A maioria dos Mórmons na atualidade desconhece um dos maiores tesouros da literatura religiosa Mórmon do século 19.
O ‘Jornal dos Discursos’, conhecido em inglês como ‘Journal of Discourses’, e comumemente abreviado como J.D. ou JOD ou JoD, é uma coleção de 26 livros publicados oficialmente pela A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias contendoos discursos dos seus Profetas e Apóstolos entre 1854 e 1886.
É impossível comentar sobre as doutrinas e as crenças do Mormonismo na segunda metade do século XIX sem estudar esses livros. De acordo com os Profetas e Apóstolos, eles constituem escrituras para os membros da Igreja (ver abaixo).
A ideia original para essas publicações veio de George Watt, estenógrafo pessoal de Brigham Young. Watt vinha anotando vários discursos com o inovador método de abreviação desenvolvido por Isaac Pitman em 1837 quando abordou Young com a sugestão de imprimi-los na Inglaterra, onde a Igreja mantinha missionários e impressão era muito mais barata. A Primeira Presidência imediatamente aprovou o conceito e designou Watt para preparar e publicar a primeira edição.
Watt pessoalmente supervisionou o trabalho de mais 11 estenógrafos, além de suas próprias transcrições, rendendo os primeiros 12 volumes da série. Young arrastava Watt para onde quer que fosse e praticamente todos os seus discursos públicos entre 1854 e sua morte em 1877 foram minuciosamente registrados por Watt e publicado no Jornal. Young pessoalmente editava e corrigir os manuscritos de seus próprios discursos antes de publicação, e selecionava dentre os demais para escolher quais seriam publicados e como seriam editados.
Originalmente, os discursos eram publicados em folhetins quinzenais para servir como o principal material impresso da Igreja SUD, especialmente para os membros que viviam na periferia da Igreja e não tinham acesso ao jornal diário Deseret News. Eventualmente, os folhetins foram sendo editados e compilados em volumes de livros impressos sob o título (originalmente nos primeiros 5 volumes, depois encurtado) ‘O Jornal dos Discursos de Brigham Young, Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Seus Dois Conselheiros, os Doze Apóstolos, e Outros’.
A importância dada a esses volumes fica evidente nos comentários dos próprios Profetas e Apóstolos citados neles.
Brigham Young, 2o Presidente da Igreja SUD, disse:
“O Irmão [Apóstolo] Orson Hyde referiu-se a alguns que reclamam por não obter revelações. Vou fazer uma declaração aqui que tem sido movida contra mim como um crime, talvez, ou como uma falha na minha vida. Não aqui, eu não vou aludir a qualquer coisa do tipo neste lugar, mas nos conselhos das nações – que Brigham Young disse que “quando ele envia seus discursos para o mundo as pessoas podem chamá-los de Escritura“. Eu digo agora, quando eles são copiados e aprovados por mim, eles são tão bons enquanto Escritura como as que se encontram na Bíblia, e se você quiser ler revelação, leia as palavras de quem conhece a mente de Deus … ” — Brigham Young (Journal of Discourses, 13:264)
George Q. Cannon, Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência escreveu:
“O Jornal dos Discursos merecidamente se classifica como uma das obras-padrão da Igreja, e cada Santo sensato vai certamente acolher com alegria cada número (edição), assim que ela for publicada.” — George Q. Cannon (Journal of Discourses, Prefácio, Volume 8)
O Apóstolo Orson Pratt escreveu:
“Cada volume sucessivo destes discursos é uma rica mina de riqueza, contendo gemas de grande valor, e o pesquisador diligente vai encontrar uma ampla recompensa por seu trabalho. Depois que os pais e as mães desta geração fizeram deles o estudo de suas vidas, os filhos de seus filhos vão achar que eles ainda não estarão esgotados, e regozijarão que este registro tenha sido transmitido por seus pais para também ajudá-los a seguir o caminho da vida.” — Orson Pratt (Journal of Discourses, Prefácio, Volume 3)
Joseph F. Smith, então Conselheiro na Primeira Presidência, e sexto Presidente da Igreja, escreveu:
“É impossível dar um valor monetário para os volumes já impressos desta publicação, … Aqueles que lêem as declarações dos servos de Deus, contidas neste livro, sob a mesma influência pelo qual os oradores foram inspirados, não podem deixar de receber lucro da leitura. ” — Joseph F. Smith (Journal of Discourses, Prefácio, Volume 18)
O Apóstolo Albert Carrington escreveu:
“Temos o grande prazer de apresentar aos Santos e ao mundo … o Jornal dos Discursos, que eles vão decobrir contém ricos tesouros de informações sobre os princípios gloriosos da vida eterna, como revelado através de servos ungidos de Deus nestes últimos dias. Todos que leram os discursos contidos neste volume são recomendados seriamente a adaptá-los às suas vidas pela prática, e nós podemos confiantemente assegurar-lhes que, ao fazer isso, eles estão colocando-se uma loja de conhecimento que vai salvar e exaltar-los no reino celestial.” — Albert Carrington (Journal of Discourses, Prefácio, Volume 18)
O Jornal dos Discursos pode ser acessado e lido em sua íntegra aqui. Ele também pode ser lido em cópias facsímiles, publicadas no site oficial da Igreja SUD aqui. Eles podem ser até baixado para computadores pessoais e celulares, ou lidos online, aqui.
Nós publicamos uma coletânea de traduções de trechos interessantes aqui.
Vim ter acesso ao Journal of discourses através do link disponibilizado pelo Vozes Mórmons. Antes, só o conhecia pelas referências citadas. Nós brasileiros SUD, estamos retrocedendo em termos de acesso à literatura mórmon. Antigamente, comprava-se Discursos de BY nas lojinhas do templo.
O meu, se perdeu. Quando fui comprar outro, tive a feliz notícia de que não imprimiam mais. Ocorreu o mesmo com o volume 2 de Doutrinas de Salvação. Tentei comprar, e não acho mais. Não vejo mais o livro “A Igreja Restaurada”, nem “Doutrina e Convênios e o Futuro”, que felizmente ainda os tenho, nem “A grande Apostasia”. Acho que vamos ficar só no leite ninho das publicações SUD. Tal qual os talentos, se vc não usa, até o que se tem será tirado. O Senhor mesmo disse para não se lançar pérolas aos porcos.
Acho interessante fazer uma distinção entre revelações e escrituras, na definição que mais estamos acostumados, de “obras-padrão”. As escrituras estão repletas de revelações e contêm o evangelho de Jesus Cristo, de maneira suficiente a garantir a salvação de todos que as lerem e as seguirem. Isso não significa que todas as revelações do Senhor estão nessas escrituras “padrão”. Muitas outras revelações foram disponibilizadas de maneiras diferentes, em discursos, declarações e até em debates.
Um exemplo notável que lembro agora é o discurso The Seven Deadly Heresies – As Sete Heresias Mortais – do então apóstolo Bruce R. McConkie, proferido na BYU em 1980, em que ele declara que nosso Pai Celestial preside nosso universo há quase 2.555.000.000 anos. Nunca havia lido ou ouvido algo tão preciso, ainda mais de uma autoridade geral da Igreja.
Há também um outro aspecto – as escrituras “padrão” são dirigidas a toda a humanidade, enquanto algumas revelações e discursos são direcionados somente à Igreja ou a grupos específicos. Há ainda outros documentos que podem ser considerados “escrituras pessoais”, como nossa Bênção Patriarcal ou então nossos próprios diários, que registram nossas experiências e nossa evolução espiritual.