Todd Christofferson: Livro de Mórmon Não Precisa Ser Histórico

O Apóstolo D. Todd Christofferson, querendo celebrar a importância do Livro de Mórmon em um discurso para a Biblioteca Nacional dos Estados Unidos, admitiu abertamente que a crença na historicidade da narrativa do Livro de Mórmon não é fundamental para sua apreciação.

O jantar onde Christofferson discursou faz parte de um projeto sobre livros americanos populares e influentes, através do qual a Biblioteca Nacional realizou pesquisas de opiniões populares de quais livros escritos por autores norte-americanos seriam considerados mais relevantes pelo público norte-americano.

A eclética lista mistura clássicos da literatura americana, como “Of Mice and Men” e “East of Eden” de John Steinbeck, “Slaughterhouse-Five” de Kurt Vonnegut, “Nature” de Ralph Waldo Emerson, “Death of a Salesman” e “The Crucible” de Arthur Miller, “The Old Man and the Sea” de Ernest Hemingway, e “A People’s History of the United States” de Howard Zinn, com romances e novelas populares como “One Flew Over the Cuckoo’s Nest” de Ken Kesey, “The Stand” de Stephen King, “Are You There God? It’s Me, Margaret” de Judy Blume, “Dune” de Frank Herbert, e alguns títulos popularmente atrelados a movimentos ideológicos extremistas, como “The Fountainhead” e “Anthem” de Ayn Rand, e “Capitalism and Freedom” de Milton Friedman. Entre os nomeados, encontra-se o “The Book of Mormon”, de Joseph Smith.

Após uma introdução pessoal oferecida pelo influente Senador Federal e membro da Igreja SUD Orrin Hatch, Christofferson leu seu discurso, incluindo uma breve introdução da narrativa do Livro de Mórmon, e recheado de chavões populares entre mórmons (além de algumas embaraçosas falácias lógicas e discretas distorções históricas), surpreendendo pela sua inclusão da admissão de que a historicidade dessa narrativa não é necessária para apreciar o livro como literatura ou escritura.

“O Livro de Mórmon serve como fonte crítica de inspiração e guia espiritual para os Santos dos Últimos Dias com estórias e mensagens aplicáveis à vida contemporânea. O Livro de Mórmon, contudo, foi drasticamente mal compreendido quando foi inicialmente publicado. Os críticos de Joseph Smith estavam menos preocupados com o conteúdo do livro do que focados no que ele representava. (…) Muitos críticos e apologistas abandonaram discussões sobre a historicidade do Livro de Mórmon e se voltaram à apreciação do texto por suas qualidades literárias. Várias análises literárias do Livro de Mórmon, tanto por acadêmicos SUD como acadêmicos não-SUD, têm sido publicadas nos últimos anos. Há, e continua havendo, leituras literárias do livro em cursos universitários pelo país afora, e essas publicações e esses cursos fazem o que podem para permitir que o texto fala por si só, ao invés de debater sua acurácia histórica ou o relato de Joseph Smith sobre sua tradução. Como o acadêmico [SUD] David Bokovoy disse, você não precisa acreditar nas afirmações históricas para apreciar o Livro de Mórmon como literatura.”

Assista o discurso em sua íntegra aqui:

É interessante notar que Christofferson não resistiu à oportunidade de, enquanto discutia o Livro de Mórmon, recontar a narrativa oficial (e, em grande parte, simplificada e descontextualizada) dos conflitos entre mórmons e missourianos para fazer uma alusão indireta ao apelo da Igreja SUD para não ser criticada por suas políticas de discriminação contra homossexuais:

“Mesmo hoje, no século 21, quando a liberdade religiosa ainda se mantém como o ideal na América, ainda vemos a mesma reação de intolerância e hostilidade contra religião. Como nossos ancestrais pioneiros, e outras comunidades religiosas país afora, continuamos sofrendo com a suspeita e o ressentimento por crenças e práticas. As pessoas cada vez mais questionam o valor da religião na vida pública, esquecendo-se que alguns dos valores morais  fundamentais como honestidade, integridade, amor e respeito por todas as pessoas  são promovidos e passados a gerações futuras de maneira mais eficaz em contextos religiosos. Há esforços para intimidar e envergonhar crentes que mantém valores morais tradicionais e suprimir pontos de vista e práticas religiosas. Então, hoje nós lutamos por liberdade religiosa através de discurso civil, enquanto para os nossos ancestrais do século 19 foi preciso uma migração atravessando o país inteiro.” 

7 comentários sobre “Todd Christofferson: Livro de Mórmon Não Precisa Ser Histórico

Deixe um comentário abaixo:

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.