Casal Mórmon enfrenta processo judicial e acusação de homicídio por negligência médica de filho de 19 meses com meningite em favor de tratamentos naturais.
David Stephan, 32 anos, e sua esposa Collet Stephan, 35 anos, participam ativamente do movimento anti-vacinação e trabalham com suplementos em esquema de pirâmide, e além de negar vacinas para seus filhos, recusaram quaisquer formas de atendimento médico para seu bebê enquanto agonizava por semanas com uma inflamação e infecção no seu sistema nervoso central.
Os Stephans, indiciados por negligência severa, caracterizam o processo judicial, cujo julgamento começou esta semana, como uma perseguição injusta e ilegal financiada por “interesses pró-vacinas”. Stephan acusa o governo de persegui-los para forçá-los a vacinar seus filhos.
De acordo com a investigação policial, o casal só chamou uma ambulância quando o pequeno Ezekiel, de 19 meses de idade, parou de respirar. Paramédicos encontraram a criança em deplorável estado, emanciado, não responsivo, e já em parada respiratória. Os pais estavam tratando-no com suplementos nutricionais como extrato de folhas de oliveira, proteína whey, xarope de bordo, e frutas vermelhas administrados com conta-gotas e alimentando-no com vinagre de maçã, raiz de rábano, pimentas, cebola, alho e gengibre enquanto ele ficava progressivamente mais letárgico e enrijecido. Um amigo da família, enfermeiro por profissão, lhes sugeriu a hipótese diagnóstica de meningite na tentativa de alarmá-los, e ainda assim recuram buscar ajuda médica. Quando a criança piorou a ponto de sequer ser capaz de ser sentada, eles a levaram para um naturopata, que lhe prescreveu mais remédios caseiros.
A subsequente autópsia revelou que Ezekiel faleceu não apenas da meningite bacteriana, como também de pneumonia com empiema. Esse dado sugere que ele provavelmente começou com uma pneumonia, que evoluiu para empiema, e através da corrente sanguínea, evoluiu para meningite. Nesse caso, a criança passou semanas agonizando e sofrendo progressivamente sem alívio, com falta de ar e dores de cabeça. E tudo isso perfeitamente evitável tivesse sido vacinada, e tratável e curável tivesse recebido atendimento médico adequado.
O casal opera a empresa Truehope Nutritional Support Inc. de sua casa no Canadá, que vende o infame suplemento de vitaminas e minerais Empowerplus para “tratar” doenças mentais como Transtorno Bipolar. O governo canadense tentou impedir sua venda, e não sucedendo, publica avisos sobre o suplemento que, de acordo com a promotoria, serviu de base para o “tratamento” da criança.
Sem quaisquer fundamentações científicas, Truehope ameaça processar a jornalista Natasha Tracy, que escreveu um ensaio sobre sua experiência pessoal comprando e tomando o suplemento. Enquanto isso, David Stephan acusa críticos de atrapalhá-lo de pedir doações e arrecadar fundos online para custear sua defesa legal.
O movimento anti-vacinação é popular nos EUA e Canadá e baseia-se na crença sem quaisquer fundamentos científicos ou factuais que vacinas causam doenças como autismo. Tais crenças foram desprovadas por muitos estudos científicos incluindo o maior estudo científico sobre vacinas, fazendo jus ao título de “maior fraude médica do último século”, e ainda assim permanece popular, inclusive entre Mórmons. Inclusive Mórmons são notoriamente propensos a esquemas fraudulentos e esquemas de pirâmide para enriquecimento fácil. Haja visto que das 5 maiores empresas acusadas de fraude do tipo “pirâmide”, 2 são Mórmons e as outras 3 são enormemente populares entre Mórmons em Utah e no Brasil.
Fraude financeira não é nada, considerando que a ignorância científica e a fragilidade intelectual em raciocínio crítico que predispõe a essas empreitadas fraudulentas e a essas cruzadas ideológicas mataram uma criança inocente. Quantas outras tragédias pessoais e familiares ocorreram e ocorrem ainda por causa dessa deficiência intelectual e lógica? Mórmons são, como um grupo, mais predispostos a esses tipos de falácias? Os fatos e estatísticas sugerem que sim. Mórmons também são predispostos ao charlatanismo de saúde (i.e., anti-vacinação, naturopatia, homeopatia, florais, etc.)? Caso sejam, por que e, mais importantemente, como alterar isso?
Tenho acompanhado regularmente as publicações neste blog. Tenho visto artigos maravilhosamente bem escritos. Alguns artigos batendo forte em pontos controversos desta instituição religiosa conhecida como mormonismo.
Agora, qual a intensão de ligar um caso de negligência com a atividade profissional dessas pessoas? Qual a intensão de colocar num mesmo cesto esquemas fraudulentos de golpe financeiro e um modelo de negócio consolidado e reconhecidamente moral, legal e ético?
É preciso tomar cuidado com certas declarações que possam dar margem para interpretações equivocadas de leigos.
Obs.:
1) Não frequento mais essa instituição religiosa
2) Não faço parte de nenhuma das empresas citadas no link disponibilizado na matéria, mas conheço o suficiente desse mercado para não aceitar o elo que o escritor fez de pais negligentes com o modelo de negócios
Olá, Willians! Quanto tempo cara!
Amigo, sobre o ponto de correlação que você citou:
[mas conheço o suficiente desse mercado para não aceitar o elo que o escritor fez de pais negligentes com o modelo de negócios].
Sim, nota-se uma certa mistura entre uma coisa e outra. Até porque não se vê pessoas ligadas a esse meio fazendo loucuras como a desse casal (pelo menos não que se tenha notícia). Na realidade, parece que esse grupo (ou movimento) citado, em especial, funciona mais como uma ‘religião’ do que uma simples ideia ou filosofia ou mercado.
Quanto a parte de pirâmides, fica realmente difícil defender por completo (dado à visão popular), visto tudo que já foi feito em relação a essa ‘categoria de negócios’. O que notei de uns tempos para cá é que muitos grupos passaram a oferecer produtos e franquias para interessados, mas o marketing multinível ainda é presente e incentivado como ‘meios rápidos de ascensão financeira’; o diferencial hoje, nessas empresas, é que se você não desejar entrar nos programas de recrutamento, você vai ser um representante comercial ou franqueado como qualquer outra empresa do setor.
Quanto a legalidade, você está certo. Em muitos casos (grupos atuais) não se consegue juridicamente dizer que se trata de pirâmide – está mais para Loterias da Caixa do que Jogo do Bicho (perdoe o comparativo fraco, mas é o que me ocorreu agora). E sim, conheço pessoas que conseguem faturar ou mesmo faturar alto neste nicho de mercado sem realmente lesar os consumidores – afinal, é como bolsa de valores, entre nelas quem quer.
Realmente há grupos e grupos, você mesmo pode comprovar isso melhor que eu, inclusive prometendo ganhos muito superiores ao que se consegue na prática (sem engodo) realizar.
Outra coisa, é que há pouca ou nenhuma transparência sobre esses fundos gestores, e em alguns casos parece até que são sempre as mesmas pessoas (muito ricas) por trás da maioria dos grupos (fecham um, abrem outro; ou são criados pela deserção de associados do topo, etc.). Não se começa coisas assim sem muito dinheiro. Mas no final, nosso senso comum é baseado é especulação e clichê (como a igreja com seus fundos, que hoje pouco se sabe pra que são usados realmente).
Enfim, quem gosta (e tem como fazer) investimentos de risco, não terá qualquer dissabor legal ao participar desses grupos (como aquele que o próprio Xitãozinho – ou seria o Xororó? – andam divulgando). Nesse ponto concordo com seu comentário.
Usar “whey” e se dizer que usam de um tratamento natural já é uma contradição em si.
Sim, também pensei a mesma coisa. Desde quando “whey” é ‘natureba’? 😀
Embora a religião, ou apenas algumas delas, tenham nos trazido de alguma forma a capacidade de termos sociedades estabelecidas (coibindo ao animal humano e trazendo todo um sistema legal), é pro essas e outras que muitos pensadores hoje consideram uma ideia ultrapassada e retrógrada da humanidade.
Sinceramente, eu tenho medo da extinção da religiosidade (ou crenças), mas também tenho medo da ascensão de ‘novas’ religiões.