Uma interessante consideração filosófica e teológica sobre como cristãos enxergam o sacrifício de Cristo no século 21 foi sugerida por Allan Bevere, professor de Teologia na Ashland Theological Seminary de Ashland, Ohio, e pastor da First United Methodist Church em Akron, Ohio.
Bevere sugere que cristãos modernos interpretam a missão de Cristo como uma dádiva a ser recebida passivamente, o que lhe permite ignorar o cerne de Seus ensinamentos:
“Depois de dois mil anos nós cristãos temos dificuldades para entender a cruz, não só como o que Deus tem feito por nós, mas especialmente como o paradigma de como Deus espera que seu povo viva no mundo. Enquanto a morte de Jesus servir única e exclusivamente como aquilo que temos que aceitar a fim de irmos para o céu quando morremos e ficar fora dos fogos da perdição, e não também como que devemos abraçar a cruz de Cristo para contestar os principados e potestados que resistem as coisas de Deus no mundo atual, seremos culpados de ignorar uma enorme parte dos ensinamentos do Novo Testamento …
Nenhuma quantidade de ginástica interpretativa pode suavizar as palavras de Jesus aqui no Sermão da Montanha. Essencialmente, ele está dizendo, se você vai me seguir e amar do jeito que eu insisto que você deva amar, você tem que amar de uma forma bastante diferente dos pagãos. Se você ama somente aqueles que os amam, se você ama somente aqueles indivíduos que você considera ser seus vizinhos, você não tem nada do que se gabar; qualquer ateu pode fazer isso. Assim como Jesus recusou-se a retaliar contra os seus inimigos que o surraram, então aqueles que afirmam ter recebido a salvação que ele alcançou para nós na cruz devem viver no caminho da cruz no mundo. Um não pode existir sem o outro …
O reino de Deus veio e o povo de Jesus deve responder como cidadãos do reino no presente. O Sermão da Montanha não está reservado para um tempo vindouro no futuro, quando todas as coisas forem corrigidas. Na cruz, Jesus tomou o pior que o mundo poderia fazer com ele, absorvendo sua violência em sua vida, e morrendo recusando-se a responder com violência, como os pagãos. E isto é, pelo menos, parte do que Jesus quis dizer quando ordenou aos seus discípulos a tomar a sua cruz e segui-Lo (Mateus 16:24). Não nos atrevemos a reduzir as nossas cruzes para ter uma carga menor para carregar ou para ter que sofrer com uma sogra incômoda e chata. Como Dietrich Bonhoeffer afirmou claramente: “Quando Cristo chama um homem, ele pede-lhe para vir e morrer.”
O problema é que a igreja tem estado viciada na cristandade desde o século IV. Uma vez que a igreja obteve uma participação no poder do império, a cruz de Jesus já não podia ser como Deus esperava que seu povo vivesse no mundo. Assim, a igreja ao fazer a sua aliança com o Império, teve de elogiar, abraçar, e até mesmo participar como pagãos “dominando sobre os outros.” Assim, a cruz foi reduzida a um passe livre individualizado para sair do inferno porque a política da cruz, o modo de ser de Jesus no mundo, não poderia governar um mundo violento onde a violência era necessária para governar. A cruz, que era originalmente um símbolo subversivo das pretensões idólatras do império, veio a simbolizar o império em toda a sua potência e meios pagãos, batizando-os com uma fina camada de vestígios cristãos.
Até os cristãos no século XXI no Ocidente abracem a política da cruz, como se trata de nós no Novo Testamento e rejeitem o tipo de expiação reducionista que equivale a nada mais do que uma política de seguro contra fogo que nos permite continuar a abraçar a governança nos modos pagãos, a igreja não será capaz de ser uma paciente presença pacífica e cura em um mundo governado pela violência e vingança.
A política da cruz e as políticas das nações não são compatíveis. Tentar compatibilizá-las assim é batizar o secular e paganizar o que é cristão “.
Recentemente publicamos um artigo mencionando como a Igreja SUD ignora um dos ensinamentos mais claros e inequívocos de Jesus, e membros da Igreja responderam com indignação, não com a realização de que a pregação de Jesus seja ignorada, mas que ela seja meramente citada.
Mórmons exigem essa mesma dificuldade para aceitar os ensinamentos e a missão de Jesus ao qual Bevere aludiu acima?
Uma coisa que percebo ao longo da história cristã é que de maneira geral as comunidades cristãs nascem em humildade e singeleza praticam os fundamentos de Jesus com alegria, apoiam-se, sofrem juntos, então, crescem, prosperam e gradativamente se tornam corruptas e vis. Quase todas as seitas (neste caso digo religião) que se dizem cristãs passam por esse processo. Interessante que o movimento do cristianismo e suas doutrinas e filosofias, não flertam com o grandioso, espetacular, com pompa e riqueza, tal qual como seu líder simplesmente se recusa a manter-se vivo frente ao pecado e opta por um novo renascimento e um reinicio onde tudo volta a beleza do princípio singelo.
Jesus na capela em uma linda tarde de domingo. Uma bela tarde de Domingo em mais uma a (décima oitava em dois meses) reunião de treinamento de alto suficiência e bem estar da Estaca um líder presidente pergunta:
– Alguém tem algum comentário a fazer?
Jesus presente na reunião sentado no fundo da capela responde:
– Olha “deixai vir a mim os pequeninos pois deles é o reino do céu.”
Responde o líder presidente:
– Desculpe Jesus, não sabíamos que você estava presente, reconhecemos a presença do “Cristo” entre nós…. quanto ao seu comentário é que isso não está de acordo com o manual na seção 2.3456 no paragrafo Z segunda coluna da direita, não está em conformidade com Sua fala e…
Jesus interrompe:
– Quando fizestes a um destes pequeninos a mim o fizestes
– Olha, Jesus, (meio irritado) de acordo com o Elder Jonh O. W. Fitsgerald do quórum dos setenta essa frase que você disse a dois mil anos atrás não quer dizer bem isso. Agora precisamos terminar a reunião e no final gostaria de vê-lo em minha sala, e por favor traga sua recomendação.