Ontem, durante a segunda sessão da 186a Conferência Geral Semi-Anual d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos, membros da Igreja gritaram votos em oposição ao Presidente Thomas S. Monson, à Primeira Presidência e aos Doze Apóstolos pela terceira vez em dois anos.

Pelo menos 7 membros ativos da Igreja levantaram-se para votar contra Thomas Monson como Presidente da Igreja, em abril de 2015.
Henry Eyring ignorou, como Dieter Uchtdorf havia feito na última conferência há seis meses, os votos dos membros da Igreja em dissensão aos chamados dos Profetas e Apóstolos. Eyring, visivelmente irritado, encurtava a oportunidade para o(s) membro(s) que estava(m) gritando “oposto” ao alongar demais ou reduzir a pausa para que se manifestassem. Ao final do voto de apoios, simplesmente declarou os votos “anotados” e “convidou”:
“Convidamos aqueles que possam ter votado em oposição a quaisquer das propostas que entrem em contato com seus presidentes de estaca.”
Assista um clipe do ocorrido aqui:
Não apenas Eyring não reconhece se houve mesmo votos em oposição (“… aqueles que possam ter votado…”) apesar de obviedade do fato, mas ele propõe ignorá-los aos dispensá-los de quaisquer considerações em âmbito apostólico ou profético, mandando-os aos seus líderes locais, presumidamente para serem disciplinados por seus presidentes de estaca.
Sempre Foi Assim?
Em Conferência Geral da Igreja em outubro de 1843, Joseph Smith propôs a desobrigação do Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência Sidney Rigdon, para ser substituído presumidamente por seu irmão Hyrum Smith. A Igreja, congregada em conferência, votou contra a proposta do Profeta, que foi obrigado a manter Rigdon em seu chamado, embora a contra-gosto.
“Eu o atirei dos meus ombros e vocês o colocaram lá de volta sobre mim. Vocês podem carregá-lo, mas eu não o farei.”
— Joseph Smith
(reagindo porém aceitando o voto contrário em conferência)
Os Que Se Opõe, Manifesteram-se
No ano passado também houve gritaria em oposição nos votos para a Primeira Presidência e para os Apóstolos, mas a câmera não mostrou nada além de algumas pessoas virando-se rapidamente para trás para tentar ver quem gritava! Sim, pois os que se organizaram para votar em contrário sabiam que as câmeras não iriam notá-los se não gritassem o seu voto!
Assista um clipe do ocorrido aqui:
Depois que todos os votos e desobrigações terminaram, o Presidente Dieter Uchtdorf proclamou:
“Presidente Monson, os votos foram contabilizados. Convidamos todos que se opuseram para contactar seus Presidentes de Estaca.”
Tal qual Eyring ontem, Uchtdorf simplesmente ignorou os votos contrários. Ao final de todos os apoios, e ostensivamente a mando de Thomas Monson, Uchtdorf se levantou novamente para reconhecer o fato ocorrido e oferecer o mesmo conselho do ano passado:
“Presidente Monson me pediu para… ahn… mencionar que… ahn… desde que alguns notas… votos contrários foram notados… ahn… convidamos aqueles… ahn… com votos em oposição para… ahn… contactar seus Presidentes de Estaca para… maiores perguntas ou respostas. Obrigado.”
Um mês antes nós havíamos anunciado sobre esse movimento que planejava protestar a falta de transparência e abertura por parte da liderança da Igreja, muito semelhante às pressões soviéticas por perestroika e glasnost nos anos 1980. Don Braegger, um dos pelo menos 7 membros ativos da Igreja a votar contra Thomas Monson como Presidente da Igreja, deu entrevista dizendo que, entre as preocupações do grupo, estão as campanhas antigay e a homofobia na Igreja, a falta de espaço para mulheres desenvolverem maior participação na Igreja, e as excomunhões de intelectuais Kate Kelly e John Dehlin.
Isso não é um fato inusitado. Em outubro de 1977, Byron Marchant insistiu vocal e educamente para ter seu voto contrário notado pelo Presidente Eldon Tanner. Ele protestava a política racista de exclusão de negros. Em abril de 1978, Tanner explicou que Marchant havia tido a oportunidade de explicar a uma das Autoridades Gerais as suas preocupações.
Em outubro de 1980, três mulheres também gritaram para ter seus votos contrários notados pelo Presidente Marion Romney. Elas protestavam o envolvimento político da Igreja SUD contra a Emenda Constitucional de Direitos Iguais (ERA), que serviria para proteger os direitos civis das mulheres (a Igreja havia publicado sua posição oficial contra a emenda constitucional porque mulheres deveriam ser donas-de-casa, e porque gays!). O Apóstolo Bruce McConkie se levanta para ajudar o idoso e enfermo Romney, e promete às irmãs uma reunião com o Apóstolo Gordon Hinckley.
Há dois anos atrás, Braegger e demais correligionários tiveram que se contentar a conversar com seus Presidentes de Estaca. Há 30 anos atrás, tais votos mereciam ao menos audiência com um Apóstolo.
E é interessante notar que, 3 dos 4 episódios de membros da Igreja votando contra o Profeta nos últimos 40 anos, todos envolveram queixas da maus-tratos e discriminação institucional contra minorias (i.e., negros, mulheres, e gays). Ainda não se sabe a motivação dos votos contrários de ontem, mas é inteiramente possível que tenha a ver com a questão mais divisiva na Igreja pelos últimos cinco meses.
Se é para ignorar os votos em oposição, para que perguntar? Se é para ignorar a tradição estabelecida por Joseph Smith para permitir voto de dissensão, para que mantê-la?
Assista aqui voto de dissensão na conferência geral de abril de 2015 da perspectiva dos membros votando:
Assista aqui Uchtdorf reconhecendo os votos em oposição na conferência de abril de 2016 (votos no minuto 7m55s) e reação de Uchtdorf no minuto 21m30s):
O voto é um pedido de apoio, não se trata de uma eleição, nenhum líder da Igreja é eleito pelos membros, trata-se de um chamado feito pelo Senhor, este apoio não acontece somente entre os membros que estão presentes no tabernáculo, mas de todos os membros espalhados pelo mundo, independente de onde assistam a conferencia, até mesmo em suas residencias pela internet,
“Muito simples. Quem é contra, abandone a Igreja. Se o cara vai lá votar contra, dá uma força e excomunga logo ele. Aí ele perde o direito de votar e passa a ser unanimi (sic).
Não é bem assim. O voto de apoio é um componente democrático incorporado à doutrina mormon: em princípio os membros tem o livre arbítrio de acatar uma revelação ou não, de apoiar um líder ou não.