“As crianças começam por amar os pais, à medida que crescem tornam-se seus juízes, perdoam-lhes, às vezes”.
Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray.
Na semana anterior à VI Conferência Brasileira de Estudos Mórmons, soube que um dos temas abordados seria baseado em uma experiência que Suzana Nunes tivera há pouco tempo.
Conforme nos contou Suzana, uma moça que se preparava para servir em uma missão de tempo integral pediu-lhe que fizesse algumas perguntas sobre a Igreja. A moça, de antemão, mencionou querer perguntas difíceis para treinar sua retórica e testar seu conhecimento sobre o mormonismo.
Suzana então preparou dez perguntas, que podem ser transcritas mais ou menos assim:
- É verdade que Joseph Smith teve dezenas de esposas, muitas delas sem que Emma soubesse?
- É verdade que dentre as esposas plurais de Joseph havia moças de 14, 15 e 16 anos?
- É verdade que Joseph Smith foi maçom?
- É verdade que parte da cerimônia do templo foi inspirada na maçonaria?
- É verdade que Joseph olhava dentro de um chapéu para traduzir o Livro de Mórmon?
- Você já ouviu falar no Montain Meadows Massacre?
- É verdade que a Igreja ensinou que os negros são descendentes de Caim, vieram à Terra com uma maldição e não podiam entrar no templo?
- É verdade que a Igreja construiu um shopping de um valor superior a US$ 5 bilhões?
- É verdade que antigamente as mulheres faziam imposição de mãos?
- É verdade que Joseph Smith ensinou que a Lua é habitada?
A reação da moça que solicitou o teste deixou Suzana reflexiva, segundo esta nos contou dia 7, sábado. A futura missionária não somente desconhecia aquelas coisas, como automaticamente classificou tudo aquilo como mentira.
Ao entrar em contato com essa experiência, veio-me à mente a ideia de fazer as mesmas perguntas a dois rapazes que estão preparando os papéis do chamado missionário.
A resposta dada pelos rapazes foi a mesma da moça sabatinada pela Suzana, com a pequena diferença de que um deles colocou como verdadeira a pergunta sobre Joseph ter sido maçom, pois ouvira sobre isso de um amigo, em um acampamento da Igreja.
As perguntas foram direcionadas a jovens adolescentes, mas não creio que as respostas teriam sido muito diferentes se as mesmas perguntas fossem lançadas a pessoas mais velhas, com mais tempo e posição na igreja.
Neste artigo, quero levantar possíveis razões para o desconhecimento que mórmons têm de sua própria história, as questões culturais que concorrem para isso e propor caminhos para que as próximas gerações possam lidar de uma maneira mais saudável com os assuntos considerados espinhosos de sua tradição religiosa.
Reitero que o problema não seja restrito aos jovens missionários, nem a pessoas de baixo nível educacional, mas que é algo presente em todos os estratos sociais mórmons.
EXEMPLOS RECENTES
Há pouco mais de um ano, o setenta sueco Hans Mattsson veio a público contar sua experiência em lidar com esses assuntos. Segundo Mattsson, para muitos dos temas tratados pela Suzana, ele teve que ser forte para aceitar – e estamos falando de um líder do alto escalão.
Outro exemplo interessante, este aqui do Brasil, é de um setenta de área que escreveu um livro intitulado A Origem da Vida, no qual afirma, por motivação religiosa, serem falsos o Big Bang e a Evolução Orgânica, demonstrando total desconhecimento sobre essas teorias e, principalmente, sobre os acalorados embates entre apóstolos mórmons sobre o tema.
Dado que mesmo pessoas de relativo destaque na hierarquia eclesiástica SUD, como as citadas anteriormente, desconhecem assuntos que para os que estão envolvidos com os estudos mórmons há alguns anos parecem tão batidos, tão repetitivos. Lanço a seguinte pergunta:
É de fato interesse da Igreja que seus membros tomem conhecimento sobre essas coisas?
Antes de responder a pergunta, gostaria de levantar possíveis motivos de esses missionários e líderes da Igreja desconhecerem essas coisas; assim como as possíveis razões de a Igreja evitar tocar nesses temas.
As perguntas da Suzana giram em torno da poligamia, casamento de homens mórmons com adolescentes, racismo, processo de tradução do Livro de Mórmon, imposição de mãos femininas, relação entre maçonaria e mormonismo, crença em selenitas, Montain Meadows e City Creek Center.
POLIGAMIA
A poligamia era ESTRANHA até mesmo para época e lugar quando e onde foi iniciada, o que refletiu no caráter secreto que a prática teve logo no início.
Quando os mórmons se isolaram no oeste, passaram a se sentir mais à vontade para assumir publicamente a prática.
Com o fim do isolacionismo, Utah se integrou à União, se americanizou e passou a seguir a cartilha de Washington. A poligamia voltou a ser praticada secretamente. Até que por fim ela foi abandonada de vez pelo corpo principal do mormonismo.
Se fizermos um levantamento bibliográfico sobre poligamia nas publicações oficiais da Igreja, mesmo aquelas que têm por objetivo contar a história do mormonismo no Sec. XIX, o tema poligamia aparece de maneira tímida.
Se nos santos textos a poligamia é evitada, os profanos, por sua vez, transformaram-na no cerne do mormonismo. Mais que o Livro de Mórmon, foi a poligamia que levou o nome do mormonismo aos quatro cantos do mundo. Personagens como Sherlock Holmes e autores como Julio Verne popularizaram na Europa a existência de um grupo religioso do oeste dos EUA que a praticava.
Notícias sobre a poligamia trouxeram o nome do mormonismo também ao nosso país, várias décadas antes da chegada da Igreja por aqui. Os maranhenses Aluísio Azevedo e Sousândrade são exemplos disso; bem como o próprio imperador D. Pedro II.
Com o abandono da prática, as novas gerações de mórmons já passavam a olhar a poligamia como algo errado. De praticantes passaram a perseguir quem a praticava. É na tentativa de dar uma explicação para si e para as pessoas ao redor sobre o passado embaraçoso que surgem as histórias fantasiosas sobre a prática, como a explicação de uma missionária transcrita por uma pesquisadora brasileira:
“Sim, os homens podiam se casar com mais de uma mulher. Mas isso era porque naquela época havia muitas mortes masculinas; essas travessias eram muito duras para os homens. Então alguém tinha que tomar conta das viúvas.”
Quando indagadas sobre o casamento com adolescentes:
“Algumas eram mais novas, mas essas tinham perdido o pai, e também não tinham quem tomasse conta delas.”
CASAMENTO COM ADOLESCENTES
A poligamia de fato é algo estranho nos EUA do séc. XIX, mas a questão da idade das esposas plurais talvez possa ser contornada, em parte, simplesmente com uma contextualização.
O casamento de homens mais velhos com adolescentes, suspeito, era algo não tão chocante nas áreas rurais dos EUA do XIX, como seria nos Estados Unidos hoje. O simples entendimento do quão problemático é olhar para o passado usando as noções de hoje já ajudaria bastante.
Na própria literatura cristã primitiva temos um bom exemplo das perspectivas sobre o tema na Galileia do Sec. I. Em um importante texto apócrifo chamado Proto-evangelho de Tiago, encontramos uma tradição que afirma ter Maria doze anos de idade quando foi decidido que ela casaria com um viúvo chamado José. Segundo o relato, Maria contava com dezesseis anos à época da concepção.
É uma prova que a Sagrada Família tinha como matriarca uma adolescente? Claro que não! Mas demonstra que, para a comunidade que compôs esse texto, o fato de uma adolescente se casar e ter filho não era algo necessariamente reprovável.
Essas noções básicas de exegese e hermenêutica, creio, podem ser mais bem trabalhadas nas escolas da Igreja.
RACISMO INSTITUCIONAL
Assim como a poligamia, a proibição do sacerdócio aos negros é algo que causa constrangimento e todo um folclore que tenta explicar o motivo da notória discriminação.
Em muitas partes dos EUA do Séc. XIX e primeira metade do XX, a discriminação racial era praticamente senso comum. O Mormonismo absorveu muito desse racismo, desenvolveu-o e, por fim, tornou-se refém dele.
Embora poucas, as pesquisas sobre o mormonismo em nosso país nos fornecem dados que demonstram o quão difícil era a pregação missionária antes de 1978; inclusive, mostram a dificuldade com que muitos membros lidavam com a própria crença.
Os missionários deixavam para tocar no assunto somente em sua última palestra, a famosa lição sobre a linhagem, porém, não antes de avaliar discretamente as feições das pessoas a quem ensinavam – muitas vezes, recorrendo a fotografias e visita a parentes próximos, com o objetivo de melhor diagnosticar neles ascendência africana.
Com a mudança ocorrida no fim dos anos 70, esse enorme peso foi tirado de nossos membros e missionários. Os números de batismos explodiram. As novas gerações de mórmons não tiveram mais que se preocupar com a “semente de Caim”. Falar sobre a antiga crença se tornou desnecessário.
Não é muito difícil entendermos o porquê de esses missionários desconhecerem a antiga prática de discriminação, tendo em vista que a Igreja foi de fato crescer em nosso país somente após a revelação do sacerdócio, e as gerações antigas, constrangidas, passarem a evitar o assunto.
Mesmo em mundo contemporâneo, o mormonismo possui uma noção muito arcaica de comunicação com o divino; muito disso ligado à crença em um estreitíssimo laço entre seus líderes e Deus.
A origem do mormonismo está ligada a um homem que via Deus, que falava com Ele. Se Joseph Smith tinha essa intimidade, seus sucessores também o têm, pensa o fiel. Logo é muito difícil aceitar que uma prática como segregação racial fosse apenas fruto de um racismo difuso na cultura americana. O mormonismo até hoje tem dificuldade de lidar com o LADO HUMANO de seus líderes.
Isso gera a dificuldade em aceitar que as visões de mundo dos profetas mórmons muitas vezes não eram muito diferentes das de seus contemporâneos. Assim como é difícil para um mórmon entender a humanidade de seus líderes, é difícil igualmente entender que seus discursos e até mesmo as doutrinas por eles ensinadas muitas vezes refletiam mais o espírito da época do que algo que deveria ser perene.
Com a Era da Informação, temos mais acesso aos pensamentos de figuras como Joseph Smith e Brigham Young. É impossível negar que suas opiniões e doutrinas ensinadas, em muitos casos, não refletem o que uma pessoa de bem consideraria correto hoje.
O próprio Presidente Hinckley quando confrontado, no 60 Minutes, com frases racistas de Brigham Young, encerrou o assunto com “isso ficou pra trás”, mostrando que essas concepções não devem ter perenidade e refletem um passado que a igreja gostaria de esquecer.
É nessa tentativa de fazer sumir alguns tópicos da memória coletiva, que se coloca para debaixo do tapete partes da história, e os membros passam a ter acesso somente a partes selecionadas do passado de sua religião e da biografia de seus líderes – praticamente hagiografias.
Acostumados a uma história sanificada de sua religião e por serem alimentados em um sistema que idealiza a instituição A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os jovens com os quais Suzana e eu conversamos automaticamente consideraram mentira os fatos levantados.
Boa parte desses problemas seria resolvido se nossas escolas da Igreja divinizassem menos os líderes e treinassem os alunos na compreensão do Zeitgeist (espírito da época) como algo influente no desenvolvimento das escrituras e desenrolar da história mórmon.
Se isso fosse trabalhado, ficaria mais fácil lidar com outros assuntos levantados pela Suzana, como a possível crença em selenitas, o processo de tradução do Livro de Mórmon e a influência maçônica.
HABITANTES DA LUA
A especulação de uma lua habitada era algo de relativa força entre os americanos do século XIX, e os mórmons eram ainda mais suscetíveis a ela, pelo fato de acreditarem na existência de vários mundos habitados.
Embora haja pelo menos um relato de alguém que, quando criança, conheceu Joseph e supostamente aprendeu deste sobre a existência de habitantes na lua, a crença em selenitas nunca foi algo que tivesse qualquer relevância no conjunto de crenças desenvolvidas entre os mórmons.
É até provável que muitos mórmons acreditassem nisso, e que Joseph fosse um deles. Quantos mórmons republicanos hoje acreditam que o aquecimento global é um mito?
PROCESSO DE TRADUÇÃO DO LIVRO DE MÓRMON/ INFLUÊNCIA MAÇÔNICA
Vivendo às margens da religião institucional, a família Smith era muito suscetível às crenças mágicas da região rural onde morava. Assim como saliva e areia canalizaram a fé de um cego, de modo a este conseguir a cura por meio de Jesus, um chapéu e algumas pedras puderam catalisar o processo revelatório de um jovem do interior de Nova York.
A compreensão de que Joseph não viveu em um vácuo cultural permite uma melhor aceitação de que a teologia desenvolvida nos primórdios do mormonismo teve como substrato elementos familiares ao profeta.
Aulas que mostrassem a influência de crenças, textos e práticas dos povos do Oriente Médio na teologia judaica – ou como a árvore de natal pode unir nossa família para falarmos sobre Jesus –, seriam de bastante ajuda para que se visse o empréstimo de elementos maçônicos como algo não necessariamente condenável.
IMPOSIÇÃO DE MÃOS FEMININAS/ MOUNTAIN MEADOWS/ SHOPPING
A dificuldade de aceitar o dado histórico da imposição das mãos femininas, em parte, vem das consequências de como se encara a ideia de um Deus imutável.
Noções básicas de crítica textual e história mórmon mostrariam claramente que, a despeito de Deus ser o “mesmo hoje, ontem e sempre”, as visões dos autores bíblicos e profetas mórmons sobre Ele têm mudado bastante – reflexo de nossa humanidade, ou como diria Paulo, por ainda conhecermos “em parte”.
Tentamos fazer o nosso melhor, mas por não conhecermos completamente as coisas, seguimos pelo caminho que consideramos mais provável; porém, que nem sempre é o correto – ou pelo menos não correto para sempre.
É imperativo que mudanças ocorram. O mormonismo, através do princípio da Revelação Contínua, tem uma importante arma para melhor enfrentar os desafios hodiernos. A crença de que a palavra de um profeta atual vale mais que a de um antigo é um ponto forte da Teologia Mórmon.
Como os que estão fazendo a mediação com o divino são tão humanos quanto você e eu, os embates e as divergências de opinião terminam respingando nas práticas e visões da comunidade religiosa. As mudanças de visões sobre qual deve ser o papel da mulher na Igreja podem ser melhor compreendidas quando entendemos isso.
Vejo na questão do papel da mulher muita semelhança entre os desdobramentos ocorridos no mormonismo e cristianismo primitivo.
Tanto nos evangelhos quanto nas cartas que a crítica textual classifica como genuinamente paulinas, a presença das mulheres é muito forte. Mesmo em uma época em que o testemunho de uma mulher tinha pouca validade em um tribunal de justiça, Jesus escolhe uma mulher para ser testemunha de sua ressurreição. Foi através de uma mulher que as Boas Novas ultrapassaram as fronteiras de Israel.
Paulo observa e constata as liberdades trazidas pelo cristianismo: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há HOMEM nem MULHER, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus”. Não se trata de uma apologia que Paulo tenha feito a elas, mas de uma constatação do quadro que encontrara.
Algo que mudaria quando o cristianismo, ao procurar lugar ao sol, se acomodou nos moldes patriarcais da sociedade greco-latina, e as mulheres cristãs voltaram a ser como as mulheres de Atenas, conforme canta Chico Buarque. Nem mais falar na igreja podiam!
Joseph Smith, a despeito da poligamia e a sujeição feminina dela decorrente, apresentava uma visão mais progressista em relação à mulher atuar na igreja – sacerdócio, imposição de mãos, etc. Porém, o mormonismo viu sumir um pouco dessa chama progressista em seu meio.
Um mórmon olha para vários detalhes históricos e tem dificuldade de percebê-los como verdade. Quando as fontes lhes são apresentadas e não restam mais dúvidas de sua veracidade, muitas vezes, o membro da Igreja entra em um estado que beira a dissonância cognitiva.
A difusa crença de que os apóstolos e profetas mórmons têm uma relação privilegiada com Deus contribui para passividade com a qual os membros recebem as instruções de seus superiores.
Por diversas vezes, presenciei discursos de líderes e membros, nos quais afirmações do tipo “eu pularia de um prédio se o profeta mandasse” foram proferidas como sinal de comprometimento com sua fé. A falta de filtro pessoal é encarada como virtude.
Esse comportamento, aliado à atmosfera xenofóbica presente no Território de Utah no início da segunda metade do séc. XIX, pode estar por trás do triste acontecimento de 1857.
Por acreditarem que toda e qualquer ação realizada pela Igreja tem Deus como mentor intelectual, são passivos em aceitar as ordens vindas do topo da hierarquia. Essa passividade contribui para a instituição sentir pouca necessidade de transparência, incluindo a financeira. Um shopping bilionário de alguma forma, na mente dos fiéis, tem Jesus como idealizador.
DESAFIOS DA INFORMAÇÃO
Na Era da Informação, o acesso que se tem aos pensamentos de líderes da história do mormonismo nos mostra quão humanos e falhos eles foram e são, evidenciando algo que deveria ser óbvio: a importância de, ao receber seus ensinamentos, submetê-los ao crivo da racionalidade
A crença em líderes quase divinizados e a falta de filtros pessoais concorrem para a infantilização dos membros.
Além da passividade e falta de filtro pessoal, outra coisa que fica nos arrabaldes da infantilização é a dicotomia do preto e branco, ou para fazer alusão a um best-seller contemporâneo, a não existência dos cinquenta tons de cinza. Nuances parecem inexistir.
Não quero dizer com isso que os mórmons sejam desprovidos de senso crítico, apenas que ele é pouco usado quando se trata da análise de sua religião.
Detentores de uma visão idealizada da Igreja a que pertencem, consideram como falso e impertinente qualquer dado ou opinião que vai de encontro à visão sanificada e consolidada pelo grupo religioso – o que explica a quase demonização que tem sido feita ao Vozes Mórmons.
Volto à pergunta do início do texto: a Igreja durante sua existência tem demonstrado querer que seus membros conheçam aqueles fatos? Ou então, a Igreja tem interesse que seus membros a vejam como uma instituição passível de erros?
Infelizmente, a resposta é NÃO.
A igreja prefere que seus membros e missionários desconheçam muitos dos assuntos relacionados à sua história e se sente confortável com a visão idealizada que os membros têm dela.
A Hans Mattsson, o setenta sueco que citamos anteriormente, após expor suas dúvidas aos seus superiores na hierarquia SUD, foi dito que não comentasse sobre elas com ninguém, incluindo família.
Em 1984, Elder Ronald E. Poelman fez um dos melhores discursos da história das conferências: falou sobre as diferenças entre a Igreja e o Evangelho, apresentou a Igreja como uma instituição suscetível a incorporar em suas práticas opiniões e costumes de grupos sociais; chegou a comentar o fato de muitas pessoas serem erroneamente rotuladas de infiéis por não se conformarem com certos padrões consagrados pela tradição do grupo.
Porém, a versão disponibilizada pela A Liahona e pelo vídeo oficial que foi distribuído às estacas trazia edições que fizeram sumir tudo aquilo que fazia do discurso algo que se destacasse dos outros com os quais estamos acostumados.
Boyd K. Packer, com sua visão utilitarista da história da igreja, falou que “algumas verdades não são úteis”, tacitamente ensinando que se deve omitir alguns tópicos. Cinco anos antes, Ezra Taft Benson criticou os historiadores e sua tendência de “exageradamente humanizar os profetas de Deus”.
ERA DA INFORMAÇÃO
Com a internet, hoje temos mais facilmente acesso a discursos e diários antigos de pessoas ligadas ao Movimento dos Santos dos Últimos Dias. Para o público que não fala inglês, temos ferramentas de tradução. O lado falho dos líderes é algo que salta aos olhos.
Ao contrário do que queria Ezra Taft Benson, se torna cada vez mais necessário humanizar os líderes, resgatando a ideia de que o divino se revela no humano, não na negação deste.
Um importante passo dado pela Igreja nesse sentido foi a publicação de novos ensaios que abordam temas espinhosos de sua história e doutrina. A importância desses textos não se deve tanto à tentativa de tornar palatável aos membros certas controvérsias, mas sobretudo pelo simples fato de falar sobre elas em seu site oficial.
Para diminuir a distância entre o que historicamente temos como mais provável e as hagiografias criadas pela tradição mórmon, novos focos devem ser dados no magistério da Igreja.
Enfatizar o lado humano de nossos líderes: já estreitamos demasiadamente os laços dos líderes com Deus. O caminho é puxá-los mais pra terra, favorecendo a desconstrução do mito de uma igreja perfeita.
Noções de exegese e hermenêutica: assim saberão melhor extrair o riquíssimo conteúdo presente nas escrituras, além de desenvolver em nossos membros um maior senso crítico. Desse modo, ao serem confrontados com frases, opiniões e doutrinas de líderes do passado, não cairão no anacronismo de necessariamente aceitar como uma verdade o que foi dito, nem de demonizar quem disse.
Focalizar no princípio básico mórmon da Revelação Continua: entender a tradição mórmon como não estática, mas em constante mudança. Ter a coragem que um dia teve o Bruce R. McConkie, que após tantas bobagens faladas sobre os negros, pediu para que esquecêssemos o que ele e outros apóstolos e profetas mórmons falaram sobre o assunto.
Só assim teremos uma nova geração de mórmons mais maduros, capazes de ler sua religião por uma ótica adulta, sabendo reconhecer a força de sua história e doutrina sem precisar idealiza-las.
Na Era da Informação, o mormonismo sai de sua infância e entra na adolescência; e como bem sabemos, esta é uma fase difícil. Comparando a Igreja a uma mãe, ao sairmos da infância começamos a ter uma visão mais crítica sobre ela, a notar suas falhas.
Ao invés de considerarmos como mentira fatos inegáveis do passado, estaremos mais aptos a encarar o que considero um dos maiores desafios do mormonismo contemporâneo: nós mórmons já enfrentamos turbas, um deserto, as tropas do governo federal e hoje temos que aprender a enfrentar nossa própria história.
O que nós membros da Igreja podemos fazer para traduzir livros importantes sobre a nossa religião que estão em inglês? Vamos traduzi-los para o português? Podemos compartilhar o custo da tradução. Quem topa?
Os membros da igreja não conhecem e tampouco querem conhecer a história da igreja.
Sr. SILVIO NUNES,
É verdade, que os membros não conhecem. Mas existe uma pequena parcela, que deseja muito conhecer a História da igreja SUD.
Eu quero. O que não conheço não foi por falta de vontade, e sim por falta de acesso.
Você quer “aplausos” ou tomates? Que generalizador o seu comentário Silvio. Quando leio um artigo como este que elucida muito bem como há membros da Igreja que não se interessam pela história de sua religião, penso que teremos uma série de opiniões bem formuladas e livres de preconceitos longe de generalizações, e o que encontro? Silvio, deveria chamá-lo de Srº dos Elfos ou Rei sob a montanha? 1º Você acredita que Jesus é o Cristo? O Messias?
Alexandre Bezerril sinceramente já estava com saudades de você! Mas você está mais beligerante. Mormon não pode ficar armado assim não… Mas conta pra nós aqui o que aconteceu? Você sumiu, foi vitimado pelo surto de dengue? Você também já me fez esta pergunta. Resposta: Eu acredito no Messias, mas o Messias não é o JC na configuração que você acredita, não acredito no Jesus Cristo deificado que figura no NT… O NT foi totalmente adulterado pelo império romano e pelos pais da igreja. Agora que respondi vamos a um desafio, pergunte em um dia de testemunho pelo púlpito ou mesmo individualmente em sua ala pergunte a umas 30 pessoas, a pergunta é: – Você sabia que José Smith teve 11 esposas poliandricas? (Evidentemente que terá que explicar o que é poliandria)… Se as 30 responderemos que sabiam, pode me chamar de Torim escudo de carvalho.
Cara o que o Silvio Afirmou é a mas pura verdades, as pessoas preferem acreditar que nunca ouve poligamia, que Joseph nunca teve com uma menina de 14 anos, que ele era o profeta revelador, que os escritos egipcianos são revelações de Joseph que ao colocar a cara em um chapéu, deus revelou todos esses segredos; acho que nesse chapéu tinha era uma droga bem forte, por que para ter tantas alucinações……., bem a questão é que a igreja para muitos é um conforto e é mais fácil se manter na inocência do que ir atrás da opinião contrária, alias na igreja quem vai atrás dessas coisas passa por crise de fé ou está sendo dominado pelo inimigo, é igual seu avô e avó, pai e mãe se você gosta deles é melhor não perguntar se alguém já foi traído………….
Eu gostaria de conhecer um pouca mais da história da Igreja. A original e não a inventada por fanáticos!!!