Joseph Smith nos legou sábias palavras que podem oferecer contexto, e até conforto, para os muitos Santos dos Últimos Dias que vêm sofrendo com o progressivo retrocesso da Igreja nos últimos meses em questões de preconceito, intolerância e discriminação.
Sobre o tema de revelações, o Profeta fundador do Mormonismo disse:
“Algumas revelações são de Deus, algumas revelações são do homem, e algumas revelação são do demônio.” [1]
Contexto do Problema
Os líderes da Igreja SUD vêm demonstrando particular preocupação com os altos índices de deserção de jovens da Igreja, inclusive reduzindo a idade missionária numa tentativa de estancar a emigração em massa. As gerações mais jovens demonstram cada vez maior relutância para discriminação contra homossexuais, o que vem criando certa dissonância entre a velha guarda da liderança e a geração que representa o futuro da Igreja SUD.
No meio do ano passado, a Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento homoafetivo, o que levou os 15 líderes máximos da Igreja (os 3 membros da Primeira Presidência e os 12 Apóstolos) a se reunir diversas vezes por meses para discutir as ramificações desta legalização. Após décadas de esforço e centenas de milhares de dólares gastos por parte da Igreja SUD, homossexuais agora poderiam ser legalmente casados, e a liderança da Igreja se sentiu pressionada a tomar uma atitude.
Após meses de deliberação, a Igreja SUD alterou sua posição oficial sobre crianças em famílias LGBT discriminando-as oficialmente, e ainda especificou o banimento de homossexuais como “apóstatas” que se valerem do recém-legalizado direito constitucional nos EUA de casar-se.
Nenhuma Revelação Mencionada
Contudo, a mudança fora realizada na surdina, sendo sub-repticiamente incluída no Manual de Instruções sem anúncios públicos. Não obstante, ela vazou para a internet por um líder anônimo e rapidamente viralizou pelas mídias sociais. Após uma longa semana em que milhares de membros da Igreja SUD saíram em protesto contra a nova política da Igreja especialmente por discriminar contra crianças em famílias LGBT, e uma semana depois de uma resposta improvisada onde o Apóstolo Christofferson evitou quaisquer menções de “revelação”, a Primeira Presidência publicou uma resposta oficial sutilmente alterando a posição inicial, novamente sem quaisquer menções de “revelação”.
Surge Uma Revelação
O problema de relações públicas continou, com milhares de membros pedindo resignação em protesto, inclusive entre os mais fiéis e ativos, nos dois meses que se seguiram. Até que, em discurso para alunos universitários anteontem, o Apóstolo Russell Nelson mencionou uma “revelação” descrita como “inspiração” pela primeira vez.
Essa alusão, vaga e inespecífica, veio acompanhada de ameaças contra membros que discordam dessa nova política discriminatória. O Apóstolo Russell Nelson insiste que é mister que todo membro siga as instruções do Profeta sem nunca questioná-lo, exigindo obediência total e absoluta ao Profeta, e rotulando os que nutrem opiniões divergentes de “servos de Satanás”.
Revelações na Igreja SUD
O processo para canonização de uma revelação na Igreja SUD é bem documentada e reconhecida. Ela deve ser apresentada pública e formalmente em Conferência Geral para todos os membros, votada no seu apoio ou na sua rejeição, e apenas depois de sustentada pelo voto dos membros da Igreja ela se torna canônica e oficial e formalmente incorporada no rito de fé.
Essa política discriminatória nunca foi apresentada para os membros. Descoberta acidentalmente pelo público, ela foi “anunciada” às pressas sem menção de revelação. Uma semana depois ela foi emendada oficialmente, novamente sem menção de revelação. Dois meses depois, um Apóstolo menciona tangencialmente uma revelação, porém sem apresentá-la aos membros. Ainda assim, segue a menção com óbvias ameaças aos que discordam dessa política outrora furtiva, rapidamente emendada sob pressão, e nunca publicada para escrutínio, estudo, ou análise dos membros.
Muitos membros fiéis encontram-se, agora, na delicada posição de opor-se à discriminação, não aceitá-la como divina ou inspirada pelos próprios fundamentos que regem a doutrina mórmon, mas obrigadas por dever e por pressão eclesiástica a aceitá-la.
Nas surpreendentes palavras do Professor de Religião da BYU e Apologista Mórmon profissional Daniel Peterson:
“Eu acredito em respeitar famílias que sejam diferentes.
Eu não acredito em colocar crianças e jovens adultos na encruzilhada e na agonia de ter que escolher poder continuar a viver com seus pais homossexuais casados e a igreja. A igreja merece ser criticada por essa política.
Eu consideraria abuso espiritual forçar crianças ou jovens-adultos a ter que escolher entre suas famílias ou salvação eterna.”[2]
Ou nas palavras eloquentes da jornalista Jana Riess:
“Eu não acredito que Deus está por trás dessa política. Não sinto que seja uma revelação divina do mesmo Deus que declarou que não há nem Judeu nem Gentio, escravo ou livre, homem ou mulher, pois somos todos um em Cristo Jesus.
Ao rejeitar essa política, serão membros da Igreja SUD ativos como eu, com chamados e recomendações ao templo, rotulados como ‘servos de Satanás’?”
Ou nas ainda mais eloquentes e pertinentes palavras do Profeta Joseph Smith:
“Algumas revelações são de Deus, algumas revelações são do homem, e algumas revelação são do demônio.”
O que vocês acham? De acordo com as categoriais delineadas por Joseph Smith, e de acordo com a evolução cronológica dos eventos em torno dessa política, como deveríamos julgar essa mais recente revelação?
[1] Whitmer, David, Address to All Believers in Christ, p. 30
[2] Peterson subsequentemente alterou o seu comentário para suavizar a crítica contra a postura da Igreja após repercussão negativa com outros membros no mesmo fórum.
Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.
Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.
Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.
Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazamento aqui.
Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.
Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.
Acham que realmente eles se importam com quem vai abandonar a comunhão com os demais santos (mesmo que estes que fiquem sejam apenas alienados ou sem vigor suficiente para discordar)?
Acreditam que importa o que pensemos ou o pouco que busquemos mudar, (ainda sob a acusação de apóstatas dos demais à nossa volta) para Eles? Acha que esses velhos em sua experiência de vida não sabem disso? Acreditam mesmo que vão arriscar suas pensões vitalícias em prol de alguns milhares (produtivos e ativos ou não, crianças ou não) com quem pouco se importam ou sequer tomam ciência da existência ou das dificuldades de ser ativo numa fé atualmente?
A opinião pública pouco importa enquanto milhares ainda permanecerem no redil, mesmo que só para serem tosquiadas.
Não esperemos sinceridade e nem honestidade destes homens no que tange aos motivos do porquê fazem o que fazem, nem explicações claras e convincentes que não evoquem (apelativamente) para as emoções oriundas da fé ou crença de nossa teologia.
Sinceramente, aprecio e apreciarei o engajamento por tão nobre causa. Apenas não creio em mudanças significativas em de como aqueles ‘moços’ lá de cima continuarão a lidar com esse assunto especificamente.
Só para complementar é bem provável que eles acreditem que se não agirem do modo como agem estarão pondo em risco o futuro de sua gestão na cúpula, ou talvez façam isso justamente com a intenção de se manter no poder pela fé dos mais ‘conservadores’ que os sustentam.