Cristina Rosetti
Desde o início da pandemia do COVID-19, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, comumente conhecida como Igreja Mórmon ou Igreja SUD, seguiu as diretrizes do governo para proteger os membros de sua comunidade religiosa. Em 25 de março de 2020, a igreja fechou seus templos e incentivou membros a usarem máscaras. Líderes elogiaram a vacinação, a qual o presidente da Igreja Russel M. Nelson, cirurgião aposentado, chamou de “enviada literalmente de Deus“. Ele e outros membros seniores foram vacinados, convocando os membros da igreja a seguirem seu exemplo.

Ramos fundamentalistas do mormonismo, entretanto – grupos que começaram a se separar da igreja SUD depois que ela encerrou a prática institucionalmente sancionada da poligamia em 1904 – tomaram um caminho diferente. Muitos fundamentalistas se recusaram a tomar a vacina e buscaram terapias alternativas, incluindo o controverso uso de ivermectina, medicamento comumente prescrito para o tratamento de parasitas intestinais.
Cerca de 30% dos norte-americanos não receberam nenhuma dose da vacina contra COVID-19. Muitos expressam ceticismo sobre a intervenção do governo na saúde de suas famílias, opiniões às vezes enraizadas em desinformação ou teorias de conspiração.
A cautela em relação ao governo e às autoridades médicas pode ocorrer de modo especialmente profundo em comunidades isoladas ou marginalizadas. Como estudiosa do fundamentalismo mórmon, vi como tais medos, para fundamentalistas, estão enraizados na desconfiança. Desde a fundação da igreja SUD em 1830, seus membros muitas vezes enfrentaram discriminação e perseguição, mas o conflito diminuiu significativamente após o fim dos casamentos polígamos sancionados institucionalmente. Grupos fundamentalistas, por outro lado, ainda veem o governo com suspeita. Muitos continuam a poligamia, e o medo de serem denunciados às autoridades policiais os impede de acessar recursos, como assistência médica.
Cuidado cauteloso
Joseph Smith, o fundador da igreja SUD, ensinou que Deus tem um corpo e que os próprios corpos das pessoas são dádivas sagradas para ajudá-las a alcançar a eternidade.
Dada a importância religiosa dos corpos humanos, seus seguidores acreditavam requeriam muito cuidado – e muitos membros da igreja do século 19 suspeitavam das autoridades médicas, em meio ao sentimento antimórmon crescente. Durante a Guerra Mexicano-Americana de 1846-1848, por exemplo, George B. Sanderson foi nomeado oficial médico do Batalhão Mórmon, uma unidade recrutada no Território de Utah. Frequentemente, ele prescrevia cloreto de mercúrio e arsênico, tratamentos padrão na época, mas que causavam contenda entre as tropas. Soldados desconfiados questionaram se ele os estava envenenando e se lembravam dele como “Dr. Morte.”
Os primeiros líderes SUD alertaram contra “remédios venenosos”. Brigham Young, segundo presidente da igreja, aconselhava sua comunidade acerca de terapias alternativas para mantê-la longe de profissionais médicos em quem não confiavam.
Um dito frequentemente citado – popularmente atribuído a Young – é que os santos dos últimos dias deveriam ter conhecimento de várias ervas “para resistir aos flagelos dos últimos dias”. O confrei, em particular, tornou-se um tratamento para tudo e continua sendo um produto básico em lares fundamentalistas, cautelosos com profissionais médicos.

Após a virada do século 20, quando a igreja SUD começou a apoiar processos legais contra a poligamia e excomungar membros que a praticavam, grupos fundamentalistas ficaram ainda mais isolados e continuaram a depender de remédios caseiros. Durante a Guerra Fria, lembram ex-membros de um grupo, seu falecido líder instruiu seguidores que uma mistura amarga chamada “bebida verde” poderia preservar os corpos dos mais justos da precipitação nuclear.
Mudanças adiante?
Em minha própria pesquisa dentro dessas comunidades fundamentalistas, vi o uso de confrei em primeira mão – e até mesmo o tive prescrito para meus resfriados.
Em 2018, eu estava fazendo trabalho de campo em uma comunidade rural polígama em Nevada, durante um surto de coqueluche. Muitos membros consideravam as vacinas perigosas e estavam relutantes em ir a hospitais por medo de ser denunciados às autoridades. Por instrução de seu líder, um profissional de saúde alternativo estimado como profeta, as mulheres foram para a cozinha e prepararam uma bebida amarga chamada “antipeste”, um líquido marrom-escuro feito principalmente de confrei.
Hoje, profissionais médicos e agências governamentais alertam contra o consumo de confrei devido a possíveis danos ao fígado. No entanto, muitas famílias fundamentalistas consideram a interferência do governo mais arriscada do que a planta.
Quando pessoas de comunidades polígamas explicam as barreiras que enfrentam devido ao estilo de vida que escolheram, o acesso a cuidados médicos para seus filhos é uma preocupação central. Isso se tornou um ponto central do debate durante as audiências legislativas para o SB102, projeto de lei sancionado em 2020 que efetivamente descriminalizou a poligamia em Utah após anos de debate. A nova lei reduz a poligamia a uma infração, ao invés de um crime, a menos que esteja conectada a outros crimes, como abuso.
Desde a aprovação do projeto, houve crescimento significativo do número de famílias que buscam recursos da comunidade e do governo. Em 2019, por exemplo, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com famílias polígamas relatou que 800 vítimas de crime haviam recebido assistência, incluindo serviços de saúde mental e apoio jurídico. No final de 2020, esse número aumentara para 1098.
Pesquisadores estarão observando atentamente como a descriminalização afeta a saúde das comunidades fundamentalistas.

Cristina Rosetti possui Doutorado em Estudos Religiosos pela Universidade da Califórnia, Riverside, e atualmente é professora assistente visitante de Estudos Religiosos no Claremont McKenna College.
Artigo originalmente publicado aqui. Reproduzido sob permissão.
Isso mostra que essas comunidades não se deixam levar pela pressão da mídia, que vem manipulando as pessoas desde o início da pandemia. Os casos de efeitos colaterais da vacina para covid são inúmeros. Nunca tivemos tantas mortes por infarto e AVC em adolescentes e jovens até trinta anos. Nesta semana, um apresentador teve mal súbito enquanto apresentava o telejornal ao vivo. Ele havia tomado a terceira dose da Pfizer há três dias.