Seminário Mórmon Troca Escrituras por Catequese

Os seminários da Igreja Mórmon, destinados a alunos adolescentes, estarão trocando em 2017 o uso das escrituras sagradas por catequese oficial para o aprendizado religioso dos jovens mórmons.

Estudantes Sala de Aula

O anúncio foi feito pelo Apóstolo d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Russell Ballard, durante a transmissão online de uma devocional para jovens. Ballard explica como a preocupação da liderança da Igreja com o acesso que os seus jovens membros têm à informação sobre história motivou essa mudança:

“Era apenas uma geração atrás quando o acesso dos nossos jovens à informação sobre a nossa história, doutrina e práticas estava basicamente limitada a materiais impressos pela Igreja. Poucos estudantes entravam em contato com interpretações alternativas. Na maior parte, os nossos jovens viviam uma vida protegida.”

“Os alunos [de hoje] têm acesso instantâneo a praticamente tudo sobre a Igreja de todos os pontos de vista possíveis. Hoje o que vêem em seus dispositivos móveis é provável que seja tanto quanto desafiador-de-fé, quanto promovedor-de-fé.”

A nova catequese mórmon consistirá de 10 pontos doutrinais centrais — 9 dos quais vêm do currículo para jovens já existente entitulado “Vem, e Segue-me“.  Os 10 pontos serão:

  1. Como adquirir conhecimento espiritual;
  2. A Trindade;
  3. O plano de salvação;
  4. A Expiação de Jesus Cristo;
  5. A Restauração;
  6. Profetas;
  7. O sacerdócio e as chaves do sacerdócio;
  8. Ordenanças e convênios;
  9. O casamento e a família;
  10. Os mandamentos.

Esses 10 temas ainda manterão o foco em três princípios básicos, a saber:

  1. Agir com fé;
  2. Examinar conceitos e perguntas com uma perspectiva eterna;
  3. Buscar maior entendimento através das fontes divinamente designadas.

A meta desse novo programa é doutrinar e condicionar (i.e., fazer lavagem cerebral) os jovens da Igreja SUD a nunca questionar a liderança da Igreja e não aprender a desenvolver pensamento crítico e independente, como admite o Diretor Geral de Seminários e Instituto de Religião Chad Webb:

“[Esse programa] tem mais a ver com como você pensa sobre a informação e como você recorre a fontes confiáveis, e como você formula perguntas sob um prisma do evangelho ao invés de sob o prisma do mundo.”

O “prisma do mundo” diz respeito a metodologia acadêmica, honestidade intelectual, pensamento crítico e independente, e raciocínio lógico. A Igreja vem se opondo a esse “prisma do mundo” há algumas décadas, como o recém-falecido Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos Boyd Packer deixou claro repetidas vezes. De acordo com ele, por exemplo, historiadores devem ser censurados por publicar fatos verídicos, e verdades históricas devem ser suprimidas em nome da fé, além de nomear  intelectuais e acadêmicos como inimigos da Igreja.

Essa catequese substituirá o programa de decorar escrituras que encorajava os jovens a decorar 25 passagens (há duas décadas eram 40!) anualmente de cada livro das escrituras para facilitar e promover uma familiarização dos jovens com as obras padrões que compõe o cânone sagrado. Agora, ao invés de memorizar passagens bíblicas, por exemplo, jovens SUD serão catequizados a não ler nada que não seja publicado pela Igreja e a ter respostas prontas a possíveis dúvidas que encontrarão ao navegar suas vidas digitais.

E fugir de leituras não autorizadas:

“É a nossa esperança que os alunos tragam suas perguntas para a aula e os professores ensinem os alunos em um ambiente de fé com alguém que possam confiar ao invés de pensarem: ‘Bem, ninguém quer responder a minha pergunta, então eu vou procurar na internet’.”

O treinamemento para os professores começará no dia 14 f.p., com uma transmissão de introdução geral, seguido de treinamentos adicionais mundo afora pelos próximos meses em preparação para o ano letivo de 2017.

O que vocês acham? A cataquese terá um impacto positivo na qualidade intelectual e religiosa dos jovens? O programa fará alguma diferença no crescente problema de evasão de jovens e adultos jovens? Mórmons são notoriamente ignorantes das escrituras, especialmente da Bíblia. Agravará esse programa a falta de familiaridade dos jovens SUD com a “Palavra do Senhor”?


ADENDO

Como alguns leitores demonstraram dificuldades para compreender o conceito de condicionamento mental ou “lavagem cerebral”, mencionaremos uma breve introdução explonatória, com a plena admissão de que o assunto merece uma exploração mais aprofundada.

A definição básica de dicionário é:

1: A doutrinação forçada para induzir alguém a desistir de crenças e atitudes políticas, sociais ou religiosas básicas e aceitar idéias arregimentados contrastantes.

2: Persuasão através de propaganda ou técnicas de vendas.

Uma introdução explicada pela psicologia moderna:

Na psicologia, o estudo de lavagem cerebral, muitas vezes referido como reforma do pensamento, cai na esfera da “influência social”. A influência social acontece a cada minuto de cada dia. É a coleção de formas através das quais as pessoas podem mudar as atitudes, crenças e comportamentos de outras pessoas. Por exemplo, o método de submissão pretende produzir uma mudança no comportamento de uma pessoa e não está preocupado com suas atitudes ou crenças. É a abordagem “Apenas faça-o”. Persuasão, por outro lado, aponta para uma mudança de atitude, ou “Faça-o porque isso vai fazer você se sentir bem ou ser mais feliz/saudável/bem-sucedido.” O método de educação (o que é chamado de “método de propaganda” quando você não acredita no que está sendo ensinado) vai para o ouro em têrmos de influência social, tentando afetar uma mudança nas crenças da pessoa, ao longo das linhas de “Faça-o porque você sabe que é a coisa certa a se fazer.” A lavagem cerebral é uma forma grave de influência social que combina todas essas abordagens para causar mudanças na maneira de pensar de uma pessoa sem o consentimento da pessoa e muitas vezes contra a sua vontade.

No têrmos mais pertinentes a cultos e doutrinação de cultos:

Doutrinação no Culto

Uma seita destrutiva utiliza inúmeras técnicas para fazer com que seus membros permaneçam, comprometendo-se e tomando parte no que podem ser atividades nocivas. A soma destas técnicas constitui o que algumas pessoas chamam de “controle da mente.” É também conhecida como “reforma do pensamento”, “lavagem cerebral” e “persuasão coercitiva”, e envolve a quebra sistemática do senso de individualidade de uma pessoa.

Reforma do pensamento é um termo genérico para qualquer número de técnicas de manipulação usadas para levar as pessoas a fazerem algo que não fariam de outra maneira. O próprio conceito de reforma do pensamento é controversa – alguns dizem que é mera propaganda projetada para assustar as pessoas a ficarem longe de novas religiões e movimentos políticos. Mas a maioria dos psicólogos acredita que as técnicas de lavagem cerebral em cultos [ou seitas], que são similares às técnicas utilizadas nos interrogatórios de prisioneiros, realmente mudam os processos de pensamento de uma pessoa. No recrutamento de culto e na doutrinação, estas técnicas incluem:

Decepção – Cultos enganam os novos recrutas a se juntarem ao grupo e comprometerem-se a uma causa ou estilo de vida que eles ainda não entendem plenamente.

Cultos enganam os novos recrutas/membros quanto às verdadeiras expectativas e atividades do grupo. Cultos pode esconder quaisquer sinais de práticas ilegais, imorais ou hiper-controladores até o recruta estar totalmente imerso no grupo. Um líder da seita pode utilizar a consciência alterada dos membros, induzida por atividades como meditação [ou oração], cantar [de músicas ou hinos] ou uso de drogas [ou jejum], para aumentar a vulnerabilidade à sugestão.

Isolamento – Cultos cortam membros do mundo exterior (e mesmo entre si) para produzir introspecção intensa, confusão, perda de perspectiva e uma sensação distorcida da realidade. Os membros do culto se tornam o único mecanismo de contato e feedback social da pessoa. Cultos podem proibir novos recrutas de falarem uns com outros entre os novos recrutas. Eles podem ser autorizados a falar apenas com os membros de longa data por um período de tempo.

Cultos podem não permitir o contato não supervisionado com o “mundo exterior”. Desta forma, não há nenhuma chance para uma “verificação da realidade” ou validação das preocupações de um novo membro em relação ao grupo.
Cultos tipicamente buscam incutir a crença de que “forasteiros” (não-membros do culto) são perigosos e errados.

Dependência Induzida – Seitas exigem absoluta e inquestionável devoção, lealdade e submissão. O sentido de um membro do culto de individualidade é sistematicamente destruído. Em última análise, sentimentos de inutilidade e “iniquidade” se tornam associados com independência e pensamento crítico, e os sentimentos de carinho e amor tornam-se associadas à submissão inquestionável.

O líder normalmente controla cada minuto de tempo de vigília de um membro. Não há tempo livre para pensar ou analisar.
Os membros são ditos o que comer, o que vestir, como alimentar seus filhos, quando dormir … o membro é removido de todas as tomadas de decisão. Quaisquer talentos especiais do membro são imediatamente desvalorizados e criticados a fim de confundir a sensação do membro da auto-estima.

Quaisquer dúvidas, assertividade ou laços remanescentes com o mundo exterior são punidos pelo grupo através de crítica, culpa e alienação. Perguntas e dúvidas são sistematicamente “explicadas” para que o cético se sinta mal e sem valor, “iníquo”, apenas por perguntar. O membro é amado novamente quando renuncia a essas dúvidas e se submete à vontade do líder.

O membro pode ser pressionado a confessar publicamente pecados, depois que ele é cruelmente ridicularizado pelo grupo por ser o iníquo e indigno. Ele é amado novamente quando ele reconhece que sua devoção ao culto é a única coisa que vai trazer-lhe a salvação.

Ansiedade – Uma vez que a completa dependência é estabelecida, o membro deve manter-se nas boas graças do líder ou então a sua vida desmorona.

O líder pode punir a dúvida ou insubordinação com trauma físico ou emocional. Uma vez que todos os laços com o mundo exterior foram cortados, o membro se sente como sua única família é o grupo, e que ele não tem mais para onde ir.

Acesso às necessidades depende das graças do líder. O membro deve “se comportar” ou ele pode não obter alimentos, água, interação social ou proteção do mundo exterior.

O membro pode acreditar que só os membros do grupo estarão “salvos”, por isso, se ele sai, ele terá de enfrentar condenação eterna. Doutrinação ou reforma do pensamento, é um longo processo que nunca termina.

Os membros são continuamente submetidos a estas técnicas – é parte da vida diária em um culto. Alguns se ajustam bem a isso depois de um período de tempo, abraçando seu novo papel como “membro do grupo” e deixando de lado seu antigo senso de independência. Para outros, é uma existência perpetuamente estressante.

Em última análise, a repetição de dogmas, sem quaisquer possibilidade de análise crítica ou ferramentas intelectuais de razão ou lógica, que devem obrigatoriamente ser acreditas pelo coletivo para permitir ao indivíduo permanença e aceitação social dentro do grupo constitui inequivocadamente em condicionamento mental ou lavagem cerebral.

Dito isso, admitimos estar plenamente cientes da necessidade de explorar um assunto tão complexo mais a fundo. Não obstante, os artigos incluídos nos links acima [ou estes aqui, aqui, e aqui] oferecem boas introduções mais elaboradas e aprofundadas.

14 comentários sobre “Seminário Mórmon Troca Escrituras por Catequese

  1. Uma correção: O nome do Diretor Geral dos Seminários e Institutos é Chad Webb. É difícil para mim ver como isso terá um impacto positivo na qualidade intelectual e religiosa dos jovens. Acredito que o programa não fará diferença no crescente problema de evasão de jovens e adultos jovens. Acredito que isso possa distanciar eles um pouco mais das escrituras que comumente já é difícil estudarem.

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