Reação Contra Mulheres

medalhaoCelebrando o Dia Internacional das Mulheres com uma ‘Semana das Mulheres Mórmons‘ aqui no Vozes Mórmons, recebemos algumas reações que são ilustrativas e representativas, que valem ser exploradas e analisadas.

A própria Igreja SUD reagiu com uma nota oficial (endereçada ao movimento de mulheres SUD conhecido como ‘Ordene às Mulheres’, representado aqui no Vozes Mórmons pela articulada Kristy Money). Esta reação merece ser explorada e analisada.

A triste realidade é que a cultura Mórmon (dentro do contexto SUD) persiste embuído de um profundo senso de preconceito contra mulheres. Expressões populares como sexismo, machismo, e misoginia descrevem aspectos do que, na realidade, é nada mais que um preconceito enraízado na consciência coletiva Mórmon.

Definindo Têrmos

O sociologista francês Émile Durkheim introduziu a noção de “consciência coletiva” como o conjunto de ideias, atitudes morais, e crenças que funcionam como força unificadora dentro de sociedades específicas. O compartilhamento de ideias, crenças, e morais forja uma identidade coletiva que doutra maneira jamais existiria além do individualismo primário.

Mórmons, como quaisquer outros grupos, derivam seu senso de identidade enquanto grupo (social, religioso, etc.) deste conjunto de noções básicas compartilhadas. Dentre estas noções está a crença de que mulheres são inferiores e subservientes aos homens. Esta noção coletiva está fundamentada em preconceitos históricos contra mulheres.

Preconceito é um substantivo que descreve a (falta de) qualidade e rigor intelectual ou moral de determinados conjuntos de crenças ou atitudes. A definição de dicionário não poderia ser menos clara:

1. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial.

2. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos. = INTOLERÂNCIA

3. Estado de abusão, de cegueira moral.

4. Superstição.

Assim sendo, preconceito contra mulheres pode ser definido claramente como uma idéia ou conceito sobre mulheres formado sem fundamento sério ou imparcial, possivelmente através de estado de abusão ou cegueira moral ou superstição, levando à uma opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos.

Misoginia (ódio ou desgosto de mulheres), sexismo, ou machismo são, assim, definidos.

Priberam: “Ideologia segundo a qual o homem domina socialmente a mulher.”

Michaelis: “Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher…”

Porto: “ideologia que defende a supremacia do macho; atitude de dominação do homem em relação à mulher baseada na não aceitação da igualdade de direitos.”

Sociólogo Allan Johnson:

A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem.

Relatório da OCDE sobre Sexismo Profissional:

Em muitos países, discriminação no mercado de trabalho é um fator crucial para disparidades de empregabilidade… influenciadas por valores culturais e sociais aprendidos de que se pode discriminar contra mulheres… por estereotipar determinadas tarefas ou estilos de vida como ‘masculinas’ ou ‘femininas’…

Relatório da ONU sobre Desafios de Mulheres Pelo Mundo:

…de modo geral, a inigualdade entre mulheres e homens em várias dimensões são determinadas pelas expectativas diferentes em papéis de gênero nas áreas produtivas e reprodutivas. Por exemplo… educação em alguns países involve menor investimento para meninas do que para meninos devido às baixas expectativas de retorno no investimento em mulheres. Ademais, o status subordinado de mulheres no lar é utilizado como argumento contra o investimento de tempo, além do aumento de incidência de violência contra a mulher. Mulheres trabalham mais horas que homens, com menos oportunidades no mercado de trabalho formal, porque as tarefas domésticas não são distribuídas igualmente dentro do lar…

O grande mal, como se pode imaginar, ocorre quando a consciência coletiva é fundamentada num conjunto de crenças baseadas em preconceitos nocivos a determinados grupos minoritários dentro do coletivo. No caso em questão, este grupo minoritário compõe metade do coletivo que, por motivos históricos de opressão e subjugação, permanece minoritário em acesso a poder e influência.

Ninguém disputa que as sociedades autóctones onde se insere o Mormonismo também não abraça preconceitos sexistas. Como vimos acima, o machismo é um problema endêmico na maioria das sociedades atuais. Contudo, isso tampouco desculpa o fato — e a relevância e a malignidade — do machismo prevalente dentro do Mormonismo.

Machismo Mórmon?

As reações mencionadas acima, que serão exploradas brevemente abaixo, expõe com clareza e sem ambiguidade o quão enraízado o preconceito machista está no consciente coletivo Mórmon.

A começar com a reação oficial da Igreja.

Em publicação oficial, a Igreja solicitou às mulheres do movimento ‘Ordene às Mulheres’ que se abstenham de manifestar seus desejos publicamente para serem maís incluídas dentro da sociedade Mórmon. O que estas mulhers desejam nada mais é que igualdade entre homens e mulheres — em status social, em oportunidades de liderança e decisão executiva, e de poder — e a resposta oficial da Igreja a este anseio resume-se assim em assegura-las que concessões recentes oferecidas pela liderança masculina deveriam satisfaze-las e que então deveriam por-se em seus devidos lugares:

Algumas conversas maravilhosas vem sido, e estão sendo, tidas concernente mulheres na Igreja e contribuições incalculáveis são feitas. As recentes mudanças que vocês viram, mais notadamente ao abaixarmos a idade mínima para missionárias, servem de exemplos e foram facilitadas pela sugestão de muitas mulheres SUD extraordinárias de todo o mundo.

Mulheres na Igreja, por uma larga maioria, não compartilham da sua advocacia pela ordenação ao Sacerdócio para mulheres e consideram esta posição extrema demais.

A Sessão do Sacerdócio da Conferência Geral é desenhada para fortalecer os homens e os meninos… Convidamo-nas, como nossas irmãs, a participar com mulheres de todo lugar na reunião paralela para mulheres e meninas… A reunião para mulheres é uma congregação notória de irmandade mundial… para focar na enaltação e doutrinas eternas relacionadas às mulheres.

O que esta representante oficial da Igreja está dizendo é que mulheres devem manter-se satisfeitas com o que recebem dos homens que lideram suas vidas espirituais e religiosas. Não é o lugar delas pensarem por si mesmas quais são as suas necessidades emocionais e espirituais, pois há homens encarregados que pensarão por elas. Ademais, além de não ponderem pensar ou decidir por si mesmas, elas devem agradecer pelo que já lhes foi feito ao invés de expressar o que elas realmente desejariam que se fizessem. O subtexto implícito aqui é que mulheres são incapazes de decidirem ou pensarem ou ponderarem (ou receberem revelações de Deus, que, supostamente, só aceitaria conversar com homens) por si mesmas, para si mesmas. Homens existem para fazer isso por elas.

Ignoremos, por um instante, a mentira de que a idade mínima para mulheres missionárias foi reduzida por causa de sugestões de mulheres mundo afora (assista aqui o Apóstolo Russell Nelson e Jeffrey Holland desmentindo essa afirmação), o fato permanece que, ainda que as idades mínimas tenham sido reduzidas, há uma diferenciação desnecessária e  ilógica entre homens e mulheres, aqueles podendo servir desde os 18 anos (e por 2 anos) enquanto estas apenas após os 19 anos (e por apenas 18 meses). Tal diferenciação, inteiramente sem qualquer motivo racional, apenas serve para manter o status inferior de mulheres frente aos homens.

Ninguém, óbviamente, gosta de ser classificado como preconceituoso. Pessoas sempre pensam bem de si mesmas por natureza. Isso é um viés cognitivo conhecido entres cientistas como o Efeito Dunning-Kruger (ou “superioridade ilusória”). Quando confrontadas com fatos que demonstram que desconfirmem suas crenças (e.g., que elas não sejam tão boas como imaginam ser) elas sofrem emocionalmente. Isso é uma reação cognitiva conhecida entre cientistas como Dissonância Cognitiva. Para reduzir a dissonância e ao mesmo tempo manter a superioridade ilusória, as pessoas costumeiramente se apegam aos seus preconceitos com mais afinco e alteram as aparências e consequências mais óbvias e externas. Neste caso, se vamos reduzir a idade mínima dos missionários, para não parecermos sexistas, vamos reduzir a idade mínima das missionárias também — mas não de maneira igual, pois afinal não são iguais! O sexismo não desaparece, apenas a aparência do sexismo.

O mesmo acontece com as sessões de Conferência Geral. Há uma sessão especificamente desenhada para homens (e meninos). Não podemos deixar entrar mulheres  no “clube especial para homens” pois ele deixaria de ser especial. Criamos, então, uma reunião para as mulheres e para lá devem ir. Não nos preocuparemos com o que elas querem, pois enquanto homens, sabemos o que é melhor para elas. Por havermos criado uma sessão só para elas, longe de nós homens, mostramos que não somos sexistas — há reuniões “exclusivas” para ambos os gêneros!

Mas o mais chama a atenção neste comunicado oficial é o roubo da voz. Mulheres não tem direito a sua própria voz. Elas não podem pedir o Sacerdócio. Serão expulsas do “espaço sagrado” em tôrno da Conferência. Elas não podem sequer determinar sua voz, pois lhes é dito o que “a maioria” das mulheres não quer o Sacerdócio. Mesmo que isso fosse verdade (ver abaixo), compete aos homens — e não às mulheres — estabelecer o que a maioria delas quer ou não quer.

E o golpe final é colocar toda essa argumentação machista na voz de uma mulher. Com dezenas de funcionários, o departamento de relações públicas coloca uma mulher para anunciar o repúdio da Igreja a este singelo movimento de mulheres SUD. Inseridas num contexto patriarcal por gerações — e por todas as suas vidas pessoais — mulheres passam a, passivamente, aceitar o modelo misoginista através de um processo psicológico denominado de sexismo internalizado.

Nenhum preconceito institucional seria relevante, contudo, se ele não distilasse pela população propriamente dita. No nosso caso específico, o seximos institucional SUD seria irrelevante se isso não se traduzisse em sexismo entre os membros da Igreja SUD. Certamente, não se pode dizer que todos os SUD, mas é preciso averiguar se não pode dizer que uma maioria significativa o seja.

A título de exemplos, seguem agora exemplos de reações de membros da Igreja aos artigos publicados aqui sobre o tema de mulheres Mórmons. Eles representam, de grosso modo, a maioria das reações (mas não todas — tivemos também muitas respostas positivas) e servem de exemplos claros de um machismo (às vezes) velado e insipiente. Como todo preconceito, suas argumentações são fundamentadas em profunda ignorância e medo. Como todo preconceito, eles se estruturam em uma ilusão de superioridade para defender-se de uma visível dissonância cognitiva.

Os comentários não estão incluídos aqui para escárnio, mas para educação e reflexão. O importante é enxergar os problemas aqui discutidos por detrás das palavras…

…não acho que nós mulheres precisamos ser ordenadas ao sacerdócio, sinceramente, acho que já o temos sem precisarmos sermos ordenadas (temos uma ligação imensa com o pai celestial e poderes grandiosos)

Ninguém duvida que esta mulher seja especial ou que não tenha “ligação imensa com o pai celestial e poderes grandiosos”. Mas ela não consegue perceber que sem “ser ordenada ao sacerdócio”, seus dons são secundários aos dons de qualquer homem que possa ser assim ordenado.

Ademais, a estruturação da sociedade Mórmon ao redor do Sacerdócio significa que o seu status enquanto mulher é secundário ao dos homens que a lideram, seus “poderes” e sua “ligação” não obstante.

Nao precisamos de maneira alguma receber o sacerdócio.Cada um tem seu papel a cumprir!

Não existe motivo racional e lógico que dite que mulheres não possam cumprir os mesmos papéis que homens. Mulheres são pessoas tanto quanto os homens, e como pessoas, cada uma tem talentos e dons específicos. Mulheres não tem um conjunto de talentos específicos que homens não possuem e vice-versa.

nunca tiveram nem terão [o Sacerdócio]!

Este comentário é simplesmente expõe profunda ignorância de história Mórmon e história Cristã.

Na minha opinião eu também acho desnecessário sacerdócio às mulheres, por uma razão simples, elas estão num estado espiritual bem mais elevado que nós homens, e digo isso também do fundo de minha alma…

Alguns homens acham que estão elogiando as mulheres com esse argumento, mas trata-se apenas de um sexismo velado. Homens e mulheres são pessoas, e como pessoas, apresentam dons individuais e idiosincráticos a cada pessoa. Promover a ideia de que determinado grupo (e.g., mulheres, Negros, Asiáticos, cegos, etc.) apresenta características distintas e separadas do resto da espécie de Seres Humanos é preconceituoso (e desprovado por centenas de estudos científicos).

Há mulheres espirituais e há mulheres não espirituais, assim como há homens espirituais e homens não espirituais.

Sempre vejo os temas abordados pela página e sempre tem alguma história de que alguém pediu alguma coisa a algum líder e o mesmo não concordou com ideia e pronto, vira polêmica.. Essa de mulheres serem ordenadas ao sacerdócio, foi demais!!! Somos nós que temos que nos adaptar a igreja, e não a igreja a nós!!!

A mensagem para as mulheres é: Não reclamem e aceitem seu status de segunda classe caladas. Os homens controlam a Igreja, e por tabela, as suas vidas? Então é assim que tem que ser.

Querer igualar o que eh diferente, eh complicado… Mas, assim como a jovem do texto, elas tem o arbítrio, segue se quiser. Lembrando sempre que elas precisam convocar com urgência a mãe celeste, poxa, coitadinha, passou o tempo todo sendo oprimida, nunca apareceu, nunca revelou nada, apenas o machista do seu esposo, vdg ele que manda, ele que aparece, manda apenas filhos cuidarem do seu povo, a autoridade para os filhos, anjos masculinos, ela nao reclamou por ter mandado um filho pra ser o salvador e nao uma filha, etc. etc. E tem que ser rápido, quanto tempo ela não já perdeu? Vi, estamos no últimos dias, se não correr o mundo acaba… Aff

O comentarista é intelectualmente incapaz de perceber o motivo porque homens recebem revelações sobre um Deus homem que ordena subjulgar mulheres e não recebem revelações sobre uma Deusa mulher!

Além da estupidez do comentário, nota-se uma profunda ignorância histórica sobre a questão de orar à Mãe Celestial. Apenas nas duas últimas décadas, Gordon Hinckley et al. orquestrou a excomunhão de várias mulheres que justamente defendiam pensar sobre — e orar para — a Mãe Celestial. Lynne Kanavel Whitesides, Maxine Hanks, Lavina Fielding Anderson, Janice M. Allred, e Margaret Toscano foram disciplinadas (i.e., excomungadas da Igreja) por escrever artigos e palestras e livros sobre, entre outras coisas, a Mãe Celestial.

O tom sarcástico e debochado, em conjunto com o preconceito latente e a ignorância dos fatos, apenas serve para demonstrar o desprezo inconsciente pelas preocupações e interesses das mulheres que saltam por detrás das palavras escolhidas para esconde-lo.

Sobre o Sacerdócio, as perguntas inicias deveriam começar com: Por que eu oro ao Pai Celeste e não a Mãe Celeste? Por que se apresentou dois homens para ser o Salvador e não foram mulheres? Por que foi escolhido um homem e não uma mulher? Por que Adão foi o primeiro e não Eva? E por aí vai, até chegar na pergunta do motivo dos meninos distribuírem o sacramento.

Novamente, a incapacidade intelectual de compreender as forças sociais e culturais que estabeleceram a estrutura patriarcal em conjunto com a mitologia fundacional de Criação. Adão veio primeiro porque homens escreveram o texto, e não mulheres. Isso é óbvio para qualquer pessoa inteligente que pára para pensar racionalmente no contexto histórico e cultural dos textos religiosos. Contudo, preconceito não é racional.

Não existe ordenação de mulheres ao sacerdócio no VT, não existe no Livro de Mormon, não existe em D&C, não existe em Pérola de Grande Valor, será se esqueci do NT? Não, não existe no NT, a não ser se pretendemos forçar poucos textos, a maior prova foi a o próprio Mestre, que chamou 12 HOMENS pra guiar sua igreja e portar as chaves, acho que não existe dúvidas

Novamente, o mesmo processo de cretinismo intelectual, reduzindo forças sociais e culturais complexas e milenares em modelos banais e simplistas, apenas para justificar o preconceito e reduzir a dissonância. Ignorando, ainda, que alguns Cristãos abraçavam a ordenaçam de mulheres no Cristianismo Primitivo (ver em “antecedentes”).

Sem esquecer de um grande detalhe, as mulheres que reivindicam o sacerdócio, precisam convocar com urgência a mãe celeste, poxa, coitadinha, passou o tempo todo sendo oprimida, nunca apareceu, nunca revelou nada, apenas o machista do seu esposo, ele que manda, ele que aparece, manda apenas filhos cuidarem do seu povo, a autoridade para os filhos, anjos masculinos, ela nao reclamou por ter mandado um filho pra ser o salvador e nao uma filha, etc. etc. E tem que ser rápido, quanto tempo ela não já perdeu? Vi, estamos no últimos dias, se não correr o mundo acaba… Aff

Os mesmos processos de redução de dissonância através de ignorância e submissão forçada, com tons de deboche e humilhação. Mostre este texto para qualquer psicólogo e as chances são grandes deste detectar mecanismos verbais de abuso emocional e psicológico nele. Infelizmente, muitos homens Mórmons são treinados desde a infância a interagirem assim com mulheres. A divisão entre meninos de 12 anos que são importantes e recebem o Sacerdócio e meninas de 12 anos que são mocinhas que vão aprender a costurar, cozinhar, e limpar deixa tais legados até a fase adulta.

Não é questão de falta de evidências, é questão são as provas contrárias. Vc está querendo dizer que poderia ter vindo uma salvadora ao invés do Salvador? Que no conselho era pra haverem mulheres se apresentando? E Eva poderia ser a primeira ao invés de Adão? E Jesus, poderia ter chamado 12 mulheres? OU se não pode, desde a existência pre mortal, qual base pra hoje mudar isso? Ou seja, desde a vida pré mortal eram homens, passou todo o tempo homens, e no fim dos tempos mulheres? A incoerência é explicita. A não ser que a mãe celeste comece a se manifestar.

Para este homem, é completamente inconcebível que uma mulher fosse importante o suficiente para ser uma “Salvardora”. Ou uma “Apóstola” (apesar de haver uma no Novo Testamento, que ele obviamente irá ignorar ou fingir que não está escrito o que está escrito).

As mulheres que fazem missão no templo tem autorização para exercer o sacerdócio, mas não o tem, não são portadoras. Isso é necessário para as ordenanças de investidura. Mas não concordo com a ideia de as mulheres receberem o sacerdócio, já temos responsabilidades demais como mães e esposa. Se um dia isso acontecer, torço muito para que os homens menstruem e fiquem grávidos!!

Reduzir as diferenças entre mulheres e homens aos genitais é, talvez, a forma mais crassa de sexismo que há. A mulher não é definida por sua vagina, ou seu útero, ou sua menstruação, ou sua capacidade de engravidar. Uma mulher que nasce com a Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser não tem útero, não menstrua, e nunca engravidará, mas ela não é menos mulher que qualquer outra. E uma mulher que menstrua e engravida não é uma pessoa diferente de um homem que não menstrua e não engravida.

As responsabilidades de mãe e esposa devem ser as mesmas que as responsabilidades de pai e marido. Ambos devem dividir suas responsabilidades domésticas igualmente, e ambos podem servir sua comunidade religiosa igualmente.

…é uma regra o portador do sacerdócio ter que segurar a criança pra dar uma benção?

Procurar esconder o sexismo atrás de regras não o torna inexistente. Se é ou não é uma regra, é irrelevante. Esta é uma pergunta que não deveria sequer ser feita. Uma mulher deveria poder segurar seu bebê ao ser abençoado — ou abençoa-lo ela mesmo.

Em todas as alas que eu passei o terceiro discursante sempre foi um homem e na presidencia da dominical tb sempre vi homens sendo chamados. No meu ramo, nessas duas situações são mulheres.

Costumes, assim como regras, tampouco servem de justificativas racionais para práticas preconceituosas.

O terceiro orador e o presidente da escola dominical podem ser mulheres.

Podem ser mulheres? A forma não misoginista desta formulação seria: “Mulheres podem ser o que elas quiserem ser. Elas podem ser oradoras, presidentes, profetas, matriarcas, apóstolas, etc.”

Mas presidente da Escola Dominical ser mulher???
Alguém pode esclarecer como pode ser uma mulher presidente da escola dominical?

Simples. Elimando o preconceito contra mulheres de servirem em quaisquer capacidades para as quais seus talentos e dons individuais as qualificam enquanto seres humanos.

Em minha estaca anterior as mulheres podiam ser ultimas oradoras, já na minha estaca atual não. Nosso presidente de estaca recebeu instrução do setenta na conferência da estaca, não como regra, mas apenas para, em suas palavras, “seguir o exemplo da primeira presidência”. Por isso a presidência da estaca pediu aos bispados colocarem portadores do sacerdócio como últimos oradores.

E aí está, o principal motivo porque mulheres devem receber o Sacerdócio e servirem em posições de liderança, e como Apóstolas e Profetisas! “[S]eguir o exemplo da [P]rimeira [P]residência” é o maior e mais forte argumento para manter-se o status quo patriarcal e misoginista, e será o maior e mais forte argumento contra o preconceito e a misonigia quando o status quo mudar!

textos com forte teor feminista, assim como o machismo não deve ser aceito em qualquer grupo inclusive o religioso o feminismo e tão pernicioso e capaz de destruir valores quanto o machismo,tem tarefas que sinto dó de ver uma mulher realizar, mas sei que a mesma realiza por falta de oportunidade ou necessidade já fui missionário e sei a dificuldade que o missionário passa no campo, ontem mesmo vi o testemunho de uma síster que falava dos sofrimentos no campo, espirituais e físicos e relembrei como isso se passava comigo que não nasci na igreja e depois de um ano de membro fui para o campo sem saber o que me esperava, e fico pensando como é para as sísteres passar pela dureza do campo sendo elas mas refinadas e sensíveis sei que essas mulheres são super valorosas pois alem de estarem preparando-se para o casamento antes disso saem para dividir aquilo que lhe faz feliz, melhor que palavras ao vento de quem não pode lhe passar uma experiencia como a autora do texto e sentar-se por meia hora e usufruir da companhia de quem já pode viver esses ensinamentos e hoje poder pela experiencia tratar do assunto com verdadeira propriedade.

Feminismo é, por definição de dicionário, o “[m]ovimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem”. A ninguém, exceto ao machista, ofende a noção de mulheres serem tratadas igualmente a homens.

O argumento machista de “proteger” as mulheres por serem “refinadas e sensíveis” nada mais é que uma manifestação velada da ilusão de superioridade — eu sou machista, mas machismo é imoral, e eu me acho uma pessoa moral, então o meu machismo é “do tipo benigno”; eu “protejo”, não discrimino!

Nota-se o machismo inerente no comentário quando o autor procede a ofender uma mulher por ser jovem e solteira, como se essas condições lhe impossibilitassem de compreender sua condição de mulher. Ademais, sugere o autor que a única função de vida significante para uma mulher é ser “casada” com um homem e, portanto, a jovem e solteira deveria se “prepara[r] para o casamento” com um homem para que se complete como ser humano, ao invés de ponderar na sua vida e na sua condição feminina.

Conclusão

É importante salientar que Mórmons não acreditam que estão sendo sexistas enquanto tratam suas mulheres como correligionárias secundárias. Na maioria dos casos, e provavelmente na maioria dos líderes, Mórmons acreditam que estão sendo perfeitamente justos e caridosos com suas mulheres.

Não obstante, o preconceito é real e inegável. Assim  como é real o sofrimento e constrangimento causado por ele. Muda-lo não será tarefa fácil, ou simples, ou rápida. O primeiro passo seria reduzir a dissonância cognitiva aceitando e admitindo sua existência. O segundo passo seria reduzir a superioridade ilusória pedindo desculpas e planejando rectificação. O terceiro passo seria alterar o consciente coletivo incluindo mulheres em status de igualdade (e.g., ordenando-as ao Sacerdócio, chamando-as a posições de liderança como Bispas, Setentas, Apóstolas, etc.). Apenas após estas 3 fases poderíamos começar a curar-nos deste mal e evoluir para um Mormonismo inclusivo, sem sexismo ou misoginia.

Não são esses, afinal, os famosos “passos” para arrependimento que aprendemos nas escolas dominicais? Não precisamos, então, nos arrependermos de nossos pecados coletivos e geracionais contra nossas mulheres?

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Se você começa uma frase com "não sou machista, mas..." você pode ter certeza de que está sendo machista.

Se você começa uma frase com “não sou machista, mas…” você pode ter certeza de que está sendo machista.

14 comentários sobre “Reação Contra Mulheres

  1. Estimado Marcello, saudações!

    Antes de tudo, tenho que expressar que seus artigos são impressionantementes inteligentes, embasados com várias fontes (algo raro em discussões mórmons) e na sua maioria absoluta livre de tendencias, seja para esse ou aquele lado.

    Neste seu longo e valioso artigo, penso que discordo em dois pontos:

    Você afirma que a declaração oficial da Igreja quanto as ao movimento ‘Ordene às Mulheres’ é em curtas palavras, negativa e com algum preconceito inconscientes; Veja, é um assunto extremamente delicado. Estamos falando de mudar uma visão de milênios e até mexer na própria doutrina, por isso tem que se dar um belo desconto, pois a Igreja tem que pensar num âmbito mundial. Acho também que não foi a declaração mais apropriada, mas talvez a menos ruim, diante de algo tão polêmico, mas que deve ser discutido e aprofundado ao máximo.

    Por fim, tenho um ponto a discordar e ao mesmo tempo aceito (por esse meus pouco mais de 18 anos na Igreja), algo que penso profundamente sobre sua conclusão deste artigo: Infelizmente (e peço infinitas desculpas se estou equivocado) é que de um modo geral, a doutrina mórmon involuntariamente acaba sendo uma doutrina de exclusão, seleta demais ao meu ver e então vem uma grande questão: Nosso Pai Celestial faria um plano para perder tantos de seus filhos? Pensemos só um pouquinho; Quantos habitantes já viveram até hoje na Terra? um chute, 50 bilhões aproximadamente (isso por baixo), e hoje temos aproximadamente quase 8 bilhões.

    E quantos conhecem e aceitaram a verdade: pouco mais de 15 milhões em todo mundo; e podemos acrescentar a 3º missão da Igreja, Redimir os Mortos, mais uns 2 bilhões (isso se todos aceitaram as ordenanças).

    Concluindo, temos que aumentar MUITO MESMO a “LUZ” para que nos aproximemos da verdadeira realidade de Nosso Pai Celestial, pois NUNCA aceitarei que Ele seja tão exclusivo e preconceituoso como somos, seja contra mulheres ou qualquer um de nossos semelhantes.

  2. Excelente artigo. Fico muito alegre em ver que também no Brasil há uma geração de membros promovendo Mormon Studies em alto nível. – Doloroso, também, ler algumas das opiniões citadas em seu texto. Mentes colonizadas, submissas. Já dizia o autor do evangelho atribuído a João: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:32)

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