Quantos Mórmons no Brasil?

Há pouco mais de um ano nós havíamos postado uma pergunta muito simples, porém ao mesmo tempo surpreendentemente complexa: Quantos mórmons há no Brasil?

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Em parte, o problema para respondê-la reside na falta de estatísticas disponíveis sobre as centenas de igrejas e grupos mórmons menores e menos conhecidos. Contudo, sem dúvidas a maior dificuldade está na completa falta de transparência por parte da Igreja Mórmon mais famosa e mais popular no Brasil (e no mundo).

Agora temos dados estatísticos recentes e confiáveis para considerar essa questão.

O resultado do Censo de 2010 sobre religiões finalmente foi publicado essa semana pelo IBGE (órgão federal vinculado ao Ministério da Economia e responsável pelo censo demográfico do governo federal), e temos um número estatístico de quantas pessoas se auto-denominam membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias:

226 509.

Esse número só é notável e surpreendente face à previamente citada falta de transparência. O site oficial da Igreja SUD lista 1 060 556 membros no Brasil para o começo do ano de 2009, embora recente artigo no jornal oficial da Igreja SUD mencione uma aproximação de 1,1 milhões de membros.

Ao que tudo indica, o número real de membros é apenas 22% do número oficial publicado e alardeado pela Igreja SUD.

O que, para nossos leitores, não deve ser tão surpreendente. Afinal, no artigo de um ano atrás, nós havíamos apontado à uma discrepância similar, quando a Igreja afirmava para o ano de 2000 um total de 775 822 membros, enquanto o Censo de 2000 do IBGE contava apenas 199 645 pessoas se auto-denominando como membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (apenas 25% das estatísticas oficiais publidadas pela Igreja).

Ignorando a completa falta de surpresa que os números oficias estejam absurdamente inflados e inchados, o que realmente chama atenção é o desempenho pífio no crescimento demográfico.

Entre 2000 e 2010, a Igreja SUD cresceu, em têrmos reais, de 199 645 membros a 226 509, ou seja, apenas 13,46%, enquanto a população brasileira total cresceu 12,29%. Consequentemente, a proporção da população SUD para a população brasileira global manteve-se estável em 0,12% (e não os 0,58% da contagem oficial), com crescimento insignificante. Já a proporção entre membros reais e membros fictícios (registrados oficialmente, porém que já não mais se consideram SUD eles mesmos) caiu de 25% para 22%, o que sugere mais pessoas saíram da Igreja que entraram, durante a primeira década do século 21.

Essa tendência de crescimento insignificante no Brasil parece ser parte de um problema que assola a Igreja SUD globalmente.

Esse fato é ainda mais interessante quando se analiza o clima religioso no Brasil durante esse período. Evangélicos cresceram de 15,4% a 22,2% de população total, espíritas cresceram de 1,3% a 2,0%, e os “Sem Religião” (ateus, agnósticos, etc.) cresceram de 7,3% a 8,0%, enquanto católicos caíram de 73,6% a 64,6%. Esses dados sugerem que houve grandes mudanças entre brasileiros em suas preferências religiosas, e que o ambiente no país é de exploração e experimentação neste aspecto da vida pessoal. Em outras palavras, o brasileiro está aberto e disposto a testar e experimentar com religiões novas, mas isso não se traduziu em crescimento concreto para a Igreja SUD.

Apenas a título de comparação, igrejas novas como a Igreja Universal do Reino de Deus, fundada apenas em 1977 no Rio de Janeiro, já conta com 1 873 243 membros auto-denominados no Censo de 2010. Ou seja, 8,3 vezes ou 830% a mais do que a Igreja SUD, que foi inaugurada no Brasil oficialmente 47 anos antes, em 1930.

As Testemunhas de Jeová, religião que compartilha com mórmons as mesmas origens restauracionistas do nordeste norteamericano do século 19, o mesmo zelo missionário, e a mesma introdução ao mercado religioso brasileiro nas primeiras décadas do século 20, gozam hoje de 1 393 208 membros auto-denominados no Censo de 2010. Ou seja, 6,2 vezes ou 620% a mais do que a Igreja SUD.

Alguns fatores tornam o problema ainda mais contundente no Brasil. A cobrança de dízimo parece não ser o culpado por essa evasão de mórmons, considerando que o foco em doações e pagamentos de dízimo é igual, se não for maior, entre evangélicos do que entre mórmons. Proselitismo tampouco parece ser o problema, visto que a Igreja SUD investe muito dinheiro e mão-de-obra em esforços missionários, provavelmente mais que evangélicos, e certamente mais que os espíritas e ateus.

Como havíamos discutido em outra ocasião, inclusive publicando todos os dados estatísticos das últimas 3 décadas, este problema de crescimento populacional progressivamente parco parece ser um fenômeno global para a Igreja Mórmon.

Não haveria chegado a hora de parar de fingir que a Igreja cresce consistentemente, parar de publicar dados estatísticos “falsos”, e começar a debater, com maturidade e sobriedade, quais os problemas que impedem o crescimento da Igreja?

111 comentários sobre “Quantos Mórmons no Brasil?

  1. Ô, amigo… todas as matérias que leio sobre você sempre criticam a Igreja SUD demasiadamente, como se você não quisesse discutir os problemas de sua religião, mas atacar uma religião que você já abraçou no passado. Seus argumentos tem dois problemas:
    a) O resultado do Censo sobre religiões é sempre por AMOSTRAGEM, o que significa que é plenamente plausível que o resultado seja o dobro ou até o triplo, se a pesquisa fosse imposta a todos;
    b) Outras igrejas que não A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não são “mórmons”, são igrejas que surgem do movimento restauracionista de Joseph Smith, mas não são “mórmons”. Mórmons, propriamente ditos são apenas os Santos dos Últimos Dias.

  2. Eu percebo já a alguns anos, que não batizam adultos com frequencia e sim crianças, parece não haver interesse da comunidade brasileira na doutrina sud.

    • Heber, eu acho que essa seria a pergunta mais importante que eu levanto com esses dados. Os dados confirmam a sua opinião: há baixo “interesse da comunidade brasileira na doutrina SUD”. A questão é por quê? Se você fosse especular, por que diria que não haja interesse?

      Outra coisa: os dados sugerem que até há interesse, na forma de conversos, porém há um alto índice de deserção: daqueles que se interessam, muitos perdem o interesse inicial. Por que?

      • Bem,como li em outros artigos são MUITOS os fatores para a igreja SUD só cair e posso citar realmente estes 3 aí de cima os mesmos que votei,reuniões chatas,ridículas no caso de onde eu morava,pois os élderes só batizam gente sem instrução,e tem o problema do não pode isso ou aquilo,eu pensei que era fácil no começo,mas tem coisas que vão se acrescentando com o tempo,e no fim não pode nada,eu diria que é pior do que as outras igrejas evangélicas,estes costumes são da época da minha mãe e quem vai viver isso hoje? lá não há amor,só fofocas mais do que em qualquer lugar que já estive,um povo que só vai para trás com casamentos e nada de estudo,digo eu que fiz missão e estou afastada a 1 ano,mas a desculpa é sempre a mesma,os membros não são perfeitos mas a igreja é!

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