Páscoa: Evangelho de Lucas

Celebramos hoje a Páscoa Cristã.

Páscoa vem da palavra grega pascho, que significa “sentir” ou “viver a experiência”. Nos Evangelhos canônicos, especialmente nos relatos da Páscoa Cristã, ela foi invariadamente usada com o significado de “sofrer” ou “sentir dor” ou “viver uma experiência dolorosa ou pesarosa”. Para os autores dos Evangelhos, pascho (páscoa) significava o sofrimento e a dor que Jesus de Nazaré vivenciou no seu martírio em Jerusalém. Daí o nosso uso do têrmo Páscoa para nos referir ao martírio (sofrimento e morte) de Jesus.

Celebraremo-na considerando os quatro relatos mais antigos, e coincidentemente canonizados, da Páscoa.

Ao contrário do que a maioria dos Cristãos imagina, os quatro relatos canonizados (i.e., os Evangelhos atribuídos a Marcos, Mateus, Lucas e João) não narram o mesmo evento, não se complementam, e não são mutualmente inclusivos. Todas as quatro narrativas são individuais e independentes, narrando relatos como o seu autor acreditava ou imaginava ou ouvira ter ocorrido (nenhum desses autores fora testemunha ocular — na realidade, todos os evangelhos são anônimos, e atribuições autorais surgiram décadas após suas composições).

Portanto, honramos os autores que nos legaram esses quatro relatos distintos respeitando suas independências editoriais, estudando-os como eles haviam desejado: Individual e independentemente.

Dito isso, como ocorreu a Páscoa de acordo com o autor do Evangelho de Lucas?

Para o autor de Lucas, a narrativa do Evangelho de Marcos, especialmente a narrativa da Paixão (do latim passionem, significando “sofrimento”), é tão importante que o autor de Lucas copia o texto de Marcos palavra por palavra. Inclusive, aproximadamente 42% do texto do Evangelho de Lucas  é literalmente copiado, palavra por palavra, de 79% do texto do Evangelho de Marcos. [1]

Narrativa

Jesus se aproxima a Jerusalém vindo do Leste e chegando em Betânia, envia dois discípulos para um “povoado” roubar um jumento, e Ele se aproxima de Jerusalém montado no jumento. Próximo a cidade, ainda no pé do Monte das Oliveiras, “a multidão” estende suas roupas pelo caminho e espalham ramos para saudá-Lo com homenagens messiânicas, e os “fariseus” presentes se queixam das recepção, ouvindo a resposta de Jesus: “[S]e eles se calarem, as pedras clamarão.” Ao olhar para a cidade de Jerusalém, Jesus antevê o final da Primeira Guerra Judaico-Romana: “Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu a oportunidade que Deus lhe concedeu.”

Jesus imediatamente visita o Templo, e põe-se a causar comoção, “expuls[ando] os que estavam vendendo”, e segue ensinando lá enquanto  os “chefes dos sacerdotes, os mestres da lei, e os líderes do povo” procuravam matá-Lo, mas “não conseguiam encontrar uma forma de fazê-lo, porque todo o povo estava fascinado pelas suas palavras”.

“Certo dia”, Jesus foi abordado pelos “chefes dos sacerdotes, e os mestres da lei, e os líderes religiosos do povo” sobre Sua “autoridade”, e Jesus usa a popularidade João, o Imersor, para evadir a pergunta. Aproveitando a oportunidade, Jesus reconta uma parábola sobre lavradores que espancam os escravos do proprietário da lavoura e matam seu filho, obviamente prevendo mortes violentas para esses “mestres da lei e os chefes dos sacerdotes”, e eles discutem táticas para prendê-Lo, mas medo do “povo” os previne.

Enviaram, inclusive, “espiões” para enganar Jesus com uma pergunta sobre o pagamento de impostos ao Império Romano, e Jesus se desvencilha da armadilha pregando não confrontação com Roma e a dessecularização de Seus ensinamentos. ”

 “Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Saduceus tentam confundi-Lo com uma pergunta sobre casamento na vida pós-mortal. Jesus estabelece que “após a ressurreição” não haverá casamentos:

“…os que forem considerados dignos de tomar parte na era que há de vir e na ressurreição dos mortos não se casarão nem serão dados em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição..

Jesus, então, sugere que o esperado Messias (têrmo hebreu para Cristo, ou “ungido” e “coroado”) não deveria ser “filho de Davi”. E ainda critica “os mestres da lei” pelo tratamento diferenciado que esperam:

“Eles fazem questão de andar com roupas especiais, e gostam muito de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. 47 Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!”

Ainda no Templo, Jesus observa pessoas ricas “colocando suas contribuições nas caixas de ofertas”, enquanto uma viúva pobre coloca sua oferenda humilde, e aproveita para elogiar a contribuição do pobre sobre a do rico:

“Todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver.”

Ao ouvir seus discípulos elogiando a beleza e riqueza do Templo, Jesus oferece o que acadêmicos denominam de “pequeno apocalipse“, quando Ele prevê a destruição do Templo de Jerusalém, perfeitamente descrevendo os eventos da Primeira Guerra Judaico-Romana (66-70 EC), e tomando um especial cuidado para não lhes dar a impressão do “fim iminente” após os sinais, mas próximo para “essa geração”:

“Cuidado para não serem enganados. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ‘O tempo está próximo’. Não os sigam. Quando ouvirem falar de guerras e rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas o fim não virá imediatamente. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis e grandes sinais provenientes do céu. Mas antes de tudo isso, prenderão e perseguirão vocês… Vocês serão traídos até por pais, irmãos, parentes e amigos, e eles entregarão alguns de vocês à morte. Todos odiarão vocês por causa do meu nome. Contudo, nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá. É perseverando que vocês obterão a vida.

Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos, vocês saberão que a sua devastação está próxima. Então os que estiverem na Judéia fujam para os montes, os que estiverem na cidade saiam, e os que estiverem no campo não entrem na cidade. Pois esses são os dias da vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito… Haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram… Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória. Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês… quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo. Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam. Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão.” (ênfase nossa)

Com a Páscoa se aproximando, e os “chefes dos sacerdotes e os mestres da lei” não conseguindo matar Jesus por “medo do povo”, “Satanás entrou em Judas”, que dirigiu-se a eles lhes oferecendo “entregar Jesus quando a multidão não estivesse presente”. Gratos pela ajuda, eles “lhe prometeram dinheiro”.  

“Estava se aproximando a festa dos pães sem fermento, chamada Páscoa, e os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam procurando um meio de matar Jesus, mas tinham medo do povo. Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, um dos Doze. Judas dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e aos oficiais da guarda do templo e tratou com eles como lhes poderia entregar Jesus. A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Ele consentiu e ficou esperando uma oportunidade para lhes entregar Jesus quando a multidão não estivesse presente.”

No “primeiro dia da Páscoa”, então 14 de Nisan [2], Jesus acerta com Seus discípulos para a tradicional ceia pascal chamada seder. Ele envia Pedro e João para Jerusalém para conseguir uma sala por acaso, e “reclinados à mesa” naquela noite para um jantar de seder, Jesus anuncia Sua morte iminente. Então, Jesus toma do pão sem fermento, típico (e obrigatório) para seders e anuncia ““Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Logo após, Jesus toma do vinho típico para seders e anuncia “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês”. E, imediatamente, anuncia que um deles presentes O trairá. Após discutirem entre si quem o trairia, os discípulos também discutem quem era considerado “o maior” entre eles, e Jesus explica que todos são iguais e “eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o designou a mim, para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel”. Ao final da ceia, Jesus explica para Pedro que “Satanás pediu” para “peneirar” os discípulos e que eles deveriam se fortalecer uns aos outros, e quando Pedro retruca com demonstrações de fé e coragem, Jesus lhe antecipa que ele O negará três vezes antes que o galo cante. E, para encerrar essa discussão, Jesus ordena que se preparem com bolsas e sacos de viagem, além de armarem com “espadas” para auto-defesa.

Jesus, “como de costume”, retirou-se ao Monte das Oliveiras, e se separa dos discípulos para “orar” após pedi-lhes que orem, também. Ajoelhando-se em isolamento, Jesus reza:

“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua”

Um “anjo do céu” aparece para Lhe confortar, mas angustiado, Ele ora ainda mais intensamente, até que o Seu suor “era como gotas de sangue que caíam no chão”.

Jesus retorna para checar com Seus três discípulos, porém os encontra dormindo. Após lhes dar uma bronca por dormirem ao invés de estarem rezando como lhes havia pedido, Jesus é surpreendido por uma “multidão conduzida por Judas”, que incluia “chefes dos sacerdotes… oficiais da guarda do templo e… líderes religiosos”. Judas se aproxima do grupo, saudando-O carinhosamente com um beijo. Jesus se ofende, retrucando: “Judas, com um beijo você está traindo o Filho do homem?” Alguns dos amigos de Jesus Lhe perguntam se devem se defender, e um deles saca uma espada e decepa a orelha do “escravo do sumo sacerdote”. Jesus grita “Basta!” e cura a orelha do ferido, enquanto repreende a multidão:

“Estou eu chefiando alguma rebelião, para que vocês tenham vindo com espadas e varas? Todos os dias eu estive com vocês no templo e vocês não levantaram a mão contra mim. Mas esta é a hora de vocês — quando as trevas reinam.”

Preso, Jesus é levado “a casa do sumo sacerdote”. Pedro O segue, tentando acompanhar o julgamento de longe, no pátio palacial, e reconhecido, foi questionado quanto à sua associação com o prisioneiro. Pedro nega tal associação em três ocasiões distintas, e ao negar pela terceira vez, ouve um galo cantando, e põe-se a chorar “amargamente”. Enquanto isso, Jesus é vendado, e sofre zombarias, insultos, e agressão física.

Ao raiar do dia seguinte, no dia do calendário hebraico 15 de Nisan, uma sexta-feira, “os chefes dos sacerdotes e mestres da lei” reunem-se pela primeira vez no Sinédrio para julgá-Lo:

– Se você é o Cristo, diga-nos.

– Se eu vos disser, não crereis em mim e, se eu vos perguntar, não me respondereis. Mas de agora em diante o Filho do homem estará assentado à direita do Deus todo-poderoso.

– Então, você é o Filho de Deus?

– Vós estais dizendo que eu sou.

Considerando essa declaração blasfemosa, arrastam-No até Pilatos, acusando-No de incitar insurreição contra Roma e auto-entitulando-se “Messias” (i.e., Cristo) e “Rei”. Pilatos vai direto ao ponto em sua interrogação:

 – Você é o rei dos judeus?

– Tu o dizes.

Pilatos nega-se a condenar Jesus, mas ao insistirem, mencionam o fato de Jesus haver pregado insurreição na Galiléia. Pilatos, encontrando uma desculpa para livrar-se do problema, envia Jesus para Herodes, aproveitando-se do fato que a Galiléia era jurisdição dele e que ele estava em Jerusalém para a Páscoa. [3]

Herodes se animou para interrogar Jesus, esperando ver um “milagre”, porém Jesus permaneceu em absoluto silêncio durante toda interrogação. Aproveitaram-se para zombar e ridicularizar d’Ele, mas retornaram-No para Pilatos. “Herodes e Pilatos, que até ali eram inimigos, naquele dia tornaram-se amigos”. Pilatos, convicto da inocência de Jesus, anuncia que o castigará e o soltará, considerando que “era obrigado a soltar-lhes um preso durante a festa”. [4]

“Eles” pressionam Pilatos para soltar Barrabás, um assassino preso por incitar insurreição contra os Romanos. Pilatos tenta interceder a favor de Jesus, e por três vezes seguidas a multidão exige que soltem Barrabás, e que crucifiquem Jesus. A “gritaria prevaleceu” e Pilatos decide “fazer a vontade deles”. Liberta o homem preso por “insurreição e assassinato” e condena Jesus à execução. 

Enquanto os soldados romanos arrastam Jesus, “agarraram”  um transeunte chamado Simão, de Cirene, a carregar a cruz destinada a Jesus. Muitos O seguiam, e várias mulheres choram por Ele, ao que Jesus lhes conforta com uma alusão apocalíptica iminente:

“Filhas de Jerusalém, não chorem por mim; chorem por vocês mesmas e por seus filhos! Pois chegará a hora em que vocês dirão: ‘Felizes as estéreis, os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram!’”

Chegando no lugar “chamado A Caveira”, eles crucificaram dois criminosos, e entre eles, Jesus sob o título “Este é o Rei dos Judeus. [5] Enquanto os soldados dividiam Suas roupas entre si “tirando sortes”, Jesus clama:

“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo.”

Ofereceram-No “vinagre” para zombá-Lo, e até um dos criminosos decide zombar d’Ele também, porém este é prontamente repreendido pelo segundo criminoso. Após defendê-Lo, volta-se para Jesus:

 – Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.

– Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso.

Subitamente, toda a Palestina foi encoberta em “trevas” por três horas, do meio-dia às três da tarde, quando o “véu do santuário rasgou-se ao meio” e Jesus “bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito'”, e morre. [6] A cena tão comove o centurião presente que ele exclama: “Certamente este homem era justo!” Todo “o povo que se havia juntado para presenciar” a execução afastou-se “bate[ndo] no peito”, inclusive “todos os que o conheciam, inclusive as mulheres que o haviam seguido desde a Galiléia”.

José de Arimatéia, “membro do Conselho, homem bom e justo, que não tinha consentido na decisão e no procedimento dos outros” pediu a Pilatos posse do corpo de Jesus. Obtida autorização para sepultá-Lo prontamente, José velou o corpo com um “num lençol de linho e o colocou num sepulcro cavado na rocha, no qual ninguém ainda fora colocado”. Depois, fez rolar uma “grande pedra sobre a entrada do sepulcro.”  [7]

As “mulheres que haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia” seguiram a procisão, e viram o sepulcro, e foram para casa preparar perfumes e especiarias aromáticas para embalmá-Lo.

Após um dia e meio, na manhã do Domingo, “Maria Madalena, Joana e Maria mãe de Tiago” e outras “mulheres” vão ao sepulcro e “[e]ncontraram removida a pedra do sepulcro.. [e] quando entraram, não encontraram o corpo”. Subitamente, “dois homens com roupas que brilhavam como a luz do sol colocaram-se ao lado delas”:

Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galiléia: ‘É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’.”

Imediatamente elas retornam aos “Onze” para lhes contar o que houve, e eles não as creem. Pedro corre ao sepulcro e confere a ausência do corpo, para seu enorme espanto.

Ainda no Domingo, Cleopas e outro seguidor de Jesus viajavam para “Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém” e Jesus aproximou-se deles e engajou-os em conversação, mas eles não O reconheceram. Cleopas surpreende-se quando Jesus lhes pergunta do que falavam:

– Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?

– Que coisas?

– O que aconteceu com Jesus de Nazaré. Ele era um profeta, poderoso em palavras e em obras diante de Deus e de todo o povo.

Jesus “explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” e, chegando em Emaús, foram jantar juntos. Ao partir o pão, dando graças, eles O “reconheceram”, e Ele “desapareceu da vista deles”. Perguntaram-se um ao outro:

“Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?”

Retornaram correndo a Jerusalém para recontar aos “Onze” o que lhes havia ocorrido, quando “o próprio Jesus” apresentou-se subitamente:

“Paz seja com vocês!”

Todos se assustaram e amendotraram, achando que se tratava de “um espírito”. Jesus lhes acalma, mostrando as mãos e os pés, pedindo-lhes que O toquem: “…um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho”. Então Jesus lhes pediu um “pedaço de peixe assado, e ele o comeu na presença deles”, explicando-lhes: [8]

“Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas. Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto.”

Tendo-os levado até as proximidades de Betânia, Jesus ergueu as mãos e os abençoou, e subitamente foi elevado ao céu. Eles O adoraram e voltaram para Jerusalém com grande alegria, retornando constantemente ao Templo para louvar a Deus.


Notas

[1] Em realidade, o fato inconteste é a relação literária entre ambos Evangelhos, e entre estes e o Evangelho de Mateus. Quem copiou quem e como esses autores conheciam e copiaram e alteraram uns os textos dos outros é uma área de pesquisa acadêmica conhecida como “O Problema Sinótico”. O consenso acadêmico abraço o conceito de “prioridade marcana” ou “prioridade de Marcos”, o que significa que acredita-se haver amplas evidências sugerindo que Marcos foi o primeiro texto a ser composto e que tanto Mateus como Lucas copiaram dele. Ademais, existe uma corrente convincente e crescente argumentando e demonstrando que Lucas conhecia e copiou Mateus, considerando que aproximadamente um quarto do Evangelho de Mateus aparece quase palavra por palavra para formar um quarto do Evangelho de Lucas.
[2] O autor de Marcos erra grosseiramente no cálculo das datas da Festa Pascal. O dia Judaico inicia-se ao pôr-do-sol, ao contrário do costume ocidental observado por Romanos e Gregos de iniciar o dia ao nascer-do-sol. Assim, o “primeiro dia da Páscoa” Judaica começa após o pôr-do-sol de 14 de Nisan, quando começa 15 de Nisan. Ou seja, o primeiro dia é 15 de Nisan, e inicia-se na noite do 14 de Nisan. O cordeiro pascal é sacrificado durante o dia 14 de Nisan, antes do “primeiro dia da Páscoa”. O autor de Lucas mantém o erro na sua transcrição.
[3] Assim como o autor de Marcos, o autor de Lucas nunca introduz Pilatos ou explica quem deveria ser, enquanto o autor de Mateus o identifica claramente. É notável, também, que em Marcos e em Lucas nunca se identifica o “sumo sacerdote”, enquanto em Mateus ele é identificado especificamente.
[4] Estranhamente, nunca houve tal tradição e não há nenhum sinal ou evidência de que tal tradição existisse. O registro histórico é claro sobre Pôncio Pilatos como um governador violento e inclemente, que jamais permitiria um insurgente como Barrabás permanecer preso, que dirá comutado. Rebeldes eram executados sem quaisquer hesitações, sendo a manutenção da paz e da ordem o seu mandato principal. Ademais, Pilatos odiava os Judeus e não cedia a suas demandas, preferindo confrontações violentas com o uso excessivo das legiões. Não há registros dele haver “cedido” a “demandas” de “multidões”, ou de tentar “agradar” ninguém. Inclusive, Pilatos foi removido pelo Imperador justamente por causa de sua intransigência e violência contra os Judeus.
[5] O título oficial do Messias, ou Cristo, é exatamente “Rei dos Judeus”.
[6] Não há nenhum registro judeu, romano, grego, egípcio, ou em qualquer outra cultura ou civilização, que cite ou justifique 3 horas de trevas na Palestina.
[7] Nunca, nunca, nunca condenados mortos em crucificações eram permitidos sepultamentos. Os corpos deveriam apodrecer nas cruzes ao ar livre. Inculcar terror e medo nos habitantes locais era justamente o propósito de crucificações, especialmente de rebeldes ou potenciais usurpadores do poder e autoridade de Roma.
[8] Em nenhum lugar das escrituras hebraicas ou das tradições proféticas ou religiosas estava “escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos”. Os escritos sobre o Cristo, ou o Messias, criavam a expectativa de um líder político e/ou militar que traria independência ou glória para o povo hebreu.

Referências Bibliográficas

Coogan, Michael (ed.), ‘The New Oxford Annotated Bible with Apocrypha: New Revised Standard Version‘, 4a ed.

Ehrman, Bart, ‘The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings‘, 5a ed.

Goodacre, Mark, ‘The Case Against Q: Studies in Markan Priority and the Synoptic Problem‘, 1a ed.

Levine, Amy-Jill (ed.), ‘The Jewish Annotated New Testament‘, 1a ed.

Metzger, Bruce, ‘The Oxford Companion to the Bible‘, 1993

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