Mórmon assume como Primeira-Ministra da Nova Zelândia

Pela primeira vez na história do mormonismo, assumirá hoje o cargo de chefe do poder executivo de uma nação, uma nação considerada de “primeiro mundo” diga-se, uma pessoa que nasceu e cresceu dentro da fé mórmon.

Jacinda Kate Laurell Ardern, de 37 anos de idade, assumiu hoje o posto de primeira-ministra da Nova Zelândia. Ardern ascendeu há pouco menos de 3 meses à liderança do partido social democrata Labour Party (partido trabalhista) após 20 anos de ativismo político, tanto em seu país natal como no Reino Unido, e com uma plataforma focada em promover educação superior gratuita, retirar crianças de condições de pobreza, descriminalizar o aborto, e restringir imigração, carregou o seu partido a impressionantes resultados nas eleições gerais de setembro. Para uma vitória compreensiva, e sua subsequente eleição ao executivo, Ardern habil e diplomaticamente costurou uma coligação política com o partido Green Party e o partido New Zealand First.

Ambos pais de Ardern eram membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e criaram ela e sua irmã na fé SUD desde a infância. Ambas cresceram ativamente na Igreja embora eram as únicas membros na escola e em seus círculos de amizades. Aos 25 anos de idade, como milhares de outros membros da Igreja, Ardern decidiu oficialmente sair da Igreja em protesto à sua oposição institucional ao casamento homoafetivo durante o debate nacional a um projeto-de-lei que excluiria a possibilidade de sua legalização. Ardern nunca discutiu sua resignação da Igreja com seu pai, mas sua mãe expressou-lhe a decepção de ambos.

Sobre sua decisão de deixar a fé mórmon, Ardern explicou:

“Por muitos anos, eu joguei [a questão da homofobia institucional na Igreja SUD] no fundo da minha mente. Eu achava que era muito perturbador. Se algo como religião é parte de sua fundação e, de repente, você começa a questionar isso – é uma questão bastante difícil de se lidar.

Mesmo antes que o projeto-de-lei [que proibiria o casamento homoafetivo] surgisse [em 2005], eu morava em um apartamento com três amigos gays e ainda estava indo à igreja de vez em quando e eu me lembro de pensar ‘isso é realmente inconsistente – estou fazendo um desserviço à Igreja e a meus amigos’. Porque como eu poderia pertencer a uma religião que simplesmente não os aceitava?

Foi uma das questões que se tornaram um verdadeiro ponto de contenção. Você deriva um pouco pra lá e pra cá, sempre haverá coisas que você não consegue reconciliar, mas nunca conseguiria conciliar o que eu enxergava como discriminação em uma religião que, em outros aspectos, estava muito focada em tolerância e em bondade.

Não consigo ver-me sendo uma membro de uma religião organizada novamente.

Não [converso com Deus]. Mas eu tenho um verdadeiro respeito pelas pessoas que têm religião como uma base nas suas vidas. E eu respeito as pessoas que não têm. Eu sou agnóstica. Eu não gasto muito tempo tentando descobrir isso. Eu apenas acho que as pessoas devem ser livres para ter suas crenças pessoais e não ser perseguidas por isso, sejam elas atéias ou membros firmes da igreja.

Eu traço uma linha [de limite] se as pessoas estão sendo abusadas – por exemplo, os dízimos em algumas igrejas. Eu tenho uma opinião firme sobre isso.”

Não obstante sua resignação da Igreja, Ardern permaneceu próxima às suas raízes mórmons. Até hoje não bebe café,  por exemplo. Há alguns anos, Ardern organizou um evento para juventude SUD com o então líder do seu partido trabalhista (embora a sala de imprensa da Igreja apenas citou seu nome e propositadamente ignorou o fato de Ardern ter nascido e crescido na Igreja), no qual o Setenta de Área presente aproveitou para apresenta-los com a proclamação anti-gay oficial da Igreja. E repetidamente expressa respeito e gratidão pela fé de seus pais e pela criação mórmon que teve em sua infância e adolescência. Inclusive, Ardern credita muito de suas convicções políticas sociais-democráticas, focada na defesa dos direitos iguais para mulheres e inclusão de minorias raciais e LGBT, além da preocupação com pobres e os economicamente desfavorecidos, a suas origens mórmons.

5 comentários sobre “Mórmon assume como Primeira-Ministra da Nova Zelândia

  1. que paradoxo!!! um membro (inativo) da igreja se tornando chefe de estado… algo sempre vislumbrado pela Igreja de ter membros chefes de Estado….mas esta nem se considera mais membro e os motivos que deixou de ser não deixam de ser relevantes….

  2. Lembro muitos anos atrás que os membros e lideres locais quando chegavam em épocas de eleição sempre incentivava os membros a votarem em políticos Mormons ou políticos que faziam a vontade da liderança Mormon. Quando via isso dava a impressão que ter um lider Mormon como deputado ou qualquer cargo legislativo era sinal de orgulho para a comunidade SUD não importando que tipo de caráter possuisse.

    Teve alguns políticos Mormons ou gente que simpatizava pela instituição religiosa referida, mas não foram diferentes dos demais políticos pois no final das contas só faziam as coisas segundo seus interesses.

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