O Livro de Mórmon é uma obra de escrituras sagrada para mórmons.
Infelizmente, é uma obra profundamente racista.

Obra de arte representando as lendárias “placas de ouro” que Joseph Smith teria encontrado e de onde teria traduzido o Livro de Mórmon (Museum of Church History and Art, Salt Lake City)
Tanto para a narrativa, como para a teologia, do Livro de Mórmon uma cor de pele escura é um claro sinal de maldição e reprovação divina. Além disso, há severas admoestações para a manutenção de pureza racial. Esses ensinamentos racistas do Livro de Mórmon são tão enraizados que levou gerações de profetas mórmons a pregarem tais ensinamentos do púlpito. [Ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui]
Essas são as passagens relevantes que permeiam o texto canônico mórmon (ênfases nossas):
A palavra do Senhor, portanto, foi cumprida quando me falou, dizendo: Se deixarem de dar ouvidos às tuas palavras, serão afastados da presença do Senhor. E eis que foram afastados de sua presença. E ele fez cair a maldição sobre eles, sim, uma dolorosa maldição, por causa de sua iniquidade. Pois eis que haviam endurecido o coração contra ele de tal modo que se tornaram como uma pedra; e como eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura. E assim diz o Senhor Deus: Eu farei com que sejam repugnantes a teu povo, a menos que se arrependam de suas iniquidades. E amaldiçoada será a semente daquele que se misturar com a semente deles; porque será amaldiçoada com igual maldição. E o Senhor assim disse, e assim foi.
E a pele dos lamanitas era escura, por causa do sinal que havia sido posto em seus pais como um anátema pela transgressão e rebeldia deles contra seus irmãos, que eram Néfi, Jacó e José e Sam, que foram homens justos e santos. E os irmãos procuraram destruí-los, sendo, portanto, amaldiçoados; e o Senhor pôs-lhes uma marca, sim, em Lamã e Lemuel e também nos filhos de Ismael e nas mulheres ismaelitas. E isto foi feito para que sua semente pudesse ser distinguida da semente de seus irmãos, para que assim o Senhor Deus preservasse seu povo, a fim de que não se misturasse nem acreditasse em tradições incorretas que causariam sua destruição. E aconteceu que aqueles que misturaram sua semente com a dos lamanitas fizeram recair sobre sua descendência igual maldição.
E vem rapidamente o tempo em que, a menos que vos arrependais, eles ocuparão a terra de vossa herança e o Senhor Deus retirará os justos dentre vós. Eis que os lamanitas, vossos irmãos, a quem odiais por causa de sua imundície e da maldição que lhes caiu sobre a pele, são mais justos que vós; porque eles não se esqueceram do mandamento do Senhor, dado a nosso pai — de que não deveriam ter mais que uma esposa nem concubina alguma; e que não deveriam cometer libertinagem. E agora eles se esforçam por guardar este mandamento; portanto, por causa desse esforço em guardar este mandamento, o Senhor Deus não os destruirá, mas será misericordioso para com eles; e um dia tornar-se-ão um povo abençoado. Eis que os maridos amam as esposas e as esposas amam os maridos; e os maridos e as esposas amam seus filhos; e sua incredulidade e seu ódio para convosco são consequência da iniquidade de seus pais; portanto, em que sois vós melhores do que eles aos olhos de vosso grande Criador? Ó meus irmãos, temo que, a menos que vos arrependais de vossos pecados, a pele deles será mais branca do que a vossa, quando fordes levados com eles perante o trono de Deus.
E aconteceu que os lamanitas que se haviam unido aos nefitas foram contados com os nefitas; E a maldição foi retirada deles e sua pele tornou-se branca como a dos nefitas; E seus filhos e filhas tornaram-se sumamente belos e foram contados com os nefitas, sendo chamados de nefitas. E assim terminou o décimo terceiro ano.
E então se regozijarão; porque saberão que é uma bênção que lhes vem da mão de Deus; e de seus olhos começarão a cair as escamas da escuridão; e antes que se passem muitas gerações, tornar-se-ão um povo branco e agradável.
Curiosamente, essa passagem foi alterada na edição americana de 1981 e, subsequentemente, na nova tradução para o português de 1990, para soar menos racista (ênfase nossa):
E então se regozijarão; porque saberão que é uma bênção que lhes vem da mão de Deus; e de seus olhos começarão a cair as escamas da escuridão; e antes que se passem muitas gerações, tornar-se-ão um povo puro e agradável.
Repetimos aqui ambos os originais em inglês da primeira edição do Livro de Mórmon de 1830 e a edição atual, publicada desde 1981, para comparação literal (ênfases nossas):
| Versão original (1830) | Versão atual |
| And then shall they rejoice: for they shall know that it is a blessing unto them from the hand of God; and their scales of darkness shall begin to fall from their eyes; and many generations shall not pass away among them, save they shall be a white and a delightsome people. | And then shall they rejoice; for they shall know that it is a blessing unto them from the hand of God; and their scales of darkness shall begin to fall from their eyes; and many generations shall not pass away among them, save they shall be a pure and a delightsome people. |
Foi tão importante esse trecho para a doutrina, teologia, e cultura mórmon que “branco e agradável” (ou “branco e deleitoso”, dependendo da tradução para a expressão original “white and delightsome”, figurou com frequência e importância nos ensinamentos dos profetas mórmons durante as décadas.
Obrigado por esse interessante exemplo, Mellanie.
Como citamos no artigo acima, o texto do Livro de Mórmon é bastante claro e explícito. A pele escura dos Lamanitas veio como uma maldição de Deus sobre um povo que havia se afastado d’Ele.
O próprio trecho que você citou, e que nós já citamos no artigo acima, deixa isso claro (repetindo o citado no artigo acima):
“E eis que foram afastados de sua presença. E ele fez cair a maldição sobre eles, sim, uma dolorosa maldição, por causa de sua iniquidade. Pois eis que haviam endurecido o coração contra ele de tal modo que se tornaram como uma pedra; e como eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura. E assim diz o Senhor Deus: Eu farei com que sejam repugnantes a teu povo, a menos que se arrependam de suas iniquidades. E amaldiçoada será a semente daquele que se misturar com a semente deles; porque será amaldiçoada com igual maldição. E o Senhor assim disse, e assim foi.”
O que diz o trecho do Livro de Mórmon que você mesma citou? Os Lamanitas foram “afastados da presença do Senhor” porque “deixar[a]m de dar ouvidos às [S]uas palavras”, “E [note a conjunção denotando outra cláusula adicional] ele fez cair a maldição sobre eles”. E qual seria essa “maldição” que Deus “fez cair” sobre eles depois que eles foram “afastados” de Sua presença?
“[C]omo eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura.” Ser branco, o Livro de Mórmon nos ensina, é ser “formoso e agradável. Não ser branco, o Livro de Mórmon nos ensina, é “não [ser] atraentes” e até mesmo “se[r] repugnantes”! E a maldição é transmissível geneticamente, porque “amaldiçoada será a semente daquele que se misturar com a semente deles; porque será amaldiçoada com igual maldição”. Ser miscigenado, o Livro de Mórmon nos ensina, é igualmente ser feio e “repugnante”.
“E o Senhor assim disse, e assim foi.”
Como podemos ler no próprio texto em si, essa sua leitura, proposta pelo Profeta atual Russell Nelson, é nada menos que uma nova e completamente diferente reinterpretação do texto original do Livro de Mórmon.
Todos tem o direito de reinterpretar textos como lhe melhor aprouverem, e certamente mórmons da Igreja SUD abdicam ao Profeta atual todo poder e autoridade final para reinterpretar qualquer doutrina que lhe melhor aprouver.
Mas daí para insinuar que a reinterpretação moderna significa o que o texto originalmente (e explicitamente) expressava é nada menos que uma leitura desonesta.
Mas no livro, literalmente, dps eles falam exatamente “todos são iguais perante a Deus”, até “Deus ama até o seus filhos”, “Todas as raças são bem vindas nos céus”, ent, pq só tem uma parte da história aí?
“Eu não sou racista, mas…”
Provavelmente você já ouviu essa construção verbal, Isabela. Tudo o que vem depois do “mas” é racista, se não o autor não se daria o trabalho de tentar esconder o racismo com a distração preambular “eu não sou racista”.
O Livro de Mórmon teoricamente poderia afirmar que “Todas as raças são bem vindas nos céus (sic)”, o que ele nunca afirma (procure lá e nos conte se encontrou essa afirmação), e ainda assim as passagens acima continuariam a prová-lo uma obra profundamente racista.
Seria mais ou menos assim:
“Eu não sou racista, mas… Deus ama todo mundo igual, mesmo os que Ele amaldiçoou com uma pele escura para serem feios e imundos demais para os Seus filhos brancos e mais dignos.”
Não obstante, reforçamos que o Livro de Mórmon não diz “Todas as raças são bem vindas nos céus (sic)”.
O Livro de Mórmon realmente afirma que “todos são iguais perante Deus”, mas isso claramente se refere à dicotomia entre judeus e não judeus (usando o termo racista “gentios”), e não entre raças com cores de pele distintas.
Inclusive, essa afirmação segue logo após a explicação de que Deus “convida todos a virem a ele” e que “não repudia quem quer que o procure, negro e branco, escravo e livre, homem e mulher”, tacitamente aceitando distinções culturalmente estabelecidas entre pessoas livres e pessoas escravizadas numa sequência de diferenças inerentes e aceitáveis (escravo x livre, negro x branco, homem x mulher), mas enaltecendo Deus por ser magnânimo o suficiente para ignorar tais óbvias (para o autor) diferenças. Ou seja, o livro é racista e machista, porém ele usa o racismo e o machismo para enaltecer a figura de Deus.
Não compreendemos o que a afirmação “Deus ama até o seus filhos (sic)” tenha a ver com a discussão em pauta.
Apenas para reforçar a tese de livro racista, a única menção no Livro de Mórmon que chega perto à “toda humanidade é igual para Deus” é uma referência muito similar com a fé islâmica sobre todas as crianças, implicitamente excluindo adultos: