A Igreja Mórmon pagou £8.400 (R$ 42 mil na cotação de hoje) em lobby político no parlamento britânico para proteger suas campanhas anti-gay.
De acordo com o jornal da Igreja, Deseret News, as doações foram destinadas a um grupo informal de parlamentares que formam uma bancada de “liberdade religiosa”, cuja descrição de propósito afirma ocupar-se de:
“Aumentar a consciência e notoriedade internacional de liberdade de crença como um direito humano entre os parlamentares, a mídia, o governo e o público em geral do Reino Unido, e aumentar a eficácia e consciência da contribuição do Reino Unido para instituições internacionais encarregadas de fazer cumprir este direito humano.”
O Apóstolo Dallin H. Oaks aproveitou-se da boa vontade comprada com essas generosas doações para obter o privilégio de discursar diante da Casa dos Lordes, a câmara superior do Parlamento do Reino Unido, equivalente ao nosso Senado Federal.
Em seu discurso, Oaks defendeu a causa da liberdade religiosa:
“Nós queremos as bênçãos da liberdade religiosa para todos os habitantes deste planeta, e estamos muito longe disso no presente.”
Não surpreendentemente, Oaks não explicou aos Parlamentares que o propósito desse foco em “liberdade religiosa” para a Igreja SUD é uma tentativa para insular-se de críticas e escrutínio público à sua cruzada institucional contra direitos de homossexuais [como se pode ver aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui]. Tampouco lhes explicou que a Igreja SUD abraçou essa causa de “liberdade religiosa” após o desastre de relações públicas em 2009 em retaliação a seu envolvimento na campanha política para remover direitos civis de homossexuais na Califórnia em 2008 [como se pode ver aqui, aqui, aqui, e aqui]. E muito menos explicou que a Igreja SUD tem o hábito de criar grupos e sites fantoches para promover sua agenda anti-gay sem implicá-la diretamente [como se pode ver aqui e aqui].
Contudo, Oaks insinuou os reais objetivos da Igreja em seu discurso quando disse:
“Estamos em um momento em que a liberdade religiosa está sob pressão. Há uma pressão para definir a liberdade religiosa como algo que ocorre na igreja ou na sinagoga e não tem direito a um lugar na praça pública. Exigimos como uma questão de direito constitucional um lugar na praça pública e queremos usar a nossa liberdade religiosa para realizar o bem que tem sido identificado pelos [outros oradores].”
Quando Oaks diz “queremos” um “lugar na praça pública” para “usar a nossa liberdade religiosa”, ele quer dizer (embora não o faça aberta e explicitamente) propor, apoiar, e financiar legislações que removam direitos civis, fundamentais, e constitucionais de pessoas LGBT [como se pode ver aqui, aqui, aqui, e aqui].
Ainda assim, teria sido interessante ouvir Oaks explicar porque a universidade da Igreja SUD, a Universidade de Brigham Young ou BYU, tem como política oficial violar a liberdade religiosa de seus alunos [como se pode ver aqui]. Ainda mais interessante teria sido ouvir sua reação à comparação histórica de quando a última vez que a Igreja SUD abraçou uma campanha para “defender liberdade religiosa”, a saber, para defender seu direito constitucional de discriminar negros como preceito religioso [como se pode ver aqui].
Em tempo: Apesar do jornal da Igreja Deseret News anunciar que a “Igreja SUD fez duas doações de £4.200 ao grupo”, o que resultaria num total de £8.400, o site do Parlamento indica duas doações totalizando £4.200 (uma de £1.800 e outra de £2.400). Supostamente, a Igreja sabe quanto dinheiro ela mesmo doou, porém nota-se aqui a discrepância nos valores publicados.