Quando uma profecia é válida? Quando é inspirada? E quando é apenas uma “opinião de um homem”?
Este é uma questão particularmente importante tendo em vista o recente debate sobre a propriedade de se discutir a relevância ou a preeminência de pronunciamentos de profetas. Muitos defendem a posição de que nunca se deve questionar as opiniões de profetas, que devem ser obedecidos cegamente e seguidos em silêncio.
A função de um profeta é justamente profetizar, ou oferecer previsões sobre o futuro. Diferentemente do papel de um vidente (que tem visões sobrenaturais sobre o passado, presente e futuro), de um revelador (que revela tais segredos sobrenaturais não acessíveis aos demais), e de um Apóstolo (que testifica de seu conhecimento sobrenatural de Jesus Cristo), o profeta faz declarações afirmativas que são mensuráveis e checáveis naturalmente. Não se pode checar objetiva ou racionalmente as visões sobrenaturais de um vidente, ou as revelações sobrenaturais de um revelador, ou mesmo o privilégio epistêmico sobre Jesus de um Apóstolo, mas uma profecia pode ser checada e confirmada quanto ao seu cumprimento factual. Pode-se, assim, medir e confirmar o quão relevante e obrigatórios devem ser seus pronunciamentos.
Há três anos atrás, eu publiquei um curto artigo lançando um desafio para determinar quantas profecias foram realmente cumpridas. O desafio reside em determinar, racional e logicamente, uma (ou mais) profecia(s) que podem ser comprovadas como cumpridas, confirmando assim factualmente o dom profético. Além da satisfação em determinar um exemplo concreto do sobrenatural, eu havia oferecido um prêmio em livro (que até hoje não foi conquistado).
Como vimos num artigo mais antigo, há profecias que se esquecem rapidamente, em poucos anos. Geralmente estas são as que não se cumpriram, ou que se provaram equivocadas. Por que não nos lembramos destas?
Existe um traço comportamental humano que cientistas chamam de “viés de confirmação“. Usamos desse viés quando nos lembramos das coisas que confirmam nossas opiniões ou crenças ou ideias, e quando nos esquecemos das coisas que desconfirmam ou contradizem nossas opiniões ou crenças ou ideias. Por exemplo, alguém me convence que toda que vez que eu jogo uma partida de futebol usando um boné, eu faço gols, enquanto que todas as vezes que deixo de usar o boné, eu saio de campo sem fazer gols. Poucas pessoas se deixariam levar por uma superstição tão absurdamente irracional, mas o viés existe, é comum, e ocorre com todos os seres humanos.
Um exemplo mais difícil de reconhecer no dia-a-dia: Petistas ignoram tudo de positivo no governo FHC e lembram-se de todos os erros e problemas, enquanto ignoram todos os problemas e erros do governo Lula, lembrando apenas os acertos e os aspectos positivos. Tucanos fazem o mesmo ao inverso. Converse sobre política com 10 pessoas que tenham opiniões formadas, e verá o fenômeno ocorrer 7, ou 8 ou mesmo 10 vezes.
Ele ocorre muito frequentemente em âmbito religioso também. Profecias, usualmente, funcionam assim. Lembra-se dos acertos, ignoram-se os erros. Da mesma maneira funciona o tarô, leitura de mãos, mapas astrais, astrologia, numerologia, homeopatia, etc.
Gostaria, então, de propor novamente o mesmo exercício intelectual. Continuar lendo →
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