Igreja reconhece ordenação de negros no séc. XIX mas insiste em “nós não sabemos”

O novo cabeçalho da Declaração Oficial 2

Elijah Abel (1808 -1884)

Elijah Abel (1808 -1884)

Recentemente, a Igreja SUD lançou em formato digital os novos cabeçalhos para suas obras-padrão. Entre as mudanças mais significativas, está a nova introdução para a Declaração Oficial 2, documento que encerrou, em 1978, um longo período de exclusão de membros negros da ordenação ao sacerdócio, investidura e selamentos.

O texto, disponível apenas em inglês até o momento, diz

Durante a vida de Joseph Smith, uns poucos membros negros da Igreja foram ordenados ao sacerdócio. No início de sua história, líderes da Igreja pararam de conferir o sacerdócio a negros de origem africana. Os registros da Igreja não oferecem uma compreensão clara sobre a origem dessa prática. Líderes da Igreja acreditavam que uma revelação de Deus era necessária para alterar essa prática e buscaram por oração uma orientação.

O novo cabeçalho presta um grande serviço à história ao reconhecer a ordenação de homens negros como Elijah Abel e Walker Lewis. Creio que isso seja fato desconhecido da imensa maioria de membros sud.

Por outro lado, o novo texto acaba por reforçar a ideia de que não sabemos por que os negros acabaram por ser excluídos do sacerdócio. Claro que poderia ser pior: poderia-se afirmar que a exclusão foi baseada em uma revelação divina. Nesse ponto, o cabeçalho apresenta até certa ambiguidade ao afirmar que “líderes da Igreja acreditavam que uma revelação de Deus era necessária para alterar essa prática”.

A lacuna mantida no novo cabeçalho diz respeito às mulheres negras: a proibição de ordenar homens negros ao sacerdócio, aliada à proibição de selamentos inter-raciais, também impedia até 1978 o acesso dessas mulheres às ordenanças maiores do templo.

48 comentários sobre “Igreja reconhece ordenação de negros no séc. XIX mas insiste em “nós não sabemos”

  1. Marcos,

    Sim, é exatamente isso que penso em relação ao tema tratado. E penso assim não só em relação ao sacerdócio e os negros, bem como, em relação ao casamento plural que gerou a DECLARAÇÃO OFICIAL 1, assinada pelo presidente Wilford Woodruff, mas esse não é o tema do tópico.

    Não sei há quanto tempo você é membro da igreja. Existem algumas frases ditas na igreja, e já ouvi inúmeras vezes e creio que, se você não ouviu ouvira um dia. São frases ditas pelos membros, geralmente em uma Ala ou Ramo, em uma clara demonstração de que compreendem e enxergam algumas falhas existentes na igreja, ou seja, nos membros da igreja. Vamos às frases: “a igreja é verdadeira, mas os membros…”, ou uma derivação da anterior “mas a igreja é verdadeira!”, e ainda “alguns chamados são por inspiração (revelação) e outros são por transpiração”. Essas frases são ditas quando algum membro ou líder, geralmente da unidade ou estaca que o membro pertence, age de forma inadequada em relação aos procedimentos administrativos e por vezes até doutrinários. Penso que o mesmo vale para autoridades gerais, também cedem a pressões externas de ordem social, política e até mesmo econômica. Entendo não ser difícil analisar criteriosamente as circunstâncias em que algumas revelações ocorrem. Porém, a meu ver, o foco da questão não é uma “revelação” motivada por pressão externa pondo fim a uma prática de décadas na igreja (práticas que não afirmo serem corretas), e sim o fato inconteste de que o princípio doutrinário continua a existir nas escrituras da igreja. Mais uma vez em uma clara evidência de que a “revelação” ou decisão, foi de fora para dentro e não de dentro da igreja para fora, não foi gerada em seu interior e sim motivada por pressões externas. Considerando tal entendimento concluo que, se possível, a igreja teria mantido não só o princípio que sustenta a prática, mas também a própria prática ainda nos dias de hoje, na mortalidade.

    Dito isso, afirmo com toda minha convicção pessoal, que existe entre o Brasil e os Estados Unidos da América uma diferença fundamental, basta examinar a história dos dois países, especialmente a religiosa, apesar de ambos os países serem cristãos. Por questões “culturais” somos, aqui no Brasil, propensos a idolatrar pessoas, homens, lideranças eclesiásticas profissionais ou leigas.

    Marcos, eu não entendi muito bem sua posição em seu segundo comentário. Afinal, você diz acreditar que “pressões diversas influenciaram os líderes a repensarem determinadas posições”, e logo após diz acreditar também que “após pensarem (pensar em que?), consultaram Deus e receberam revelações quanto à atitude que deveriam tomar”. Fica a dúvida, e então pergunto: e se após essas pressões que você diz serem diversas (eu prefiro definir como externas, pois as internas as autoridades gerais sabem como administrar e muito bem), que os influenciaram a repensarem posições, não tivessem obtido êxito? Se após consultarem Deus, a atitude fosse em sentido contrário, ou seja, Deus resolvesse manter as revelações anteriores e a atitude que os líderes deveriam tomar seria simplesmente obedecer? Como ficaria a situação?

    Sugiro, e apenas isso, sugiro que examine as circunstâncias em que se deram tais “revelações” e poderá ver por si mesmo que a igreja teria muitos problemas com o primeiro templo na América Latina, em São Paulo – Brasil. Sim, pois enquanto não havia templo no Brasil, como disse em meu comentário anterior, país extremamente miscigenado, o problema da prática não estava tão próximo de nós brasileiros, de nossas leis, de nossa constituição.

    Para terminar, aproveito para dizer que situação semelhante (pressão externa), se deu com o casamento plural. As propriedades da igreja estavam sendo confiscadas pelo governo dos EUA, as autoridades gerais (lideranças máximas da igreja) estavam sendo presas e o terceiro presidente da igreja, John Taylor, teve que praticamente durante toda a sua presidência, presidir a igreja escondendo-se da justiça americana que queria prende-lo pela prática da poligamia. Não é difícil perceber que, diante de tamanho golpe do governo estadunidense, a igreja não teria chegado como chegou aos dias de hoje. Talvez existisse hoje, em uma condição semelhante à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias Fundamentalista, presidida por Warren Jeffs (que se encontra preso pelas autoridades americanas pela prática da poligamia, etc.), em uma luta ou rebelião contra as leis dos Estados Unidos da América. Às vezes fico pensando, o que Deus teria dito as autoridades gerais dessa igreja SUD fundamentalista.

    • Respeito sua opinião, mas ao contrário de você, para mim as revelações aconteceram e não foram uma farsa. Eu já trabalhei em lugares em que sofri pressões e pensei que deveria tomar determinada atitude, porém eu orei ao Senhor para saber se era o certo a fazer e Ele confirmou com um sentimento de paz ou através de minha esposa em algo que ela disse que tocou de maneira forte em meu coração. Claro que o Senhor poderia ter me mostrado que a atitude deveria ser outra se fosse o caso. Acredito portanto, que deve ter passado o mesmo com os líderes da Igreja. Se eu, como membro, começar a duvidar da maneira que você duvida, será melhor então abandonar a Igreja do que ficar frequentando com desconfiança o tempo todo.

      Você afirmou:
      “Se após consultarem Deus, a atitude fosse em sentido contrário, ou seja, Deus resolvesse manter as revelações anteriores e a atitude que os líderes deveriam tomar seria simplesmente obedecer? Como ficaria a situação?”

      Sim, se Deus ordenasse que mantivessem as revelações anteriores deveriam obedecer sim, pois Ele é quem manda. Não sei como ficaria a situação, mas os discípulos de Cristo sempre enfrentaram “grandes tempestades”, não seria a primeira vez.

  2. Antonio, eu gostaria de saber sua opinião a respeito das perguntas que fiz ao Evandro:
    “- Você acredita que somente pressões externas influenciaram nas mudanças que aconteceram ao longo da história da Igreja? Para você a revelação de 1978 foi uma farsa? Ninguém recebeu revelação nenhuma?”. Se você achar que não vale a pena responder vou respeitar sua decisão.

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