
Buscando o Espírito, pintura de Greg Olsen.
Missionárias d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias vivem uma rotina dura de trabalho e vários desafios nos seus esforços de proselitismo. Uma dificuldade que pode passar despercebida por ser pouco comentada é o assédio sexual.
Uma missionária norte-americana que serviu na Grécia em 1999 relata no blog Feminist Mormon Housewives sua experiência:
Durante minha missão, homens diziam cantadas enquanto caminhava com minha companheira, comentavam como eu era bonita, diziam que casariam comigo e frequentemente me apalpavam quando eu estava esmagada entre um monte de pessoas no ônibus e de onde não conseguia fugir. Percebi que esse comportamento era bastante típico para a cultura em que servi. Com certeza não experimentei nada que outra mulher não experiente na Grécia. Mas eu não me sentia bem preparada para lidar com esse tipo de comportamento.
Ela conta por que decidiu não relatar a situação ao seu presidente de missão ou outro líder masculino:
Com certeza não queria falar com meus líderes do sexo masculino sobre o assunto. A ideia de que pensassem sobre como um homem tinha agarrado meu traseiro apenas adicionaria mais desconforto à experiência. Não, obrigada.
Além do desconforto físico e emocional experimentada em tais situações por jovens missionárias (e missionários) mórmons, em muitos lugares, os líderes eclesiásticos responsáveis por dirigir, amparar e aconselhar tais jovens nem sempre parecem sensatos em suas tarefas (vide exemplos aqui).
Missionárias brasileiras ou servindo no Brasil têm sofrido situações de assédio sexual?
Deveriam existir conversas sobre tal problema no Centro de Treinamento Missionário ou em cada missão? Publicações a respeito do tema? Missionários deveriam ser informados sobre esse aspecto da cultura local?
Como missionárias e a Igreja devem lidar com o assédio sexual no campo missionário?
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Como se fosse só as Sisteres que sofrem com isso!
Você poderia de elaborar melhor a sua afirmação? Poderia nos contar algo sobre o assédio sexual sofrido por missionários homens (élderes)? Missionários ouvem cantadas? Têm partes do corpo apalpadas no ônibus lotado?
Acho que seria importantíssimo, Adriano, termos essa reflexão também, especialmente porque estamos falando de adolescentes que saem em missão aos 18! Confesso, porém, que me soa mal a sua frase acima porque parece sugerir que o problema com as “sisteres” não é tão grave.
Eu sofri vários assédios na missão. Cantadas na rua, mulheres se oferecendo e inclusive passada de mão no pênis. Acho que igreja deveria amadurecer o assunto nos CTMs, o amadurecimento é a única forma de encarar a situação. Se a/o jovem não tem uma opinião sobre o assunto isso pode se tornar algo ruim para o serviço missionário, inclusive alguns colocariam o pecado sobre si.
Sim Antônio Trevisan,sofrem sim.
Servi como missionário e diariamente enfrentávamos cantadas,apalpões e outros tipos de assedio sexual.O grande problema é que a maioria não fala nada por entender que são provações e que não precisam de ajuda,que foi só uma snake e etc.
É algo extremamente sério e comungo da mesma opinião de todos,é preciso tratar abertamente do assunto.Claro que existem as regras sobre sexo oposto e a Lei da Castidade que já protegem eficazmente quem as cumprir,porém é necessário que nas entrevistas os jovens missionários sejam admoestados sobre o tema.
Antônio,
Penso que comentário do Adriano quis dizer é que esses assédios não estão restrito somente às missionárias, mas sim, a todas as mulheres. Ou seja, não há relação direta entre elas serem missionárias e o assédio, mas sim, a sua condição de mulher é suficiente para tal.
Ressalto que é repudiável esse comportamento masculino.
Antônio,
O que Adriano quis dizer em seu comentário é que este tipo de assédio não ocorre somente contra as missionárias, mas sim contra qualquer mulher.
Apesar de nossas missionárias se vestirem de modo recatado, nem isso afasta os vagabundos que cometem tais assédios.
Então, infelizmente, há uma grande chance de uma mulher ser assediada num ônibus lotado, independentemente de estar servindo uma missão ou não.
Outro ponto, é perfeitamente compreensível as missionárias não se sentirem confortável em relatar tais casos para o seu presidente de missão, mas elas não devem deixar de relatar o fato incômodo para a esposa do presidente. Com certeza o pior de tudo é omitir o problema.
Soluções? Sinceramente não sei, mas quem souber, favor não avisar somente para as missionárias, mas sim para todas as mulheres.
Creio ser mais uma manifestação de: “nas igrejas ou nos lares conservadores” não se fala sobre sexo ou sexualidade.
Acredito que não precisa ser especialista, mas apenas um pouco sensível (ou pior, vítima) para perceber que se houvesse mais liberdade para se perguntar ou questionar certos assuntos ou ações – e me refiro apenas aos mais simples e triviais – provavelmente algumas tragédias de cunho moral poderiam ser evitadas.
Em algumas missões a esposa do presidente da missão conversa tanto com os missionários como com as missionárias em particular (como se fosse uma entrevista), onde estes podem abrir seus corações para coisas que ficariam constrangidos de falar ao presidente (aquela coisa de mãe mais compreensiva e tal), mas tenho minhas dúvidas de que isso seja um perfil recorrente nas dezenas de missões no mundo.
Enfim, a vergonha (algumas vezes potencializada pelo meio) causa estragos. Leio relatos constantes de pessoas que tiveram receio de pedir socorro e se tornaram vítimas de muitas coisas, e hoje carregam sequelas.
E sim, missionários masculinos também sofrem assédio. E isso também em geral fica escondido dos demais. No transporte coletivo a coisa fica pior, pois não tem como sair da situação. Só O Pai mesmo pra proteger esses servos de tanta coisa que eles passam no campo missionário.
E sim, a Igreja deveria orientar muitos desses jovens sobre coisas desse tipo, MAS parece que todos eles acham que todos os jovens missionários vieram de condições sociais que lhes permitiram ser mais astutos em meio ao mundo, o que se sabe, inclusive pelo modo como foram tratados em seus lares, que não é bem assim.