Após haver perdido todas as batalhas legais nos Estados Unidos, a Igreja Mórmon prepara-se para lutar no México contra os direitos legais de homossexuais.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias emitiu um pronunciamento oficial a seus membros mexicanos conclamando-os para se opor à iniciativa para legalizar casamento homossexual.
Jeremy Harris, jornalista da KUTV Salt Lake City, destacou a hipocrisia do pronuciamento eclesiástico:
“Similar aos esforços da Igreja nos Estados Unidos, os líderes mórmons afirmam que sua oposição ao casamento do mesmo sexo está enraizada na “liberdade religiosa” e “livre pensamento”.”
O Presidente da Área Mexicana, Benjamín De Hoyos, leu o pronunciamento da Igreja SUD em uma reunião na cidade de Puebla, no sábado passado, como resposta oficial à proposta do Presidente do México Enrique Peña Nieto para legalizar o casamento homossexual.
Peña Nieto anunciou seu projeto-de-lei há três semanas como medida para codificar legalmente uma decisão judicial da Suprema Corte mexicana do final de 2015 determinando como inconstitucional quaisquer proibições para casamentos ou emissões para licenças de casamento para casais homossexuais.
Casamento gay já é considerado legalizado em partes do país, como o Distrito Federal (i.e., Cidade do México), e os estados de Coahuila e Quintana Roo, e desde a decisão da Suprema Corte do ano passado em todo o território, desde que casais solicitem mandados de injunções das cortes locais. O projeto-de-lei, se aprovado por 2/3 do legislativo federal, apenas codificaria a lei federal para uma legalização formal e menos burocrática.
Igreja Mórmon Contra Gays Mexicanos
A liderança máxima da Igreja SUD ordenou De Hoyos a publicar a conclamação oficial no site mexicano, com ordens para que todos os mais de 2 mil Bispos e Presidentes de Ramos a leiam em suas respectivas congregações, orientando seus membros a se unirem a esforços organizados e lobbys políticos para opor a legislação.
Eis o pronunciamento na íntegra:
Queridos irmãos:
Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo [sic]
Devido ao recente anúncio de uma iniciativa do Governo Federal para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país, destaca-se a posição da Igreja sobre esta questão, tal como descrita em “A Família: Uma Proclamação ao Mundo”. Reafirmamos que “a família é ordenada por Deus” e que “o casamento entre homem e mulher é essencial para Seu plano eterno.” Reiteramos o chamado “aos cidadãos e governantes responsáveis de todo o mundo a promoverem as medidas designadas para fortalecer a família e mantê-la como a unidade fundamental na sociedade”.
Nós encorajamos os membros da Igreja para unir as nossas vozes com as de outros cidadãos exercendo nossos direitos como estão contidos na Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos, que estabelece e honra a liberdade de religião e de expressão de crenças e pensamentos, tanto em público como em privado. Os membros também podemos [sic] unir as nossas vozes com os outros, através de organizações não governamentais dedicadas à defesa da liberdade religiosa, como a recém-criada “Consciência Nacional pela Liberdade Religiosa”. Envolver-se neste assunto deve ser feito em um espírito de amor, respeito e civilidade para com aqueles com pontos de vista diferentes.
Convidamos a todos para expressar seus sentimentos e opiniões para os funcionários devidamente eleitos de acordo com os princípios ensinados pelo Élder Robert D. Hales, em seu discurso à Conferência Geral de abril de 2015, “Como Preservar o Arbítrio e Como Proteger a Liberdade Religiosa”. Para mais informações consulte a página: sud.org.mx/libertadreligiosa.
Seus irmãos da Presidência de Área do México.
Élder Benjamín De Hoyos
Élder Paul B. Pieper
Élder Arnulfo Valenzuela R.
Curiosamente, um dos sites mencionados pela Presidência de Área mexicana parece ser um site fantoche da Igreja SUD (registro de site sigiloso, no Arizona e não no México) sob o nome “Consciência Nacional pela Liberdade Religiosa”, cuja página inicial contém chamadas para artigos homofóbicos como “Protejamos a Família” [opondo-se ao casamento de gays!], “Promovemos os Direitos Humanos relacionados à Família…” [heteronormativa, apenas!], “Entre um homem e uma mulher” [gays não precisam de liberdade religiosa!], e “Apóstolo Mórmon no primeiro encontro entre legisladores e conselhos interreligiosos” [organizando oposição a leis por direitos civis de gays!]. O foco homofóbico contra famílias LGBT fica mais evidente quando se nota que na descrição da página “sobre nós” a palavra “família” aparece 10 vezes, atrás apenas das 18 vezes da palavra “liberdade” em um grupo supostamente sobre e focado em “liberdade religiosa”.
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Um artigo do final de ano passado levantou alguns dados relevantes e pertinentes sobre a cruzada anti-gay da Igreja SUD nos EUA:
- A Igreja Mórmon causou enorme fissão entre membros por causa de seu apoio à campanha da Proposição 8 na Califórnia para suspender a legalização do casamento homossexual no estado. (Ver “Mormon Power Grab: It’s Tearing Families Apart”).
- O consultor de marketing da Igreja Gary Lawrence confessou ao Washington Post que os danos na imagem pública por causa da Proposição 8 foram muito maiores que teriam antecipado.
- Informantes dentro da Igreja indicam que ela perdeu até 1 milhão de membros ativos e fiéis nos últimos 7 anos por causa da cruzada anti-gay. Esses membros, ativos e voluntários dentro da Igreja (em chamados), optaram por sair da Igreja em demonstração de apoio a familiares e amigos dentro da comunidade LGBT.
Proclamação da Família
Explica o jornalista Fred Karger, do The Huffington Post:
A Igreja Mórmon recentemente “celebrou” o 20° aniversário de seu odioso “A Família: Uma Proclamação Ao Mundo.” A proclamação foi lida pelo então Presidente da Igreja Gordon B. Hinckey na Conferência Geral da Sociedade de Socorro em 23 de setembro de 1995, na Cidade de Lago Salgado, Utah. A ocasião marcou o dia em que a Igreja Mórmon declarou guerra contra o casamento gay. A Igreja ordenou que seus membros enquadrassem suas cópias da Proclamação para pendurá-las em seus lares. A maioria das famílias Mórmons fizeram isso.
Não coincidentemente, também em 1995, a Igreja Mórmon iniciou sua luta [política] contra o casamento gay no Havaí. [Os líderes da Igreja] traçaram planos elaborados para bloqueá-lo no primeiro estado onde estava sendo considerado. Quando a liberdade para [bloquear] casamento [gay pelo estado] finalmente chegou a voto no Havaí após três anos, ela foi aprovada. Após essa vitória em 1998, a Igreja Mórmon deu seguimento à sua campanha furtiva para proibir casamento gay por todos os Estados Unidos.
Campanhas Políticas
- A Igreja Mórmon contribuiu diretamente com USD 400 mil no Havaí, e ainda angariou muito mais de membros e amigos.
- A Igreja Mórmon contratou um exército de advogados, consultores políticos, e lobistas em 30 estados.
- A Igreja Mórmon criou grupos fantoches para esconder seu envolvimento nessas campanhas.
- A Igreja Mórmon gastou diretamente milhões de dólares e mobilizou milhares de membros pelos próximos 13 anos até a campanha da Proposição 8 em 2008.
- A Igreja Mórmon foi pega de surpresa ao ter sua participação central em todas aquelas campanhas estaduais por quase duas décadas denunciada em público em 2008.
Proposição 8
- Em 20 de junho de 2008, apenas três dias após o casamento gay haver sido legalizado pela Suprema Corte da Califórnia, o novo Presidente da Igreja Thomas Monson anunciou através de carta lida em todas as unidades no estado que todos os membros deveriam “doar seu tempo e seus meios” para a campanha para passar a Proposição 8 [que ilegalizaria o casamento gay]. Na carta, o Presidente Monson ameaça os membros que “suas almas estariam em perigo” se não doassem dinheiro [para a campanha]”.
- A Igreja Mórmon coagiu membros a doarem mais de USD 30 milhões durante os 4 meses de campanha, 77% de todo o dinheiro arrecadado para essa votação.
- A Igreja Mórmon foi a principal força responsável pela vitória da Proposição 8, que passou com a pequeníssima margem de 52-48.
- A Igreja Mórmon não apenas financiou, mas também controlou, a administração da campanha política ‘Yes on 8’.
- A Igreja Mórmon montou uma verdadeira campanha de guerra em Utah e Idaho para telemarketing de eleitores na Califórnia.
- A Igreja Mórmon transportou milhares de membros da Igreja para fazer campanha política.
- A Igreja Mórmon enviou material impresso para milhões de eleitores.
- A Igreja Mórmon organizou 25 000 voluntários membros da Igreja para bater portas durante 9 fins-de-semana por todo estado.
- A Igreja Mórmon financiou e administrou treinamentos para seus representantes.
- A Igreja Mórmon distribuiu centenas de milhares da placas de publicidade, além de panfletos.
- A Igreja Mórmon mobilizou 100 000 membros como voluntários para trabalhar no dia da eleição.
- A Igreja Mórmon constriuiu e manteve vários sites na internet para o ‘Yes on 8’.
- A Igreja Mórmon criou 4 eventos televisivos e 9 comerciais.
- A Igreja Mórmon conduziu 2 transmissões ao vivo para 5 estados em preparação à mobilização de voluntários.
A Igreja Mórmon Mente Sobre A Proposição 8
- A Igreja Mórmon registrou gastos de apenas USD 2 078 por toda sua operação de guerra como contribuições para o ‘Yes on 8’.
- A Comissão de Práticas Políticas Honestas da Califórnia (California Fair Political Practices Commission ou FPPC) investigou a Igreja SUD por 18 meses, condenando-a em 13 casos de fraude eleitoral.
- A Igreja Mórmon confessou-se culpada e pagou uma multa não publicada.
Documentos Mórmons Secretos
- Em fevereiro de 2009 um informante vazou documentos secretos da Igreja Mórmon, delineando toda campanha política contra casamento gay pelos últimos 13 anos, que o repórter publicou no site Mormongate.com.
- A Igreja Mórmon recusou-se a confirmar ou a negar a autenticidade desses documentos.
- Outros documentos adicionais foram publicados no Mother Jones e no Frontiers Magazine.
- Os documentos provam que a declaração de guerra da Igreja Mórmon contra o casamento gay e a comunidade LGBT em 1995 foi deliberada e planejada por mais de uma década.
- Os documentos provam que a Igreja Mórmon entrou em coluio com a Igreja Católica para a cruzada anti-gay.
- Os documentos provam que a Igreja Mórmon foi a extremos para ocultar sua participação nessa cruzada política, inclusive criando o último grupo fantoche Organização Nacional pelo Casamento (National Organization for Marriage ou NOM) em 2007 para conseguir qualificar-se para elaborar e passar a Proposição 8.
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A liderança da Igreja SUD furtivamente alterou as regras para bençãos e batismos de crianças para excluir e discriminar contra famílias LGBT no segundo semestre de 2015 após a final derrota jurídica nos EUA, quando a Suprema Corte determinou que é inconstitucional negar o direito de casamento pleno para casais homossexuais. A mudança na política vazou ao público, causando enorme desconforto entre membros, levando a milhares de deserções e resignações, inclusive de membros ultra-fiéis, e a um aumento na taxa de suicídio entre jovens membros LGBT.
Havendo perdido a guerra anti-gay nos EUA, a Igreja abre uma fronte no México. Como será o desenrolar lá?
Leia mais sobre a Proposição 8.
Leia mais sobre discriminação oficial pela Igreja SUD.
Leia mais sobre associação de Igreja com grupos de ódio.
Leia mais sobre reações da Igreja com controvérsias legais.
Se a igreja empregasse o mesmo esforço e investisse a mesma quantia de dinheiro para ajudar os pobres e necessitados, o trabalho missionário avançaria com muito mais credibilidade e talvez daríamos um passo mais largo em direção ao estabelecimento de Sião. Lamentável!
Sugiro que peguem esse $$ e construam escolas no México onde tem gente pobre e aí sim, poderão começar a ser chamados de “santos”.
Penso que não terão sucesso também. Os direitos das pessoas LGBTs está ganhando reconhecimento na sociedade, seria um retrocesso para o povo mexicano não reconhecer tais direitos. Considero uma arrogância da liderança da corporação querer impor sua crença a todos, pois é esta a sua pretensão quando buscam influenciar os legisladores através da manifestação dos membros. Concordo com a opinião da Magnólia, deveriam usar o dinheiro para construir escolas e hospitais para os próprios membros da corporação ou para todos. Talvez desta maneira, a doutrina de Cristo iria resplandecer e eles, de fato, se tornariam o sal da terra.