A julgar pelas mídias sociais, parece haver uma onda de apoio ao fascismo entre mórmons brasileiros.

O movimento fascista brasileiro dos anos 1930, a Ação Integralista Brasileira, e seu fundador Plínio Salgado. Sua saudação idiossincrática “Anauê” dizia-se de origem indígena e significaria “você é um irmão”.
Nós recebemos muitas mensagens de membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tanto aqui no site, como nas mídias sociais. Recentemente, temos notado um aumento em manifestações de apoio ao fascismo nos perfis de um número alarmente desses.
Muitos desses membros da Igreja SUD levantam um banner em apoio aberto ao político brasileiro Jair Messias Bolsonaro.
Apoiar políticos sempre é uma postura pública divisiva, naturalmente. E ninguém se opõe a expressões públicas de preferência política ou ideológica. Considerando, contudo, que a ideologia preconizada pelo Bolsonaro é inquestionavelmente fascista, surpreende-se que seja esta uma abraçada por mórmons.
Por que Bolsonaro é fascista?
Vejamos, por exemplo, como Bolsonaro faz apologia à tortura como método ético, moral, e válido de coerção do Estado sobre o indivíduo. Ou como prega golpes de estado, ditaduras militares e violentas, guerra civil, e genocídio como expressões políticas louváveis:
[Atualização: Como o vídeo acima foi removido do canal de YouTube, repostamos outros links abaixo, consistindo os próximos dois clipes: O primeiro resumido, e o segundo com a entrevista em sua íntegra.]
[Atualização: Como os vídeos acima foram removidos dos canais de YouTube, repostamos outros links abaixo, consistindo os próximos clipes.]
Vejamos como ele abraça violência contra mulheres como uma postura socialmente aceitável e até jocosa:
Vejamos como defende o uso de violência física como método de “cura” para homossexualidade:
Vejamos como prega a violência contra crianças como metodologia didática, ou como separar sangues de heterossexuais e homossexuais em bancos de sangue e hospitais como medida de saúde pública:
O uso de violência física como método de luta política – terrorismo – também foi defendido por Bolsonaro. Em 1987, o então capitão da ativa conspirava para explodir bombas de baixa potência na Academia Militar das Agulhas Negras e outras dependências militares, a fim de protestar contra os baixos soldos e desestabilizar o ministro do Exército. O plano de atentados foi vazado em reportagem da revista Veja:

Reportagem da Veja em 28 de outubro de 1987, pp. 40-41.
Com sua cartilha estatista e nacionalista, Bolsonaro acredita tanto em barreiras comerciais para proteger o Brasil de uma economia globalizada, quanto em barreiras migratórias que nos protejam de etnias e nacionalidades que componham a “escória” da humanidade:
“(…) caso venham reduzir o efetivo [das Forças Armadas], é menos gente nas ruas para fazer frente aos marginais do MST, dos haitianos, senegaleses, bolivianos e tudo que é escória do mundo que, agora, está chegando os sírios também [sic]. A escória do mundo está chegando ao Brasil como se nós não tivéssemos problema demais para resolver”, afirmou em entrevista.
Como todo bom apologista de preconceito, ódio, discriminação, e violência, Bolsonaro ignora os fatos e o raciocínio lógico. Isso é óbvio a ponto de tautológico. Se fosse intelectualmente honesto e proficiente em raciocínio lógico, não defenderia tais mazelas.
A Suécia, sim, “baniu” violência contra crianças, mas não, não a tornou ilegal. Tampouco seja isso a causa de uma onda recente de violência. Mas é mais fácil mentir e distorcer os fatos para fazer seu argumento. Bolsonaro ignora, também, o acumulado de evidências científicas que demonstram que violência como método educativo é ineficaz, além de impor efeitos colaterais negativos. Ademais, ignora estudos científicos que demonstram que homossexualidade é característica inerente e não pode ser “curada”, mesmo com violência e tortura (lição que a Igreja SUD já aprendeu por experiência própria).
É necessário explicar porque violência contra mulheres, tortura, golpes de estado, genocídio, ditaduras militares, e suspensão da democracia são proposições imorais?
Mas o que é fascismo?
O fascismo é uma forma de nacionalismo autoritário radical que surgiu na Europa no início do século 20 e cresceu no período entre guerras.
O fascismo promove o estabelecimento de um estado totalitário. Ele se opõe à democracia liberal, rejeita sistemas multipartidários, e defende o conceito de um estado de partido único.
O fascismo prega que a democracia liberal é obsoleta, e considera necessária a mobilização completa da sociedade sob um estado que a prepare para conflitos armados e dificuldades econômicas. Tal estado é liderado por um líder forte, tal como um ditador ou um governo marcial composto por membros do partido único, para forjar unidade nacional e manter uma sociedade estável e ordenada. O fascismo rejeita as alegações de que violência seja algo negativo em si, e vê a violência política, guerra e imperialismo como meios válidos.
O nacionalismo ufanista é o principal fundamento do fascismo. A visão fascista de uma nação é de uma única entidade orgânica que une as pessoas pela sua ascendência, e é uma força unificadora natural das pessoas. O fascismo procura resolver os problemas econômicos, políticos e sociais através da realização de um renascimento nacional mileniarista, exaltando a nação e/ou raça acima de tudo, promovendo cultos de unidade, força e pureza (e.g., misturando a primazia da nação “brasil acima de tudo” com a religião “deus acima de todos”). A perseguição a minorias raciais, ideológicas e sociais (e.g., homossexuais) traduz-se numa violenta forma de endoutrinar essa união e coesão nacionais.
Estados fascistas historicamente promoviam políticas de doutrinação social através da propaganda na educação e nos meios de comunicação, além da regulação da produção de materiais educativos e controle da mídia. Educação era projetada para glorificar o movimento fascista e informar os estudantes sobre a sua importância histórica e política para a nação, purgando idéias que não fossem consistentes com as crenças fascistas e ensinando os alunos a serem obedientes ao Estado.
Os exemplos históricos de estados fascistas mais proeminentes são os da Alemanha de Adolf Hitler e a Itália de Benito Mussolini. Devido a seus redundantes fracassos e o opróbio dos muitos crimes contra a humanidade, o termo fascista se tornou um epíteto no pós-guerra, comumente evitado por seus proponentes e apologistas.
Baseando-se em suas declarações públicas, e baseando-se no fatos históricos amplamente documentados, é claro para qualquer observador racional que Bolsonaro abraça e faz apologia a princípios e conceitos fascistas, protestações em contrário não obstantes.
Mas Mórmons apóiam isso?
Apenas a título de documentação evidenciaria, eis algumas das manifestações explícitas de apoio ao Bolsonaro que encontramos recentemente entre membros da Igreja SUD. Todos estes são membros da Igreja SUD, e sabemos disso pois vieram comentar na nossa página do Facebook justamente para “defender” a Igreja, especialmente algumas de suas posições homofóbicas ou racistas.

Mórmons Missionários do Fascismo Brasileiro
(Curiosamente, um desses membros da Igreja postava, até há alguns anos atrás, um banner em defesa do neofascista e genocida ditador sírio Bashar al-Assad. Ao menos pode-se elogiá-lo por sua consistência!)
Você é um Irmão?
Há um adágio famoso, mal atribuído a Sinclair Lewis, que encapsula de maneira sucinta esse tipo de mentalidade:
“Quando o fascimo vier à América, estará envolta em uma bandeira e carregando uma cruz.”
É o fascismo uma ideologia compatível com o mormonismo? Se for, o que se dirá da compatibilidade entre os preceitos Cristãos, supostamente abraçados pelo mormonismo, e a ideologia fascista? Se não for, o que se dirá da quantidade de mórmons que parecem enamorados do fascismo no Brasil? Ouviremos nos corredores das capelas a saudação “você é um irmão”?
Anauê!
[Atualização em 24/10/2018: Como às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais notamos um aumento no acesso a esse artigo, e como notamos uma dificuldade de compreensão nos conceitos elaborados acima, incluimos um excelente resumo ilustrado sobre o tema desenhado por Bruno Moura baseado no texto ‘The 14 characteristics Lawrence Britt’ (2003) e alguns links de jornais no exterior avaliando e contextualizando as posições de Jair Bolsonaro.]
THE POLITICAL COMPASS
O site The Political Compass foi criado em 2001 como uma ferramenta para melhor analisar posições políticas de modo a gerar um debate mais racional e baseado em fatos e conhecimento. O uso popular do equívoco de usar os têrmos “direita” e “esquerda” para categorizar partidos de modo moralista (e.g., “esquerdopatas vs coxinhas”, “esquerda é tudo comunista”, “direita é tudo fascista”, etc.) impede um debate racional sobre política, além de gerar uma profunda distorção do mundo real como ele é. Assim, eles utilizam um modelo – apropriado nos meios acadêmicos – de categorizar posições políticas não é um espectro linear entre direita e esquerda, mas em um gráfico linear XY, onde a linha horizontal X analisa um espectro entre direita e esquerda para posições de ideologia econômica, e a linha vertical Y analisa um espectro entre autoritário e libertário para posições de ideologia social.
O exemplo abaixo encontra-se ilustrado com figuras históricas para exemplificar os quadrantes ideológicos mais variados. Por exemplo, vemos o fundador do movimento fascista, Benito Mussolini, no quadrante superior direito onde encontra-se na extrema direita do espectro econômico e no extremo autoritário do espectro social. Em contraposição, vemos o ícone comunista Joseph Stalin no quadrante superior esquerdo, igualmente no extremo autoritário do espectro social, porém no extremo oposto do espectro econômico.
É mister notar que o site ilustra perfeitamente, o que a maioria dos historiadores, sociólogos, antropólogos, economistas, e cientistas políticos dizem e escrevem: O fascismo é um movimento de extrema direita, e o comunismo é um movimento de extrema esquerda. Contudo, notamos na ilustração e no gráfico que há posições de extrema direita que não são fascistas (e.g., Ayn Rand, Thomas Hobbes), e há posições de extrema esquerda que não são comunistas (e.g., Emma Goldman, Mohandas Ghandi, Pyotr Kropotkin).
O site oferece um teste de múltiplas escolhas que você pode tomar e ele automaticamente calcula, baseado nas suas respostas, sua posição ideológica dentro do gráfico. Note que se você tentar responder as perguntas com as respostas que Jair Bolsonaro daria, baseando-se em seus muitos pronunciamentos públicos, invariavelmente verá que sua posição ideológico é mais próxima de Benito Mussolini, pai do Fascismo. Convidamos todos a tentarem por si mesmos e postarem seus resultados (pessoais e à la Bolsonaro) nos comentários abaixo.
Artigos
International declaration against fascism in Brazil
International Declaration Against Fascism in Brazil
The New York Times: Brazil’s Sad Choice
Washington Post: Democracy is in crisis in Latin America. Brazil may be the next trouble spot.
Washington Post: How Brazil’s Bolsonaro threatens the planet
The Brazilian Report: Is Jair Bolsonaro a fascist?
The Economist: Jair Bolsonaro, Latin America’s latest menace
The Economist: Containing Jair Bolsonaro (A president with authoritarian instincts must be challenged by an unified democratic opposition)
The Economist: The only man who can stop Jair Bolsonaro from becoming Brazil’s president
The Times of Israel: Fascist? Populist? Debate over describing Brazil’s frontrunner Bolsonaro
The Times of Israel: It’s Jew vs. Jew as a conservative politician’s popularity rises in Rio
Huffington Post: Fascismo no Brasil? Especialistas analisam retórica de Jair Bolsonaro
Telesur: Outrageous Quotes That Prove Jair Bolsonaro is a Threat to Brazil’s Democracy
Telesur: Intellectuals Issue Manifesto Warning Against Brazil’s Fascist Candidate
The Guardian: How a homophobic, misogynist, racist ‘thing’ could be Brazil’s next president
The Guardian: Brazil’s Jair Bolsonaro threatens purge of leftwing ‘outlaws’
The Guardian: Bolsonaro could drag Brazil back into dictatorship, cultural legends warn
The Guardian: Bolsonaro’s pledge to return Brazil to past alarms survivors of dictatorship
The Guardian: Our planet can’t take many more populists like Brazil’s Bolsonaro
The Guardian: Bolsonaro threatens the world, not just Brazil’s fledgling democracy
Fox News: A look at offensive comments by Brazil candidate Bolsonaro
BBC: Far-right candidate wins first round of Brazil election
Financial Times: Jair Bolsonaro and the return of strongman rule
Financial Times: Who is Jair Bolsonaro? Five key facts about Brazil’s far-right frontrunner
Forbes: In Brazil, Bolsonaro Fever Rises
The Irish Times: A far-right hurricane threatens to blow Brazil over the edge
Le Monde: Au Brésil, le sinistre général dans l’ombre de Jair Bolsonaro
Le Monde: Brésil : le candidat d’extrême droite Bolsonaro séduit le sud du pays
Reuters: Brazil right-winger would follow Trump’s lead on foreign policy
Pravda: Bolsonaro, A Neo-Nazi ‘Phenomenon’ Made in USA in Brazil.
… e de publicações nacionais:
O Estado de São Paulo: Bolsonaro assina compromisso contra casamento gay
Nexo Jornal: Os argumentos sobre o risco à democracia. E os contrapontos
Nexo Jornal: O que é extrema direita. E por que ela se aplica a Bolsonaro
Toda religião que quer controlar integralmente a vida de seus membros, que não permite questionamentos ideológicos e doutrinários, que cultua suas lideranças atribuindo a elas caráter inerrante e autoridade plena é FASCISTA. Qualquer semelhança entre FASCISMO e Mormonismo não é mera coincidência.
Você arruma um emprego para trabalhar 6 dias na semana, sem direito a feriado, para ganhar um salário mínimo que não paga nem sua alimentação nem seu aluguel. Podemos então dizer que a escravidão nunca acabou no Brasil?
Claro que não porque você pode escolher se vai se matar de trabalhar por alguns trocados numa padaria, ou mercado, ou posto de gasolin, etc.
Esse é o abismo que separa o facismo do mormonismo. Não tá afim? Pula fora.