Cantor Dá Show Em Conferência Mórmon

Tyler Glenn, vocalista principal da banda de rock alternativa Neon Trees, arrasou em sua performance na Conferência Internacional da Afirmação Mórmon, realizada em Provo, Utah, na semana passada.

Tyler Glenn, vocalista da banda Neon Trees

Tyler Glenn, vocalista da banda Neon Trees

Oferecendo discurso e testemunho que só não comoveram mais que suas interpretações de hinos Mórmons, Glenn foi um dos pontos altos da conferência.

A conferência, organizada pela ONG ‘Afirmação: Mórmons Gays e Lésbicas‘, reuniu 500 participantes Mórmons LGBT e aliados. O cantor apresentou uma vídeo-entrevista dele descrevendo as suas dificuldades e os seus conflitos pessoais de como lhe fora crescer gay dentro da comunidade e da Igreja Mórmon. Ele também discutiu sua experiência no ano passado de como fora sair do armário como gay para sua família e amigos Mórmons.

No vídeo, Tyler Glenn demonstra arrependimento de haver gastado anos de sua infância e adolescência se sentindo “anormal”. Extrapolando para os congregantes presentes, ele adicionou:

“Eu não quero que alguém de vocês pense de si mesmo que não é normal. Você não é anormal. [A sua orientaçõe sexual não lhe deve causar dor e sofrimento, ou contemplar suicídio] e certamente não deve nunca destruir uma família.”

Glenn também cantou vários hinos d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Assista a sua versão do hino ‘Onde Encontrar A Paz’:

Há um ano e meio, Glenn havia dado uma entrevista à revista Rolling Stone sobre o que lhe significava ser Mórmon no meio musical e como havia lidado com a necessidade de, crescendo na Igreja SUD e numa cidade em Utah onde 88% dos habitantes são SUD, manter escondida sua homossexualidade.

A banda Neon Trees foi formada em Provo, Utah. Todos os quatro membros da composição atual (Tyler Glenn, Chris Allen, Branden Campbell e Elaine Bradley) são membros da Igreja SUD. Com fãs fiéis por todos EUA (e até no Brasil), eles são especialmente adorados por seus seguidores Mórmons.

Tyler Glenn cresceu numa forte comunidade Mórmon no Sul da Califórnia, e desde cedo descobriu sua paixão pela música. Glenn descreve como acordou lentamente para sua orientação sexual, apesar dos esforços constantes e da pressão social para se conformar às expectativas religiosas e hetero-normativas. Como todo adolescente, Glenn se sentia apaixonado de tempos em tempos — não por suas namoradinhas, mas sim por seus amigos homens. Eventualmente, Glenn serviu uma missão de tempo integral por dois anos em Nebraska com afinco, mas relata que em nada lhe serviu para o ajudar a se conformar com tais expectativas hetero-normativas.

Seu primeiro encontro — e seu primeiro beijo — homossexual ocorreu um mês após voltar de missão e então descobriu o que todo jovem heterossexual descobre em seu primeiro beijo: aquela faísca de atração física hormonal. “Pela primeira vez na vida, descobri o que sempre me faltou numa relação física”. Sentindo-se obrigado a buscar encontros escondidos online, Glenn se diz arrependido de se expor às situações mais perigosas do que acha que teriam sido necessárias doutra maneira.

Glenn relata como sofreu durante os anos iniciais de sua carreira musical com a dúvida e a tensão entre esconder ou assumir sua orientação sexual. Tentando conciliar sua vida familiar e religiosa com sua vida pessoal, Glenn decidiu namorar e casar-se com sua melhor amiga, mas nem esta decisão lhe trouxe conforto ou paz-de-espírito. Até que sua terapeuta Mórmon lhe ajudasse a aceitar-se como realmente é, e romper seu noivado com sua amiga (“Ela rompeu comigo com um bilhete que dizia ‘Eu te amo, mas você nunca vai conseguir me amar como eu preciso que me ame'”), Glenn finalmente encontrou equilíbrio pessoal, emocional, e espiritual para investir criativamente em sua carreira musical.

“Naquela época [do rompimento do noivado] eu fiquei devastado, mas ao mesmo tempo aliviado. A última coisa que eu queria para mim é ser como esses caras aqui em Utah que se casam [com mulheres] e levam uma vida dupla [homossexual]. Há muitos destes caras assim aqui em Utah.”

A banda segue crescendo, em grande parte devido ao talento criativo de Tyler Glenn. Duas de suas músicas foram para trilhas sonoras de filmes de alta bilheteria como Frankenweenie e Iron Man 3, e a popular série de TV Glee.

Tanto sua mãe, como a membro da banda mais religiosa Elaine Bradley, são explícitas em seu apoio de Glenn e sua orientação sexual. Ambas insistem em manter que não há quaisquer conflitos entre sua fé Mórmon e a vida amorosa do filho/colega de banda. Glenn, contudo, mostra-se menos ingênuo e discute abertamente as suas preocupações pessoais para manter tais relacionamentos intactos e saudáveis caso a Igreja volte para nova rodadas de campanhas políticas anti-gay. Não obstante, diz-se otimista para o futuro e aberto para continuar na religião de sua família e de seus amigos e colaboradores.

16 comentários sobre “Cantor Dá Show Em Conferência Mórmon

  1. O cantor Tyler Glenn, o político Jon Huntsman e várias outras celebridades que pertencem à Igreja têm o direito de se declararem homossexuais, como no primeiro caso, ou emprestar o seu apoio ao homossexualismo, como no segundo, pois a Constituição e a legislação infra-constitucional prevalentes nos Estados Unidos garantem tal direito, da mesma forma como acontece no Brasil e em vários outros países. Porém, a Igreja não se enquadra entre os legitimados a deter e exercer esse direito, já que os seus fundamentos e doutrinas estão amparados em escrituras que supostamente refletem os comandos de Deus a seu povo. E esses comandos são muito claros ao nos dizerem que só há dois sexos, o masculino e o feminino, e que ambos devem operar para a continuidade da criação, produzindo corpos que possam acomodar espíritos que aguardam para ter a sua experiência mortal. Não há um terceiro e muito menos um quarto sexo, sendo o homossexualismo, tanto o masculino como o feminino, expressões de direitos sociais contemporâneos que contrariam a lei que nos foi legada por Elohim. Há sinais de que a liderança da Igreja tem adotado perspectivas crescentemente tolerantes com o homossexualismo, talvez para conter a onda de deserções que afeta sobretudo a sua juventude, e isto está previsto como uma das premissas para o final dos tempos. Como mórmon fundamentalista, fico permanentemente ligado nessa questão, pois o dia em que a Igreja admitir coisas como o casamento gay, este será meu último dia como membro.

      • Concordo! Infelizmente, pelo que posso perceber, sou um dos membros que estão em um dos seus “últimos dias”, sim. Mas tudo isso já estava previsto, aparentemente repetindo-se a situação narrada no Livro de Mórmon quanto à corrupção da Igreja.

    • Friederick Brum, me esclarece o que é mórmon fundamentalista?
      Eu estou de acordo com você. Também sou a favor dos direitos dos cidadão em fazer suas próprias escolhas em qualquer questão de sua vida. Sou tolerante com suas escolhas, porém desejo que a recíproca seja verdadeira. Eu tenho certeza que a igreja vai ser sempre mantenedora e defensora firme das leis que foram legadas por Elohim.

      • Tomara, irmão (ou irmã) Atenas! Mas o que temos visto não é isso, infelizmente. A Igreja Mórmon tem se desviado dos princípios que esposava durante a vida de Joseph Smith em questões que são cruciais para a vivência da sua doutrina, desde a proscrição da poligamia até a realização de churrascos em suas unidades. Por isso me refugiarei na fortaleza de manutenção dos princípios originais, fundamentais, sem dobrar a espinha ou me ajoelhar perante Mamon travestido de Elohim.

      • Cara irmã Magnólia Sá: obviamente estou me preparando para esse momento, bem como para a série de outros eventos cuja realização está razoavelmente prevista pelas profecias neste Final dos Tempos.

    • Irmão Friederick, aqui é a irmã Atenas, pode contar comigo! Eu também não me curvo, vejo coisas muito estranhas acontecendo em minha ala e estaca. Meus pais são membros da igreja desde 1956. Eu já nasci em uma família SUD. Não me conformo com a grande transformação, ou seja (degeneração) quem vem acontecendo na igreja. Eu tenho uma explicação para isso: Devido ao crescimento da igreja ela não deu conta de treinar tantos conversos e esses não recebendo treinamento, se tornaram lideres e por sua vez também não treinaram e o ciclo se retro alimenta constantemente. Uma vez eu estava muito deprimida e fui até a casa de uma família também tradicional. O que foi me dito é que não estou errada sentindo esse sentimento de impotência, que eles também sentem o mesmo. E que aquele famoso lema das moças “Defender a verdade e a retidão” inspiradamente não foi feito somente para os que estão no mundo, mas que teríamos que “combater o mal dentro da própria igreja”. Porém irmão apesar da tristeza que experimento sigo em frente com “firmeza em Cristo” fazendo muito de minha própria e livre vontade e realizando o melhor que posso. Não esmoreço e tenho sempre em mente a segunda epístola de Mórmon a seu filho Moroni que está em Moroni 9:6 que diz que apesar da dureza dos Nefitas eles teriam que trabalhar diligentemente pois se deixassem de trabalhar estariam em condenação diante do Senhor. Então irmão Friederick, mesmo que a igreja aprove o que tiver que aprovar sigamos trabalhando e esperando em Elohin.

    • “E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
      Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram?
      Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que nunca mais direis esta parábola em Israel.
      Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.”
      Ezequiel 18:1-4

      Friederick, por muitos anos foi ensinado que a pele negra era fruto de maldição. Alguns ainda ensinam isso, mas essa passagem em Ezequiel vai contra essa ideia. Essa contradição não é um problema pra você, já que ainda permanece membro?

      • Prezado irmão Jader Sphair, obrigado pelo contraponto, que certamente ajuda no aprofundamento da questão em debate. Embora o tema principal seja o homossexualismo, examinaremos o problema suscitado, que é paralelo. Antes de mais nada, quero lhe dizer que não sou racista e que amo meus irmãos negros e pardos da mesma forma como amo os meus irmãos brancos, orientais, indígenas e de outros perfis étnicos. Pessoalmente sou de origem judaica, o que talvez ajude a explicar meu profundo interesse por Teologia. E é esse interesse que, lá atrás, na década de 70, quando entrei para a Igreja, me fez indagar a razão pela qual os negros não tinham direito ao Sacerdócio e, na realidade, nem mesmo de ser batizados. No antigo Distrito do Rio de Janeiro, semente da Estaca com mesma denominação, lembro-me, consternado, de uma família negra que frequentava as reuniões e que esperou pacientemente pela oportunidade de se batizar. O chefe da família recebeu o Sacerdócio e tornou-se uma liderança, juntamente com sua esposa e filhos. Mas a razão oficial alegada pela Igreja era de que a cor negra era aquela “marca” que em Gênesis aprendemos ter sido imposta por Deus aos descendentes de Caim, por ter este assassinado Abel. Então, este foi o meu primeiro problema doutrinário com a Igreja, pois não consigo conceber que os descendentes sejam punidos pelo crime praticado por alguém: não é assim nas leis humanas e não deveria ser assim em outras esferas. Foi então que percebi que estava colocando a mão em um vespeiro, pois um estudo razoavelmente profundo do Velho Testamento me mostrou que o foco da questão não estava em doutrina da Igreja e que havia vários outros exemplos de que Deus amaldiçoara descendentes pelo crime cometido pelo ascendente. Um deles, que gosto sempre de lembrar, foi o do rei Davi, que para possuir uma mulher casada mandou o marido — seu próprio general — para a morte. Pois em resposta, Deus lançou sobre Israel a maldição de que nunca teria paz. De lá para cá, preocupei-me muito em acompanhar as mudanças que ocorriam na doutrina da Igreja, a maioria delas compatíveis com a necessidade de batizar mais e de não perder adeptos. Acho que este foi o caso da exoneração dos negros da responsabilidade pelo crime de Caim, que coincidiu com o incremento de batismos no Brasil. Com os homossexuais, sobre os quais Deus pesou sua mão, destruindo-os (juntamente com todos os heterossexuais, crianças, mulheres e anciãos) no episódio de Sodoma e Gomorra, penso ter ocorrido algo semelhante. Portanto, irmão, vejo a questão você menciona sob duas perspectivas: a primeira, de uma Igreja que quer crescer a todo custo, mesmo que para isso seja necessário abrir mão de seus fundamentos doutrinários; a segunda perspectiva é a do comportamento de Deus, sobre o qual me reservo, sim, o direito de tentar entender e, não o conseguindo, de questionar. O irmão deve estar percebendo que estou entrando em uma área muito delicada, que é colocar em questão a forma como Deus age. É verdade que ele conhece todas as coisas, possuindo, assim, as chaves para os mistérios que não conseguimos desvendar. Todavia, indo mais além, eu perguntaria: se não nos é dado conhecer tais mistérios, como poderemos nos tornar como ele, Elohim? Chegamos, então, a um ponto além do qual não é possível ir, pois nem as escrituras e muito menos a Igreja (ao menos pelo que sei) não possuem as respostas. Em resumo: a) a Igreja tem, sim, se desviado de sua doutrina original, e o faz para se coadunar com a realidade social; b) Deus faz, sim, acepção de pessoas, e persegue tanto os negros como os judeus e outros povos a quem lhe apraz. São as duas realidades que, acho, devemos reconhecer e continuar estudando, para tentar entender. Por enquanto, vou chamar esse estudo de “Teologia Crítica”. Grande abraço!

      • Muito bem respondido! Se manual da Igreja é alterado tanto em questão de vinte, trinta anos, imagino a Bíblia, que tem muito mais idade. Desde que foi publicada pela primeira vez ela teve seus textos extensivamente alterados conforme a intenção de líderes religiosos. A identidade atribuída a Ele entra em muitas contradições, sendo às vezes muito mais “humano” do que muita gente por aí. A história de Jó sempre vem à cabeça quando penso nisso. Pois bem, a Bíblia foi escrita por mãos humanas. Debruçamo-nos sobre um livro que não necessariamente expressa a realidade de Deus. Não temos como saber quem é, como é, o que faz Deus, pois não o estamos vendo. Ou acreditamos no que está escrito, o que pra mim não faz mais muito sentido tendo em mente todas essas “falhas”, ou buscamos acreditar em algo diferente do que é proposto na Bíblia, em algo menos falho. Eu atualmente opto pela segunda opção, e minha consciência assim fica mais calma.

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