Leonard Arrington: Joseph Fielding Smith e Genealogia Negra

Em 17 de julho de 1972, Leonard Arrington registrava em seu diário um relato de Thomas Edgar Lyon sobre sua interação com o Apóstolo Joseph Fielding, ocorrida vinte anos antes. O tema da conversa era a dúvida de um jovem membro da Igreja que, tendo descoberto sua genealogia africana, não sabia se deveria contar a sua noiva, com quem se casaria no templo, e a seu bispo.

Retrato do historiador Leonard Arrignton (1917-1999) | Imagem: Acervo da Utah State University, cortesia do Herald Journal.

Thomas Edgar Lyon, a quem Arrington chama de Ed, servira como missionário na Holanda e para lá retornara como Presidente de Missão na década de 1930. Nos anos 1940 e 50, Lyon lecionou no Instituto de Religião da Universidade de Utah, onde transcorreu o evento narrado abaixo.

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Kate Holbrook (1972-2022)

Com pesar, noticiamos o falecimento da historiadora Kate Holbrook, ocorrido no sábado passado (20/8), em Salt Lake City. Ela foi autora e/ou editora de diversos artigos, livros e apresentações relacionados à história das mulheres mórmons e à relação entre comida e comunidades religiosas.

Em 2011, Holbrook tornou-se a primeira historiadora gerente da História da Mulher no Departamento de História d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A posição inovadora conquistada por Holbrook gerou publicações que buscaram integrar a história das mulheres mórmons à narrativa oficial da maior denominação oriunda do movimento mórmon.

A historiadora Kate Holbrook, falecida em 20 de agosto de 2022. | Imagem: cortesia de kateholbrook.com

Em 2016, a Editora do Historiador da Igreja – uma das editoras oficiais da Igreja, até então dedicada exclusivamente ao Projeto Joseph Smith Papers – publicou o livro e o site coeditados por Kate Holbrook The First Fifty Years of Relief Society: Key Documents in Latter-Day Saint Women’s History (Os Primeiros Cinquenta Anos da Sociedade de Socorro: Documentos-chave na História das Mulheres Santos dos Últimos Dias), o qual permanece infelizmente sem tradução ao português.

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Podcast Aborda História do Templo de Nauvoo

O Projeto Joseph Smith Papers lança série de podcast em português.

Joseph Smith nunca construiu uma capela ou outro local para as reuniōes cotidianas de seu movimento religioso. Ele foi, no entanto, um construtor de templos, locais sagrados para a execuçāo dos rituais mais sublimes do mormonismo.

Desenho do arquiteto William Weeks (1813-1900) para a planta orginal do Templo de Nauvoo.| Imagem: cortesia da Biblioteca de História da Igreja.
Mesmo após o assassinato de seu Profeta em 1844 e de terem decidido deixar sua cidade-estado em Illinois, mórmons prosseguiram com a construçāo do Templo de Nauvoo, dedicaram-no sem que estivesse totalmente finalizado e, em cerca de 60 dias, ministraram dia e noite todas as cerimônias templárias possíveis antes de deixar os Estados Unidos.
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Leonard Arrington: Política e Raça Entre Mórmons Latino-Americanos

Escrevendo acerca da Conferência Geral SUD de outubro de 1979, Leonard J. Arrington fez algumas observações sobre os santos dos últimos dias na América Latina, baseado em suas conversas com os representantes regionais da Igreja na região. Percepções sobre raça e inclinações políticas, segundo o historiador, marcavam diferenças entre mórmons nos Estados Unidos e seus pares nas Américas Central e do Sul, e mereciam a atenção da hierarquia em Salt Lake City.

Retrato de Leonard Arrignton | Imagem: Acervo da Utah State University, cortesia do Herald Journal

Arrignton fala em tons elogiosos dos Representantes Regionais que conheceu na Conferência, dentre eles o brasileiro Osiris Grobel Cabral. Para o Historiador da Igreja, tratavam-se de “pessoas jovens, enérgicas”, expressando um contraste sutil com as Autoridades Gerais. Um dos Representantes, Jeff[rey] Allred, é lembrado como alguém que “gosta de ler a história ‘verdadeira'”, uma constante preocupação que Arrington expressa em seus diários. Continuar lendo

Novo Historiador da Igreja Mórmon Não É Historiador, Advogado

A Primeira Presidência d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias anunciou Legrand Curtis Jr como o novo Historiador da Igreja efetivo a partir de agosto de 2019.

Mantendo uma tradição desde 1982, o Historiador da Igreja não é um historiador por profissão ou treinamento acadêmico. Ademais, assim como todos os Historiadores da Igreja desde 1997, Curtis Jr é advogado por profissão e treinamento.

O único Historiador da Igreja na história que era um historiador profissional serviu entre 1972 e 1982. Leonard J Arrington presidiu o que historiadores hoje chamam de “era de ouro na historiografia mórmon”, e é amplamente considerado como o “pai da historiografia mórmon”.

E, possivelmente, por isso vê-se a tendência atual de chamar advogados, e não historiadores. Continuar lendo

Leonard Arrington: Ezra Taft Benson e a Verdadeira História Mórmon

“Tive um sonho na noite de sexta de que havia sido demitido do meu cargo como Historiador da Igreja”, escreveu Leonard J. Arrington em 11 de setembro de 1972. “Isso pode ter sido provocado”, concluiu com humor, “por comer demais frango assado e/ou por um telefonema que recebi”.

Leonard J. Arrington (1917-1999) foi o primeiro não-Apóstolo, e até hoje o único não-Autoridade Geral, chamado para o ofício de Historiador da Igreja desde a instituição de tal chamado eclesiástico por Joseph Smith em 1842. Arrington ainda teve um trabalho fundamental na orientação de uma nova geração de historiadores mórmons até sua aposentadoria como Professor e Chefe de Departamento da Universidade Brigham Young (BYU).

Capa do primeiro volume de “Confissões de Um Historiador Mórmon”, editado por Gary Bergera. | Imagem: Cortesia de Signature Books.

A liberdade acadêmica e  intelectual proposta por Arrington não passou, porém, incólume. Alguns Apóstolos, como Ezra Benson, Bruce McConkie, Mark Petersen, e Boyd Packer fizeram feroz oposição ao seu trabalho, até que em 1982, ele foi desobrigado em reunião privada e seu novo substituto anunciado em Conferência Geral alguns meses depois, sem quaisquer menções ou votos de agradecimento a Arrington. Continuar lendo

Leonard Arrington: Poder e Medo das Autoridades Gerais

O Historiador da Igreja entre 1972 e 1982, Leonard J. Arrington, anotou em seu diário algumas observações pessoais sobre como ele enxergava os bastidores da administração eclesiástica da Igreja SUD, o exercício de poder entre Autoridades Gerais e os medos que regiam as reações da liderança da Igreja.

Leonard Arrington

Arrington foi o primeiro não-Apóstolo, e até hoje o único não-Autoridade Geral, a ser chamado para o ofício de Historiador da Igreja desde quando Joseph Smith chamou Willard Richards em 1842 para a posição.

Sob a égide do Apóstolo Howard Hunter, Arrington transformou o campo acadêmico para historiadores mórmons ao abrir os arquivos históricos da Igreja para pesquisadores. Durante uma década, Arrington estimulou e fomentou uma verdadeira revolução nos estudos mórmons à era popularmente chamada de “era de ouro em historiografia mórmon” ou “nova história mórmon”.

Essa liberdade acadêmica e abertura intelectual não passou, porém, incólume. Alguns Apóstolos, como Ezra Benson, Bruce McConkie, Mark Petersen, e Boyd Packer fizeram feroz oposição ao trabalho de Arrington, até que em 1982, ele foi desobrigado em uma reunião secreta privada e seu novo substituto anunciado em Conferência Geral alguns meses depois, sem quaisquer menções a Arrington. Inclusive, ele foi o único Historiador da Igreja a ser desobrigado sem votos de gratidão pela Igreja em conferência.

Arrington, contudo, permaneceu inabalavalmente fiel e ativo na Igreja pelo resto da vida, e ainda mais importante, produzindo e orientando uma nova geração de historiadores até sua aposentadoria como Professor e Chefe de Departamento da BYU.

Entre esses o autor da melhor biografia de David O. McKay, historiador Gregory Prince, que publicou esse ano uma biografia de Leornard Arrington: Leonard Arrington and the Writing of Mormon History. É desta biografia, por exemplo, que descobrimos uma página do diário de Arrington, onde ele lista mudanças que julgava serem necessárias e cruciais para alterar aspectos nocivos e perniciosos dentro da instituição da Igreja SUD.

Diário de Leonard Arrington, com seu retrato ao fundo. (Foto: Scott Sommerdorf l The Salt Lake Tribune)

Diário de Leonard Arrington, com seu retrato ao fundo. (Foto: Scott Sommerdorf l The Salt Lake Tribune)

O diário está sendo preparado para publicação, com previsão para março de 2017. A editora Signature Books lançou um teaser com o trecho mencionado no topo do artigo, de observações anotadas em julho de 1972: Continuar lendo

Historiador da Igreja Pedia Reformas

O Historiador da Igreja SUD entre 1972 e 1982, Leonard J. Arrington, anotou em seu diário reformas à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que ele julgava serem necessárias para remover práticas institucionais nocivas para a Igreja e para os membros.

Leonard Arrington

Arrington foi o primeiro não-Apóstolo, e até hoje o único não-Autoridade Geral, a ser chamado para o ofício de Historiador da Igreja desde quando Joseph Smith chamou Willard Richards em 1842 para a posição.

Sob a égide do Apóstolo Howard Hunter, Arrington transformou o campo acadêmico para historiadores mórmons ao abrir os arquivos históricos da Igreja para pesquisadores. Durante uma década, Arrington estimulou e fomentou uma verdadeira revolução nos estudos mórmons à era popularmente chamada de “era de ouro em historiografia mórmon” ou “nova história mórmon”.

Essa liberdade acadêmica e abertura intelectual não passou, porém, incólume. Alguns Apóstolos, como Ezra Benson, Bruce McConkie, Mark Petersen, e Boyd Packer fizeram feroz oposição ao trabalho de Arrington, até que em 1982, ele foi desobrigado em uma reunião secreta privada e seu novo substituto anunciado em Conferência Geral alguns meses depois, sem quaisquer menções a Arrington. Inclusive, ele foi o único Historiador da Igreja a ser desobrigado sem votos de gratidão pela Igreja em conferência.

Arrington, contudo, permaneceu inabalavalmente fiel e ativo na Igreja pelo resto da vida, e ainda mais importante, produzindo e orientando uma nova geração de historiadores até sua aposentadoria como Professor e Chefe de Departamento da BYU.

Entre esses o autor da melhor biografia de David O. McKay, historiador Gregory Prince, que publicou há duas semanas uma biografia de Leornard Arrington: Leonard Arrington and the Writing of Mormon History.

É desta biografia que descobrimos uma página do diário de Arrington, onde ele lista mudanças que julgava serem necessárias e cruciais para alterar aspectos nocivos e perniciosos dentro da instituição da Igreja SUD.

Diário de Leonard Arrington, com seu retrato ao fundo. (Foto: Scott Sommerdorf l The Salt Lake Tribune)

Diário de Leonard Arrington, com seu retrato ao fundo. (Foto: Scott Sommerdorf l The Salt Lake Tribune)

Eis a lista de práticas comuns que Arrington identificou como prevalentes e prejudiciais: Continuar lendo

Mulheres Mórmons Têm “Nova” História Publicada pela Igreja

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Capa do novo livro publicado pela Igreja SUD

Os primórdios da Sociedade de Socorro, entre 1842 e 1892, contados pelas mulheres mórmons. Essa é a proposta do livro Os Primeiros Cinquenta Anos da Sociedade de Socorro: Documentos-chave na História das Mulheres Santos dos Últimos Dias, lançado na última segunda-feira (22/02). O volume sobre a história da organização feminina mórmon traz 78 documentos históricos, tanto individuais quanto oficiais, como as Atas da Sociedade de Socorro de Nauvoo, além de fotos raras.  Continuar lendo

Igreja publica fotos da pedra de vidente de Joseph Smith

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias divulgou hoje pela primeira vez fotos da pedra de vidente que acredita ter sido utilizada por Joseph Smith.

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Pedra de vidente que a Igreja acredita ter pertencido a Joseph Smith e ilustra o artigo da revista Ensign. (Imagem: Welden C. Andersen e Richard E. Turley Jr.)

As fotos foram mostradas no anúncio de lançamento do próximo volume do Projeto Joseph Smith Papers, intitulado Revelações e Traduções, Volume 3: o Manuscrito do Tipógrafo do Livro de Mórmon (em tradução livre). O volume traz fotos da pedra oval de cor marrom que teria sido utilizada na tradução do Livro de Mórmon, bem como de uma bolsa de couro utilizada para guardá-la, feita provavelmente por sua esposa Emma Smith. Continuar lendo

Igreja nomeia novo historiador assistente

Reid L. Neislon

Reid L. Neislon

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias nomeou Reid L. Neilson como novo Historiador Assistente. Ele atuará juntamente a Richard E. Turley Jr. O anúncio foi feito na última sexta-feira (23/01). Desde 2010, Neilson é Diretor Administrativo do Departamento de História da Igreja, com sede na cidade de Salt Lake.

Historiador Assistente é um chamado eclesiástico na Igreja sud. Entre os historiadores assistentes mais famosos no passado mórmon estão Orson F. Whitney, Andrew Jenson e B. H. Roberts. Continuar lendo

A Última Revelação de Joseph Smith

Ou como Joseph e Hyrum Smith iniciaram sua fuga para as Montanhas Rochosas e voltaram atrás aa228c9a-7830-4d73-b819-fd4c7e5de0a2_zps369ddf72aa228c9a-7830-4d73-b819-fd4c7e5de0a2_zps369ddf72aa228c9a-7830-4d73-b819-fd4c7e5de0a2_zps369ddf72

Por que houve uma crise de sucessão entre os santos dos últimos dias com a morte de Joseph Smith? Por que houve uma divisão da Igreja com diferentes indivíduos dizendo ser os legítimos sucessores do profeta assassinado – e encontrando apoiadores? A resposta mais simples, ainda que menos conhecida entre o público sud: não apenas a situação era inédita para aquela jovem organização, como não havia sido sequer esboçado um procedimento claro para a eventual morte de Joseph Smith. (Que possibilidades existiam e como foi consolidada a sucessão pela via apostólica será assunto para outra conversa.)

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Apesar de sofrer hostilidade interna e externa, Joseph Smith aparentemente não esperava morrer aos 39 anos. Por isso, nunca apresentou à Igreja um processo de sucessão claro. Ele não só recebeu pelo menos uma revelação que sugeria a possibilidade de uma vida bem mais longa como sua ida à cadeia de Carthage foi contrária à última revelação por ele recebida. Em uma reunião no dia 22 de junho, Joseph Smith teve o seguinte diálogo com Hyrum Smith, após ler a carta do governador Ford: Continuar lendo

Programa da IV Conferência Brasileira de Estudos Mórmons

IV Conferência Brasileira de Estudos Mórmons
Conferência Anual da ABEM
(Associação Brasileira de Estudos Mórmons)
Tema: “A Relação entre Sede e Periferia na Igreja SUD”
19 de janeiro de 2013
São Paulo, SP

Programa

08:00 – 08:30 – Cadastramento e Café de manhã
08:30 – 08:35 – Abertura & Oração
08:35 – 08:50 – Mensagem de boas-vindas

09:00 – 10:20 Sessão A – “A entrevista oral nos estudos mórmons no Brasil: um guia prático” – Kent Larsen

10:20 – 10:40 – Intervalo 1 & Exposição

10:40 – 12:00 – Sessão B – Mesa-redonda: Por que a retenção nos EUA é maior que no Brasil?

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12:00 – 13:00 Almoço
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13:00 – 14:20 Sessão C – “A jornada de Andrew Jenson pela América Latina em 1923
Reid Neilson (Departamento de História da Igreja, EUA)

14:20 – 14:40 – Intervalo 2

14:40 – 16:00 – Sessão D – “Colonialismo Político-Religioso: O Impacto Sobre Mórmons Brasileiros da Cruzada Política Contra Gays nos Estados Unidos” – Marcello Jun de Oliveira

16:00 – 16:30 Coffee Break

17:50 – 18:50 – Sessão Sessão E – “Uma história cultural do Livro de Mórmon” – Daymon Smith

18:50 – 19:00 – Encerramento & Oração

Local: A IV Conferência Brasileira de Estudos Mórmons acontecerá na Av. Eng. Armando de Arruda Pereira, 345 (sobreloja), em São Paulo, SP.

História mórmon no Brasil

Um monte de membros em Ipoméia, em algum ano no tempo do Ariri Pistola. Foto doada por alguém ou publicada em algum lugar.

Carta aberta a Norberto e Rosângela Lopes, Historiadores da Área Brasil

Irmãos Norberto e Rosângela,

há cerca de dois anos, ao saber do site historiadaigreja.org.br fiquei feliz com o interesse da presidência de área em disponibilizar informações sobre a história da Igreja no Brasil. É de grande importância que membros no Brasil e mesmo em outros países tenham acesso a tais informações e possam se apropriar delas. O site, no entanto, pouco ajuda seus leitores a ter uma ideia mais substancial da história mórmon no Brasil; é pobre em conteúdo e em alguns casos sequer valoriza os materiais de que dispõe, como na seção de fotos. Quero apresentar aqui algumas sugestões e críticas para o aprimoramento do seu site. Continuar lendo