Nesta Páscoa, em tempos de isolamento social por causa da pandemia de coronavírus, viralizou no aplicativo de mensagens pessoais WhatsApp entre evangélicos, um vídeo mórmon roubado e reapropriado por um aspirante a político adventista.

Imagem do vídeo produzido pel’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
A mensagem-propaganda d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida popularmente como Igreja Mórmon, mostra cenas genéricas de Jesus Cristo baseadas nas narrativas dos evangelhos do Novo Testamento, acompanhadas de citações atribuídas a Ele pelos evangelistas, e concluindo com um convite a conhecer a Igreja Mórmon. O vídeo é caracteristicamente mórmon, não apenas pelo aspecto missionário-propaganda de seu logo e seu convite ao final, mas também pela questão racial. Estruturada em forte tradição de supremia branca, a Igreja SUD costuma produzir arte que exiba Jesus como um homem branco de olhos claros (ver abaixo), ao invés do judeu palestino que teria historicamente sido.
O vídeo circulando entre evangélicos, popular o suficiente para nos ter sido encaminhados por três fontes diferentes em círculos não-evangélicos, é um furto de propriedade intelectual da Igreja Mórmon com alterações igualmente características.
As cenas de Jesus Cristo são as mesmas idênticas, mas o aúdio é alterado para exibir uma narração sobre paralelos entre a pandemia da CoViD-19 e as origens míticas das páscoas judaicas e cristãs. Ademais, o vídeo é alterado para remover menções à Igreja Mórmon, ou mesmo atribuí-la autoria das imagens originais, ou sequer reconhecer seus direitos autorais.
O autor do vídeo popular entre evangélicos, claramente identificado em seu vídeo pirata, é Allinson Nunes. Orgulhoso de seu ato de pirataria, publicou-o generosamente em sua página pública do Facebook:
Por admissão própria, Nunes é Adventista e aspirante a político:
Não é incomum ouvir de adventistas, especialmente no Brasil, que mórmons não são cristãos. Esse tipo de apropriação (ilegal, diga-se) de conteúdo mórmon para expressão religiosa de adventistas para evangélicos seria lisonjeador ou ofensivo para mórmons?
Segundo passagem do Livro de Mórmon, Maria era branca. É bem possível que Jesus tenha herdado essa genética dela.
Muito bem lembrado, Valéria.
Essa é outra passagem que reforça o racismo canonizado no Livro de Mórmon. Sem dúvida ele serve de base fundacional para a história de racismo na Igreja Mórmon.
“ILEGAL” quer dizer “fora da lei”.
Como pode algo que está fora de lei ser um elogio para quem quer que seja?
Poligamia era ilegal, Marco Antônio. E ainda assim a Igreja a defendeu com unhas e dentes como se fora o ensinamento doutrinário mais importante, inclusive mentindo para fazê-lo.
Quer dizer que se alguém pegar um vídeo da Conferência da ABEM e fizer a mesma coisa não terá problema algum. Afinal, o vozesmormons está nos induzindo a achar o caso aceitável só porque se trata da Igreja SUD E porque esta cometeu erros no passado. Mas se fosse o contrário, um mórmon fazendo isso com o vídeo da Igreja Adventista, o vozesmormons criticaria ferozmente o mórmon e defenderia o adventista. Espero que publiquem meu comentário, embora eu não acredite muito nisso.
Seremos caridosos aqui e presumiremos que o Marcos (Bavaroti, não o Antônio) apenas não entendeu o texto do artigo e o texto do nosso comentário acima, e não presumiremos que ele os esteja distorcendo propositadamente em má-fé.
Vamos deixar ainda mais claro e explícito o que havíamos suposto que o texto do artigo acima havia deixado claro e inequívoco: Usar propriedade intelectual de outrém sem sua autorização explícita não apenas é ilegal, como é imoral.
Nós sabemos que o artigo deixou isso claro e inequívoco porque menos de um dia após sua publicação, o adventista aspirante a político Allinson Nunes removeu o vídeo de sua página oficial!
Como o artigo deixou isso claro e inequívoco? Explicando que o vídeo de Nunes constituía “furto”, “roub[o]”, “pirataria”, um “vídeo pirata”, e “apropriação ilegal”, além de descrever exatamente como “o vídeo [fora] alterado para remover menções à Igreja Mórmon, ou mesmo atribuí-la autoria das imagens originais, ou sequer reconhecer seus direitos autorais”.
Ou seja, em um texto com menos de 350 palavras, nós explicamos 6 vezes que o vídeo de Nunes constituía um crime previsto por lei federal.
Em nenhum momento “induzimos” ninguém a “achar o caso aceitável”. Pelo contrário. Furto de propriedade intelectual é crime, mesmo quando “se trata da Igreja SUD”.
Mas e a questão de “porque esta cometeu erros no passado”? Crimes que a Igreja SUD tenha cometido, ou orientado a cometer, no passado não tem nada a ver com o crime cometido por Nunes. Crime é crime.
Então por que citamos esses crimes cometidos pela Igreja SUD no passado? Como resposta à pergunta de Marcos Antônio:
Imaginamos que o Marcos Antônio nos perguntara isso devido à nossa pergunta a leitores do artigo, se por acaso se sentiriam membros da Igreja SUD “lisonjeado[s]” pela apropriação ilegal de Nunes. Ele nos questionou como “pode[ria] algo que está fora de lei ser um elogio”, e nós respondemos que mórmons aceitam os crimes cometidos pela Igreja SUD com relação a poligamia sem pestanejar! Portanto, achar que membros pudessem caracterizar o “furto” de Nunes como “elogio” não é absurdo ou fora de caráter (para quem acha que cometer crimes é louvável, por exemplo, se o profeta é quem os ordena).
Note-se que o Marcos Antônio, em sua indagação original, deixou claro que ele havia entendido que nós havíamos condenado o crime contra propriedade intelectual cometido por Allinson Nunes.
Sobre “pegar um vídeo da Conferência da ABEM e f[a]zer a mesma coisa”, apenas notaremos a referência no rodapé de todas as páginas do nosso site que cita claramente nossa posição sobre direitos autorais.
Sobre não publicar seus comentários, apenas gostaríamos de ressaltar que publicamos todos os comentários do Marcos (Bavaroti, não o Antônio) nos últimos 4 anos, e supomos que ele não gostaria que discutíssimos em público o motivo pelo qual deixamos de publicar alguns de seus comentários há muitos anos atrás. Seremos discretos e respeitosos de sua privacidade pessoal, e apenas explicaremos que comentários que não violem as nossas regras clara e publicamente estabelecidas há exatos 9 anos, serão sempre publicados. Não tocaríamos nesse assunto pessoal delicado do passado, exceto que ele insistiu em levantar o assunto em tom acusatório e, francamente, em má-fé.