O Dia da Terra para Mórmons

Celebramos hoje o Dia Internacional da Mãe Terra!

terra

O “Dia da Terra” é “uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2009 para marcar a responsabilidade coletiva para promover a harmonia com a natureza e a Terra e alcançar um balanço entre economia, sociedade e ambiente”.

“O Dia Internacional da Mãe Terra é uma chance de reafirmar nossa responsabilidade coletiva para promover a harmonia com a natureza em um tempo em que nosso planeta está sob ameaça da mudança climática, exploração insustentável dos recursos naturais e outros problemas causados pelo homem. Quando nós ameaçamos nosso planeta, minamos nossa própria casa – e nossa sobrevivência no futuro” Ban Ki-moon, Secretário-geral da ONU (2007-2016)

Em 1969, durante uma conferência da UNESCO em São Francisco, o ativista John McConnell propôs a criação de uma data comemorativa em “honra à Terra e ao conceito da Paz” e sugeriu o 21 de março de 1970 por se tratar do equinócio primaveril (no hemisfério norte).

Enquanto isso, nos EUA o Senador Gaylord Nelson, após destruição causada pelo grande vazamento de óleo na Califórnia de 1969, conseguiu articular e passar leis estabelecendo o dia 22 de abril de 1970 para o mesmo propósito (20 milhões de pessoas nos Estados Unidos saíram às ruas para protestar em favor de um planeta mais saudável e sustentável, e milhares de escolas e universidades organizaram manifestações contra a deterioração do meio ambiente), culminando na criação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e de leis criando os Atos do Ar Limpo, Água Limpa e das Espécies Ameaçadas. Desde então, esta data fora celebrada nos EUA e, desde 2009, pelo mundo afora por conclamação das Nações Unidas.

Enquanto isso, como celebraram ou se conscientizaram os Mórmons nesses últimos 46 anos desde 1970?

Pode-se tomar como referência os discursos que os Profetas e Apóstolos pronunciaram oficiosamente durante os eventos religiosos máximos da Igreja SUD: as Conferências Gerais semestrais.

Nesses 46 anos desde o primeiro “Dia da Terra” em 1970, houve 92 Conferências Gerais, totalizando-se 460 sessões, cada uma com entre 5 a 7 discursantes por sessão. Dentre esses mais de 2000 pronunciamentos proféticos e apostólicos, quantos deles abordaram questões ambientais como poluição, aquecimento global, mudanças climáticas, e afins?

Nós encontramos estes:

O Apóstolo Boyd K. Packer, em abril de 1992, deixou a entender que leis para proteger o meio-ambiente não são tão importantes ou relevantes quanto leis que coibem os direitos civis de homossexuais:

Enquanto passamos leis para reduzir poluição no planeta, quaisquer propostas para proteger o meio ambiente moral e espiritual são silenciadas aos gritos e protestadas como infringimento da liberdade, do livre-arbítrio, e do direito de escolha.

O Setenta Joseph W. Sitati, em abril de 2015, sugeriu que “poluição” equivale a males como “pornografia” e “abuso de substâncias nocivas” e “pobreza”, oriundos todos de “escolhas próprias individuais”:

Os desafios que a sociedade humana enfrenta atualmente, incluindo a imoralidade, a pornografia, os conflitos armados, a poluição, o abuso de substâncias nocivas e a pobreza, florescem porque muitos no mundo se desviaram por escolha própria para a “vontade do diabo e da carne” em vez de escolher a vontade de Deus.

O Presidente Thomas S. Monson, em abril de 1996,  ofereceu a única crítica coerente e racional em quase 5 décadas, quando correlacionou “desperdícios” com “recusos naturais… dilapidados” e “tempos difíceis”, oferecendo um repúdio ao estilo de vida consumerista e imediatista que se apropria dos recursos naturais da Terra como se não houvesse amanhã (ênfases nossas):

Quando contemplamos o mundo maravilhoso em que vivemos e percebemos os tempos difíceis que enfrentamos, ficamos felizes em saber que Jesus, nosso líder, está sempre perto. Vivemos num mundo de desperdícios. Com frequência nossos recursos naturais são dilapidados. Vivemos num mundo de privações. Enquanto alguns desfrutam abundante prosperidade, outros enfrentam a fome. Nem todos têm comida, moradia, roupas e amor. O sofrimento constante, as doenças desnecessárias e a morte prematura abatem-se sobre muitos. Vivemos num mundo de guerras. Algumas são de natureza política, enquanto outras têm base econômica. A maior batalha de todas, no entanto, visa a conquista de almas humanas.

Infelizmente, o resto do discurso de Monson sequer retoma o tema ambiental, e a única menção ao maior problema tangível na história da humanidade se perde numa lição de como cumprir com as designações congregacionais da Igreja como visitas de mestre familiar ou proselitismo missionário.

Ainda mais infeliz é a constatação do incentivo ao consumerismo, que Monson tão eloquentemente condenou há vinte anos atrás, pelo próprio Monson ao liderar gastos bilionários para a construção de um shopping de luxo e a conclamação de membros da Igreja para irem gastar dinheiro para consumir no shopping da Igreja.

Enquanto testemunhamos verdadeiros desastres ecológicos, enquanto cientistas demonstram que estamos severamente desequilibrando os ecossistemas terrestres, paulatinamente aleijando os nossos sistemas econômicos e possivelmente  impossibilitando  a nossa própria sobrevivência como espécie, os Profetas e Apóstolos ignoram o problema.

Mesmo quando os líderes políticos do mundo se debulham em tratados tentativos e hesitantes para cooperação mundial, e demais líderes religiosos expressam encorajamento e apoio a tais colaborações globais na luta contra mudanças climáticas e aquecimento global, os Profetas e Apóstolos permanecem em silêncio. Quando muito, e quando encurralada, a Igreja envia representantes menos expressivos para oferecer platitudes improvisadas e evitar o assunto.

Recentemente, cientistas descobriram uma espécie do mesmo gênero que os humanos, o Homo naledi. Vivendo há 2 milhões de anos atrás, eles parecem ter sido os primeiros a praticar o hábito ritualístico de sepultar os mortos, e sua descoberta (com a ajuda de cavernistas amadores) foi um choque e uma emoção para a comunidade científica:

É importante lembrarmos que outras espécies humanóides vieram antes de nós e acabaram extintas. O gênero Homo sapiens não está imune de sofrer o mesmo fim. Nossas ações consumeristas já estão causando a sexta grande extinção em massa nos 4,5 bilhões de anos de história da Terra:

[A]s taxas de extinção modernas são excepcionalmente altas… os números encontrados indicam uma grande extinção em curso, que rivaliza com a que acabou com os dinossauros.

Por causa dos resultados, os pesquisadores fazem um alerta. “Se as extinções continuarem nesse nível, a humanidade será em breve privada de muitos benefícios da biodiversidade”. Para evitar esse cenário, eles sugerem políticas para evitar a destruição de habitats e a superexploração econômica do meio ambiente, e defendem combater os impactos das mudanças climáticas.

Os cientistas são praticamente unânimes nessas recomendações e nós as ignoramos por nossa conta e risco. Para  Profetas e Apóstolos que não hesitam em gastar centenas de milhões de dólares para impedir que homossexuais sejam felizes em suas famílias, ou bilhões e bilhões de dólares para incentivar o consumismo, onde estão as suas recomendações para nos salvar da extinção iminente?

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