Algumas semanas atrás, um amigo mencionou em uma conversa sobre o evangelho que, após esta vida, nós saberíamos a verdade sobre todas as coisas. Em seguida, ocorreu-me que um monte de pessoas vão ser, ou já foram, chocadas pela forma como elas estavam errados sobre suas visões de vida, do universo, e de, bem, tudo.

E, entre todas as coisas, devemos incluir ideais sobre religião.
O Buda deve ter ficado chocado. Maomé, Martinho Lutero, João Calvino, John Wesley, e até mesmo, penso eu, Joseph Smith.
É claro que alguns ficaram provavelmente mais chocados do que outros. Mas, supondo que a nossa atual concepção do evangelho esteja correta, todos esses devem ter sido surpreendidos em algum grau. Sim, acho que Joseph Smith menos que aqueles acima, mas eu suspeito que mesmo ele encontrou alguma verdade inesperada. Foi algo sobre poligamia? Ou talvez a sua compreensão dos papéis de gênero? Eu não posso dizer. E admito que sobre Joseph Smith esta é a minha própria especulação. Afinal de contas, não tenho nenhuma idéia de quais ideias que ele acreditava que estariam erradas no sentido eterno.
Meu ponto não é que Joseph Smith estava errado sobre as coisas, mas sim que nós, mórmons, temos estado errados no passado, e se estamos corretos agora, então membros e líderes do passado devem ter sido surpreendidos ou chocados quando descobriram a verdade. Aqueles que ensinaram e acreditaram que a raça é uma qualificação para o sacerdócio foram surpreendidos depois que eles entraram na próxima vida, não foram? Ou, talvez, aqueles que acreditavam que a poligamia é um requisito para o reino celestial foram igualmente surpreendidos, você não acha? Se não for isso, então, provavelmente, fora outra coisa. Goste ou não, ao longo do tempo a nossa concepção da Verdade do Evangelho mudou um tanto. Eu acho que as crenças fundamentais são as mesmas – certamente a expiação de Cristo, o plano de salvação e nossa crença na revelação contínua, e muito mais.
Se os mórmons do passado estavam errados sobre algumas coisas, então o que vai impedir-nos, hoje, de estar errado sobre algumas coisas? Independentemente do que essas coisas possam ser, não é provável que nós estejamos errados sobre algo? Nós acreditamos na revelação contínua, por isso temos de admitir a possibilidade de mudança no futuro, certo? E ainda acreditamos que a humanidade, assim como cada um de nós individualmente, é ensinado linha sobre linha, preceito sobre preceito, e por isso, no futuro, deveremos ser ensinados novas e importantes verdades, certo?
De alguma forma, parece que não somos sempre humildes sobre doutrina. Nós prontamente transformamos idéias simples em regras rígidas. Conselhos de autoridades gerais são muitas vezes transformados em tabus culturais ao invés de orientações cuidadosamente consideradas. Não devemos nos perguntar de vez em quando “isto é realmente uma parte essencial do evangelho? Ou isso pode ser simplesmente algo que fui convidado a fazer por agora, neste momento e lugar particular?”. E mesmo quando fazemos o nosso melhor para entender os ensinamentos, devemos ter a humildade e paciência para reconhecer que alguma parte deles está provavelmente errada. Nós simplesmente não sabemos qual parte.
Uma das maiores decepções que tenho ao falar com aqueles que deixam a Igreja é quão rígidos eles podem ser sobre doutrina, quase tanto como alguns “verdadeiros crentes” podem ser sobre doutrina (que, consequentemente, às vezes aparece em publicações oficiais da Igreja). Estamos todos tão certos de que sabemos “a verdade” sobre o aborto ou a homossexualidade ou os negros e o sacerdócio ou qualquer posição que você possa citar hoje. Tanto quanto eu posso notar, nossos antecessores estiveram tão certos de si sobre tudo, desde a trindade, transubstanciação, batismo, a ressurreição, e outras “heresias” que surgiram no cristianismo, à poligamia, raça e coligação no mormonismo.
Para que ninguém me entenda mal, não estou sugerindo que não devemos seguir os líderes. É evidente que há coisas no evangelho que devemos fazer agora, mas que não são princípios eternos. Às autoridades gerais foi dada a responsabilidade de determinar o que deve ser feito hoje. Eles são os ungidos do Senhor, e responsáveis por receber revelação hoje. Estou sugerindo que devemos ser humildes sobre como pensamos sobre a doutrina e pacientes com o ritmo da Igreja em direção à perfeição. Eu não sei por que levou tanto tempo para a Igreja avançar ao ponto onde a proibição do sacerdócio poderia ser derrubada por revelação. Mas eu vejo que levou mais de um século para que a correção fosse feita. Talvez eu devesse estar disposto a ter paciência nesse grau, se necessário.
Não devemos esperar a perfeição agora. Também não devemos esperar que nossas crenças e conhecimentos possam ser perfeitos nesta vida. E, devemos estar prontos para aceitar as mudanças que virão, tanto nesta vida como na vida futura.
Quais serão as mudanças? Eu não sei. Na minha vida eu vi grandes mudanças, como a remoção da proibição do sacerdócio, e eu vi pequenas mudanças. E estou tentando me preparar mentalmente para a forma como a próxima vida será diferente do que o presente, e para o quanto a verdade será diferente do que eu, na minha imperfeição, acho que é agora. Tenho suficiente humildade e paciência para aceitar as coisas como elas estão agora, e também como elas serão? Espero que sim.
Quão chocados ficaremos depois desta vida?
Quando as verdades são manifestadas pelo Espírito Santo não tem como algo ser errado.
Todos nós podemos receber a certeza de algo que não sabemos.
Deus é nosso Pai.
Mediante a nossa obediência e Sua vontade,podemos saber as verdades de todas as coisas.
A “verdade de todas as coisas” para aquele momento débil e incompleto em que nos encontramos.
A “verdade sobre todas as coisas” muda a cada instante, basta ter humildade em busca do conhecimento (por menos que consigamos obter sabedoria como a ‘eterna’, ficar agarrados apenas ao que temos ou nos é dado tão pouco ajuda).
Parece que princípios eternos estão intrínseca e inerentemente atrelados à humanidade, ou seja, se pode afirmar apenas de fatos relacionados à percepção humana dos eventos na vida. Coisas essencialmente físicas (procriação, alimentação, divisão de recursos e terras, vida em sociedade, etc.).
Se acreditamos que existe Deus, e que Ele é no mínimo bom, só posso pedir uma coisa, independente de se existe ou não profeta ou sacerdócio ou igreja perfeita:
Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante idéia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia Ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às Suas criaturas? Não haverá contradição em se Lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, Ele é justo e que o homem não Lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e Ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para Seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: “A cada um segundo as suas obras”
Vocês acham que esse Deus vai me deixar durante o período de 01(uma) eternidade olhando para o céu, desde os mundos telestial ou terrestrial com dor e sofrimento moral e com saudade da minha família pelo fato de não ter sido tão bom quanto o irmão X?
Na teologia mórmon a explicação para essa condenação é que ela não viria de Deus, mas das inteligências, que cobrariam Dele cumprimento da Lei, sob pena de destroná-lo (literalmente deixar de ser deus).
Em resumo, algumas criações cumpriam com perfeição o propósito de sua criação e exigiriam o mesmo crivo das demais. Por isso a necessidade de um salvador. No final, Deus não poderia nos salvar nem condenar, seria apenas um aplicador da lei.
Condenação eterna ou mesmo a “aniquilação total” dos ímpios são contrárias à ideia de perfeição de Deus. O universo, e tudo o que ele contem, evolui para a perfeição.
Citando o profeta fundador : “…´É absurdo dizer que os pagãos serão condenados, porque não creram no evangelho; igual disparate dizer que todos judeus serão condenados porque não creram em Jesus Cristo. Se a leis humanas concedem a cada homem o que ele merece, e castiga a todo delinquente de acordo com os seus crimes certamente o senhor não há de ser mais cruel que o homem….” (Ensinamentos do profeta Joseph Smith pág.216)