6 Missionários Mórmons Expulsos da Rússia

6 missionários d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foram expulsos e deportados da Rússia no último mês.

Drake Oldham, um dos 6 missionários SUD deportados da Rússia, posando em frente a um tanque de guerra. Note a ausência da costumeira plaqueta de identificação.

Drake Oldham, um dos 6 missionários SUD deportados da Rússia, posando para foto jocosa. Note a ausência da costumeira plaqueta de identificação.

Apesar da Igreja Mórmon ter encontrado um meio ardilo porém tecnicamente válido para tentar enganar o governo russo e burlar a sua nova lei antiterrorista para manter seus missionários no país, e de ainda manter 7 missões em território russo, 6 de seus missionários foram deportados desde que entrou em vigência há um mês.

Entenda o caso.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou lei antiterrorista, que entrou em vigor há um mês, severamente restringindo os direitos civis de seus cidadãos e as liberdades religiosas no país.

A lei que Putin assinou exige que empresas de telecomunicações armazenem gravações de ligações telefônicas, mensagens de texto, e uso de internet de todas as pessoas em território russo por no mínimo 6 meses, e obriga empresas de redes sociais (e.g., Facebook, Telegram, Twitter, WhatsApp, etc.) a fornecer códigos de decriptação para o serviço de inteligência governamental FSB (antiga KGB). Ademais, ela explicitamente proíbe expressões consideradas como extremistas, autorizando a vigilância de correios regulares e eletrônicos, e obrigando cidadãos a denunciar atividades suspeitas sob duras penas.

Além de infringir direitos civis de privacidade e liberdade de expressão de seus cidadãos e estrangeiros expatriados, a Lei Yarovaya, que entrará em vigor no final deste mês, restringe a liberdade religiosa de igrejas como a Igreja Mórmon ao proibir
atividades de recrutamento, como proselitismo missionário. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, imediatamente publicaram duras críticas ao governo russo por considerarem que tornarem-se alvos inocentes de uma lei teoricamente destinada a combater extremismo violento.

A Lei Yarovaya ainda proíbe pregações, orações, e disseminações de materiais religiosos em público fora de zonas especificamente designadas por agentes governamentais (i.e., igrejas, templos, capelas, sites online previamente aprovados, etc.), estabelecendo multas de até USD 15.500 para as instituições pegas quebrando a lei com tais atividades, mesmo sendo realizadas em residências particulares ou através de mídia impressa, mídia rádio ou televisiva, ou mídia eletrônica.

De acordo com a agência norte-americana Comitê pela  Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos:

“Missionários estrangeiros também devem provar que foram convidados por grupos religiosos registados pelo Estado e devem operar somente em regiões onde suas organizações patrocinadoras estão registradas; aqueles encontrados em violação sofrerão deportação e multas pesadas.”

O maior problema, tanto em questão de direitos civis, como em questão de liberdade religiosa, é que “extremismo” não é definido claramente pela lei.

“Acusações de ‘extremismo’ podem incluir a promoção pacífica de ‘superioridade da própria religião de cada um’, e [já] resultaram em textos religiosos sendo banidos e na prisão de membros de grupos muçulmanos não violentos e Testemunhas de Jeová.”

Líderes de comunidades evangélicas e protestantes, compondo meros 1% da população russa, já representaram agravo público contra o governo russo e organizaram-se para peticionar tanto Putin como legisladores e até a Suprema Corte do país. Desde o início do processo de tramitação do projeto-de-lei no Duma (câmara inferior do parlamento russo), esses líderes religiosos evangélicos e protestantes uniram-se para pressionar legisladores e protestar as emendas que tornaram-na ainda mais agressiva e invasiva, porém largamente sem sucesso.

Proposto pela deputada Irina Yarovaya, do partido que mantém folgado controle do legislativo, o Partido Rússia Unida,  o projeto-de-lei foi duramente criticado por essas petições de líderes religiosos por dificultar todos os grupos religiosos na Rússia exceto a Igreja Ortodoxa Russa, favorecendo-a enquanto religião amplamente majoritária e tanto cultural como legalmente dominante no país. Partidos políticos com aspirações nacionalistas, como o PRU (chefiado pelo próprio Putin), mantém fortes laços à Igreja Ortodoxa como força de expressão cultural nacionalista, em detrimento da liberdade e diversidade religiosa do povo russo, critica Sergei Ryakhovsky, líder da Liga das Igrejas Protestantes da Rússia. Ryakhovsky uniu-se a vários outros líderes evangélicos para pressionar legisladores russos a repensar ou reverter a política oficial do país, tanto durante o processo de tramitação no legislativo, como agora no planejamento para contestá-la nas cortes russas.

Quando Putin oficialmente assinou a lei, do outro lado do mundo, líderes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias imediatamente emitiram nota oficial afirmando a intenção de manter seus missionários na Rússia e adequar-se para cumprir a lei em todos os seus requisitos:

“A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias divulgou a seguinte declaração na sexta-feira, 8 de julho de 2016:

A Igreja reconhece que uma nova lei entrará em vigor na Rússia em 20 de julho de 2016, que terá um impacto sobre o trabalho missionário. A Igreja vai honrar, sustentar, e obedecer a lei. Missionários permanecerão na Rússia e vão trabalhar dentro das exigências dessas mudanças. A Igreja continuará a estudar e analisar a lei e seu impacto uma vez que entrar em vigor.”

Não obstante protestações públicas de “honrar, sustentar, e obedecer a lei”, Eric Hawkins, porta-voz d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, anunciou que um email foi enviado a todos os familiares e pais de seus missionários servindo na Rússia com instruções oficiais de como a Igreja planeja tergiversar a nova lei sem tecnicamente quebrá-la: A Igreja anunciara que os seus missionários na Rússia seguirão com suas funções regulares, meramente restringindo-se à uma mudança cosmética em seu programa de proselitismo. Seus missionários seriam oficialmente designados como “voluntários” ao invés de “missionários”. Presidentes de missão solicitaram a seus missionários, e seus respectivos familiares, a evitarem o uso da palavra “missionário” em cartas, emails, redes sociais, etc., substituindo-a com a palavra “voluntário”.

Em nenhum momento, note-se, a Igreja SUD propôs-se a criticar ou publicamente condenar a flagrante restrição à liberdade religiosa no país russo. Enquanto outras igrejas criticam, condenam, repudiam, protestam esse ataque federal às liberdades religiosas, a Igreja SUD limitou-se apenas a prometer o fiel cumprimento da nova lei e anunciar medidas evasivas para apenas parecer estar cumprindo-na. Procurada por jornalistas da KUTV para comentar os deportamentos dos missionários, a Igreja negou-se a expressar-se oficialmente.

Quando a Igreja anunciou sua política de evasão, postulamos essas dúvidas:

“Quanto tempo tal subterfúgio de honestidade questionável manterá os missionários mórmons nas boas graças do governo russo é uma questão aberta no momento. Nenhuma nota oficial da Igreja especificou se missionários serão instruídos por seus presidentes de missão a evitar os métodos clássicos de proselitismo (e.g., bater portas, contatos de rua, visitar membros e dar palestras a investigadores em seus lares, etc.) utilizados por dezenas de milhares de missionários mórmos mundo afora, o que é suspeito, considerando que agora constituem atos ilegais na Rússia.”

Agora que houve um aumento súbito e enorme na taxa de deportações de missionários de lá, ponderamos se essa será uma tendência perene doravante ou se representa apenas uma intercorrência pontual. E, mais importantemente, quando a Igreja SUD tomará uma posição coerente e consistente com as posturas das demais igrejas lá estabelecidas e condenará ou repudiará tamanha afronta à liberdade religiosa?

[Assista vídeo do noticiário da KUTV, incluindo entrevista com os pais de um dos missionários.]

11 comentários sobre “6 Missionários Mórmons Expulsos da Rússia

    • Então Joseph Smith “deix[ou] de praticar a sua”?

      “‘Una-se a nenhuma delas, elas estão todas erradas, seus credos são uma abominação aos meus olhos, esses professores são todos corruptos, eles se aproximam de mim com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; ensinam doutrinas os mandamentos de homens, tendo forma de piedade, mas negando o seu poder’. “

      • Que eu saiba Joseph Smith disse que isso foi o que o Salvador disse para ele.E ele só disse a verdade que é dura aos ouvidos dá época em que foi dita e atualmente.

      • Em primeiro lugar, essa não foi a mensagem que Smith recontou originalmente. Leia-a aqui.

        Em segundo lugar, independente se é “verdade… dura” ou não, Smith estava falando mal de outras religiões, o que é o ponto sendo discutido aqui.

      • Falar mal é bem diferente de falar a verdade.Então você diria que Jesus Cristo estava falando mal dos fariseus quando chamou ele de Hipócritas ou raças de víboras.Por acaso isto era falso?

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