Família Perseguida, Assediada por Mórmons

Uma família de Mt. Pleasant, em Utah, alega estar sendo perseguida e assediada por membros e líderes da congregação d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em sua região, com visitas domiciliares não aceitas, encontros forçados em lojas, e ameaças formais.

Casal Gay Perseguido

Leisha e Amanda LaCrone são casadas com 5 lindos filhos (veja-os no vídeo abaixo). Ambas nasceram e foram criadas como Mórmons na Igreja SUD, mas não frequentam-na há maisde uma década. Leisha, inclusive, havia sido notificada de haver sido excomungada (à revelia e em sua ausência) há 15 anos.

O que mudou, subitamente?

Tudo começou há algumas semanas quando um funcionário da mercearia que frequenta abordou-a repetidas vezes para lhe dizer que a Igreja precisava entrevistá-la e ter uma conversa séria com ela. Leisha, afastada de quaisquer conexões sociais Mórmons há quase duas décadas, explicou-lhe que não teria interesse em nenhum contato formal ou informal com membros ou líderes de sua Ala.

Em seguida, vários membros SUD se revezaram em ligações para o domicílio da família Lacrone, insistindo em agendar uma entrevista com o Bispo, inicialmente com Leisha, e depois com Amanda também. Bilhetes foram deixados, até que entregaram uma carta oficial notificando-nas de um processo disciplinar formal contra ambas.

A carta explicava, em parte, que elas estavam sendo convocadas ao famoso “tribunal do amor” por “relat[os] de condutas impróprias para um membro da Igreja”.

Constrangidas e confusas, considerando que sequer frequentam a Igreja há mais de década, e suspeitando que a única “conduta imprópria” possível fosse o seu casamento estável e a sua amorosa e dedicada família com 5 crianças, elas postaram a carta no Facebook. A postagem viralizou tanto que muitas pessoas começaram a ligar para pressionar e questionar o referido Bispo.

“Nós certamente não queremos que pessoas sejam assediadas. Isso não foi a nossa intenção, e nos sentimos mal com isso… Apenas gostaríamos que nos deixassem em paz.” — Amanda Lacrone

O que mudou, subitamente?

No começo de novembro de 2015, a Igreja SUD determinou uma clara mudança em política oficial, determinando que a posição da Igreja deva discriminar contra crianças em famílias LGBT, e contra jovens SUD de orientação LGBT. Após a mudança ter vazado para o público a contragosto da liderança, e apesar da resposta oficial da Igreja alterando e levemente suavizando a nova política, milhares de membros da Igreja SUD saíram em protesto e resignaram em massa. Não obstante, o Apóstolo sênior Russell Nelson recentemente mudou a narrativa da nova política, declarando que ela havia sido ordenada por Deus desde o início.

Estariam  líderes locais sendo instruídos para ir atrás dessa famílias LGBT, mesmo as afastadas, para persegui-los, assedia-los, e humilhá-los publicamente?

Durante todos esses meses de protestos e publicidade negativa, os jovens afetados diretamente passaram a sofrer com suas próprias batalhas pessoais.  Nos últimos 3 meses, 34 jovens Mórmons entre 14 e 20 anos de idade cometeram suicídio com sucesso. Esse número representa um aumento importante na taxa de suicídios entre jovens SUD, especialmente considerando que não incluem tentativas mal sucedidas e mortes traumáticas autoinflingidas. Familiares e analistas apontam a nova política homofóbica da Igreja SUD como causa próxima desse aumento na taxa de suicídios.

Wendy Williams Montgomery, membro da Igreja SUD no Arizona com um filho homossexual, e uma das líderes do grupo de apoio para famílias Mórmons com membros LGBT, reconta como passou a contabilizar os relatos de suicídios de jovens SUD, sofrendo por causa de sua orientação sexual, que vieram parar no grupo. Desde a descoberta do arrefecimento da homofobia institucional há menos de três meses, 34 jovens se mataram, sendo 28 deles apenas no estado de Utah. A título de comparação, a média anual de suicídios no estado de Utah é de 37 casos.

E estes são apenas os casos documentados, que provavelmente representam uma subestimação do total de tentativas ou suicídios entre Mórmons LGBT. Em entrevista ao jornal The Salt Lake Tribune, a diretora do Utah Pride Center, Marian Edmonds-Allen, explica que “não existem compilações adequadas” em casos de óbitos violentos pois há “uma enorme vergonha e estigma com relação a suicídio e depressão na nossa comunidade”, levando familiares a esconderem informações pertinentes de investigadores. “Uma morte em trânsito ou uma overdose seria acidental ou suicídio?”, questiona Allen. Sua experiência como voluntária no Utah Commission on LGBT Suicide Awareness and Prevention também lhe confirma a prevalente impressão que nem familiares das vítimas, nem autoridades governamentais, e nem líderes eclesiásticos demonstram desejo de contabilizar dados confiáveis e abrangentes.

Mitch Mayne, membro ativo da Igreja SUD que até recentemente servia no Bispado em sua ala na Califórnia, perfeitamente descreveu em sua coluna o conflito gerado entre a Igreja e seus membros LGBT e suas famílias:

Antes da nova política, qualquer decisão a favor ou contra a disciplina da Igreja para um membro LGBT era deixada aos líderes locais, e havia uma maré consistente de boas-vindas varrendo a cultura mórmon. Congregações de Seattle a Boston começaram a imitar o que foi iniciado na região da baía de San Francisco em 2011, onde todos eram bem-vindos – incluindo membros LGBT casados com cônjuges de seu próprio gênero. Segundo esta abordagem, a juventude LGBT Mórmon tinha pelo menos uma vaga idéia de esperança de que, se eles não fossem capazes de aderir a uma norma rígida do celibato ao longo da vida e acabassem com alguém que realmente amam, eles ainda poderiam encontrar uma congregação que estenderia a eles a mão do amor cristão e inclusão.

Mas agora tudo isso mudou. Hoje, a mensagem para a juventude LGBT Mórmon é clara, e é uma Escolha de Sofia sombria: Ou resignar-se a uma vida de celibato forçado, ou ser ejetado de sua igreja e família – para todo o tempo e eternidade. Independentemente de qual opção escolha a juventude Mórmon, eles perdem.

Não deveria ser nenhuma surpresa, então, quando a depressão e as tentativas de suicídio aumentam entre as crianças mórmons gays. Também não deve ser uma surpresa quando mais jovens LGBT se vêem marginalizados ou rejeitados por seus pais sinceramente religiosos, que agora se sentem mais compelidos do que nunca a escolher entre seu filho e sua igreja.

Enquanto caridade, bondade, amor e preocupação dizem estar por trás da nova política, é bastante claro que muitos membros ativos da Igreja, gays e heterossexuais, vêem o que ela realmente é: uma nova rejeição descarada dos membros LGBT. E a pesquisa baseada em evidências feito pelo Projeto Aceitação Familiar nos diz que as crianças que experimentam altos níveis de rejeição têm:

• Mais de 8 vezes maior probabilidade de tentar suicídio;
• Quase 6 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de depressão;
• Mais de 3 vezes mais propensos a usar drogas ilegais;
• Mais de 3 vezes mais probabilidade de ser de alto risco para HIV e DSTs.

Crianças mórmons não estão imunes à ciência… Uma das frases mais repetidas frequentemente usadas para defender a nova política é que ele está sendo promulgada para proteger as crianças. A maioria das pessoas, incluindo multidões de Santos dos Últimos Dias ativos devotos, simplesmente não estão acreditando nessa defesa.

Mayne estava, obviamente, falando sobre o sofrimento de jovens e famílias ativas em suas comunidades SUD. Veremos uma nova tendência de sofrimento e constrangimento entre jovens e famílias inativas ou afastadas de suas comunidades SUD?


Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.

Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.

Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.

Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazemento aqui.

Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.

Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.

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