Nos blogs do autodescrito “bloggernacle,” na maioria escritos em inglês, o “momento mórmon” não é nada novo. A mídia norte-americana também já vem explorando esse tema faz anos.
Então, por que falar mais disso nos Vozes Mórmons?
Bem, pelo menos da minha parte, o motivo é que estou bem insatisfeito com um lado dessa conversa pública sobre o mundo mórmon: estão esquecendo (na maior parte) o melhor aspecto dele, a cultura e vida dos mórmons fora dos EUA.
O Estereótipo Mórmon
A maioria aqui já sabe daquilo que vou descrever agora — há um estereótipo dos mórmons prevalece muito nos EUA, e aqui não estou falando das percepções erradas que as pessoas têm sobre a gente (especialmente sobre a prática continuada de poligamia) ou dos padrões e normas de vida que são identificados com membros da Igreja (como a Palavra de Sabedoria, o uso de garments, e outros mais) — estou falando das características estereotipadas que vão além de tudo isso, e que enchem o saco ainda mais porque têm alguma base na realidade. Aqui nos EUA, este estereótipo é mais forte com respeito aos homens (em parte, eu acho, por causa da ênfase da Igreja desde os anos 50 no princípio que diz que a mulher deve se manter em casa, e por isso fica fora do olhar público). Então, como parece este estereótipo do homem mórmon?
Branco. Pelo menos classe média, senão rico. Casado cedo com um monte de filhos (ou pelo menos com a expectativa de tal). Homem de negócios, muitas vezes com MBA na mão. De política conservadora, normalmente registrado nos EUA como Republicano ou Libertário.
Esse estereótipo é forte não só porque é refletido no mórmon atualmente mais famoso do mundo, Mitt Romney, mas porque é também refletido em muitos outros (A familia Huntsman, com o ex-governador de Utah Jon, Jr. e seu pai, Jon, Sr., fundador de uma empresa bem sucedida de química; a família Marriott, com a sua rede enorme de hotéis de luxo; Nolan Archibald, CEO de Black & Decker; David Neeleman, fundador das linhas aéreas JetBlue e Azul; e tantos outros).
Pessoalmente, sou muitas destas coisas–sou branco, criado numa família de classe média alta com pais que são professores universitários, casei mais ou menos cedo (aos 25 anos) e eu e minha esposa queremos três filhos, senão mais.
Ao mesmo tempo, não sou muito a fim de uma carreira de negócios (para mim, parece igualzinho ao sétimo grau do inferno descrito por Dante). Minha política vai mais ao lado dos socialistas e hippies (posso indicar meus pais como os responsáveis disso, que se descrevem como “hippies mórmons” e se encontraram em São Fransisco no início dos anos 70 — cresci ouvindo Bob Marley desde o ventre).
Mas estou começando a fugir do tema — se já eu fujo desse estereótipo como homem branco de classe média, quanto mais mórmons negros, mórmons pobres, mórmons asiáticos, latino-americanos, ou mais especificamente nesse caso, mórmons brasileiros, com toda a diversidade que esse grupo já tem em si? Sei pela minha experiência que há muitos mórmons brasileiros que se acercam desse estereótipo (entrando pelos negócios, torcendo politicamente pela centro-direita), muitas vezes em parte pelo incentivo de líderes da Igreja dos EUA, mas o que adorei sobre minhas experiências na Igreja durante os anos que já passei no norte e nordeste do Brasil (antes, durante e após a missão) é a diversidade de gente que entra pelos portões a cada domingo. Não é que esta diversidade não exista também em várias partes ou diversas alas nos EUA — adorei minha ala no Harlem quando fui professor da escola primária em Nova Iorque, onde tinha uma mistura gostosa de gente negra, latina e imigrante de toda parte (Haiti, Gana, Nigéria, República Dominicana, e toda parte da América Latina). Também adorei o ano em que minha esposa e eu passamos na Reserva Indígena da Tribo Navajo, onde também fui professor da escola primária. E ainda nem falei da diversidade de experiência e opinião que existe nos cantinhos de qualquer ala ou ramo nos EUA, mesmo que muitas vezes essas pessoas tenham receio de abrir a boca durante a Escola Dominical. O problema é que nos EUA, mesmo que você saia do estereótipo, ele ainda existe no pensamento da sociedade como todo.
Pelo menos ao meu ver (e estou ansioso para ser corrigido) parece que o maior estereótipo mórmon que existe no Brasil é dos missionários, não dos membros, e por falta de expectativa cultural do que seja “normal” entre os mórmons, há mais espaço para todo tipo de gente.
O que vocês acham? Sei que isso pode variar em várias partes do Brasil, como meus amigos Marcello e Antônio me mostraram quando conversamos no podcast da Mormon Matters na semana passada. Eles me disseram que na experiência deles em São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul, onde a Igreja é melhor estabelecida, não há muita tolerância para diversidade de opinião que saia da ortodoxia.
Quero chutar esta pergunta para todos vocês: além de viver os padrões da Igreja, há um estereótipo de um “estilo de vida mórmon” no Brasil aos quais os membros são comparados?
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