Igreja Mórmon é uma das beneficiadas pelo governo
Zuismo é o nome da mais recente religião surgida na Islândia. De apenas quatro membros listados oficialmente nos registros governamentais deste ano, o número de aderentes passou a mais de 3.100 nas últimas semanas, equivalentes a 1% da população e que a tornam mais numerosa do que, por exemplo, o islamismo no país.

Igreja islandesa com aurora boreal ao fundo (Imagem: Diana Robinson)
O zuismo adora os deuses da antiga civilização suméria, que floresceu no sul do atual Iraque. Seus adeptos encontram-se para recitar antigos poemas sumérios. Mas seu crescimento vertiginoso tem uma motivação inusitada: a crescente rejeição popular ao chamado imposto paroquial. Todo cidadão – seja ateu, agnóstico ou membro de religiões não registradas o país – precisa informar ao estado sua religião e pagar o imposto paroquial, destinado à manutenção de organizações religiosas. Graças ao imposto religioso, cada igreja recebe por mês 824 kronas, equivalentes a cerca de R$ 23, por cada membro maior de 16 anos.
O Zuismo quer mudar a legislação do país quanto à religião e promete deixar de existir como organização assim que seus objetivos forem alcançados. A nova fé não só condena o imposto paroquial como pretende redistribuir a seus membros o dinheiro recebido do governo. Tal apelo político e monetário faz com que alguns políticos questionem se o Zuismo deve continuar sendo reconhecido como religião. De acordo com o site oficial do Zuismo,
O objetivo principal da organização é que o governo revogue qualquer lei que conceda a organizações religiosas privilégio, financeiro ou de outro tipo, acima de outras organizações. Além disso, o Zuismo exige que o registro pelo governo da religião de seus cidadãos seja abolido.
Como previsto em sua constituição, o gelado e rico país europeu possui uma igreja oficial, a Igreja Evangélica Luterana da Islândia, à qual estão filiados cerca de 3/4 da população. Tanto ela quanto as demais 47 igrejas registradas são beneficiadas por esse financiamento estatal.
Isso inclui também os mórmons islandeses. Com apenas duas congregações, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias possui 179 membros de acordo com os registros do governo (ou 275 de acordo com o site oficial da igreja, que tem por hábito superestimar seus dados demográficos). Desses membros listados pelo governo, 144 pagam o imposto paroquial, o que rende anualmente à Igreja a remessa de quase R$ 40 mil por ano.
Como em todo lugar, a Igreja SUD na Islândia obviamente recebe dízimos e ofertas de seus membros. Além disso, em sua sede mundial nos Estados Unidos, a Igreja SUD conta com isenções de impostos em relação ao seu patrimônio imobiliário e doações recebidas, tudo protegido por total sigilo. Membros não sabem quanto a Igreja recolhe em dízimos ou os detalhes sobre como utiliza o dinheiro. Salários e outros benefícios concedidos a líderes mundiais e presidentes de missão, por exemplo, são simplesmente secretos. Fundos da Igreja são às vezes direcionados a empresas com fins lucrativos.
Em um país onde a Igreja SUD não cresce e 55% da população é a favor da separação entre religião e estado, não poderia a pequena Igreja local se beneficiar de uma postura mais crítica e construtiva acerca do financiamento estatal que recebe? Não há antecedentes doutrinários para a Igreja SUD se opôr ao imposto religioso na Islândia? A defesa mórmon da liberdade religiosa não poderia acompanhar uma defesa da moralidade política e tributária? Ainda, não deveria a Igreja SUD mundialmente publicar aos membros um relatório financeiro anual?
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