Por Que Nos Enfurecemos Sobre Religião no Facebook

No dia de Natal, o CEO do Facebook Mark Zuckerberg usou seu site para contar ao mundo que ele não era mais ateu. Dessa forma, o bilionário usou o Facebook para expressar seus sentimentos sobre religião, como muitos usuários de mídia social antes dele.

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Debates sobre religião estimulam fortes reações emocionais em mídias sociais. Foto: Frank McKenna

Minha pesquisa mostra como debates sobre religião em redes sociais realçam emoções passionais nos usuários. Descobri que cristãos conservadores que discutem assuntos controversos sobre religião em debates do Facebook frequentemente o fazem de maneiras emocionalmente carregadas.

Aparentemente, o  simples fato de ser religioso pode às vezes desencadear emoções e reações particulares ao tópico da religião. Mas não são apenas os usuários de mídia religiosos devotos que são atraídos a debater religião on-line ou se sentem seriamente emocionais a respeito: os ateus hardcore também podem manter emoções fortes sobre religião, ou melhor, antirreligião. Discutir tópicos de fé pode atingir muito perto do seu telhado para aqueles que se identificam fortemente como religiosos ou antirreligiosos.

Em geral, os usuários do Facebook que discutem religião apaixonadamente on-line parecem ser acionados por sua própria identidade (como religiosos ou não religiosos) e por um envolvimento emocional com o tema da religião.

A religião é cada vez mais vista como altamente politizada, pelo menos devido à forma como é frequentemente abordada no noticiário. Numerosos estudos mostram que as notícias com pistas emocionais tendem a ganhar atenção do público e prolongar o engajamento do público.

Não é de surpreender, portanto, que os debates on-line sobre religião estejam repletos de pistas emocionais que evocam fortes reações dos seus participantes. Isso prepara o cenário para debates on-line passionais.

Mas o envolvimento emocional é necessariamente intrínseco à religião?

Desempenhando o conflito

Obviamente, conflitos emocionais não são novos, e a mídia social não é a única coisa que faz as emoções voarem alto ou baixo.

Ainda são relativamente escassos os estudos sobre a forma como os públicos de mídia podem moldar os conflitos. Mas tomando vários dos estudos existentes e comparando-os com meu próprio estudo etnográfico de um grupo norueguês do Facebook, cujos membros desejam promover a visibilidade do cristianismo na esfera pública, é possível discernir um número de semelhanças na forma como usuários de mídia “desempenham o conflito” de maneira emocional.

Em vários tipos de conflitos no norte da Europa, os usuários de mídia respondem de maneiras inequivocamente semelhantes: ao afirmarem ser a maioria silenciosa; fazendo afirmações morais e normativas sobre certo e errado; e recorrendo a táticas de culpa e vergonha. Até o mesmo tipo de vocabulário circula ao longo de muitas questões.

A maneira emocionalmente carregada com que usuários de mídia se envolvem com uma variedade de conflitos aponta para mecanismos muito semelhantes que servem para amplificar e multiplicar conflitos, por exemplo, através da escolha de bodes expiatórios.

Tipicamente, usuários de mídia são altamente expressivos de raiva, a qual dirigem ao inimigo percebido, ou seja, aquele considerado responsável por uma situação intolerável. A raiva é muitas vezes desencadeada por temas sensíveis e sinais emocionais, e leva à escalada do conflito em si.

Engatilhando emoções

Na Europa, a religião é um tema sensível comum, mas igualmente o são a imigração e as mudanças climáticas. Essas questões parecem sempre acender o público, e são mais propensas a induzir argumentos espiralados e à escalada de conflitos.

Sinais emocionais são palavras ou frases específicas que servem para aumentar o envolvimento emocional. Por exemplo, chamar os políticos de “ditadores” ou declarar que seus oponentes estão “em pacto com o diabo” ou chamá-los de “imbecis” pode aumentar os interesses emocionais em um debate.

Um dos meus achados mais intrigantes foi a descoberta de que usuários de mídia empregam uma terminologia muito semelhante para atrair a atenção de outros debatedores e incentivar um maior envolvimento no debate.

Expressões emocionalmente carregadas, como chamar o status quo indesejado de “tumor”, “doença tóxica” ou “veneno”, são frases adequadas para aumentar a pressão sanguínea de outros usuários de redes sociais. Uma terminologia quase idêntica que descreve um problema como “doença” e os responsáveis como parte de “uma ditadura” ou “assim como na Coréia do Norte” é surpreendentemente comum em todos os casos de conflito mediático que comparei.

Usuários de mídia também responderam de maneiras muito semelhantes a conflitos temáticos diferentes. A única coisa que todos esses conflitos tinham em comum, porém, foi que lidavam com temas sensíveis. Temas sensíveis têm o poder de inflamar os sentimentos, às vezes explosivos.

Em fúria contra a máquina

Não só há uma onipresença de emoção em muitos debates on-line sobre religião e outros temas controversos, mas a presença de raiva é bastante acentuada também. Aqueles que se enfurecem contra a máquina tendem a culpar uma variedade de grupos, tais como políticos, imigrantes ou muçulmanos.

Os pesquisadores Asimina Michaeliou e Hans-Jörg Trenz usam o termo “fã enfurecido” para descrever o mais zangado dos zangados, os que estão indignados com quase tudo. Mas há outros tons de raiva.

No grupo norueguês do Facebook, dependendo de quem está furioso, a raiva é dirigida aos políticos, a todas as religiões, ao islamismo ou aos muçulmanos, ao secularismo, ao ateísmo e, às vezes, simplesmente à covardia dos co-debatedores. Junta, toda essa raiva deixa um rastro bastante óbvio nas discussões on-line no grupo do Facebook.

Mesmo assim, acredito que há um perigo em se concentrar demais na raiva. Na minha leitura, a raiva pode ser a emoção que é mais claramente expressa, mas as emoções mais complexas podem muito bem estar no cerne das afirmações raivosas.

Religião ruim?

Os conflitos on-line com temas sensíveis inerentes, como aqueles que puxam questões religiosas e de identidade, tendem a evocar respostas emocionais, que, por sua vez, inspiram os usuários de mídia social a desempenhar o conflito de maneiras que multiplicam a disputa ou disputas.

Meu estudo conclui que precisa haver um tema sensível para usuários de mídia social agirem de maneiras particulares, mas que o tema sensível não precisa ser religião.

Temas sensíveis parecem ser parte integrante da dinâmica de conflitos on-line e inspiram um estado de emoção elevada entre as audiências, independentemente do tema. Na verdade, usuários de mídia parecem reagir a conflitos de maneiras emocionalmente carregadas, independentemente do tema em debate. A religião é apenas outro gatilho para as emoções que expressamos on-line.


122983ea53-photo-on-2-22-13-at-11-54-amMona Abdel-Fadil leciona Mídia e Religião na Universidade de Oslo e coordena a Rede Nórdica para Mídia e Religião. Seu site pessoal pode ser acessado aqui.

Artigo original publicado aqui. Reproduzido com permissão.


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4 comentários sobre “Por Que Nos Enfurecemos Sobre Religião no Facebook

  1. Eu penso que muitas vezes isso é apenas o ego da pessoa, ela veste a camisa de uma religião, partido político, música porque ela pensa que aquilo define quem ela é, e ninguém quer ter o ego magoado, isso não diz quem você é mas, a sociedade te cobra que você escolha um lado, acredite em algo quando na verdade se formos estudar a fundo, nada daquilo define quem você é, o que te define são as suas decisões ao longo da vida!

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