O Livro de Mórmon é a obra literária mais sagrada para milhares de mórmons, centenas de igrejas e seitas da tradição Santos dos Últimos Dias, e o principal volume de escrituras para membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Imagem inspirada na descrição das Placas de Ouro por Joseph Smith
Dedicamos aqui um artigo para cada capítulo do Livro de Mórmon , cobrindo todo o seu texto (utilizando, como base, a última edição da Igreja SUD), acompanhados de comentários adicionais do ponto de vista historiográfico, racional, e científico para incentivar uma leitura diária do texto sacro e facilitar um estudo mais intelectual dele. Postagens passadas podem ser encontradas aqui.
O trecho de hoje é: 1 Néfi 4
Primeiro Livro de Néfi
Capítulo 4
E aconteceu que falei a meus irmãos, dizendo: Subamos novamente a Jerusalém e sejamos fiéis aos mandamentos do Senhor; pois eis que ele é mais poderoso que toda a terra. Então, por que não há de ser mais poderoso que Labão e seus cinquenta, sim, ou mesmo suas dezenas de milhares?
Néfi sugere que Labão teria “dezenas de milhares” de soldados à sua disposição. Mesmo considerando um exagero poético para signalizar todo o contigente hebreu que, de acordo com a narrativa opor-se-ia à Lehi e sua família profética, ainda assim é uma expressão profundamente anacronística. Babilônia, que já havia recentemente dominado Jerusalém e instaurado o Rei Zedequias (na verdade, isso não ocorreria por mais 3 anos — ver aqui), não contava com uma população total muito maior que 100 mil habitantes, e provavelmente não poderia arregimentar um exército muito maior que algumas poucas dezenas de milhares. Jerusalém, em si, não possuia uma população muito maior que 40 mil habitantes, o que não sugere a possibilidade de incorporar “dezenas de milhares” de soldados.
Subamos, portanto; sejamos fortes como Moisés; porque ele por certo falou às águas do Mar Vermelho e elas dividiram-se para um e outro lado; e nossos pais saíram do cativeiro passando sobre terra seca; e foram seguidos pelos exércitos de Faraó, que se afogaram nas águas do Mar Vermelho.
Apesar de não haver nenhuma evidência arqueológica para tamanha calamidade natural, ou evidência documentária para tamanho desastre nos anais egípcios (provalvemente a mais bem documentada cultura da Antiguidade), não seria anacronístico imaginar um hebreu no sexto século AEC crendo nessa estória.
É importante notar como o Mar Vermelho figura como um ponto simbólico na narrativa. Néfi o utiliza para convencer seus irmãos do poder sobrenatural de Deus, Lehi o utiliza para ensinar lealdede e fé aos irmãos de Néfi, enquanto a narrativa em si o usa como um marcador (ou divisor de águas, por assim dizer) entre a vida secular que Lehi e família conheciam antes de acampar às suas margens e a vida monástica e religiosa que abraçarão após.
Agora, eis que sabeis que isso é verdade; e sabeis também que um anjo vos falou; como, pois, podeis duvidar? Subamos; o Senhor tem poder para livrar-nos, como livrou nossos pais; e para destruir Labão, como destruiu os egípcios.
Presságio importante: Néfi já avisa a seus irmãos (e seus leitores) que planeja matar Labão. Certamente, um Deus poderoso o suficiente para “destruir os egípcios” poderia roubar-lhes as placas sem ter que matar ninguém. Melhor ainda, Ele poderia preparar uma cópia das placas (ou avisar Lehi alguns anos antes para encomendar uma cópia, já que sendo rico poderia facilmente ter financiado a produção de uma cópia), mas a analogia da destruição dos iníquos não seria tão bem ilustrada se ninguém pagasse com seu sangue. Assim como os “irmãos de Néfi” servem a função literária de oferecer um contraste com o qual podemos definir quem Néfi é (ou como um crente obediente deve ser), Labão serve a função literária de ilustrar o fim ignomínio (e violento) reservado aos descrentes desobedientes.
Ora, depois de haver eu dito estas palavras, ainda estavam irritados e continuaram a murmurar; não obstante, seguiram-me até chegarmos às muralhas de Jerusalém.
Os “irmãos” acabaram de ser admoestados (e ameaçados) de maneira sobrenatural e ainda assim hesitam. Esse é exatamente o comportamento estereotipado e unidimensional característico de personagens idealizados e arquetípicos.
E era noite; e eu fiz com que se escondessem fora das muralhas. E depois de se haverem eles escondido, eu, Néfi, penetrei sorrateiramente na cidade e dirigi-me à casa de Labão.
As muralhas de Jerusalém são populares na mitologia popular Mórmon por uma lenda repetida frequentemente entre Mórmons até hoje (leia o Apóstolo Neal Maxwell relatando esse conto em Conferência Geral). Durante a produção do Livro de Mórmon, enquanto sua esposa Emma servia de escrivã para Joseph Smith, lhe ele teria perguntado se Jerusalém realmente havia sido uma cidade amuralhada. Esse conto é popular pois ilustraria como Smith era ignorante desse fato histórico até lê-lo e traduzi-lo.
Curiosamente, ninguém pára para avaliar o quanto esse relato contradiz os fatos históricos como documentados. Em primeiro lugar, sabemos que Emma serviu de escrivão apenas no início da produção do Livro de Mórmon, e que Smith começou por Mosias devido ao fiasco das 116 páginas que Lucy Harris, esposa de seu primeiro escrivão Martin Harris, havia roubado. Inclusive, sabemos que Oliver Cowdery fora o escrivão durante 1 Néfi, não apenas pela cronologia histórica mas também por análises autográficas do manuscrito original. Em segundo lugar, sabemos que Joseph Smith sempre fora ávido leitor e estudioso da Bíblia durante toda sua adolescência, de acordo com seus próprios testemunhos e de sua mãe. E a Bíblia inclui diversas referências às muralhas de Jerusalém, tão específicas que nem um leitor apenas casual poderia ignorar. E Smith, de acordo com ele mesmo e sua mãe, era ávido leitor e estudioso. E, finalmente, não se pode esquecer que Emma Smith relatou esse conto apenas em 1856, quase três décadas depois. Combinando a passagem do tempo, os óbvios erros cronológicos, e a óbvia inconsistência histórica, não é improvável que Emma tivesse criando (ou “lembrando errado”) essa memória.
E fui conduzido pelo Espírito, não sabendo de antemão o que deveria fazer.
Improvisação é um tema recorrente para a dupla Léhi-Néfi.
Não obstante, segui em frente e, chegando perto da casa de Labão, vi um homem que havia caído no chão, diante de mim, porque estava bêbado de vinho.
Por que Labão, homem rico e de elevado status social, estaria embriagado nas ruas de Jerusalém?
E aproximando-me dele, vi que era Labão.
Joseph Smith cresceu com alcoolismo do pai, e provavelmente encontrá-lo bêbado no chão da rua na tentativa de chegar em casa vindo do bar (saloon) não deveria ter sido uma cena incomum. Não haviam geladeiras em Nova Iorque no século XIX EC. Bebia-se em bares. Não haviam bares em Jerusalém no século VI AEC. Pobres não bebiam, exceto em festivais religiosos. Ricos bebiam em casa, de suas próprias adegas.
E vi a sua espada e tirei-a da bainha; e o punho era de ouro puro, trabalhado de modo admirável; e vi que sua lâmina era do mais precioso aço.
Aço não seria um metal trabalhado até o século XVI EC, não seria “precioso” até o século XIX EC, o que torna essa afirmação anacronística em quase 2 mil anos.
Além disso, uma espada com um “punho” de “ouro puro” é muito mais pesada e, portanto, menos eficaz em combate. Espadas desse gênero usualmente são cerimoniais. Não seria o tipo de espada que alguém carregaria no dia a dia.
Ademais, o que Labão estaria fazendo andando armado com uma espada? Nada na literatura ou na arte da época sugere que judeus andavam armados com espadas pra cima e pra baixo.
E aconteceu que fui compelido pelo Espírito a matar Labão; mas disse em meu coração: Nunca fiz correr sangue humano. E contive-me; e desejei não ter de matá-lo.
Como o protótipo e arquétipo do bom homem, Néfi não deseja cometer assassinato. Como o protótipo e arquétipo do crente obediente, Néfi está disposto a cometer assassinato quando sente que é seu dever religioso.
E o Espírito disse-me outra vez: Eis que o Senhor o entregou em tuas mãos. Sim, e eu sabia também que ele procurara tirar-me a vida e que não daria ouvidos aos mandamentos do Senhor; e também se apoderara de nossos bens.
O que há para se recomendar, de um ponto de vista ético ou moral, o assassinato a sangue frio de uma pessoa inconsciente? O que Mórmons modernos acham de fanáticos islâmicos que decapitam prisoneiros em nome de Deus e da fé?
E aconteceu que o Espírito me disse outra vez: Mata-o, pois o Senhor entregou-o em tuas mãos.
Matar em nome de Deus é assim oficialmente sancionado pelas escrituras Mórmons.
Eis que o Senhor mata os iníquos, para que sejam cumpridos seus justos desígnios. Melhor é que pereça um homem do que uma nação degenere e pereça na incredulidade.
De acordo com a narrativa do Livro de Mórmon, essa “nação” se “degenerou e pereceu na incredulidade” de qualquer modo. As placas de latão não servem nenhuma função relevante para o povo em geral, excetuando-se os poucos profetas que as leram e escreveram sobre elas. O foco de toda “história” dessa “nação” foi as revelações proclamadas oralmente por seus profetas vivos. Nada na narrativa do Livro de Mórmon sugere que essas placas de latão serviram a função que Léhi e Néfi descrevem aqui. Certamente nada que justifique o assassinato em sangue frio.
Ademais, se Deus pode contra “dezenas de milhares” e “entregar” Labão bêbado e inconsciente, por que não pode “entregar” um domicílio dormindo e “permitir” que Néfi cometa apenas um furto sem vítimas? Por que não pode lhe oferecer uma cópia das placas em outra fonte?
E, finalmente, por que as tais “placas de latão” estariam na posse de um judeu inteiramente inconsequente e desconhecido como Labão? Documentos sagrados, especialmente religiosos, ficavam todos armazenados no Templo, e na posse da classe sacerdotal.
O argumento filosófico “um homem perece para que uma nação não pereça” vem direto do Novo Testamento.
E então quando eu, Néfi, ouvi estas palavras, lembrei-me das palavras que o Senhor me dissera no deserto: Se a tua semente guardar os meus mandamentos, prosperará na terra da promissão.
Novamente, em nada serviriam as placas de latão para esse propósito. Profetas vivos, recebendo e anotando revelações diretamente de Deus, poderiam repassar os mesmos dados contidos nas placas e conseguir os mesmos resultados.
O Livro de Mórmon introduz aqui, e mantém por toda sua narrativa, uma clara declaração teológica a favor do “evangelho da prosperidade“. Esse tipo de teologia que prega que Deus abençoa os crentes e obedientes com prosperidade material ganhou expressão e tornou-se muito popular nos EUA durante o século XIX com os movimentos A Nova Igreja de Emanuel Swedenborg (1688-1772), Novo Pensamento de Phineas Quimby (1802-1866), e Ciência Cristã de Mary Baker Eddy (1821-1910), todos afluentes, junto com o Mormonismo, do movimento popular religioso norte-americano conhecido como Segundo Grande Despertar, cujo epicentro era o Oeste de Nova Iorque! (Acadêmicos Mórmons passaram as últimas décadas do século XX analizando as óbvias influências de Swedenborg no pensamento de Joseph Smith)
Sim, e pensei também que eles não poderiam guardar os mandamentos do Senhor, segundo a lei de Moisés, a menos que tivessem a lei.
Durante a leitura e análise da narrativa do Livro de Mórmon, procuraremos exemplos de instâncias da observância da “lei de Moisés”. Prestem bastante atenção! (Dica: Os povos descritos são Cristãos, com tradições Cristãs, com raras e esparsas alusões ao Judaismo, sem nenhuma menção direta ou descrição de observâncias da “lei de Moisés” como se vê, por exemplo, no Novo Testamento)
Ademais, Deus poderia ter ditado a “lei de Moisés” para Néfi em menos tempo que demorou para conseguirem voltar para Jerusalém, assassinar Labão, roubar as placas, e voltar para o acampamento de Léhi.
Sabia também que a lei estava gravada nas placas de latão.
A “lei” estava gravada em pergaminhos ou em papiros, guardados no Templo. Não há nenhuma menção na literatura, ou achados arqueológicos, que sustentem a prática de engravar o Torah em placas de metal.
E também sabia que o Senhor havia entregado Labão em minhas mãos por este motivo — para que eu pudesse obter os registros, de acordo com os seus mandamentos.
Lição do dia? Se beber, não saia na rua para não ser assassinado por um religioso fanático!
Obedeci, portanto, à voz do Espírito e peguei Labão pelos cabelos e cortei-lhe a cabeça com sua própria espada.
Reforçando o tema literário de ironia de perdição por culpa própria. Os pecados destróem o iníquo, assim como o iníquo foi destruído pela própria espada.
E depois de ter-lhe cortado a cabeça com sua própria espada, tirei-lhe as vestimentas e coloquei-as sobre o meu próprio corpo; sim, cada uma delas; e cingi meus lombos com a sua armadura.
Armadura? Judeus no século VI AEC andavam vestidos em armaduras e espadas, como cavalheiros medievais?
Labão foi decapitado mas suas roupas não se sujaram nem um pouco de sangue? Néfi esqueceu-se de explicar com a espada de Labão era um sabre de luz!
E depois de haver feito isso, dirigi-me ao tesouro de Labão. E quando me dirigia ao tesouro de Labão, eis que vi o servo de Labão que guardava as chaves do tesouro. E, com a voz de Labão, ordenei-lhe que me seguisse ao tesouro.
Porque as roupas de Labão cabiam perfeitamente em Néfi, não se sujaram de sangue, e ainda incluiam um capacete com visor para esconder o seu rosto, assim como uma armadura medieval. E, ainda, por sorte, Néfi é um mestre em imitação e a primeira pessoa em quem ele esbarra é justamente quem guardava “as chaves do tesouro”.
E ele supôs que eu fosse seu amo Labão, porque viu as vestimentas e também a espada que eu levava à cintura.
A armadura medieval não ensanguentada e o sabre de luz venderam a ilusão.
E falou-me a respeito dos anciãos dos judeus, pois sabia que seu amo, Labão, havia estado com eles durante a noite.
Descobrimos que Labão estaria bebendo com os “anciãos dos judeus”. Um têrmo estranho para Néfi utilizar, sendo ele judeu e tendo crescido em Jerusalém. Qual Mórmon descreveria uma reunião de Bispos como os “Bispos dos Mórmons”?
Notemos que “anciãos dos judeus” sugere líderes comunitários e religiosos, e todo registro histórico existente indica uma propensão à austeridade e conservadorismo entre tais elites judias. Bebedeira? Ao ponto de desmaiar nas ruas de Jerusalém? Improvável.
E eu falei-lhe como se fora Labão.
Néfi, o mímico.
E disse-lhe também que eu levaria as gravações que estavam nas placas de latão a meus irmãos mais velhos, que estavam fora das muralhas.
Sair à noite com documentos sagrados para além das muralhas da cidade? Em nada causou suspeitas?
E também ordenei-lhe que me seguisse.
Quem rouba alguém e ainda pede escolta de seu segurança particular? Ele não havia percebido que Néfi não era Labão. Por que não o deixar ali, ou ordená-lo que fosse pra casa descansar? Ele não perceberia que Néfi não é Labão ao se encontrar com seus irmãos? O que Néfi fez com o corpo decapitado de Labão? Ninguém se deu conta disso e soou um alarme?
E supondo ele que eu me referisse aos irmãos da igreja e que eu verdadeiramente fosse Labão, a quem eu havia matado, seguiu-me.
Igreja seria um têrmo profundamente anacronístico para um judeu no século VI AEC. Além de ser uma palavra grega, que não surgiria no Judaismo até o surgimento da diáspora e das sinagogas, e de sinagogas não surgirem até o século I AEC (e explodirem em popularidade no século II EC), trata-se de um têrmo marcadamente Cristão que foi adotado no final do século I EC justamente para se distinguir das congregações judaicas.
E falou-me muitas vezes sobre os anciãos dos judeus, enquanto eu me dirigia para meus irmãos que estavam fora das muralhas.
“Anciãos dos judeus”.
Havia apenas uma muralha em Jerusalém. Um judeu no século VI AEC a chamaria de “a muralha”.
E aconteceu que quando me viu, Lamã ficou com muito medo e também Lemuel e Sam. E fugiram de mim, porque pensaram que eu fosse Labão e que ele me houvesse matado; e que procurasse também tirar-lhes a vida.
A armadura medieval e o sabre de luz eram tão convincentes que até enganaram os próprios irmãos de Néfi. Nada mais difícil, considerando que uma armadura medieval cobria qualquer visão de seu usuário.
Infelizmente, vestimentas como túnicas do deserto não ocultam o rosto dessa maneira, exceto
E aconteceu que os chamei e eles me ouviram; portanto, pararam de fugir de mim.
Fim da performance de Néfi.
E aconteceu que quando o servo de Labão viu meus irmãos, pôs-se a tremer e estava para fugir de mim e voltar para a cidade de Jerusalém.
Não tentou tomar o sabre de luz e as placas?
E agora eu, Néfi, sendo um homem de grande estatura e havendo também recebido muita força do Senhor, lancei-me sobre o servo de Labão e segurei-o, para que não fugisse.
Aprendemos aqui que Néfi era grande, forte, e finalizava bem no chão.
Ademais, Labão deveria ser de “grande estatura” também. Afinal, sua armadura medieval coube perfeitamente em Néfi.
E aconteceu que eu lhe disse que, se ouvisse minhas palavras, assim como o Senhor vive e vivo eu, se ouvisse minhas palavras, poupar-lhe-íamos a vida.
Convertido por ameaça de morte. #TaxaDeRetençãoAlta
E disse-lhe, sob juramento, que não precisava temer; que seria um homem livre como nós, se descesse conosco ao deserto.
Sob ameaça da espada, ele é prometido ser um “homem livre”. Dá um novo significado à expressão “liberdade ou morte”.
E também lhe disse: Certamente o Senhor nos ordenou que procedêssemos assim; e não seremos diligentes em guardar os mandamentos do Senhor? Se quiseres, portanto, descer ao deserto, ao encontro de meu pai, terás lugar conosco.
Néfi não explica a alternativa. “Se não quiseres, então…” Não havia essa necessidade, pois o “servo de Labão” cumpre a função literária do contraste para definir quem é Néfi. Néfi mata Labão pela espada, mas poupa o servo de Labão pela espada, demonstrando como Néfi tem bom coração e apenas mata sob ordens celestiais.
E aconteceu que Zorã criou coragem com minhas palavras. Ora, Zorã era o nome do servo; e ele prometeu que desceria para o deserto até o lugar onde estava nosso pai. Sim, e jurou também que permaneceria conosco daquele momento em diante.
Mais um exemplo da oralidade da narração. Um autor planejando um texto para ser engravado em placas de ouro teria introduzido o nome do personagem antes no seu rascunho. “Eis que vi o servo de Labão que guardava as chaves do tesouro, cujo nome era Zorã, e com a voz de Labão…” Como se encontra na narração, a introdução do nome foi espontânea, assim como a explicação dessa introdução súbita.
Zorã é um nome de derivação bíblica.
Ora, desejávamos que ele permanecesse conosco para que os judeus não soubessem de nossa fuga para o deserto, com receio de que nos perseguissem para destruir-nos.
Néfi, logo após assassinar Labão em sangue frio, começa a temer um homem obviamente muito mais fraco e mais covarde e mais desarmado do que ele. E Néfi não teria esse problema se o tivesse ordenado a voltar pra casa e dormir.
Novamente, o uso do têrmo anacronístico “os judeus”. Esse têrmo é usado por evangelistas Cristãos para distinguir-se dos Judeus e do Judaismo para uma audiência Romana pagã e é comum para Cristãos após o segundo século EC, não para judeus no sexto século AEC.
E aconteceu que quando Zorã nos fez o juramento, nossos temores cessaram a seu respeito.
Por que Zorã não poderia fugir enquanto eles dormiam nas muitas noites que teriam juntos dali em diante?
E aconteceu que tomamos as placas de latão e o servo de Labão e partimos para o deserto; e viajamos até a tenda de nosso pai.
Néfi esquece o nome de Zorã, ou acredita que os leitores já teriam esquecido quem era Zorã, e opta pelo mais longo “servo de Labão”, sem se preocupar em economizar espaço ou trabalho para entalhar as placas de ouro (Tecnicamente, a culpa seria de Mórmon aqui, mas ainda chegaremos lá).
Leia o texto do Livro de Mórmon aqui em sua última versão em português publicada pela Igreja SUD.
Leia os nossos comentários adicionais do Livro de Mórmon aqui.
Obrigado pela diferente visão do livro. Continuem com o trabalho.
Abs
Comentários muito interessantes, embora por vezes bem coloquiais. No futuro podem bem servir como “rascunho” para um estudo mais técnico. Parabéns ao autor!
Obrigado, Quintino.
Os coloquialismos são uma concessão para incitar a leitura de uma audiência mais ampla. Concordamos com você, e preferiríamos uma abordagem ainda mais técnica, mas tememos que tal limitaria ainda mais o alcance do projeto. Aceitamos a sua sugestão e ponderaremos em convertê-lo, ao final, numa publicação mais técnica.
Achei o texto bem escrito e de leitura agradável.
Um texto na internet pode ser, potencialmente, lido por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo.
Veja o caso de um amigo meu que é norte-americano e mora nos Estados Unidos, mas fala português (serviu missão no Brasil). Sei que ele, de vez em quando, acessa sites em português, e evidentemente, mesmo tendo morado no Brasil, ele não fala tão bem quanto um brasileiro, o que faz com que para ele seja muito mais fácil acessar sites em português que tenham uma linguagem mais acessível.
Sites em português são acessados por pessoas que falam espanhol (e vice-versa) , embora as Línguas sejam similares, uma linguagem mais acessível ajuda.
Um site pode ser acessado por pessoas de 10, 11, 12 anos. E acredito que este público prefere uma linguagem mais acessível, bem como, acredito eu, as pessoas adultas com menor grau de escolaridade.
Se vocês optarem por fazer dois textos, um com uma linguagem mais simples e outro mais técnico, seria ótimo. Mas se for optar apenas por uma das duas possibilidades, acredito que a melhor escolha é a linguagem mais simples.
O mais importante é o conteúdo, que está ótimo, parabéns!