Trump Ameaça a Constituição, Diz Conservador Mórmon

O presidente eleito Donald Trump usa táticas autoritárias para corroer as instituições democráticas e angariar mais poder para si, opina o mórmon Evan McMullin, em editorial publicado ontem no jornal The New York Times.

McMullin foi candidato independente à presidência dos EUA nas últimas eleições, buscando o voto republicano contrário a Trump. O conservador ganhou meros 0,48% dos votos, que lhe garantiram a terceira colocação nacionalmente. Porém, em Utah, seu estado natal, atingiu 21,5% dos votos. No mês anterior à eleição, especulava-se que MucMullin poderia mesmo vencer no estado mórmon.

Evan McMullin. Imagem: evanmcmullin.com

Evan McMullin. Imagem: evanmcmullin.com

Diferentemente de Mitt Romney, passadas as eleições, MucMullin não mudou de opinião sobre Donald Trump. O mórmon que serviu como missionário no Brasil, trabalhou para a CIA e para o Partido Republicano no Congresso está em um esforço cotidiano para denunciar as ações do presidente eleito.

Leia a seguir alguns dos principais trechos do editorial.

Ignorância

Em 7 de julho, (…) Donald J. Trump, se reuniu em particular com os republicanos da Câmara perto do Capitólio. Eu estava presente como diretor-chefe de política da Bancada Republicana. O propósito do Sr. Trump era persuadir os deputados a unirem-se em torno dele (…). Uma congressista perguntou-lhe sobre seus planos para proteger a primeira Emenda da Constituição, que atribui todo o poder legislativo federal ao Congresso.

O Sr. Trump a interrompeu para declarar seu compromisso com a Constituição – até mesmo com partes dela que não existem, como “Artigo XII“. Choque tomou a sala enquanto o Sr. Trump confirmou uma de nossas principais preocupações a seu respeito: ele não possuía um conhecimento básico da Constituição.

Cartilha autoritária

Ele questionou a independência judicial, ameaçou a liberdade de imprensa, clamou por violar a igualdade de proteção dos muçulmanos sob a lei, prometeu o uso da tortura e atacou os americanos com base em seu sexo, raça e religião. Ele também minou as normas democráticas cruciais, incluindo o debate pacífico e a transição do poder, o compromisso com a verdade, a liberdade da interferência estrangeira e a abstenção do uso do poder executivo para vingança política.

Há pouca indicação de que algo tenha mudado desde o Dia da Eleição. Na semana passada, o Sr. Trump comentou no Twitter que a queima de bandeiras deveria ser punida com encarceramento e a revogação da cidadania. Como alguém que serviu a este país, não tenho nenhuma defesa para quem queima bandeiras, mas eu defendo seu direito de liberdade de expressão para protestar – um direito garantido pela Primeira Emenda. Embora eu suspeite que o objetivo principal do Sr. Trump era provocar seus oponentes, sua ação era consistente com a cartilha autoritária que usa.

Corroendo a democracia

Trump também recentemente inflacionou seu desempenho eleitoral, alegando – sem evidência – que “ganhou o voto popular se você deduzir os milhões de pessoas que votaram ilegalmente”. Isso também não é nada de novo. Autoritários muitas vezes exageram seu apoio popular para aumentar a percepção de sua legitimidade. Mas o objetivo mais profundo é enfraquecer as instituições democráticas que limitam seu poder. Corroendo a confiança no voto, eleições e órgãos representativos lhes dá uma mão mais livre para exercer mais poder.

Como funcionário da C.I.A., eu vi o uso dessas táticas autoritárias em primeira mão ao redor do mundo. Seu profundo apetite por poder absoluto leva sua intolerância para qualquer restrição – seja por pessoas, organizações, a lei, normas culturais, princípios ou mesmo a expectativa de coerência. Para um déspota, todos esses controles sobre o poder devem ser ignorados, minados ou destruídos de forma que ele é tudo o que importa.

Árbitro supremo

Não podemos mais supor que todos os americanos compreendam as origens de seus direitos e a importância da democracia liberal. Precisamos de uma nova era de engajamento cívico que nos desperte para a causa da liberdade e da igualdade. Esse compromisso deve estender-se para garantir que os nossos representantes eleitos defendam a Constituição, em ação e discurso – mesmo se fazê-lo coloca em desacordo com seu partido.

Não podemos permitir que o Sr. Trump normalize a idéia de que ele é o árbitro supremo de nossos direitos. Aqueles que puderem precisam falar com ousadia e sofrer possíveis retaliações. Outros terão de oferecer as mãos de bondade e amizade através da divisão política tradicional, bem como para aqueles que podem se tornar alvos por causa de quem são ou o que acreditam. Aqueles que entendem a causa são chamados ao trabalho que, espero, unificará e abençoará nossa nação a tempo.

2 comentários sobre “Trump Ameaça a Constituição, Diz Conservador Mórmon

  1. “Ele questionou a independência judicial, ameaçou a liberdade de imprensa, clamou por violar a igualdade de proteção dos muçulmanos sob a lei, prometeu o uso da tortura e atacou os americanos com base em seu sexo, raça e religião.”

    A direita no mundo inteiro está trabalhando contra essas liberdades e garantias da democracia liberal. Acho que não é exagero dizer que estamos voltando a um novo ciclo fascista no mundo.

    Só que dessa vez parece que as democracias que lideraram anteriormente a frente antifascista (Inglaterra e EUA) estão minadas pelos seus movimentos fascistas internos que angariaram a opinião pública nesses países.

    Dessa vez os fascistas se prepararam bem.

  2. Penso que as forças de oposição nos EUA são bem poderosas! TRUMP vai sentir isso na pele ou senão cai, sua sobrevivência depende disso.Isso pode moderar suas intenções.

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