Bastidores dos Ensaios de Tópicos do Evangelho

Raça e sacerdócio, casamento plural, mulheres e as ordenanças do templo – esses são alguns dos temas explorados em ensaios publicados pel’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em seu site oficial, e cujas informações ainda parecem não ter alcançado a imensa maioria de seus membros ao redor do mundo. Mais de sete anos depois do início de sua publicação, os treze ensaios histórico- apologéticos permanecem pouco difundidos. E isso tem sido, em grande parte, intencional.

Ensaios Evangelho Igreja SUD

Assuntos “espinhosos” da história e teologia mórmons à distância de um clique, mas apenas para quem achar. | Imagem: Cortesia de cottonbro via Pexels.

As Autoridade Gerais da Igreja SUD nunca anunciaram ou promoveram nas revistas oficiais da denominação os treze ensaios sobre Tópicos do Evangelho. Seu temor era que isso “poderia causar uma crise de fé para alguns santos dos últimos dias que não estavam familiarizados com o conteúdo dos Ensaios”, afirma o historiador Matthew L. Harris.

Em um movimento aparentemente contraditório a essa diretriz, no entanto, o Apostolo Ballard aconselhou, segundo Harris, membros jovens adultos “a conhecer os Ensaios como a palma de suas mãos”.

No final de 2013, a Igreja SUD surpreendeu com a publicação de quatro ensaios, depois seguidos por outros mais, acerca de temas e assuntos históricos que a Igreja costumava evitar ou esconder. Após um ano,  a Igreja publicou traduções de alguns desses ensaios para o português. Atualmente, todos os ensaios estão disponíveis em língua portuguesa aqui.

Professor de história na Universidade Estadual do Colorado em Pueblo, Matthew L. Harris coeditou com Newell G. Bringhurst um volume acadêmico sobre os Ensaios do site oficial da Igreja SUD. O livro The LDS Gospel Topics Series: a Scholarly Engagement (A Serie Tópicos do Evangelho SUD: Um Engajamento Acadêmico) reune análises críticas de diversos autores e foi prefaciado por Armand Mauss.

Em recente entrevista ao site norte-americano From the Desk, Harris fala sobre as origens e autoria dos ensaios, sua recepção entre as Autoridades Gerais e os possíveis tópicos que ele gostaria de ver abordados em futuras publicações oficiais. Confira alguns dos destaques abaixo.

Evitando uma “crise de fé” entre membros

As autoridades gerais não queriam criar uma crise de fé para os membros. Os Ensaios reconhecem aspectos espinhosos da doutrina e da prática da Igreja que autoridades gerais anteriores haviam minimizado ou ignorado, então as autoridades gerais tiveram que ser muito cuidadosos sobre como discutiam o casamento plural, raça e sacerdócio, a tradução do Livro de Mórmon, etc.

Eles não queriam que os Ensaios causassem mais mal do que bem.

Capa do livro The LDS Gospel Topics Series: a Scholarly Engagement (A Serie Tópicos do Evangelho SUD: Um Engajamento Acadêmico), publicado pela editora Signature

Boyd K. Packer, o Apóstolo por trás da ideia

O Élder Boyd K. Packer encomendou os Ensaios. Estudiosos santos dos últimos dias escreveram os rascunhos iniciais, depois os historiadores da igreja os revisaram e, em seguida, foram até as autoridades gerais, que os examinaram quanto ao tom, conteúdo e mensagem. Todos os Ensaios foram aprovados pela Primeira Presidência e pelo Quórum dos Doze. Os Ensaios foram realmente um projeto colaborativo de muitas mãos e muitos lápis afiados.

Russel Ballard tenta promover Ensaios entre jovens adultos

Uns dois anos depois do lançamento dos Ensaios, o Élder Ballard fez um sermão a santos dos últimos dias em idade universitária, no qual os aconselhou a conhecer os Ensaios como a palma de suas mãos. Ele também disse aos instrutores do SEI que estudassem o material para poder informar seus alunos, especialmente quando tivessem dúvidas sobre a história e doutrina da igreja.

A falta de publicidade foi intencional

As autoridades gerais não queriam anunciar os Ensaios na Conferência Geral ou na [revista] Ensign porque temiam que, se os Ensaios tivessem uma ampla circulação, isso poderia causar uma crise de fé para alguns santos dos últimos dias que não estavam familiarizados com o conteúdo dos Ensaios.

Durante o primeiro ano após a publicação dos Ensaios (…), poucos santos dos últimos dias sabiam sobre eles. Isso foi um problema porque quando (…) começaram a ensinar a partir deles nas aulas da Escola Dominical, alguns líderes locais os repreenderam por ensinar de “fontes não autorizadas”. O Salt Lake Tribune publicou uma história sobre um irmão no Havaí que foi desobrigado de seu chamado da Escola Dominical para jovens ele usou o Ensaio “Raça e Sacerdócio” como um suplemento para sua lição. Seu bispo nunca tinha ouvido falar dos Ensaios e, assim, acreditava que ele estava ensinando a partir de fontes não autorizadas.

Com histórias como essa circulando, as Autoridades Gerais perceberam que os Ensaios precisavam ser promovidos dentro da igreja. Assim, decidiram incorporar os Ensaios nos manuais da igreja, no currículo do SEI e na série Santos.

“Vacinar” os jovens da Igreja

Se os santos dos últimos dias aprenderem desde jovens que Joseph Smith usou um chapéu e uma pedra de vidente para traduzir o Livro de Mórmon, eles não ficarão intimidados quando encontrarem essa noção na Internet. Da mesma forma, se eles aprenderem detalhes sobre a poligamia ou casamento plural em uma idade jovem, isso não os afetará quando encontrarem histórias sobre os ensinamentos de Joseph Smith ou Brigham Young sobre essa doutrina desafiadora.

As autoridades gerais chegaram à conclusão de que se eles puderem “inocular” os santos dos últimos dias cedo, isso diminuirá a probabilidade de uma crise de fé quando eles encontrarem material desafiador na Internet em um estágio posterior da vida.

Maçonaria, gênero e sexualidade: o que futuros ensaios poderiam abordar

Adoraria ver a Igreja lidando com questões de gênero e sexualidade e também fornecendo uma discussão mais aprofundada de como a Maçonaria influenciou a compreensão das Autoridades Gerais sobre o cosmos, as escrituras e a vida após a morte. Claramente, a Maçonaria cativou os primeiros líderes da igreja em Nauvoo, pois as últimas palavras de Joseph Smith derivaram de um símbolo maçônico de socorro. De todas as coisas que ele poderia ter dito, ele apelou para algo que era confortável e familiar para ele. Parece-me que a igreja poderia se beneficiar de um exame mais profundo da Maçonaria no pensamento e na prática dos primeiros mórmons.

3 comentários sobre “Bastidores dos Ensaios de Tópicos do Evangelho

  1. Bom para a igreja! A igreja deve fomentar a separação entre religião e espiritualidade. A Religião é o convite e a oportunidade para conhecer a Deus em 99% dos casos. A Religião deve fomentar a aproximação com o invisível e com o poder de Deus. Focar no poder da Expiação , Misericórdia e amor de Jesus Cristo. O restante são acessórios para direcionar o homem ao foco principal. A Religião não pode se apegar somente a um amontoado de obras de homens. Deve fomentar e focar que, primeiramente o Reino de Deus de constrói de dentro para fora. Os membros devem conhecer a história da igreja na sua plenitude e verdade , afim de conhecerem a si mesmos . pois fazem parte dela. Deve se aprender com os erros e exercer a misericórdia para que alcance a mesma dádiva para si mesmo. Com esse princípio no coração, os membros estarão imbuídos da luz necessária para receber e acumular mais verdades de Deus.

  2. Sinceramente parece que parte dos “mormons” passaram da autocrítica a autodemoliçao. Nunca pensei ver isto na Igreja Restaurada. Não seria isto algo mais “tóxico” que a sincera busca da verdade e a aplicação da correção fraterna? Com todo respeito já vi este fenômeno na Igreja Católica. O resultado foi catastrófico.

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