Terroristas Mórmons prestam seus testemunhos de como Deus os ordenou ao conflito armado contra o governo federal dos EUA.

Brand Thornton, que junto com outros milicianos Mórmons, invadiu o Malhuer National Wildlife Refuge no sul de Oregon.
Em singela entrevista, um dos milicianos presta seu testemunho sobre sua fé Mórmon (especificamente SUD) e como eles receberam inspiração e revelação de Deus para ação paramilitar.
Citando Doutrina e Convênios e a prática de “amaldiçoar com o Sacerdócio”, Brand Thornton, da Califórnia, explica como sua fé mórmon o motivou ao terrorismo armado e inssurreição paramilitar.
Ouça a entrevista aqui:
Entrevista “Home of the Brave” com Brand Thornton
Thorton explica que a Constituição Norte-americana é um documento religioso inspirado por Deus (como ensinado por vários profetas Mórmons), como as profecias desses profetas Mórmons exigiam que os portadores do Sacerdócio defendessem-na, e como Deus inspirou e revelou a eles como a Constituição está sendo ameaçada. Todas as suas ações e crenças e planejamentos envolvem orações e revelações pessoais através do Espírito, e citações do Livro de Mórmon e de Doutrina e Convênios. E, acima de tudo, uma certeza inamovível de que estão cumprindo a vontade de Deus, de que são escolhidos e inspirados por Ele, e que qualquer pessoa que ore com sinceridade receberá a mesma inspiração de Deus para lutar contra o governo federal norte-americano.
Um dos líderes mórmons desse grupo extremista também prestou seu testemunho publicamente:
Outro invasor, LaVoy Finicum, postou em sua conta no YouTube um vídeo com a “reunião de igreja” realizada pelos invasores e apoiadores no dia de ontem, domingo. No vídeo, há um grupo de cerca de 20 pessoas. Pelos testemunhos, oração e música, é possível ver que havia mórmons e não-mórmons presentes, com fortes alusões a ideias mórmos como coligação, restauração e a América como uma terra escolhida.
Vandalismo
Embora afirmem estar lutando contra as injustiças feitas pelo governo a dois rancheiros e às populações rurais do oeste, os milicianos, conforme observou um jornalista, “estão despediçando a oportunidade de explicar suas questões“. A própria população local rejeita a invasão armada.
Os invasores derrubaram cercas e destruiram câmeras de vigilância instaladas na área federal. Também tiveram acesso a registros federais encontrados no prédio administrativo. Até o momento, apenas um envolvido na invasão foi preso, após roubar um carro da agência de proteção ambiental responsável pelo parque.
Entenda o Caso
No começo do ano, o grupo fortemente armado invadiu um prédio federal no Oregon. Desafiando a polícia e o governo federal ao confronto, eles anunciaram o plano de permanecerem na propriedade indefinidamente.

“Capitão Morôni” veio de Provo, Utah, e diz-se pronto para morrer. (Imagem: Amanda Peacher/OPB)
Brandindo, além de rifles militares de assalto, a Constituição dos Estados Unidos, o grupo tomou o prédio federal do Parque Nacional Malheur para exigir a libertação de dois pecuaristas recém-condenados a 5 anos de prisão por incêndios criminosos em terras do governo e caça ilegal. O parque de preservação ambiental é apontado pelos invasores como um símbolo de tirania.
Dwight Hammond e seu filho Steven alegaram que provocaram uma queimada para proteger sua propriedade de ervas daninhas e incêndios espontâneos. A agência federal responsável pelas terras os acusa de causar o incêndio para esconder vestígios de caça ilegal a cervos. Em 2012, o filho cumpriu pena de um ano e o pai, de três meses. Uma inesperada decisão judicial em outubro passado, porém, exigiu que fossem novamente encarcerados, uma vez que suas sentenças não correspondiam às penas mínimas previstas pela lei antiterrorismo de 1996, a qual prevê o mínimo de cinco anos de reclusão para incêndios criminosos a propriedades federais. Pai e filho retornaram à prisão, na Califórnia, afirmando que pedirão indulto ao presidente Obama.
Do Protesto à Invasão
No dia 02 de janeiro, cerca de 300 pessoas realizaram um protesto pacífico no município de Burns, Oregon, em apoio aos Hammonds. A retórica anti-governo atraiu a participação de milicianos, muitos vindos de outros lugares dos EUA. Foi após o protesto que os terroristas invadiram a área federal, a cerca de 80 km da cidade. Eles dizem ser aproximadamente 150 homens, embora observadores sugiram ser apenas 15.
A maioria dos manifestantes não tomou parte na invasão armada. E os próprios Hammonds procuraram se distanciar dos milicianos. A maior organização paramilitar dos EUA criticou a ação no Oregon. Diversas milícias fizeram o mesmo.
Um invasor que identificou-se pela alcunha de “Capitão Morôni” disse a uma repórter: “não vim aqui para atirar, vim aqui para morrer”. O nome real do Capitão Morôni é Dylan Anderson. Ele saiu de Provo, em Utah, para participar da invasão.
Liderança Mórmon
Ammon Bundy, ao lado de seu irmão Ryan, é o principal líder do movimento armado. A invasão da propriedade federal, declarou, não foi “uma decisão que tomamos de última hora”. Ammon postou um vídeo no Facebook conclamando patriotas de todos os Estados Unidos a unirem-se com suas armas à ocupação.
Os Bundys são membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que ganharam o noticiário em 2014. Seu pai, o também pecuarista Cliven Bundy, de Nevada, esteve à frente de outra demonstração de força envolvendo terras federais.

Miliciano vigiando forças policiais em Nevada, em 2014. (Imagem: Jim Urquhart/Reuters)
Cliven deve mais de US$ 1 milhão em impostos e multas por utilizar ilegalmente para seu gado terras públicas durante mais de duas décadas. Após ter seu rebanho confiscado, em abril de 2014, Cliven recebeu reforço armado para fechar a rodovia interestadual que liga Las Vegas a Salt Lake City. Na ocasião, o senador democrata Harry Reid (mórmon) classificou o grupo como “terroristas domésticos“.
Ao lado de bandeiras americanas, manifestantes em Nevada tinham cartazes com um famoso trecho do Livro de Mórmon. Segundo Cliven, sua desobediência ao governo foi inspirada por Deus: “Ele disse ‘Esta é a tua chance de endireitar esta coisa'”, declarou o rancheiro.
Evangelho, Política e Racismo

O mórmon Brand Thorton toca um shofar. (Mark Graves/The Oregonian)
Discursando em Utah aos membros do Partido Americano Independente (que chegou a ter o apóstolo Ezra Taft Benson como pré-candidato presidencial), Cliven Bundy perguntou: “Se nossa Constituição [dos EUA] é um documento inspirado pelo nosso Senhor Jesus Cristo, ela não é então escritura? (…) Então não é a mesma coisa que o Livro de Mórmon e a Bíblia?”
Transformado em uma celebridade por vários conservadores e libertários durante o impasse em Nevada, Cliven fez com que algumas figuras públicas como o jornalista Glenn Beck (também mórmon) e o senador republicano Rand Paul se distanciassem após declarações racistas. Cliven afirmou que a abolição da escravatura não beneficiou negros nem o restante da sociedade:
seguido me pergunto, eles [os negros] estariam melhor como escravos, colhendo algodão e tendo uma vida em família e fazendo coisas, ou estariam melhores com o subsídio do governo? Eles não conseguiram mais liberdade. Conseguiram menos liberdade.

Cliven Bundy cercado por apoiadores (Imagem: John Locher/AP)
Problema Fundiário
O discurso dos Bundy contra o governo federal tem a simpatia de boa parte da população rural do oeste americano. O governo é o proprietário de 27,4% das terras do país, mas é no oeste que a concentração ganha proporções surpreendentes: o governo federal controla 84,9% de Nevada, 64.9% de Utah, 61.9% de Idaho, 52.9% do Oregon e 48.1% do Wyoming. Com a crescente proteção ambiental, em detrimento de práticas tradicionais das populações rurais, a frustração popular no Oregon e em outros estados tem crescido há anos.
Igreja Mórmon Condena Invasão
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias condenou em nota a invasão armada, afirmando que os líderes da Igreja
estão profundamente preocupados com os relatos de que aqueles que tomaram a instalação sugerem que o estão fazendo com base em princípios escriturísticos.
Excomunhão dos Terroristas?
Com a família Bundy fazendo referências religiosas explícitas e o consequente dano causado à sua imagem pública, resta saber se a Igreja SUD tomará ações disciplinares contra seus membros envolvidos no ato terrorista do Oregon. Entre 2013 e 2015, a Igreja excomungou, por motivações teológicas, alguns autores e ativistas:
- Denver Snuffer, que afirmou ter sido visitado por Cristo;
- Kate Kelly, que defendia a ordenação de mulheres ao sacerdócio;
- John Dehlin, que questionou o tratamento de homossexuais e temas históricos da Igreja;
- Alan Waterman, que criticicou a cobrança inadequada de dízimos, entre outros temas.
Patriotismo e Decadência Espiritual
Reportagem do jornal Deseret News noticiando o repúdio da Igreja SUD à invasão citou trechos de um discurso do apóstolo Dallin H. Oaks a alunos da BYU em 1992:
Amor pelo país é certamente um vigor, mas levado ao excesso pode tornar-se a causa de decadência espiritual.
FBI Quer Evitar Confronto Armado
Na opinião do xerife do condado, David Ward, o grupo de invasores usa o caso dos rancheiros como subterfúgio, tendo o verdadeiro intento de iniciar um movimento nacional contra o governo.
O FBI (polícia federal americana) monitora a invasão em conjunto com as polícias locais. De acordo com a revista Newsweek, membros do governo Obama declararam que agentes federais foram instruídos a evitar um confronto violento com os invasores.