O famoso time de futebol americano da universidade mórmon Brigham Young University está com o seu futuro ameaçado por uma política de discriminação.

Jogadores da BYU em ação, 2008 (Foto: Jaren Wilkey/BYU)
O time da BYU finalmente tem uma chance para ser convidada a jogar na “primeira divisão” do prestigioso e lucrativo campeonato da Associação Atlética de Escolas Nacionais (NCAA). A NCAA organiza dezenas de ligas e campeonatos esportivos entre as faculdades e universidades dos Estados Unidos e Canadá, inclusive o imensamente popular e multibilionário calendário de futebol americano universitário. Hoje a BYU joga apenas em ligas independentes e, portanto, mais amadoras, menos lucrativas, e menos prestigiosas.
Contudo, a sorte e o futuro do time mórmon começou a parecer mais promissor quando a Conferência dos Grande 12 (G12) da Divisão I da NCAA recentemente decidiu expandir o número de escolas em sua liga e o nome da BYU foi incluída entre as possíveis candidatas, inclusive com as melhores chances baseando-se nos critérios de seleção publicados.
Não obstante a esperança dessa excitante perspectiva, uma campanha contra a escola mórmon está se formando para opor a inclusão da BYU, trazendo ansiedade onde havia expectativa.
E isso por um motivo claro e específico: Discriminação.
Ativistas estão pressionando a NCAA e demais instituições de ensino superior a excluir e boicotar a BYU por sua política de discriminação contra alunos LGBT. Como a política oficial da universidade mórmon é determinada pela liderança eclesiástica da Igreja SUD, a pressão sobre o time de futebol traduz-se em pressão sobre a Igreja em si, e lê-se na condenação pública das políticas discriminatórias da universidade uma condenação da discriminação pregada pela própria Igreja.
Essa não é a primeira vez que o time de futebol da BYU é pressionado pela discriminação pregada pela Igreja. Em 1969, jogadores da Universidade de Wisconsin protestaram a Igreja em jogo contra a BYU por sua política de discriminação racial. Alguns meses depois, a Universidade de Stanford suspendeu todos os jogos atléticos em competição extramuros com a BYU, e no ano seguinte mais 6 universidades de prestígio nacional fizeram o mesmo. Na época a Igreja era considerada, de acordo com o Los Angeles Times, “um dos poucos bastiões intactos de discriminação.”
A Igreja SUD vem sido reconhecida nacionalmente como uma apologista de discriminação contra LGBT desde 2008, quando a retórica antigay da Igreja SUD se intensificou publicamente durante a campanha (quase exclusivamente mórmon) para remover direitos civis de homossexuais. [Leia detalhes aqui]
Após esses esforços políticos e legislativos fracassarem, a Igreja é descoberta com mudança semi-sigilosa na política oficial em novembro de 2015, determinando que a posição da Igreja deva discriminar contra crianças em famílias LGBT e contra jovens SUD de orientação LGBT.
Notícias sobre uma onda de suicídios entre jovens mórmons começaram a circular nos cinco meses desde o arrefecimento das políticas de discriminação contra membros e famílias LGBT pela Igreja SUD [leia detalhes aqui], enquanto um excelente estudo estatístico, cruzando dados de suicídios de jovens adolescentes levantados pela agência gorvenamental Center for Disease Control entre 2009 e 2014 com dados populacionais religiosos produzidos pelo Relatório Pew de Censo Religioso de 2014, demonstrou a mesma tendência para aumento de suicídios entre jovens SUD [leia detalhes aqui].
Mitch Mayne, membro ativo da Igreja SUD que até recentemente servia no Bispado em sua ala na Califórnia, perfeitamente descreveu em sua coluna o conflito gerado entre a Igreja e seus membros LGBT e suas famílias:
Antes da nova política, qualquer decisão a favor ou contra a disciplina da Igreja para um membro LGBT era deixada aos líderes locais, e havia uma maré consistente de boas-vindas varrendo a cultura mórmon. Congregações de Seattle a Boston começaram a imitar o que foi iniciado na região da baía de San Francisco em 2011, onde todos eram bem-vindos – incluindo membros LGBT casados com cônjuges de seu próprio gênero. Segundo esta abordagem, a juventude LGBT Mórmon tinha pelo menos uma vaga idéia de esperança de que, se eles não fossem capazes de aderir a uma norma rígida do celibato ao longo da vida e acabassem com alguém que realmente amam, eles ainda poderiam encontrar uma congregação que estenderia a eles a mão do amor cristão e inclusão.
Mas agora tudo isso mudou. Hoje, a mensagem para a juventude LGBT Mórmon é clara, e é uma Escolha de Sofia sombria: Ou resignar-se a uma vida de celibato forçado, ou ser ejetado de sua igreja e família – para todo o tempo e eternidade. Independentemente de qual opção escolha a juventude mórmon, eles perdem.
Não deveria ser nenhuma surpresa, então, quando a depressão e as tentativas de suicídio aumentam entre as crianças mórmons gays. Também não deve ser uma surpresa quando mais jovens LGBT se vêem marginalizados ou rejeitados por seus pais sinceramente religiosos, que agora se sentem mais compelidos do que nunca a escolher entre seu filho e sua igreja.
Enquanto caridade, bondade, amor e preocupação dizem estar por trás da nova política, é bastante claro que muitos membros ativos da Igreja, gays e heterossexuais, vêem o que ela realmente é: uma nova rejeição descarada dos membros LGBT. E a pesquisa baseada em evidências feito pelo Projeto Aceitação Familiar nos diz que as crianças que experimentam altos níveis de rejeição têm:
• Mais de 8 vezes maior probabilidade de tentar suicídio;
• Quase 6 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de depressão;
• Mais de 3 vezes mais propensos a usar drogas ilegais;
• Mais de 3 vezes mais probabilidade de ser de alto risco para HIV e DSTs.Crianças mórmons não estão imunes à ciência… Uma das frases mais repetidas frequentemente usadas para defender a nova política é que ele está sendo promulgada para proteger as crianças. A maioria das pessoas, incluindo multidões de Santos dos Últimos Dias ativos devotos, simplesmente não estão acreditando nessa defesa.
Além das óbvias questões de relações públicas, ao ser notoriamente associado com apologia à discriminação e intolerância, a BYU enfrenta o importante problema financeiro de manter investimentos em futebol americano que são conhecidamente deficitários. Pertencer à primeira divisão do NCAA certamente resolveria esse buraco negro financeiro e permitiria ao futebol da BYU ser autossustentável, ou quiçá, lucrativo. Administradores da universidade já admitem publicamente que o modelo atual (i.e., independente) não é sustentável e que é inadmissível manter investimentos milionários deficitários, com um estádio ultramoderno e assentos para 63 mil fãs, sem expectativas de retornos futuros.
“O futebol [da BYU] certamente é apreciado pelos fãs dispersos da BYU, os fãs que querem v[ê-los] jogar em todo o país. Mas é também uma introdução de alto perfil para muitos fãs, que não da BYU, à Igreja SUD – pelo menos é o que a Igreja SUD pensa. E enquanto a noção de que pessoas que procuram verdade religiosa iriam encontrá-la enquanto assistem futebol de faculdade parece um absurdo, a BYU, como qualquer outra escola, sempre amou estar diante das câmeras.”
A NCAA já foi intensamente criticada no ano passado por não intervir quando jogadores da Universidade do Missouri ameaçaram boicotar um jogo contra a BYU por causa de comentários racistas do próprio presidente de sua universidade. Especialmente quando isso ocorreu no meio da resposta pública sobre as novas políticas SUD para discriminar contra LGBT e ninguém, nem a NCAA, nem os jogadores da BYU, se levantaram contra essa injustiça social.
“Os [jogadores] de Missouri estavam prontos para boicotar jogos em sua batalha contra a sistemática ignoração de questões raciais no campus. Isso foi poderoso. Nenhuma multa fere atletas tanto como a perda de tempo de jogo; Que estes jogadores estavam prontos para fazer esse sacrifício foi uma declaração comovente.
Agora, os jogadores de futebol conseguiram confirmar-se para jogar em seu próximo jogo. No entanto, quando eles entram em campo diante do que eu tenho certeza que será uma multidão barulhenta no sábado, eles vão estar fazendo isso contra a BYU. Essa escola não apenas não consegue resolver incidentes no campus, ela simplesmente codificou proibições específicas sobre homossexualidade e usa ativamente o código da escola para diminuir as vidas de todas as pessoas LGBT e seus filhos.
As políticas anti-LGBT da BYU são tão fortes que eles levaram a uma petição na change.org pedindo à NCAA para cancelar competições da BYU contra outras escolas da NCAA por causa de suas políticas nocivas.”
Enquanto isso, o prestigioso e tradicional relatório anual The Princeton Review, que ranqueia as centenas de faculdades e universidades de acordo com critérios e resultados específicos, qualificou a BYU como a sexta pior escola nos EUA em termos de hostilidade contra homossexuais e transgêneros.
Obviamente há uma crise de relações públicas resultante de políticas públicas exclusionárias e discriminatórias determinadas pela Igreja. Quais atitudes a Igreja poderia tomar para reduzir ou aliviar esse problema? Quais atitudes a Igreja tomou quando era criticada e boicotada por discriminar racialmente? E como aquela experiência nos anos 1960 e 1970 se aplicaria aos conflitos culturais dos anos 2010?
Baixe estudo analisando taxa de suicídios em populações mórmons aqui.
Baixe estudo analisando taxa de suicídios entre jovens SUD LGBT aqui.
Leia mais sobre a política oficial da Igreja SUD aqui.
Leia mais sobre as resignações de membros SUD aqui.
Leia reações e histórias pessoais de membros SUD aqui.
Leia mais sobre a reação oficial da Igreja ao vazemento aqui.
Leia mais sobre a reação extra-oficial da Igreja SUD a isto aqui.
Leia pronunciamento da Primeira Presidência sobre Casamento Tradicional aqui.
Para aqueles que tiverem o interesse em aprender mais sobre como a NCAA estrutura suas diversas ligas e conferências para as diversas fases de mata-mata e suas respectivas finais (chamados “bowls”), assista esses curtos clipes:
E um comentário interessante sobre as finanças (e a ética) da NCAA:
Duvido que a SUD se importe em perder dinheiro por não aderir e abaixar tais restrições. Antes disso vai acabar com o time de futebol, pra economizar. Ou deixar como está, improdutivo.
Pensando alto: A Igreja não é uma instituição social como Rotary Club, etc, ela tem padrões de conduta que segundo os que creem, foram estabelecidas por Deus. Seria de se estranhar se a igreja racionalizasse os mandamentos. Em tempo, dizem as escrituras que devemos amar o pecador e não tolerar o pecado. Eu mesmo tenho muitos bons amigos gays e eles sabem do meu respeito por eles, de outra banda, sabem também qual a minha posição pessoal sobre suas condutas, e nem por isso deixamos de ser amigos.
Você está “pensando alto” exatamente a mesma coisa que membros da Igreja “pensavam alto” quando a BYU era boicotada por discriminar contra negros.
A Igreja não é um clube, ela segue padrões estabelecidos por Deus, ela não racionaliza mandamentos, amamos os negros e temos amigos negros, eles sabem do nosso respeito por eles, mas sabem também as nossas crenças sobre os seus antepassados, e nem por isso deixamos de ser amigos.