Se uma revista da Igreja hoje chega a modificar uma obra de arte para torná-la mais “recatada” e doutrinariamente correta, no passado essa tendência à censura era ainda mais forte nos antigos periódicos mórmons, certo? Errado! Pelo menos é o que nos sugere esta capa da revista Juvenile Instructor, de 1926.
O Juvenile Instructor era uma revista mensal, dirigida a crianças e adolescentes. De propriedade do apóstolo George Q. Cannon até 1901, ela foi então adquirida pela Escola Dominical da igreja (Deseret Sunday School Union). Ou seja, temos acima a capa de uma publicação oficial da igreja. A gravura da capa não traz o nome do artista, mas apenas da empresa que a produziu.
Chamam a atenção na gravura a auréola em Cristo – algo que provavelmente não apareceria hoje numa publicação oficial sud – e o grupo de crianças que brinca no lado direito. Há bastante pele exposta, especialmente da criança que está de costas para nós, completamente nua. Outra criança completamente despida está no colo da sua mãe, ao lado esquerdo, e desta vez a nudez é frontal.
Contrastando com a edição por photoshop das asas angelicais e braços de fora numa publicação de 2011, a publicação de 1926 não se preocupou com o potencial perigo de desencaminhar seus jovens leitores. Tanto no aspecto doutrinário e simbólico (auréola), quanto no aspecto do “recato” (crianças nuas), a gravura foi considerada adequada para a capa de uma publicação destinada ao público infanto-juvenil.
Não se fazem mais mórmons como antigamente? Bem que poderíamos ter uma estética “retrô” nas revistas Liahona.
Acho que porque não existia photoshop na época! kkkk Simples assim! E vemos que neste época os líderes (A Igreja) media menos sua palavras para o público SUD e não-SUD, de repente este foi o caso também com o uso de imagens!
Acho que poderia ter usado outra gravura em vez de “editar” e excluir as asas dos anjos, eles devem ter visto muito na gravura para decidirem não procurar outra e optarem pela edição… Não vejo nenhum problema em “adaptar” a imagem às nossas crenças… “julgar tudo e reter o que é bom” poderia se aplicar até nestes casos…
De fato, David, não havia photoshop em 1926 🙂 Mas a nudez das crianças na ilustração foi aparentemente percebida pelos editores como algo inocente e não impediu sua escolha para estampar a capa.
Eu não concordo com esse processo de editar obras de arte. Se eu não gosto de certa obra ou vejo nela um conteúdo questionável ou imoral, não vou usá-la. Vou buscar outra que se adapte ao que quero.
Observando da distância que consigo tomar, acho essa ação de modificar uma imagem para fins de recato e teologia simplesmente fascinante como fenômeno cultural e altamente simbólico do que a igreja já fez também com sua própria história, “adaptando” o passado às crenças presentes.
Olhando pelo lado espiritual da coisa, isso me faz lembrar do coar mosquitos e engolir camelos.
Abraços!
Entendo sua surpresa ao ver as diferenças de padrões utilizadas nas publicações antigas em comparação com as atuais publicações, porém isso é somente reflexo da mudança de entendimento por parte da liderança da igreja sobre o tema.
O que é surpreendente não é a mudança em si, a qual é esperada num intervalo de quase um século e relacionado ao contexto histórico maior, mas a direção da mudança: numa época em que os membros da igreja sud cobriam o corpo até os punhos e tornozelos temos a capa acima da Juvenile Instructor com uma inocente nudez infantil, enquanto em 2011 – quando membros andam de pernas e braços de fora – anjos pintados por Bloch não são recatados ou teologicamente corretos. Pergunto: nos tornamos moralistas? Além disso, o que motiva tão fixação pelos chamados padrões de vestuário?
Talvez um afrouxamento quanto às verdadeiras exigências do Evangelho faz com que nos apeguemos com maior fervor à minúcias como vestuários. Bem, talvez… O fato que acho mais chocante é que nos tornamos como aquelas igrejas denunciadas por Jesus Cristo quando do encontro com Joseph Smith: “eles se aproximam de mim com os lábios, mas seu coração está longe de mim; ensinam como doutrina os mandamentos de homens, tendo aparência de religiosidade, mas negam o seu poder”.
Talvez um afrouxamento quanto às verdadeiras exigências do Evangelho faz com que nos apeguemos com maior fervor à minúcias como normas de vestuário. Bem, talvez… O fato que acho mais chocante é que nos tornamos como aquelas igrejas denunciadas por Jesus Cristo quando do encontro com Joseph Smith: “eles se aproximam de mim com os lábios, mas seu coração está longe de mim; ensinam como doutrina os mandamentos de homens, tendo aparência de religiosidade, mas negam o seu poder”.
Basta imaginar: Atualmente costumamos ver a “inocente nudez infantil” em público? Vemos crianças brincando nuas na rua? Normalmente não, então, para os padrões atuais, a figura acima não está de acordo.
Se considerarmos que A Igreja sempre orientou os membros quanto aos bons costumes a serem observados, somos sim moralistas.
O objetivo do recato é evitar atrair atenção indevida.
Gustavo,
você está sugerindo que a cena acima seria comum em 1926?!
Abraços!