A Igreja sud afirma ter uma neutralidade política, não endossando partidos ou candidaturas. Por isso, um membro da igreja que se candidate a cargo eletivo não é apoiado oficialmente como um representante da igreja. Mas será que os membros não veem tais pessoas como representantes quando tais são líderes proeminentes?
Recentemente desobrigado como presidente de missão em Portugal, o ex-deputado federal Morôni Torgan está de volta à política eleitoral brasileira, concorrendo à prefeitura de Fortaleza pelo DEM. Mas Torgan é também um líder eclesiástico: na última Conferência Geral, ele foi um dos novos setentas de área chamados.
Na minha imaginação limitada, caso eleito, Torgan não poderia dar continuidade ao seu chamado como setenta. A não ser que transforme seu chamado numa espécie de título de nobreza, o que evidentemente não é típico na igreja. Mas voltando ao aqui-agora, pergunto como um líder sud consegue liderar a igreja sendo ao mesmo tempo um candidato e não fazer campanha eleitoral entre seus irmãos.
Longe de mim imaginar que um homem tão famoso e articulado aceitaria um chamado de setenta para dar um empurrão em seu sonho de ser prefeito, mesmo porque se ele obtivesse uma votação em bloco dos membros da igreja isso não seria suficiente.
Hoje um membro da igreja em Fortaleza está sendo praticamente convidado por Torgan e a Igreja sud a não ver nem fazer distinção do setenta e do candidato. O voto de apoio dado a Torgan em abril e voto na urna eletrônica em outubro que vem se mesclam numa feia mistura de poder eclesiástico, financeiro e político.
Morôni Torgan pode ser talvez um bom candidato e até um bom líder sud. Não disputo isso. Felizmente, estou longe o suficiente dele para estar escrevendo isto sem nenhum julgamento da sua pessoa, que desconheço. Mas é a junção do setenta com o candidato que não é saudável para a igreja. Por dignidade e para não comprometer o arbítrio dos membros da igreja, assim como a neutralidade política da igreja no Brasil, Torgan deveria pedir sua desobrigação como setenta. Desculpem, mas quem achar outra saída digna para essa situação embaraçosa me diga.
Vale lembrar que Joseph Smith foi candidato a presidente dos Estados Unidos…e seria desobrigado de ser profeta? Na Bíblia vemos que o Estado as vezes poder ser liderado por alguém religioso exemplo: o Rei Davi, Moises entre outros.A politica é uma atividade como outra qualquer, uma profissão.Creio que a igreja se mantem afastada devido aos inúmeros problemas relacionados á politica dos homens.Porém no milênio a Teocracia irá governar o mundo.
Otavio,
dificilmente iremos saber com exatidão o que Joseph Smith pretendia com sua candidatura presidencial – “nenhum homem conhece minha história”. Mas tenhamos em mente que havia dois planos sendo executados simultaneamente: enquanto alguns membros do Conselho dos 50 estavam fazendo campanha pela eleição de Joseph, outros estavam em missões “diplomáticas” na República do Texas, México e até na Rússia, examinando todas as possibilidades de um êxodo para fora dos EUA. Qual era o plano A e qual era o plano B? Até que ponto a candidatura era real, eleitoral, e até que ponto era ideológica, propagandista?
Esses dois movimentos simultâneos e aparentemente contraditórios – candidatura à presidência dos EUA e migração para fora dos EUA – só podem ser entendidos no contexto em que se deram. Os sud eram não somente uma igreja, mas eram um povo e um povo cuja existência estava em risco. Havia a Ordem Unida, a adoção e o casamento plural, havia pretensões teocráticas palpáveis.
Outra visão de mundo, completamente diferente da encontrada hoje na IJCSUD, mesmo sendo ela a mesma igreja.
Então, não vejo como comparar dois momentos, contextos, tão distintos e dizer que o passado justifica a candidatura de Morôni Torgan enquanto ele é um setenta de área, com todos os potenciais problemas que essa candidatura pode causar para a igreja local e nacionalmente.
Abraços!
O momento atual da composição da Câmara é a bancada do boi, da bala e da bíblia, sendo esta última com perfil de fundamentalistas religiosos, que promovem o ódio, o preconceito, a intolerância contra homossexuais e tambem contra as mulheres, colegas de outras bancadas e partidos e ainda se denominam paladinos da retidão, pois é nesta bancada que o MT pertence, na qual cumpre os propósitos pelo qual foi eleito.Nao conheço suas propostas eleitorais, mas seria coerente que os membros que nele votaram, acompanhassem o trabalho desenvolvido na lá câmara. Uma ação dele que a igreja publicou foi o evento pela liberdade religiosa com uma presença de público inexpressiva.
Não dá pra presumir que tudo que faz estaria certo , somente pelo fato de ser uma autoridade na igreja, não achas??
Olá Trevisan , penso que todo membro da igreja com firme testemunho e realmente convertido
deseja tirar a igreja da “obscuridade e das trevas” seria interessante analisar pelo ponto
de vista dos membros vislumbrarem a sua religião como uma luz para o mundo. Joseph Smith
também era imbuído deste propósito.Eu com minha formação em Relações Públicas, acredito que
Joseph ou o Senhor queriam um impacto na imagem que o público externo possui da igreja e consequentemente melhorar a auto estima do público interno.Na verdade existe uma mensagem subliminar de “Erguei vos e Brilhai-vos”e “Transformar o mundo” para os membros da igreja.Também fico preocupado com consequências do poder no caráter de um homem.Muitas vezes a autoridade e glória corrompem o coração.Vi uns vídeos do Morôni Torgan e ele me parece bem humilde e seus eventos não tem alta audiência no congresso , provavelmente porque ele não se mistura com “quadrilhas” ou “máfias” políticas para ganhar influência e popularidade.
O. augusto, estou certo que devemos basear nossas convicções em doutrinas do Evangelho. Se não for tratada com muita responsabilidade a questão do Pres Torgan, a igreja pode deixar sua credibilidade obscura em Fortaleza.
Concordo plenamente com você
Eu acho que esta relação evangelho sem política, na verdade é uma tradição. Pois ao ler o livro de Mórmom ele está repleto de envolvimento político entre a igreja e o povo. Hoje, a igreja não toma uma postura política, talvez porque não há muita esperança em mudar o destino da humanidade no ponto de vista “religião”. Mas, no passado, foi extremamente política, o livro de Mórmom ensina política em muitos aspéctos e a igreja “moderna” também esteve envolvida em objetivos políticos nos EUA no seu início. Hoje, acredito existir uma linha “defensiva” que foi estabelecida com a intenção de proporcionar uma “zona segura” onde os membros da igreja vindos de várias crenças, possam progredir “lentamente” no conhecimento da “pura doutrina” e serem mantidos nesta zona por um longo tempo controlados recebendo níveis de conhecimentos em porções menores onde podem administra-los. De qualquer forma, a responsabilidade política é uma realidade individualmente para cada elitor. Não acredito que um membro da igreja consiga ir as úrnas sem levar consigo a sua crença. O que é muito natural… Quanto os sistemas políticos atuais, não vejo como um homem pode ser a solução de uma nação. E ter esta solução. Seria o Super-Homem. Então não espero muito que surja um “super-man” que vá nos salvar da opressão e tirania do sistema capitalista (brincadeira). Parece-me o povo de Israel, que esperava que o messias viesse para salva-los politicamente, enquanto sua missão era salvar suas almas do caminho do erro para o caminho da verdade. Estamos nós até hoje esperando “esses messias salvadores políticos?”.
Concordo, Heber, que há muito precedentes históricos para a relação entre política e religião, como as referências à monarquia israelita mencionadas pelo Otávio acima ou os eventos do Livro de Mórmon. O mormonismo sempre teve uma dimensão política e social e de fato houve no passado mórmon representantes eleitos que eram representantes da Igreja, como o senador Reed Smoot no início do séc.XX. Mas, de novo, cada contexto deve ser compreendido para não cairmos numa cilada de correlação história vendo o passado como uma reprodução do nosso presente. Contextos diferentes, doutrinas diferentes, práticas diferentes.
Sua analogia sobre o papel político e espiritual do messias vem muito a calhar e não vou aqui conseguir desdobrar a profundidade da comparação. Mas, pelo que tenho sendo por aí, Mitt Romney tem sido visto por estas bandas como o super man messiânico. 🙂
Antonio, primeiramente gostaria de dizer que estou gostando muito do blog, evidentemente tendo minhas sugestões a fazer em um outro momento. Mas queria entender melhor o porque tem questionado a compatibilidade de Moroni Torgan ser Setenta e ser eleito em algum cargo público. Já falei isso em outro comentário, mas não vejo cargo elegível como um entrave ao chamado de Setenta, mesmo porque eles não vivem a lei da consagração. Um exemplo é o presidente de área que é um grande empresário do ramo das construções salvo engano. Ou seja, são perfeitamente compatíveis as atividades políticas e eclesiásticas desde que não sejam apóstolos que vivem outro regime. Não é isso que acontece todos os dias em alas e estacas de todo o mundo? Grande abraço a todos.
Fico feliz, Raul, que esteja gostando do blog e contribuindo com seus comentários.
Moroni Torgan não foi eleito e teve, aliás, um desempenho eleitoral abaixo do esperado. À época, meu questionamento sobre um setenta ser candidato a um cargo eletivo foi em função da possível (e provável) percepção por parte dos membros locais de que deveriam votar em Torgan e que este estaria representando a Igreja SUD.
Anos atrás, vi um bispo em pleno domingo em que acontecia o segundo turno de uma eleição para governador e presidente dar um “treinamento” sobre política, em que deixava claro seu voto e afirmava que seria correto perguntar em quem a pessoa votou numa entrevista para recomendação do templo! Esse fato evidentemente não serve de regra para definir a atitude da maioria dos líderes locais, mas mostra a existência de um espaço aberto para tais ações. Embora a Igreja se declare politicamente neutra, não há como averiguar que essa neutralidade não esteja sendo desrespeitada localmente. Também pela mesma experiência, sei que a hierarquia da Igreja pode simplesmente dizer “deixa pra lá”, caso alguém cobre a respeito.
Um abraço!