5 Jovens Mórmons Mortos em 1 Semana

Cinco adolescentes em Utah cometeram suicídio apenas nesta semana.

Quatro destes foram publicamente confirmados como jovens membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, e as famílias de alguns deles ainda pedem sigilo sobre os detalhes de sua morte.

Todos esses jovens eram LGBT. Notícias das mortes desses jovens está causando muito pesar e alvoroço nas mídias sociais entre mórmons e a comunidade LGBT de Utah.

Wyatt Jeffrey Bateman estaria completando 18 anos e 3 meses de vida ontem. Além de exímio pianista e entusiasta de esportes aquáticos, Bateman era um aluno com currículo escolar impecável.

Stockton Powers, conhecido pelo apelido “Bubba”, estaria completando 17 anos e 2 meses de vida na semana que vem. Músico, chef, e entusiasta de snowboarding, Powers era um Escoteiro dedicado.

Todos os demais recém-falecidos encontravam-se nessa faixa etária. Continuaremos aguardando autorização das respectivas famílias para divulgar os nomes e fotos dessas trágicas e precoces vítimas, torcendo para que não haja mais.

É natural que algumas dessas famílias sintam-se constrangidas em comentar publicamente as circunstâncias do falecimento de seus filhos. Ainda há um forte estigma, tanto na comunidade mórmon como na cultura ocidental geral, atrelado ao suicídio. E dentro da comunidade mórmon há também um estigma ainda maior (e oficial) a pessoas e familiares LGBT.

Esperamos que uma discussão pública dessas tragédias reduza esses estigmas e nos leve, enquanto comunidade, a uma aceitação maior, e um diálogo mais caridoso, sobre os problemas de saúde mental que afligem nossos jovens mórmons LGBT.

Trata-se de um problema grave e alarmente. Recentemente, publicamos artigo sobre um novo estudo demonstrando que a taxa de suicídio entre jovens adultos e adolescentes no estado de Utah dobrou de 2008 ao presente.

“Temos melhorado em algumas das razões por que as crianças morrem, mas em termos de taxas de suicídio, temos quase duplicado desde 2008. Então esse é o grande problema grande que nós estamos vendo. [A]s razões para isso são muitas, mas a juventude LGBT, em particular, é bombardeada com mensagens prejudiciais que … podem ser agravadas pelos meios de comunicação social. É como uma tempestade perfeita para o que está acontecendo com a nossa juventude frágil que, você sabe, tem alguns problemas e eles não estão recebendo os serviços de que necessitam para cuidarem deles.”

2008 foi o ano quando a retórica antigay da Igreja SUD se intensificou publicamente, possivelmente levando a esse aumento súbito em suicídios entre jovens LGBT. [Leia detalhes aqui]

Alguns meses antes publicamos outro artigo sobre um excelente estudo estatístico, cruzando dados de suicídios de jovens adolescentes levantados pela agência gorvenamental Center for Disease Control entre 2009 e 2014 com dados populacionais religiosos produzidos pelo  Relatório Pew de Censo Religioso de 2014, demonstrando a mesma tendência. [Leia detalhes aqui]

Notícias sobre uma onda de suicídios entre jovens mórmons já circulavam nos últimos cinco meses, desde o arrefecimento das políticas de discriminação contra membros e famílias LGBT pela Igreja SUD.  [Leia detalhes aqui]

Assim como a retórica anti-gay da Igreja SUD em 2008 coincide com um aumento na taxa de suicídio entre jovens SUD, essa clara mudança em política oficial em novembro de 2015, determinando que a posição da Igreja deva discriminar contra crianças em famílias LGBT e contra jovens SUD de orientação LGBT, também coincide com um aumento ainda maior em suicídios de adolescentes mórmons.

A psicóloga SUD Lisa Tensmeyer Hansen, atuante na cidade de Provo, Utah, nega conhecer pessoalmente vítimas de suicídio relacionado à nova política da Igreja, porém ela está bem familiarizada com os desafios pelos quais esses jovens passam para conciliar sua orientação, sua fé, e a persistente discriminação cultural e institucional em suas vidas.

“[Eu tenho observado] um aumento em ideações suicidas, em depressão, e ansiedade… Na minha experiência com casos específicos, tenho notado que quanto mais uma pessoa LGBTQ demonstra interesse em permanecer ativa na Igreja ou ligada a ela, tanto maior o processo emocional negativo resultante dessa mudança de política… [Conheço vários casos de membros ativos] que sentem que atingiram um limite além do qual não podem mais maleabilizar-se e desistem por completo de tentar participar [da comunidade]. Também conheço aqueles que estão… lutando com aprofundamento na depressão e perda de esperança.”

Uma mãe da cidade de Riverton, Utah, desabafa como seu filho, SUD ativo, havia se matado no começo do ano. O rapaz de 22 anos de idade morava com seu pai SUD devoto quando a política tornou-se pública. Relata a mãe:

“Seu pai não sabia que ele era gay, e ele [o filho] estava com vergonha. Mas ele estava discutindo com o pai dele que o que a igreja estava fazendo era errado.”

O estresse, o desespero, a depressão, e a profunda rejeição tanto da Igreja como de seu próprio pai partiram o jovem rapaz. Subitamente, o pai retorna para casa do trabalho apenas para encontrar que seu filho havia tirado a própria vida.

“A política da igreja divide famílias… e isso repercutirá através de gerações.”

Um grupo de alunos e professores da BYU, a universidade da Igreja SUD, dedicado a apoiar alunos LGBT demonstra preocupação com essa recente tendência:

O risco de suicídio é uma realidade séria e complexa que muitas pessoas LGBTQ/AMS enfrentam. Em geral, os jovens LGBT que são fortemente rejeitados são 8 vezes mais propensos a tentar o suicídio… Infelizmente, os alunos da BYU não são exceção a estes riscos. Uma pesquisa de estudantes LGBTQ/AMS na BYU de 2012 revelou que 74% deles tinha pensado em suicídio, enquanto 24% já tinham tentado suicídio. No último ano, houve pelo menos cinco tentativas de suicídio confirmadas, nenhum dos quais, felizmente, foi fatal.

Em seu site, eles publicaram os relatos pessoais de 4 desses alunos que tentaram se matar por causa da depressão, do ostracismo, da discriminação, e da sensação de desamparo e profunda alienação no meio mórmon. Além disso, divulgam telefones e chats para auxílio emergencial, e vídeos de uma campanha destinada a criar uma sensação de comunidade e oferecer esperança para um futuro melhor e menos opressivo.

Mitch Mayne, membro ativo da Igreja SUD que até recentemente servia no Bispado em sua ala na Califórnia, perfeitamente descreveu em sua coluna o conflito gerado entre a Igreja e seus membros LGBT e suas famílias:

Antes da nova política, qualquer decisão a favor ou contra a disciplina da Igreja para um membro LGBT era deixada aos líderes locais, e havia uma maré consistente de boas-vindas varrendo a cultura mórmon. Congregações de Seattle a Boston começaram a imitar o que foi iniciado na região da baía de San Francisco em 2011, onde todos eram bem-vindos – incluindo membros LGBT casados com cônjuges de seu próprio gênero. Segundo esta abordagem, a juventude LGBT Mórmon tinha pelo menos uma vaga idéia de esperança de que, se eles não fossem capazes de aderir a uma norma rígida do celibato ao longo da vida e acabassem com alguém que realmente amam, eles ainda poderiam encontrar uma congregação que estenderia a eles a mão do amor cristão e inclusão.

Mas agora tudo isso mudou. Hoje, a mensagem para a juventude LGBT Mórmon é clara, e é uma Escolha de Sofia sombria: Ou resignar-se a uma vida de celibato forçado, ou ser ejetado de sua igreja e família – para todo o tempo e eternidade. Independentemente de qual opção escolha a juventude mórmon, eles perdem.

Não deveria ser nenhuma surpresa, então, quando a depressão e as tentativas de suicídio aumentam entre as crianças mórmons gays. Também não deve ser uma surpresa quando mais jovens LGBT se vêem marginalizados ou rejeitados por seus pais sinceramente religiosos, que agora se sentem mais compelidos do que nunca a escolher entre seu filho e sua igreja.

Enquanto caridade, bondade, amor e preocupação dizem estar por trás da nova política, é bastante claro que muitos membros ativos da Igreja, gays e heterossexuais, vêem o que ela realmente é: uma nova rejeição descarada dos membros LGBT. E a pesquisa baseada em evidências feito pelo Projeto Aceitação Familiar nos diz que as crianças que experimentam altos níveis de rejeição têm:

• Mais de 8 vezes maior probabilidade de tentar suicídio;
• Quase 6 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de depressão;
• Mais de 3 vezes mais propensos a usar drogas ilegais;
• Mais de 3 vezes mais probabilidade de ser de alto risco para HIV e DSTs.

Crianças mórmons não estão imunes à ciência… Uma das frases mais repetidas frequentemente usadas para defender a nova política é que ele está sendo promulgada para proteger as crianças. A maioria das pessoas, incluindo multidões de Santos dos Últimos Dias ativos devotos, simplesmente não estão acreditando nessa defesa.

Obviamente há uma crise de saúde mental entre jovens membros da Igreja, provavelmente resultante de políticas públicas exclusionárias e discriminatórias. Quais atitudes a Igreja poderia tomar para reduzir ou aliviar essa epidemia? E, enquanto e mesmo se a Igreja não fizer nada, o que podem seus membros fazer para proteger e salvar as vidas desses jovens?


Baixe estudo analisando taxa de suicídios em populações mórmons aqui.

Baixe estudo analisando taxa de suicídios entre jovens SUD LGBT aqui.

Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.

Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.

Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.

Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazemento aqui.

Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.

Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.


ATUALIZAÇÃO: O quinto jovem mencionado no artigo acima foi confirmado como membro da Igreja SUD.

39 comentários sobre “5 Jovens Mórmons Mortos em 1 Semana

  1. Sinto muito pesar pelas familias que perderam seus entes queridos dessa forma,mas foi escolha dos próprios jovens seguirem este caminho,por que digo isto?porque tive um jovem que era homossexual,porem com a ajuda da igreja o mesmo escolheu o certo e hj é casado e tem uma familia linda.a igreja não faz pressão,nesses casos que deve tem feito uma pressão e não ensinado da forma correta foram os lideres nas alas.a igreja não tem nada a ver com o fato de alguns lideres faltarem com essa responsabilidade de ensinar com amor a todos.grato

      • Sim, eu não escolhi ser gay, mas eu fui pensando: por que sou assim, o que eu devo fazer para suportar este fardo? Eu não conhecia nenhuma igreja, mas eu pensava: que vergonha ser assim. Daí eu concluía: bom, sinto atração por homens mas não quero contar pra ninguém que sinto atração, vou viver em paz e não me importarei com as críticas alheias. E fui vivendo dia após dia cometendo muitos erros, até que conheci a Igreja, e depois fui sofrendo cada vez mais até me libertar do medo das críticas. E então decidi orar o dia todo, todos os dias para compreender a graça de Deus. Realmente descobri que a oração de cada dia me dava força. Eu contei pra alguns líderes da Igreja e muitos deles só me exortaram a orar e jejuar. E fui aprendendo cada vez mais a não me importar com as críticas. Hoje vivo sozinho mas também não quero ficar triste por isso, pois no mundo há pessoas em piores condições de vida do que a minha vida. Eu escolhi ser feliz apesar de tudo. Os pensamentos deprimentes podem ser vencidos pela oração a Deus.

    • Thiago,

      mesmo que eu tenha me afastado da Igreja, minha orientação sexual parece ser um assunto que ainda chama atenção dos membros da Igreja. Eu parei de prestar atenção nos membros, mas quem está se sentindo pressionada ultimamente é a minha mãe, que ainda é ativa na Igreja. Várias vezes brigamos porque todo mundo está falando que eu sou gay e que ela sente vergonha disso. Então, ela me pede para que eu me afaste de meus amigos, que eu pare de conversar com outros homossexuais, etc, porque, embora já tenham dito para ela que eu sou, ela não aceita que eu seja gay.

      Eu queria que a Igreja adotasse a postura de “esqueçam os homossexuais. Se eles não querem viver os padrões da Igreja, que cada um viva como quiser”. Contudo, a Igreja tem adotado a postura de “eles querem destruir a família imposta por Deus. Precisamos combatê-los em nome das famílias!”. Minha mãe acha que eu sou um inimigo. Você não tem ideia de como é constrangedor que minha própria mãe me enxergue desse jeito. Em vez da Igreja acalmar os ânimos, ela alvoroça ainda mais ou membros.

      A atitude da Igreja com relação aos LGBTs é digna de crítica, sim.

  2. É um problema em toda a nossa sociedade e não somente na igreja. Diante dos números expostos no site abaixo vejo que os mormons, católicos, e etc…mais os europeus, norte americanos e todos os latinos, e demais povos de toda a terra, devem mudar a sua atitude de como tratam os jovens LGBT.

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