papa Leo I. (El Papa San León I Magno por Francisco Herrera Filho, 1622-1685)
Leo pensou que isso distrairia sua congregação romana da adoração ao sol, celebrando a festa do nascimento de Cristo no mesmo dia. Ele descreveu Jesus como a “nova luz”; uma imagem de salvação, porém oportuna na medida em que os dias começavam a se prolongar a partir de 25 de dezembro.
A data da festa varia dentro das denominações cristãs. Os cristãos ocidentais celebram a Natividade em uma data fixa, 25 de dezembro. Alguns cristãos ortodoxos orientais o celebram no dia 6 de janeiro, juntamente com Epifania, a revelação do menino Jesus a três sábios. Os ortodoxos gregos e russos comemoram o Natal em 7 de janeiro e a Epifania em 19 de janeiro.
De onde se originaram as tradições natalinas?
É verdade que o Natal ocidental começou como uma festa pagã cristianizada. A árvore de Natal também é um símbolo pagão de fertilidade.
Nos países do norte, quando as noites são longas e frias, a festa de Natal tradicionalmente dava ao povo cristão algo pelo que esperar: comida rica (renas, se você estiver na Suécia, porco e cordeiro, se você estiver na Grécia), muitas velas, Missa católica à meia-noite ou serviços protestantes na manhã do Natal. Os pinheiros foram trazidos para dentro e iluminados com velas, como um símbolo da esperança de que a primavera voltasse com novas colheitas e comida abundante.

Os pinheiros foram trazidos para dentro para simbolizar o retorno da primavera, novas colheitas e comida abundante. É também um símbolo pagão de fertilidade. (Foto: Ievgenii Meyer)
A igreja primitiva também celebrava a ressurreição de Cristo na primavera, a estação da nova vida, uma vez que coincidia com a festa da Páscoa judaica no dia 14 de Nisan, uma data que dependia de quando a primeira lua cheia ocorria em março ou abril. Muitos de nossos símbolos da Páscoa, como o coelho e o ovo, são antigos símbolos de fertilidade. Ninguém sabe como o chocolate foi arrastado nisso!
Também é uma coincidência interessante que o Festival Judaico das Luzes, Hanukkah, caia em novembro ou dezembro de cada ano, e seja comemorado com a iluminação do candelabro (menorah), comidas tradicionais, jogos e presentes.
De onde veio o Papai Noel?
O mito do Papai Noel (alerta de spoiler: não leia mais, se você tem menos de 10 anos!) veio da lenda de São Nicolau. Nicolau era um bispo na cidade de Myra (atualmente na Turquia) que queria ajudar jovens mulheres pobres a conseguir maridos. Deixava sacos de dinheiro secretamente nas portas de casas de família, um presente anônimo para os pobres para serem usados como dote.
Por isso, ele ficou conhecido como o santo padroeiro das virgens e crianças. Com o tempo, sua generosidade foi lembrada por pessoas que presenteavam crianças em segredo na festa de São Nicolau, celebrada em 6 de dezembro (nos países cristãos ocidentais) e 19 de dezembro (nas igrejas orientais). Seu nome em inglês tornou-se Clause, após o holandês Sinterklaas. Crianças holandesas e outras pessoas na Europa Ocidental deixam comida no sapato ou tamanco para o cavalo de Nicolau na véspera de 6 de dezembro e recebem presentes no dia da festa.

Campanha publicitária da Coca-Cola da década de 1950 (Foto)
Nossa imagem moderna do Papai Noel como um senhor rotundo de certa idade, vestindo um terno vermelho e branco e um chapéu a condizer, vem de uma campanha de marketing incrivelmente bem-sucedida da Coca-Cola nos anos 30. Desde então, o Papai Noel da classe média sempre se veste à imagem criada pela marca Coca-Cola.
Mas essa imagem vem de uma representação anterior do Pai Natal, que nada tinha a ver com o Papai Noel americano até a década de 1850.
Até a era vitoriana, quando a infância era reconhecida como um estágio separado da vida, e a festa de Natal se concentrava em torno das crianças, o Pai Natal ou o Senhor Natal, como ele também era conhecido, era a personificação de uma festa no meio de festividades invernais para adultos – e ele não trazia presentes. Ele foi útil como um símbolo para escritores simpatizantes ao catolicismo no início do século XVII, que queriam defender o Natal de ataques dos puritanos, protestantes radicais que pretendiam banir a festa.
(Para uma perspectiva judaica sobre as guerras religiosas, consulte o livro de Stephen Feldman, Por favor, não me deseje um feliz Natal: uma história crítica da separação entre igreja e estado (1997).)
A partir da década de 1850 em diante, o Pai Natal inglês foi retratado como um velho barbudo, vestindo uma túnica vermelha comprida enfeitada com pêlo branco e um chapéu vermelho pontudo, que dava presentes às crianças boas. Esta imagem pode ser vista em cartões postais ingleses do início do século XX.
Natal na era moderna
Muito do significado do banquete original se perde quando nós, no hemisfério sul, o celebramos no meio do verão. Um churrasco em família na praia não pode realmente capturar a atmosfera de um inverno frio e escuro.

Cartão Postal de 1919 (Série Fotos Oilette)
Esta parece ser a principal razão do surgimento da alternativa “Natal em julho”. Hoje damos presentes para adultos e crianças no véspera ou dia de 25 de dezembro, e geralmente não anonimamente. Seria interessante ver o que mudaria se nenhum dos nossos presentes tivesse crachás – o Papai Noel Secreto² no escritório é baseado no mesmo conceito.
Nossos presentes também lembram as homenagens que os três Reis Magos – que simbolizam, segundo a tradição, os povos não-judeus – deram ao menino Jesus.
Aliás, de acordo com dois dos quatro evangelhos, Jesus nasceu em Belém, mas, devido à falta de evidências corroboradoras para um censo naquele ano, agora se pensa que Jesus provavelmente nasceu na Galiléia, onde cresceu. Belém foi importante para os escritores do evangelho por ser o local de nascimento do rei Davi mil anos antes e uma cidade real para os judeus.
Os magos deram a Jesus ouro, incenso e mirra, quando entenderam que o bebê a quem estavam fitando era tanto humano como filho de Deus. Esse mistério, pelo menos, permanece intacto.
Dra Bronwen Neil é professora de História Antiga na Universidade Macquarie, membro da Academia Australiana de Humanidades, e uma autoridade reconhecida no Papa Leão I de Roma, Gregório Magno, Máximo, o Confessor, e Anastácio, o Bibliotecário.
Artigo originalmente publicado aqui. Reproduzido com permissão.
NOTAS
[1] N. do T.: A palavra para Natal, em inglês, é Christmas, o que é uma contração das palavras Christ (Cristo) e mass (missa), o que se conforma bem à interpretação “missa de Cristo” ou “missa para Cristo”. Já a palavra natal em português literalmente significa “relativa ao nascimento”.
[2] N. do T.: A expressão brasileira “amigo secreto” é comumente conhecida nos EUA como “Papai Noel secreto”.
O natal moderno se tornou muito sem sal quando este dia se tornou um feriado com propósitos comerciais.