A Internet celebra hoje 25 anos de existência, tendo sido aberta ao público em 23 de agosto de 1991.
O protocolo básico para a rede mundial eletrônica interconectada foi desenvolvido por cientistas do laboratório europeu CERN durante os anos de 1989 e 1991, sendo lançado pela primeira vez (i..e, o primeiro endereço eletrônico) em 6 de agosto de 1991 pelo seu principal idealizador, o inglês Sir Timothy John Berners-Lee.

O “inventor” da internet, Sir Timothy John Berners-Lee
Inicialmente criada e lançada para facilitar comunicação entre cientistas dos principais laboratórios mundiais de pesquisa, a internet realmente assumiu a forma utilitária que viria a mudar o mundo com a realização de Berners-Lee de protocolos de hipertexto e controle de trasmissão, além de sua visionária proposta de manter os códigos abertos para permitir a livre, desimpedida e irrefreável troca de informações.
A invenção de Berners-Lee para sempre mudou o mundo, inclusive o do mormonismo.
Há 20 anos atrás, por exemplo, em agosto de 1996, havia apenas aproximadamente 100 mil páginas ou sites na internet. Uma pesquisa nos sites de busca populares de então (i.e., Yahoo e Altavista) pelos termos “mórmon” ou “igreja sud” ou “igreja de jesus cristo dos santos dos últimos dias” em português não levantavam nenhum resultado, e em inglês encontravam em sua maioria sites ou grupos de discussão servindo como grupos de apoio para mórmons LGBT.
A Igreja SUD só viria a lançar seu site oficial em dezembro daquele ano, e isso com apenas duas páginas oferecendo um número 0800 para contatos missionários e algumas informações básicas para relações públicas.
Hoje, 20 anos depois, há mais de 1 bilhão de sites na internet espalhados mundo afota e a Igreja SUD mantém uma enorme presença na internet com o site religioso mais acessado no mundo. É claro que ajuda muito quando a liderança da Igreja orienta seus membros a clicarem, acessarem, e postarem conteúdos com links para o site oficial numa maneira coordenada para aumentar a presença dela nos sites de busca.
Além das centenas de milhões de dólares investidos no vasto conteúdo eletrônico disponibilizado pela Igreja SUD, a internet nos trouxe literatura mórmon que há 20 anos atrás era de acesso custoso e difícil, especialmente para mórmons no Brasil. Livros publicados pela Igreja no passado, como os ensinamentos dos profetas do século 19 no Jornal dos Discursos, podem ser facilmente baixados e lidos por qualquer um com celular (que, em si, eram poucos e não “espertos” em 1996).
Desde a primeira imagem postada na internet em 1992, de um grupo de cientistas que formavam um grupo musical amador, evoluímos para milhares de imagens de documentos mórmons históricos escaneados e publicados pelo Projeto Papéis de Joseph Smith, como as primeiras (e divergentes) versões da famosa “primeira visão”.

A primeira imagem postada na internet do grupo Les Horribles Cernettes em 1992. Da esq. para dir.: Angela Higney, Michele de Gennaro, Colette Marx-Neilsen, Lynn Veronneau.
Ademais, mórmons hoje gozam de uma pletora de ferramentas para explorar e repensar suas iterações pessoais e comunitárias do mormonismo. Dezenas de blogs dos mais variados exploram o mundo mórmon sob pontos de vista diferentes e abordagens distintas no que é carinhosamente apelidado de “bloggernáculo mórmon“, um portmanteau de “blogger” com “tabernáculo mórmon”. Nós, do Vozes Mórmons, pertencemos à essa geração pioneira com enorme gratidão pela sorte de poder vivenciar esse período de transformação social e cultural.
Naturalmente, todo esse avanço tecnológico e disponibilidade de informações causa constrangimento e até apreensão. O Apóstolo Russell Ballards, em discurso ao clero profissional da Igreja que compõe o quadro do Sistema Educacional da Igreja (S.E.I.), demonstrou nostalgia pela época quando a Igreja era capaz de melhor controlar o acesso a informações dos membros e deixou claro que, atualmente na era da informação digital, isso não é mais possível.
“Foram-se os dias quando um aluno fazia uma pergunta sincera e o professor respondia; ‘Não se preocupe com isso.’ Foram-se os dias quando um aluno levantava uma preocupação sincera e o professor lhe prestava o seu testemunho para evitar o assunto. Foram-se os dias quando os alunos estavam protegidos das pessoas que atacam a igreja…”
Ballard admitiu que os Profetas e Apóstolos do passado (recente) foram incapazes de prever as rápidas, importantes, e fundamentais mudanças na sociedade moderna que permitiriam aos membros da Igreja acesso, outrora impensável, aos fatos históricos e ao conhecimento historiográfico sem precedentes.
“Era há uma mera geração atrás que o acesso à informação sobre nossa história, nossa doutrina, e nossas práticas por nossos jovens estava limitada às publicações oficiais da Igreja. Poucos alunos entravam em contato com interpretações alternativas. A maioria dos nossos jovens viviam numa bolha. Nosso currículo escolar na época, embora bem intencionado, não preparava os alunos para o dia de hoje, um dia quando alunos têm acesso instantâneo a praticamente tudo sobre a Igreja sob todos os pontos de vista possíveis.”
Ballard confessou que os ensaios publicados oficialmente pela Igreja nos últimos anos são frutos de uma reação (tardia) da liderança à essa perda no controle de acesso dos membros, e oferece novos insights sobre como os Profetas e Apóstolos se preocupam com essas informações e esses tópicos.
O Apóstolo Neil Andersen avisou membros da Igreja em Conferência Geral a não dar atenção para conteúdos fora do publicado pela Igreja:
“Devemos lembrar ao pesquisador sincero que as informações na Internet não possuem um “filtro da verdade”. Algumas informações, por mais convincentes que pareçam, não são verdadeiras. (…) É compreensível que questionemos o que ouvimos no noticiário, mas não devemos jamais duvidar do testemunho dos profetas de Deus. Devemos lembrar aos pesquisadores que algumas informações sobre Joseph, embora verdadeiras, podem ser apresentadas completamente fora do contexto de sua época e sua situação.”
Andersen repetiu o alerta em outra Conferência um ano depois, implorando aos membros que ignorem o que leem na internet sobre Smith e apenas aguardem por respostas na vida após a morte:
“Por exemplo, perguntas a respeito do Profeta Joseph Smith não são novidade. Elas têm sido lançadas por aqueles que o criticam desde que este trabalho começou. Para as pessoas de fé que, ao olhar através das lentes coloridas do século 21, sinceramente questionam eventos ou declarações do Profeta Joseph Smith, de quase 200 anos atrás, permitam-me dar-lhes este conselho: Por ora, deem um descanso ao irmão Joseph! No futuro, vocês terão cem vezes mais informações do que todos os mecanismos de busca da Internet combinados, e elas virão de nosso Pai Onisciente.”
Andersen explica que, de acordo com a liderança SUD atual, o melhor curso a se tomar é ignorar todo o conteúdo da internet e prestar atenção única e exclusivamente ao que a Igreja publica em seu site oficial:
“Aos jovens que estão ouvindo hoje ou que lerão estas palavras posteriormente, faço um desafio específico: Obtenham um testemunho pessoal do Profeta Joseph Smith. (…) Aqui estão duas ideias: Primeiro, localizem escrituras no Livro de Mórmon que sentem e sabem serem absolutamente verdadeiras. Depois, compartilhem-nas com familiares e amigos, em noites familiares, no seminário e nas aulas dos Rapazes e das Moças, reconhecendo que Joseph foi um instrumento nas mãos de Deus. Em seguida, leiam o testemunho do Profeta Joseph Smith contido na Pérola de Grande Valor ou neste folheto, hoje traduzido em 158 idiomas. Vocês podem obtê-lo online, no site LDS.org ou com os missionários. Este é o testemunho do próprio Joseph sobre o que de fato ocorreu. Leiam-no repetidamente. Também podem gravar esse testemunho de Joseph Smith com sua própria voz, ouvi-lo regularmente e mostrá-lo aos amigos. Ouvir o testemunho do Profeta em sua própria voz vai ajudá-los a obter o testemunho que procuram.”
A palavra de ordem é clara. O antítodo para a liberalidade de informações na internet é simples. A internet só pode ser lida quando é uma publicação oficial da Igreja. Mesmo quando dúvidas surgem através de discrepâncias nas próprias publicações da Igreja, deve-se evitar pensar nelas, escolhendo aceditar que tudo é “absolutamente verdadeir[o]” sem questionar, “le[r] repetidamente”¹ as mesmas publicações, e até gravá-las “com sua própria voz” para “ouvi-l[as] regularmente”.
Não obstante o medo e a ansiedade entre líderes e membros da Igreja por causa dessa nova fase de transparência eletrônica, nós a comemoramos como positiva e uma verdadeira benção, seja intelectual, seja cultural, seja religiosa, na vida de milhares de mórmons mundo afora.
Obrigado, Sir Timothy John Berners-Lee.
Obrigado a todos os cientistas e engenheiros que tornaram e tornam a disseminação livre de informações possível através da internet.
Obrigado a todos os nossos leitores que tornaram e tornam os nossos esforços aqui um marco para o mormonismo lusófono.
NOTA
[1] Ironicamente, Neil Andersen afirma que o antítodo à internet é “le[r] o testemunho do Profeta Joseph Smith contido na Pérola de Grande Valor” no “site LDS.org” porque “[e]ste é o testemunho do próprio Joseph sobre o que de fato ocorreu”, ignorando ou fingindo ignorar que a própria Igreja publicou em um de seus sites documentos que demonstram que esse “testemunho” é apenas a versão final, dentre muitas anteriores e bem diferentes dessa. Ao contrário do que afirma Andersen, o próprio site da Igreja demonstra que esse certamente não “é o testemunho” de Joseph Smith mas apenas um testemunho, e que por ser o mais tardio, o mais manipulado e editado, e o mais diferente dos relatos originais, muito provavelmente não descreve “o que de fato ocorreu”.
Que bom que eu descobri em tempo a internet e seus benefícios.
Ao chegar da missão, ganhei um notebook e então só através dele, descobri tudo que a liderança SUD jamais me contaria. E mesmo tendo esse “testemunho”, eu me libertei das mentiras dessa igreja e eu espero que esse site e muitos outros apareçam no mundo todo para espalhar conhecimento para quem precisa, e esses são muitos.
#PorMaisVozesMórmons
Nas versões anteriores da “Primeira Visão” não apareceram “dois personagens”, mas apenas um.
Certamente porque, nessa época, J. S. não sabia ainda da existência de vários deuses, por isso só lhe apareceu um…