O Livro de Mórmon é a obra literária mais sagrada para milhares de mórmons, centenas de igrejas e seitas da tradição Santos dos Últimos Dias, e o principal volume de escrituras para membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Imagem inspirada na descrição das Placas de Ouro por Joseph Smith
Dedicamos aqui um artigo para cada capítulo do Livro de Mórmon , cobrindo todo o seu texto (utilizando, como base, a última edição da Igreja SUD), acompanhados de comentários adicionais do ponto de vista historiográfico, racional, e científico para incentivar uma leitura diária do texto sacro e facilitar um estudo mais intelectual dele. Postagens passadas podem ser encontradas aqui.
O trecho de hoje é: 1 Néfi 6
Primeiro Livro de Néfi
Capítulo 6
E agora eu, Néfi, não menciono a genealogia de meus pais nesta parte de meu registro; nem a mencionarei uma vez sequer nas placas que estou escrevendo, porque está no registro que foi feito por meu pai; não a escreverei, portanto, nesta obra.
Supostamente, o “registro… feito por meu pai” seria a parte que Smith ditou em 1828 para Martin Harris e que sua esposa, Lucy Harris, teria roubado para forçar Smith repetir a tradução e compara-los como medida objetiva para determinar sua veracidade.
Aqui, um ano após o furto, Smith explica através de Néfi que não irá repetir a tradução realizada no ano anterior. O manuscrito, que Smith posteriormente descreveu como “116 páginas” contendo o “Livro de Lehi”, jamais ressurgiu, e Smith publicou nota admitindo reconhecer a armadilha e descrevendo como a contornaria.
Basta-me dizer que somos descendentes de José.
José, filho de José, explica que ameríndios são “descendentes de José”.
Repetindo informação absolutamente recente e desnecessária. Acabamos de ler isso há meros parágrafos!
E não é importante que eu seja meticuloso, fazendo um relato completo de todas as coisas de meu pai, pois elas não podem ser escritas nestas placas, porque necessito do espaço para escrever as coisas de Deus.
Eis outro exemplo de prolixidade mais característico para uma narrativa oral e improvisado do que para uma construção textual literária planejada, especialmente para um autor que escreverá entalhando placas de metal. Néfi queixa-se de falta de “espaço para escrever” mas consistentemente repete informações óbvias, recentes, e explica eventos que só fazem sentido para quem vive em 1829 ou 1830. Para leitores em 600 AEC ou 1930 ou 2030 simplesmente é irrelevante se Néfi resumiu ou não os escritos de seu pai.
Pois tudo o que desejo é persuadir os homens a virem ao Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, e serem salvos.
O anacronismo de Néfi aqui fica evidente em seu zelo missionário. Profetas e líderes religiosos judeus em 600 AEC preocupavam-se em trazer judeus ao Deus hebraico, e apenas os judeus. “Persuadir os homens” de modo universal não seria um objetivo esperado de Profetas judeus, da mesma maneira que não se espera hoje de um Profeta Mórmon proibir casamentos interraciais. Isso era normal há 60 anos, mas seria anacrônico descreve-los assim hoje.
Não escrevo, portanto, as coisas que agradam ao mundo, mas as que agradam a Deus e aos que não são do mundo.
Pessoas que “são do mundo” é um têrmo Cristão, popularizado pelo Novo Testamento, e inteiramente anacrônico para um judeu em 600 AEC.
Ordenarei, portanto, a meus descendentes que não ocupem estas placas com as coisas que não são de valor para os filhos dos homens.
Além das repetições e verborragias desnecessárias, como vemos aqui em Néfi e veremos mais ainda no futuro, a narrativa do Livro de Mórmon cita dezenas de guerras e batalhas, muitas delas em grandes detalhes e por páginas e páginas de texto. A afirmação de Néfi para ser mais uma falácia tautológica (i.e., tudo o que está escrito no Livro de Mórmon é importante porque está escrito no Livro de Mórmon) do que uma descrição factual e concreta.
Leia o texto do Livro de Mórmon aqui em sua última versão em português publicada pela Igreja SUD.
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