Muita gente não entende por que existe a Associação Brasileira de Estudos Mórmons.

O site Vozes Mórmons é a página oficial da Associação Brasileira de Estudos Mórmons, dedicada a exploração acadêmica e literária do Mormonismo no Brasil, para brasileiros, e por brasileiros.
“Mas não é patrocinado pela Igreja” dizem alguns. Outros pensam que a Igreja é contra os acadêmicos e tem medo do estudo sobre sua religião, pois “se você aprende demais, perde o testemunho,” pensam. E outros ainda pensam que o estudo não é importante, dizendo: “Quero viver a minha vida. Para que devo gastar meu tempo estudando? Já fiz a escolha, não vou mudar.”
Há três anos atrás eu ensinei o primeiro capítulo do manual Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Lorenzo Snow e nele achei uma resposta: O propósito da vida.
Ao me preparar para ensinar a lição, li o capítulo cuidadosamente e me senti muito inspirado com o conhecimento de Lorenzo Snow nesse assunto.
Para ele, o mormonismo é estritamente voltado para a aprendizagem. Ele disse:
“Neste sistema de religião que nós recebemos há algo de excelente e glorioso, há algo a se aprender todos os dias, e isso é de grande valor. E não só temos esse privilégio, mas temos a necessidade de receber essas coisas e essas novas ideias.
Toda a ideia do mormonismo é voltada para o aprimoramento — intelectual, físico, moral e espiritual. Para os membros da Igreja o aprendizado parcial não basta.”
Portanto, no mormonismo, aprender não é só um privilégio, mas sim uma necessidade. E um apredizado parcial não é suficiente.
É claro que não podemos aprender todas as coisas nesta vida, mas aprender só uma parte sem tentar aprender tudo não é suficiente. O Presidente Snow também falou sobre isso:
“Há pessoas que não aprendem e que não progridem tão rápido quanto poderiam, pois seus olhos e seu coração não estão fixos em Deus; elas não refletem e não têm o conhecimento que poderiam ter. Essas pessoas deixam passar grande parte das coisas que poderiam receber. Temos que obter conhecimento antes de alcançar a felicidade permanente; temos que estar de olhos bem abertos quanto às coisas de Deus.
Mesmo que agora negligenciemos a responsabilidade de fazer bom uso de nosso tempo e afiar nossas faculdades intelectuais, chegará o momento em que teremos de fazê-lo. Temos uma grande distância a percorrer e, se não caminharmos hoje, teremos muito mais a caminhar amanhã.”
Neste caso, quando ele fala em “amanhã,” parece que fala do mundo vindouro, depois desta vida. Entendo por isso que, o que quer que não aprendamos nesta vida, irá nos adiar ou demorar nosso progresso na vida futura. Que responsabilidade!
Não vejo nada nisso que seja diferente do que já sabemos através do plano de salvação. Segundo esse plano, nossas vidas eternas (pois todas as nossas vidas são eternas) têm o propósito de aprender — aprender como ser semelhante ao nosso Pai Celestial. Como espíritos, aprendemos o que podíamos aprender no mundo espiritual. Chegamos aqui na terra para aprender o necessário nesta vida. E depois desta vida, parece-me que teremos ainda muito mais para aprender. Lorenzo Snow tem razão: “Temos que obter conhecimento antes de alcançar a felicidade permanente.”
Tudo bem. Mas como é que a ABEM entra nisso? A ABEM promove a conferência anual de estudos mórmons, e ainda mantém o site Vozes Mórmons dedicado à visão acadêmica do mormonismo.
Uma conferência acadêmica não é nada mais de uma reunião em que algumas pessoas apresentam o que aprenderam dos seus estudos pessoais a outras pessoas. Dentro de cada campo de conhecimento, elas costumam apresentar uma aprendizagem avançada, mas ainda assim, é nada mais que aprendizagem. Como em todo processo de aprendizagem, pode-se haver erros. Somos todos humanos, e por isso, somos capazes de errar. Apresentar algo numa conferência acadêmica não quer dizer que está certo. Mas deve querer dizer que exigiu estudo e trabalho.
Vamos revisar as dúvidas sobre a Conferência da ABEM e o site Vozes Mórmons que nós temos ouvido nesses 7 anos, para ver se, à luz dos ensinamentos do Lorenzo Snow e a prática da Igreja hoje, levantam pontos válidos:
Não é patrocinado pela Igreja
Sim. Não é. As escrituras falam sobre isso:
“Pois eis que não é conveniente que em todas as coisas eu mande; pois o que é compelido em todas as coisas é servo indolente e não sábio; portanto não recebe recompensa.
Em verdade eu digo: Os homens devem ocupar-se zelosamente numa boa causa e fazer muitas coisas de sua livre e espontânea vontade e realizar muita retidão.
Pois neles está o poder e nisso são seus próprios árbitros. E se os homens fizerem o bem, de modo algum perderão sua recompensa.” (D&C 58:26–28)
Se o Senhor ordena que aprendamos, e por esta escritura parece que somos comandados a aprender de nossa “livre e espontânea vontade.” Tal aprendizagem não deveria incluir uma conferência acadêmica?
A Igreja já tem muita experiência com essas conferências acadêmicas. Creio que a primeira delas foi a da Mormon History Association (Associação de História Mórmon), que realizou sua primeira conferência em 1965. Na minha experiência, os historiadores empregados pela Igreja costumam assistir a conferência e às vezes até Autoridades Gerais da Igreja assistam. (Há três anos atrás, inclusive, tivemos uma apresentação do historiador Reid Neilson, gerente do Departamento de História da Igreja.)
Se fosse absolutamente necessário o patrocínio da Igreja, assistiria uma Autoridade Geral?
Se você aprende demais, perde seu testemunho
Pode ser. Pode ser também que se você não aprender bastante, vai perder seu testemunho. Ou até que se você não aprender demais, vai perder seu testemunho. Considero isso uma falácia. Testemunho não depende de conhecimento, depende de fé.
Quando enfrentamos informação que parece indicar que a nossa fé está baseada em algo falso, como sugeriu o Patriarca e historiador para a Igreja Richard Bushman, podemos reagir de várias maneiras. Podemos pensar que por causa dessa informação nossa fé é falsa, ou mesmo que nossa fé é falsa em parte. Podemos também modificar a nossa fé para aceitar essa nova informação. Ou podemos esperar para ver se mais informações esclarecedoras aparecerão no futuro. Ou podemos até rejeitar a informação como inválida. Nenhuma dessas reações está sempre correta. Se a nossa fé é fundamentada em algo falso, temos que rejeitar aquela parte de nossa fé! Ou temos que modificar nossa fé para que possamos aceitar a informação verdadeira. Se a informação é falsa, temos que rejeitá-la. E, se não sabemos se a informação é falsa ou não, muitas vezes é melhor esperar mais informação — e nesse caso, a falta de informação é a prova de nossa fé.
Temos que lembrar que parte do propósito da vida é aprender como ter fé. Fé não existe quando temos conhecimento completo. Portanto, se nós não podemos duvidar — se o conhecimento é perfeito — não podemos aprender. A falta de conhecimento é uma condição da vida. Não podemos provar ou refutar a veracidade do Livro de Mórmon, pois uma prova dá conhecimento perfeito, e daí não teremos fé nele. Não podemos provar que Cristo é o Filho de Deus, pois é necessário ter fé n’Ele. A possibilidade de dúvida é sempre necessária.
E por isso, todos nós podemos perder os nossos testemunhos. A diferença entre acreditar e não fica sempre em nosso poder. Como sempre há uma maneira de não se acreditar, sempre há também uma maneira para se crer. O conhecimento, a aprendizagem, sim, podem abalar a fé, podem nos conduzir a não crer mais. A vida também pode fazer a mesma coisa. Mas tudo o que pode abalar a fé pode, também fortalecer a fé. Pois a fé é uma escolha.
Quero apenas viver a minha vida
Eu também quero viver a minha vida. Mas, ao meu ver, viver a vida é aprender. Como eu escrevi acima, o propósito da vida é aprender. “Viver a vida apenas, e nada mais” é permanecer atrasado, como disse o Presidente Lorenzo Snow:
“Mesmo que agora negligenciemos a responsabilidade de fazer bom uso de nosso tempo e afiar nossas faculdades intelectuais, chegará o momento em que teremos de fazê-lo. Temos uma grande distância a percorrer e, se não caminharmos hoje, teremos muito mais a caminhar amanhã.”
Agora, reconheço que há muitas maneiras de se aprender. O próprio Snow indicou que o aprimoramento nesta vida deve incluir aprendizagem “intelectual, física, moral e espiritual.” Quando ensinei esse capítulo, um homem lá, membro do sumo conselho da estaca, indicou que ele está aprendendo jiu-jitsu, e concordei com ele que isso também é uma aprendizagem útil e importante.
Não digo que nossa conferência de estudos mórmons é tão importante que todos os membros da Igreja devam assisti-la. Mas acho-a importante como uma maneira de aperfeiçoar nosso conhecimento de nós mesmos e da nossa Igreja, nossa organização, nossa religião, nossa fé. Tenho certeza de que quem comparece às nossas conferências, e acompanha o nosso site, vai aprender, e isso vai nos ajudar a melhorar e aumentar o conhecimento disponível sobre o mormonismo e seus membros no Brasil.
Artigo adaptado do original.
Muito bom Kent. Sentia tua falta por aqui.
Nossa, gostei muito do artigo, me identifiquei porque penso de forma análoga, meu pai sempre que me ensinou que fomos inteligências e precisamos sempre progredir e nos esforçar para ver “todo o quadro” e mesmo assim ainda não veremos.