As Mulheres de Utah

Com a chegada do Dia das Mulheres esta semana, retornamos às considerações de como as mulheres Mórmons são tratadas dentro da cultura e da religião SUD. É fato conhecido que o estado de Utah, nos EUA, é a terra dos Mórmons. Além de gozar de uma maioria populacional absoluta no estado (com  62% da população total), Mórmons gozam de absoluto controle político, sendo o atual governador de Utah Mórmon (além de todos os governadores, com apenas duas exceções, eleitos na história também Mórmons), todos os atuais Deputados Federais e Senadores Federais, e 80% dos Deputados Estaduais também todos Mórmons.

Com isto em mente, pode-se extrapolar como Mórmons enxergam e tratam suas mulheres através de uma análise de como o estado de Utah trata, legalmente, suas cidadãs.

Um curioso artigo no New York Post cita alguns estudos que, no mínimo, chamam a atenção:

O artigo, intitulado ‘5 lugares onde mulheres não deveriam nunca visitar’, elabora uma lista de 5 lugares onde mulheres são discriminadas e rotineiramente desrespeitadas legal e culturalmente. Numa lista que inclui tais notórios bastiões de machismo desenfreado, como Turquia, Indonésia, El Salvador e Arábia Saudita, incluíram o estado de Utah.

Sim, os EUA estão rankeados em 20° lugar, atrás de Burundi e Nicarágua, pelo Fóro Econômico Mundial em seu Índica Mundial de Desigualdade por Gênero. E, dos 50 estados, Utah é um dos piores no quesito de desigualdade de gênero, de acordo com wallethub.com e 247wallst.com.

Baseando sua tabulação em três principais categorias (i.e., economia, liderança, e saúde), a 247wallst.com chegou à conclusão de que “Utah é o pior estado para mulheres”. Eis algumas das razões: Um homem típico em Utah ganhava mais de USD 50.000,00 anuais em 2013, enquanto a maioria das mulheres ganhava apenas 70% disto — uma das maiores disparidades salariais baseada em gênero no país. Menos que 31% das posições de gerência são preenchidas por mulheres em Utah (a segunda pior taxa dos EUA). Apenas 6 mulheres, de um total de 75, servem como Deputadas Estaduais, e apenas 5 mulheres em Utah servem como Senadoras Estaduais — uma grotesca falha de representatividade para mulheres no governo [do estado].

Para os seus rankings, wallethub.com comparou 10 métricas distintas e classificou Utah em 49° (de um total de 50) estado com pior disparidades baseadas em gênero. Entre os seus achados: Utah tem a pior distância entre desempenhos educacionais e a segunda pior taxa de igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

Como você acha que a Igreja SUD e a cultura Mórmon trata suas mulheres? O fato do estado de Utah destratar tão severamente suas mulheres é um reflexo das atitudes da Igreja SUD e/ou da cultura Mórmon? Mórmons valorizam mulheres como pares dos homens, com igualdade de tratamento e oportunidades, ou são discriminadas e rebaixadas para um status inferiorizado?

Se você tem interesse em ler artigos sobre a relação do Mormonismo com mulheres, eis uma lista de sugestões instigantes.

Igualdade Mulheres

Igualdade Para Mulheres: Um conceito compatível com o Mormonismo?

7 comentários sobre “As Mulheres de Utah

  1. Muito interessante, mas a relação de causalidade dos índices analisados de comparação de gênero, com, “Utah destrata severamente suas mulheres” é superficial. Não digo com isso que não seja verdade, mas esta extrapolação não é possível com os dados apresentados.

    Por exemplo, a pesquisa não indica o grau de satisfação das mulheres, ou sequer procura descobrir o que é valorizado por esse gênero, nas diversas culturas em que foram levantados os dados, supondo simplesmente que a igualdade de gênero, para os índices escolhidos são o que as mulheres precisam para se sentirem bem tratadas em todos os lugares.

    Fiquei intrigado se aquela diferença salarial, comparava a média, ou foi comparado homens x mulheres em mesmos graus de instrução, mesma posição na empresa (no brasil as pesquisas levam isso em conta e sempre descobrem que as mulheres ganham menos). As mulheres que não trabalham, foram também incluídas? Sim, porque sabemos que muitas mulheres mórmons não trabalham para cuidar dos filhos, se elas entram na conta…

    As desigualdades apontadas no estudo, existem, mas isso realmente significa que elas são destratadas? O percentual de candidatas a cargos políticos, empregos e graus acadêmicos são os mesmos para cada gênero e depois são escolhidos uma maioria de homens, por discriminação de gênero, isso foi levantado? Veja essa pesquisa da Chato, se aprofunda muito mais, e explica com muito mais propriedade alguns porquês das diferenças.

    • Citar um artigo sem lê-lo, Miguel? Parabéns! Eu costumo ler os artigos antes de cita-los, e não apenas ler o título e/ou a conclusão final, mas cada um tem a sua preferência pessoal.

      O problema, contudo, dessa abordagem é que corre-se o risco de citar um artigo que demonstre que o seu próprio argumento está errado. Ou de citar um artigo que tenha conclusões equivocadas sobre os dados factuais (e até mesmo os dados apresentados no próprio artigo). Infelizmente pra você, ambos são problemas aqui.

      Se você tivesse lido o artigo que você mesmo citou, teria se dado conta de que ele demonstra dados claros e inequívocos que mulheres são pagas menos que homens para fazer o mesmo trabalho. Deixe-me ajuda-lo, citando do artigo que você citou mas não leu:

      Apesar da aparente igualdade entre os sexos, os salários entre homens e mulheres continuam sendo diferentes.

      Esta é a primeira frase.

      Através do estudo realizado pode-se notar que a diferença entre os salários de homens e mulheres vem crescendo nos últimos anos. No ano de 2005 essa diferença era aproximadamente 52% a mais para o salário dos homens. Para esse ano, até o mês de Junho, essa diferença subiu para 75,38%, no geral.

      Esta é a segunda frase.

      E o artigo, que você citou mas não leu, não sugere que o problema venha melhorando no Brasil. Como você pode ler acima, ele sugere que o problema está piorando.

      Assim, conclui-se a que a diferença salarial está aumentando, principalmente em grandes cargos. Não podemos esquecer que essa diferença tem fatores ligados não somente à discriminação sexual, mas também à diferença regional e a diferença de papéis que homens e mulheres exercem na sociedade.

      É claro que, para um site dedicado ao tema de recursos humanos e não sociologia ou antropologia, não se pode esperar uma análise coerente sob estes prismas. Perdoa-se, portanto, a ignorância da realidade causal de que tais diferenças “de papéis que homens e mulheres exercem na sociedade” são exatamente o resultado de uma história de milênios de “discriminação sexual”. Lauda-se, inclusive, a capacidade do site de assumir inequivocadamente a “discriminação sexual” como uma das causas para tal discrepância salarial.

      Novamente, apenas para me assegurar o ponto que talvez não lhe seja rápidamente óbvio. Discriminação sexual é o único e nefasto nexo relacional e causal para diferenças salariais e discrepâncias de oportunidade educacionais e vocacionais entre homens e mulheres. Erra-se em afixa-la como uma das causas, sendo que todas as demais causas mencionáveis são causalmente vinculadas a esta em sua origem histórica e social. Erra o artigo da Catho ao faze-lo, erra grosseiramente você ao faze-lo aqui distorcendo os dados apresentados pelo Catho.

      Abordemos alguns dos outros equívocos no artigo do Catho antes de abordar os seus acima.

      Verificamos que a quantidade de homens com mais empregos é superior ao das mulheres, logo podemos afirmar que os homens têm uma propensão maior a mudar de emprego, o que implica na busca por maiores salários, dado representado abaixo pela maior diferença salarial entre homens e mulheres com mais de 4 empregos.

      Nota-se a desculpável falta de preparo para análises acadêmicas ou estatísticas no(s) autor(es) do Catho, posto que o site é dedicado a empregar pessoas e não estudar fenômenos econômicos ou sociais.

      Não, não se pode “afirmar que os homens têm uma propensão maior a mudar de emprego” baseando-se no único dado estatístico de que 53% dos homens x 44% das mulheres tem mais de 4 empregos em seus currículos. Ignora-se, aqui, as maiores dificuldades para empregabilidade que mulheres enfrentam, como discriminação na contratação, pressão social para domesticidade, incentivos financeiros negativos por gestações e maternidade (e.g., falta de acesso à creche), discriminação social contra escolhas pessoais (e.g., carreira vs. família), etc., que correspondem fatores muito mais relevantes, e fartamente avaliados na literatura acadêmico-científica, na redução das carreiras profissionais das mulheres.

      Logo podemos concluir que as mulheres estão mais preparadas que homens e, como tem propensão menor a troca de emprego, estão galgando paulatinamente posições hierárquicas maiores, minimizando assim as diferenças salariais.

      Como já discutimos acima a ineptidão e ignorância do argumento “propensão menor a troca de emprego”, notemos aqui apenas que o artigo demonstra que “mulheres estão mais preparadas que homens” mas escolhe ignorar os dados inequívocos que ele mesmo aponta de que mulheres “mais preparadas” ganham menos que os homens em cargos equivalentes e/ou com níveis de escolaridade similares. Opta, portanto, pela infundada conclusão de que mulheres “galgando paulatinamente posições hierárquicas maiores” irão minimizar “as diferenças salariais”, sem se dar conta do grave erro lógico de confundir o problema das “diferenças salariais” como um problema de média total. Sim, a média da diferença seria reduzida se mais mulheres tivessem cargos mais elevados, mas isso não mudaria o fato de que estas mulheres em cargos mais elevados estariam sendo pagas salários menores que os homens nos mesmos cargos, assim como todas as outras mulheres abaixo vis-a-vis os homens em cargos similares, tal como monstram os dados no próprio artigo do Catho!

      Quanto aos Ramos de Atividade Econômica constatamos também que a porcentagem de mulheres empregadas é maior em segmentos com média salarial mais baixa

      Isto, Catho, é outra oportunidade perdida para analisar seus dados e demonstrar o nível do problema de discriminação sexual. Mulheres sofrem discriminação para acesso à educação e ao mercado de trabalho (como demonstrado em centenas de estudos), mulheres são melhor preparadas que homens (como demonstrado no seu artigo), mulheres recebem salários menores pelo mesmo trabalho que homens (como demonstrado no seu artigo), e ainda por cima, são discriminadas nos momentos de promoções e contratações (como sugerido no seu artigo aqui, porém ignorado, e como demonstrado em centenas de estudos).

      Em geral, os dados dispnobilizados pelo artigo do Catho são interessantes e demonstram claramente, para que os lê, os problemas de desigualdade sexual no Brasil. A análise dos dados é, porém, amadora e descuidada. Isto é lamentável, porém compreensível, dado o foco específico do site.

      Isso traz aos seus comentários:

      Muito interessante, mas a relação de causalidade dos índices analisados de comparação de gênero, com, “Utah destrata severamente suas mulheres” é superficial. Não digo com isso que não seja verdade, mas esta extrapolação não é possível com os dados apresentados.

      Sim, é possível. Mas para que você enxergue o problema, é preciso ler os dados. Eu vi que você não leu os dados que você mesmo apresentou, então eu tenho certeza que não leu os dados que os dois estudos citados no artigo acima apresentaram. Eu sugiro que os leia antes de comentar neles. Ajudaria muito a elevar o nível da discussão.

      Por exemplo, a pesquisa não indica o grau de satisfação das mulheres, ou sequer procura descobrir o que é valorizado por esse gênero, nas diversas culturas em que foram levantados os dados, supondo simplesmente que a igualdade de gênero, para os índices escolhidos são o que as mulheres precisam para se sentirem bem tratadas em todos os lugares.

      A idéia de que se pode “descobrir o que é valorizado por esse gênero” é simplesmente estúpida. Ponto.

      “Esse” gênero não tem valores específicos ao “gênero”. Mulheres não são todas iguais, elas não pensam da mesma maneira, elas não tem todas os mesmos sonhos e os mesmos valores. Mesmo que você quisesse se afixar à sua qualificação “nas diversas culturas”, ela seria uma noção estúpida. Mulheres Mórmons não são todas iguais. Mulheres Mórmons em Utah não são todas iguais. Mulheres Mórmons em Utah nascidas entre 1990 e 2000 não são todas iguais.

      A questão da igualdade não é determinar o que é “valorizado por esse gênero”. É uma questão de igualdade de oportunidade. Se uma mulher Mórmon em Utah nascida em 1995 deseja ser dona-de-casa e cuidar de seus 5 filhos, ela deve ter esse direito e não ser penalizada por isso. Igualmente, se uma mulher Mórmon em Utah nascida em 1995 deseja ter uma carreira profissional, ela deve ter esse direito e não ser penalizada por isso, e certamente não ser discriminada por essa escolha e receber menos oportunidades e menos remunerações que quaisquer outros homens com as mesmas (ou piores) qualificações. Isso é igualdade.

      Fiquei intrigado se aquela diferença salarial, comparava a média, ou foi comparado homens x mulheres em mesmos graus de instrução, mesma posição na empresa (no brasil as pesquisas levam isso em conta e sempre descobrem que as mulheres ganham menos).

      Sim, sim, e sim. Mas você saberia isso caso se desse o trabalho de ler quaisquer um dos estudos mencionados, ou se lesse o artigo que você mesmo citou. Todos os muitos estudos bem elaborados sobre igualdade econômica controlam para cofatores variáveis. Aliás, isso é um conceito básico em todas as ciências. Aprende-se isso no primeiro semestre de qualquer curso universitário.

      As mulheres que não trabalham, foram também incluídas? Sim, porque sabemos que muitas mulheres mórmons não trabalham para cuidar dos filhos, se elas entram na conta…

      Não. Óbvio que não. Da mesma maneira que homens donos-de-casa tampouco são incluídos nesses estudos. A idéia é comparar os salários pagos em cargos equivalentes.

      As desigualdades apontadas no estudo, existem, mas isso realmente significa que elas são destratadas?

      Sim. Óbvio que sim. Essas desigualdades não ocorrem por volição própria das mulheres, mas lhes é imposta pela sociedade autóctone.

      O percentual de candidatas a cargos políticos, empregos e graus acadêmicos são os mesmos para cada gênero e depois são escolhidos uma maioria de homens, por discriminação de gênero, isso foi levantado?

      Eu abordei isso acima com relação ao artigo do Catho, mas talvez valha a pena reforçar o ponto. Há estudos que comparam, sim, o percentual de candidatos com o percentual de contratações demonstrando tratamento preferencial para homens. Contudo, há inegavelmente uma discrepância estatística na relação de candidatos para muitas carreiras, especialmente em posições de liderança. Esta discrepância, diga-se, é resultado claro de discriminação sexual que desincentiva candidaturas e atrasa promoções em carreiras, além de socialmente onerar mães de família de tal maneira que nunca onera pais de família, tudo contribuinte para tal discrepância. Em outras palavras, mulheres se candidatam menos que homens para cargos de liderança porque os obstáculos para chegar neste ponto são muito maiores para elas que para eles.

  2. Bom, só para que seja melhor compreendido, as crenças da nossa religião incentivam que a mulher dê preferência para os cuidados da família, lar e filhos, pois a família é a base do caráter de uma pessoa, quando se tem uma mãe cuidando do lar, que dê atenção, cuidado e amor aos filhos, estes crescem com um caráter mais firme, mais sólido. Quando o provedor do lar, no caso o marido, não têm condições de prover sozinho do sustento, então as mulheres entram em ação, e vão trabalhar fora para ajudar seus maridos no sustento do lar. Algumas almejam um bom emprego, outra apenas um bom trabalho do qual lhes seja permitido ajudar no lar. Em questão de desigualdades salariais, existe em todo o lugar. Não é só porque Utah foi fundada por SUD’s, que quer dizer que 100% do estado são membros praticantes ativos, muito pelo contrário (embora fosse maravilhoso se isso fosse real), em Utah existem tanto membros da Igreja como não membros, então não se pode generalizar! Nós mulheres SUD, damos preferência para cuidar do lar e da família, mas muitas trabalham seja para ajudar no lar ou para sua independência financeira. É fato comprovado que as mulheres SUD são as menos destratadas dentro de seus lares, gostaria que fosse em 100% dos casos. Mas enfim, a desigualdade salarial não quer dizer que os “mórmons” fazem isso, somos a favor da igualdade e honestidade em tudo, mas como disse antes, nem todos os moradores de Utah são SUD.

    Nossa Igreja é a ÚNICA no mundo que oferece financiamento estudantil aos membros ativos, temos a parte de recursos de empregos, onde se pode conseguir treinamentos de autossuficiência profissional tanto para homens como mulheres. Nós mulheres SUD em momento algum somos destratadas pela religião, e só para finalizar, quem decide sobre salários não é a religião, e sim a sociedade, donos de empresa que fazem os salários, isso em qualquer parte do mundo, e não é diferente em Utah, onde muitos não são membros da Igreja.

    • ​Obrigado pelo seu comentário, ​​Emanuelle. Contudo, há 12 grosseiros erros factuais no seu comentário acima, que simplesmente não são verdades.

      …quando se tem uma mãe cuidando do lar, que dê atenção, cuidado e amor aos filhos, estes crescem com um caráter mais firme, mais sólido.

      ​Isso não é verdade. Dezenas de estudos científicos, e dezenas de exemplos históricos e sociológicos, demonstram que crianças crescem ​felizes e ajustadas se expostas à situações familiares estruturadas, independente se tem presentes apenas 2 pais, apenas 2 mães, apenas 10 mães, apenas os avós, apenas 1 mãe e 2 avós, etc. Estudos científicos não confirmam a hipótese que crianças florescem melhor quando há 1 pai e 1 mãe e esta só trabalhando no lar.

      Quando o provedor do lar, no caso o marido, não têm condições de prover sozinho do sustento, então as mulheres entram em ação, e vão trabalhar fora para ajudar seus maridos no sustento do lar.

      Isso não é verdade. Muitas mulheres optam por carreiras profissionais, mesmo havendo condições financeiras para que o marido sustente a família sózinho.​

      Em questão de desigualdades salariais, existe em todo o lugar.

      ​Sim, isso é verdade. O que não é verdade é a suposição de que por “exist[ir] em todo o lugar” esse problema não seja particularmente ruim em Utah. Os dados estatísticos citados acima comprovam que, entre Mórmons, este problema é muito, muito pior do que “em todo o lugar”.​ Aliás, eis outro estudo que coloca Utah como quarto pior estado nos EUA. Eis outro estudo que coloca Utah como o pior estado. Quatro estudos científicos independentes lhe foram citados até aqui. Quantos mais você precisa?

      Não é só porque Utah foi fundada por SUD’s, que quer dizer que 100% do estado são membros praticantes ativos, muito pelo contrário (embora fosse maravilhoso se isso fosse real)…

      ​Isso simplesmente não é verdade. SUDs ativos já compuseram 100% do estado (na época, território) de Utah e era muito, muito longe de ser “maravilhoso”. Escravidão de negros era legal. Poligamia não só era legal como era incentivada, junto com as suas sequelas de casamentos arranjados de meninas adolescentes e banimento de meninos adolescentes. Utah tinha a taxa de divórcios mais elevada dos EUA. Utah era um dos estados (território) mais pobres per capita nos EUA, melhorando apenas com o influxo de bens e imigrantes não-Mórmons com a construção da ferrovia transcontinental, mas ainda assim era comandado por um dos homens mais ricos do mundo (Brigham Young). Utah era ​o estado (território) mais violento dos EUA.

      Existe outro problema, mais atual, para um estado 100% SUD, mas isso fica para os dois últimos parágrafos abaixo.

      …em Utah existem tanto membros da Igreja como não membros, então não se pode generalizar!

      ​Isso também é falso. Se existissem “tanto membros… como não membros”, estaríamos falando de uma razão de 50% x 50%. Na realidade, 62% do estado é de membros da Igreja SUD, contra 38% de não membros.

      É fato comprovado que as mulheres SUD são as menos destratadas dentro de seus lares…

      ​Me supreende muito que você escreva isso, pois desconheço de um único estudo científico ou acadêmico que sugira isso, que dirá “comprov[e]”. Contudo, nós sabemos que isso não é verdade, e o penúltimo parágrafo abaixo demonstra bem isso.

      Mas enfim, a desigualdade salarial não quer dizer que os “mórmons” fazem isso…

      ​Isso é simplesmente óbvio para qualquer pessoa que tenha lido o curto artigo acima com um mínimo de cuidado. 80% da legislatura estadual, o governador e o vice-governador, 100% dos deputados federais e senadores federais de Utah são membros da Igreja SUD. Todas as leis de Utah são escritas, passadas, e assinadas por Mórmons. Todas as leis, sem excessão, são leis Mórmons. Se as leis estaduais não resolvem ou reduzem o problema de desigualdade, é porque os Mórmons assim não querem.

      Ademais, 62% da população​ é Mórmon. Extrapola-se, portanto, que 62% dos empregadores serão Mórmons (se não mais, posto que para ser um empresário de sucesso, especialmente em uma comunidade pequena e fechada, necessita-se de respeitabilidade e laços na comunidade, o que é difícil em Utah quando não se é Mórmon). E o problema de desigualdade não é pequeno, mas simplismente o pior nos EUA. Não se pode, racionalmente, acreditar que 38% da comunidade (ou menos), com apenas 20% de poder legislativo (ou menos), 20% de poder judiciário (ou menos) e 0% de poder executivo conseguiria determinar 80-100% do problema de desigualdade sexual no estado.

      … somos a favor da igualdade e honestidade em tudo…

      ​Isso absolutamente não é verdade, nem de longe. Além de haver um problema histórico e institucional com a questão de “honestidade” (admitido, inclusive, por Apóstolos da Igreja), a Igreja não acredita em igualdade.​ A Igreja SUD gastou dezenas de milhares de dólares para impedir uma Emenda Constitucional redigida para proteger os direitos iguais das mulheres. O texto da chamada ‘Emenda dos Direitos Iguais‘ (‘Equal Rights Amendment’) dizia: “A igualdade dos direitos perante à lei não será negada ou reduzida pelos Estados Unidos ou por nenhum Estado por conta do sexo.” À esta lei, promovendo igualdade e nada mais que a igualdade, se opôs a Igreja.

      Nossa Igreja é a ÚNICA no mundo que oferece financiamento estudantil aos membros ativos…

      Além de não ser verdade que a Igreja SUD seja a “ÚNICA” (sic), pois centenas de outras igrejas “oferece[m] financiamento estudantil” aos seus membros, muitas outras oferecem a não-membros, coisa que a Igreja SUD não faz! Note que a Igreja SUD não figura numa lista das 50 melhores igrejas que “oferece[m] financiamento estudantil”.

      …temos a parte de recursos de empregos, onde se pode conseguir treinamentos de autossuficiência profissional tanto para homens como mulheres.

      Embora isso seja técnicamente verdadeiro, a Igreja não é nem a única, nem a maior, nem a melhor neste quesito. Aliás, qualquer pessoa que já voluntariou-se nesse projeto da Igreja SUD (e eu sou um deles), ​sabe que o programa SUD é simplesmente pífio.

      Nós mulheres SUD em momento algum somos destratadas pela religião…

      ​Ah, mas isso não é nem de longe verdade. Além da cultura machista em que vivem as mulheres SUD, e além de vermos dados concretos que a Igreja e a comunidade SUD se opõe à igualdade e justiça social para mulheres, também sabemos que ​o estado de Utah tem taxas de violência doméstica (contra mulheres) bem acima da média nacional. Lembre-se disso: 62% x 38%. Lembre-se também que a maioria dos incidentes de violência doméstica não é denunciada, o que significa que o problema em Utah deve ser bem pior.

      …quem decide sobre salários não é a religião, e sim a sociedade, donos de empresa que fazem os salários, isso em qualquer parte do mundo, e não é diferente em Utah, onde muitos não são membros da Igreja.

      Isso seria verdade em comunidades laicas, mas não em comunidades religiosas, especialmente em alta concentração de poder e influência. Além de controlar o governo de Utah (executivo, judiciário, legislativo, e polícia), a Igreja SUD é de longe o maior empregador e maior investidor no estado, controlando-o financeiramente.​ Lembre-se de que a Igreja SUD é o maior empregador em Utah quando você pensar “donos de empresa que fazem os salários“.​

      • Na minha opinião, o Marcello está certo. Além da influência política e financeira no estado de Utah, há uma influência mais forte: a cultural.

        O número de divórcios na Igreja tem crescido de forma acelereda na última década, e na minha opinião acontece pela diferença de expectativas de cada cônjuge antes e durante o casamento. A mulher ainda age de maneira inferior, esperando que o marido le diga que decisões tomar, e cobra do marido o bem estar esperado de um casal reto. A grande maioria das mulheres SUD que conheci em Utah, Idaho, Wyoming e algumas em outros estados, não tinham o menor desejo de estudar focando no retorno financeiro ou com um objetivo profissional; a meta dessa maioria era atender a BYU em primeiro lugar (porque o ranking da BYU é melhor que a BYU Idaho e BYU Hawaii, consequentemente os aceitos tinham melhores atributos intelectuais, de liderança, e na maioria das vezes biológico — a probabilidade de encontrar um cara inteligente, de “sucesso” financeiro e espiritual e atlético era altíssima) para casar. Para se ter uma idéia, uma moça geralmente atende a faculdade nos EUA entre seus 18 e 22 anos, as vezes até o 25 quando fez missão.

        Qual era o bacharelado com o maior número de mulheres? Estudos Familiares ou Sociologia. Por favor, contenham-se a me dizer que o objetivo era para ser uma mãe melhor porque até hoje não conheci nenhuma mãe desses programas que sejam mães melhores que amigas minhas que se formaram em um bacharelado com o foco profissional.

        Voltando ao meu ponto inicial: como o mercado de trabalho exige mais do profissional hoje em dia, o marido espera mais da mulher — uma pessoa que faça decisões e que “se vire.” A maioria das mulheres ainda não entenderam isso, e a liderança da Igreja não tem dado conta de dar uma mensagem ponderada à respeito do divórcio. Não fazer Reunião Familiar, orarem juntos ou ir ao templo juntos, são apenas sintomas de um problema muito maior.

        Para concluir, hoje moro em um suburbio de Chicago. Minha estaca é mais ou menos de uma estaca brasileira. A média de divórcios na minha estaca é mais do que um casal por mês. Deixo vocês fazerem as contas para saber quando a minha estaca não terá uma família junta.

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